OUTONO DA VIDA: APROVEITE ESTE BELO
ENTARDECER...
Ana Leandro - colaboradora do Humanitas
- é escritora e jornalista. Atua em
Belo Horizonte/MG
Como a maior corrida do universo, valentes soldados disparam
como nunca se viu em competições, para ganhar a grande corrida da vida.
Esbarram-se uns aos outros na faina de chegar à frente e desconfio que alguns
tentam abalroar o concorrente lateral, para conseguir chegar primeiro.
Sabe-se lá se
esse ímpeto de vencer já não estará sinalizando a primeira tentativa do ser
humano de “levar a melhor”.
Mas isto não
interessa, nessa corrida ganha mesmo quem chegar primeiro. Nascer é a primeira
grande vitória da vida.
Se aqui estamos é
porque já vencemos a maior corrida da existência. Entre milhares de
competidores um ou uns, chegam primeiro. Somos nós esses vencedores...
Passam-se nove
meses, e cada minuto é uma transformação. Mas alguns se antecipam. Não tem
importância: o esforço maior do ser é pela sobrevivência.
Soltamos o
primeiro choro, uma primeira resistência de ter que se virar até para respirar
sozinho e uma tapa inicial marca o “cheguei”.
Interessante: é
na tapa que aprendemos a respirar. Outras tapas a vida dará, talvez para
sairmos da tentativa de inércia às muito maiores exigências que virão.
Saímos da
infância ainda sob os cuidados dos pais, mas passa-se pouco mais de uma década,
e eis que entramos numa fase, como se montássemos num cavalo de fogo.
Quem está nele
tira a paz de todo mundo. Quer descobrir o mundo, quer ter voz própria, quer
poder mandar.
Mas como comandar
o outro, se nem ao menos ainda aprendemos a nos comandar?
São as angústias
da adolescência, quando nos parece termos forças muito acima do que os outros
reconhecem.
Nesse impulso do
cavalo de fogo alinham-se pensamentos como se a vida não tivesse um tempo definido:
“a noite é uma criança”; “hoje eu não estou a fim”; o
jovem acha que “todo dia tem amanhã”
e pensa que “aprontar” umas
aqui ou ali é permitido, porque amanhã é outro dia e “há tempo para mudar”. Aliás, a vida tem um “quê” de eterna...
Com a maturidade
o cavalo está começando a reduzir o fogo. Cavalga com mais cuidado. Família
para criar; problemas a resolver; trabalho e exigências que se acumulam.
Aprendeu que a trilha tem armadilhas e precisa aprender a contorná-las.
Agora já “não se pode perder muito tempo”.
Para “não dizer que não falei das
flores”, há também o que comemorar: sucessos de herdeiros (são flores,
não falemos aqui de espinhos); algumas conquistas difíceis vencidas, lazer,
futebol, e comemorações com família e com amigos.
As esperanças
continuam, pois os sonhos são necessários, e ai de quem não souber “sonhar” porque isto alimenta a
sede de viver.
O futuro já
chegou e a vida é mesmo um bumerangue: o que atiramos nos retorna. Independente
de sucessos, ou fracassos, todos experimentamos sensações assim.
Importante mesmo
é fazer valer aquela corrida inicial. Não fomos vencedores?!
Eis que
mansamente, como se fosse um fim de tarde de outono, um sol luminoso desce
lento no horizonte.
A caminhada,
agora mais calma nos faz sentir como se “tempo
não existisse”. Até apreciamos paisagens que antes nem víamos! Chamam
de “terceira idade”.
Somos invadidos
por uma nova sabedoria obtida na experiência do viver, que, não exibimos como
troféu.
Pois aprendemos
que o “troféu” é estar bem
consigo mesmo e que a vaidade é tola. Os mais sábios sabem que muito pouco
sabem, frente à infindável revelação do universo.
A vida de cada um
tem um só tempo. É tempo de aproveitar a sensação de paz e harmonia, que antes
o coração rebelde não permitia.
Perdem tempo os que
vivem a lamentar a vida: ela passa e você é o único responsável pelos atos
dessa peça, até que a cortina se feche definitivamente.
E antes que isto
aconteça experimente a sensação de sermos autores da música “ando devagar/porque já tive pressa/ e
levo esse sorriso/ porque já chorei demais” (Almir Sater e Renato
Teixeira).
As saudades do “cavalo de fogo” fazem lembrar as
emoções e “se sofri ou se chorei/o
importante é que emoções eu vivi” (RC).
Não temos o
controle sobre o que será o “depois”,
mas o “agora” ainda está aqui
e nós o definimos. E o mais importante é termos a competência de ainda apreciar
o poente das tardes de outono...
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