POR QUE COLOCAR CRISTO ACIMA DA ESPÉCIE HUMANA?
Décio Schroeter é escritor e colaborador
do Humanitas . Mora e atua em Porto Alegre/RS
Ele era mais gentil, piedoso e mais modesto do
que Buda? Ele era mais sábio e enfrentou a morte com mais calma do que
Sócrates? Ele foi mais paciente, mais caridoso, maior filósofo, mais profundo
pensador do que Epicuro? De que maneira ele foi superior a Zoroastro? Ele foi
mais universal do que Confúcio?
Suas ideias de
direitos humanos e de deveres foram superiores às de Zenón, de Elea? Ele expressou maiores verdades do que Cícero? Sua mente era mais
sutil do que a de Spinoza? Sua mente era igual à de Kepler ou Newton? Ele foi
mais grandioso na morte, e mais sublime do que Giordano Bruno?
Ele foi em
inteligência, em força e beleza de expressão, em profundidade de pensamentos,
em riqueza de exemplos, em aptidão para a compaixão, em conhecimento da mente e
coração do homem, de todas as paixões, esperanças e medos, igual a Shakespeare,
o maior da espécie humana?
Se Cristo fosse
de fato um deus, ele saberia todo o futuro. Diante dele um panorama surgiria da
história por vir. Ele saberia como suas palavras seriam interpretadas. Ele
saberia quais crimes, quais horrores, quais infâmias seriam cometidas em seu
nome. Ele saberia que as chamas famintas da perseguição subiriam pelos membros
de inúmeros mártires.
Ele saberia que
“milhares e milhares de bravos homens e mulheres iriam perecer nas masmorras
escuras, cheias de medo e dor”.
Ele saberia que
sua igreja iria inventar e produzir os instrumentos de tortura; que seus
seguidores iriam usar o chicote e a lenha, as correntes e a tortura. Ele veria
o horizonte do futuro lúgubre com as chamas dos autos da fé. Ele saberia que
seus ensinamentos se espalhariam como fungos venenosos de cada texto.
Ele veria as
inúmeras ignorantes seitas brigando umas contra as outras. Veria milhares de
homens, sob as ordens de padres, construindo prisões para seus semelhantes. Ele
veria milhares de cadafalsos pingando o sangue dos mais nobres e bravos.
Ele veria seus
seguidores usando os instrumentos de dor. Ouviria os gemidos dos torturados,
veria suas faces pálidas na agonia. Ouviria todos os gritos, lamentos e choros
de todos os que sofriam martírios.
Ele conheceria
os comentários que seriam escritos em seu nome, com espadas, para serem lidos à
luz das fogueiras. Ele saberia que a Inquisição seria instalada baseada em
palavras atribuídas a ele.
Ele teria visto
as interpolações, os acréscimos, às falsificações que a hipocrisia relataria e
escreveria. Ele veria todas as guerras que se desencadeariam, e saberia que em
cima desses campos de morte, além dessas masmorras, além desses instrumentos de
tortura, além dessas execuções, além dessas fogueiras, por mais de mil anos tremularia
a bandeira sangrenta da cruz.
Ele saberia que
a hipocrisia vestiria batina e seria coroada, que a crueldade e credulidade
mandariam no mundo; saberia que a liberdade seria banida do mundo; saberia que
papas e reis, em seu nome, escravizariam almas e corpos dos homens; saberia que
eles perseguiriam e destruiriam os descobridores, os pensadores, os inventores;
saberia que a Igreja apagaria a santa luz da razão e deixaria o mundo sem uma
estrela.
Veria seus
discípulos cegando os olhos dos homens, esfolando-os vivos, amputando suas
línguas, procurando por seus nervos mais doloridos.
Saberia que, em
seu nome, seus seguidores comercializariam carne humana; que berços seriam
vendidos e os seios das mulheres ficariam sem seus bebês, em troca de ouro.
E, no entanto,
ele morreu com os lábios sem voz. Calado!
Por que ele não
falou? Por que ele não disse a seus discípulos e ao mundo: "Não torturarás, não aprisionarás, não queimarás em meu nome.
Não perseguirás teu semelhante."?
Por que ele não
disse claramente: "Eu sou o filho
de Deus." ou "Eu sou
Deus"? Por que não explicou a Trindade?
Por que não
explicou a forma de batismo que mais o agradava? Por que ele não escreveu suas
regras? Por que não quebrou os grilhões dos escravos?
Por que nem
mencionou se o Velho Testamento era ou não era um trabalho inspirado por Deus?
Por que ele não
escreveu o Novo Testamento?
Por que deixou
suas palavras entregues à ignorância, hipocrisia e acaso?
Por que não
disse nada de positivo, definitivo ou satisfatório sobre o outro mundo?
Por que ele não
transformou a esperança lacrimejante no céu, no conhecimento orgulhoso sobre
outra vida?
Por que ele não
nos falou nada sobre os direitos humanos, direito à liberdade de mãos e mentes?
Por que ele foi
para a morte de maneira dúbia, deixando o mundo à mercê da miséria e da dúvida?
Eu direi a
você. Ele era apenas um simples MITO sobrenatural. Nunca existiu!
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