terça-feira, 14 de maio de 2019

HUMANITAS Nº 83 - MAIO DE 2019 - PRIMEIRA PÁGINA

Parque 13 de Maio é uma das grandes áreas verdes do Recife

Localizado entre as ruas da Saudade, João Lira, Princesa Isabel e do Hospício, no limite dos bairros de Santo Amaro e da Boa Vista, Recife, o Parque 13 de Maio é uma das grandes áreas verdes da cidade, com pista de Cooper, pequeno zoológico, parque infantil e vários monumentos. Teve sua construção iniciada em 1892, na gestão do governador Alexandre José Barbosa Lima e, no ano de 1939, foi transformado em parque pelo então prefeito Antônio Novaes Filho e entregue ao público no dia 30 de agosto.
- PÁGINA 8 –
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Na PÁGINA 7, a jornalista e escritora Ana Maria Ferreira Leandro, Belo Horizonte/MG diz que homofobia é um ato ilegal
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A conurbação nas grandes cidades é o tema do Especial
do Humanitas, na PÁGINA 5
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O escritor Décio Schroeter, Porto Alegre/RS, frisa, na PÁGINA 6, que as sagradas escrituras são mais simbólicas que documentais
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A professora Divina de Jesus Scarpim, São Paulo/SP, disserta, na PÁGINA 2, sobre o planejamento e a infraestrutura escolar

HUMANITAS Nº 83 - MAIO DE 2019 - PÁGINA 2

  EDITORIAL
O parque de maio
Os jardins e parques públicos melhoram bastante a qualidade de vida da população de uma metrópole.
Esses locais verdes trazem benefícios para a promoção da saúde física e mental, e favorecem as mais diversas práticas sociais e de relacionamento entre as pessoas.
Tais espaços proporcionam suporte social, ao possibilitarem atrativos para as famílias e para os mais diversos tipos de seres humanos, fato que resulta em uma maior integração entre comunidade e espaço.
O Recife possui muitos parques públicos, mas ainda são poucas as áreas verdes para a grandeza espacial da cidade.
O mais famoso parque público do Recife é o Parque 13 de Maio.
Mesmo sendo o mais famoso, antes dele surgir já existiam outros espaços públicos como o Parque do Derby, a Praça Sérgio Loreto (ambos entregues à população no ano de 1925) e a atual Praça do Entroncamento, em 1928.
Mas a aspiração dos recifenses era por um parque maior e que possuísse um espaço verdejante superior a todos esses.
Assim, quando de sua entrega ao povo do Recife, em agosto de 1939, na gestão do prefeito Novaes Filho, o engenheiro José Estelita, em seu discurso de abertura, disse que o Parque 13 de maio (com seus 11,3 hectares) estava sendo entregue à população recifense, seguindo “o argumento americano da busca de um meio ambiente saudável usado na criação do Central Park (em Nova Iorque) e a função recreativa dos parques defendida pelos ingleses”.
O Parque 13 de Maio tem uma romantização particular em todos aqueles que dele usufruíram e usufruem, desde as “meninas” da Escola Normal, dos casais de namorados dos anos 1960, 1970, 1980, 1990, até as garotas feministas e aos jovens de hoje.
Ele se tornou um marco da cidade do Recife, sendo um empreendimento causador de grande impacto urbanístico e de efeito humano, cívico e de lazer para a cidade.
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O planejamento e a infraestrutura escolar
Divina de Jesus Scarpim – São Paulo/SP
Na verdade, nem acho que falta alguma disciplina no currículo das escolas públicas. O que falta é mais planejamento do conteúdo das disciplinas que já estão no currículo.
História, por exemplo, é uma matéria que deveria ter mais horas de aula.
E que seus conteúdos relacionassem o passado com o presente em cima de temas específicos como a história das religiões, das guerras, da mídia, da política.
Destacando não apenas os benefícios e avanços, mas, principalmente, os danos causados por essas criações humanas.
Não sei se estou me expressando bem, não é a minha disciplina, mas acho que seria de grande importância que, muito mais do que contar o que aconteceu, a disciplina pudesse colocar aquele tema sempre em uma relação de tempo que o trouxesse do passado para o presente e trabalhasse outras questões relacionadas àquela passagem; questões filosóficas, geográficas, artísticas, éticas etc.
Muito importante seria que nunca sequer se pensasse em aceitar a hipótese de eliminar disciplinas como filosofia e artes, mas, ao contrário, dar mais tempo e mais condições a profissionais professores de atuarem efetivamente e de forma mais autônoma levando seus conhecimentos para além das salas de aula e dos horários estipulados na grade.
E, para falar da minha disciplina, que os currículos se preocupassem menos com uma sequência de temas de gramática e - muito mais - com leitura e compreensão de textos e críticas reescritas, paráfrases e textos paralelos.
Não esquecendo, porque é muito importante: a interdisciplinaridade. Com professores de disciplinas diferentes planejando, preparando e aplicando conteúdos conjuntamente. O chato é que isso demandaria mais tempo do professor para a preparação e correção das atividades, demandaria a necessidade de aulas conjuntas com professores de disciplinas diferentes na mesma sala, no mesmo momento, fazendo o mesmo trabalho; e não se paga professor para isso. Além de tudo - e chovendo no molhado - é preciso que as escolas tenham condições mínimas de trabalho, com material e estrutura suficiente.
Em muitas escolas falta até aquele bastão branco ultrapassado chamado giz, mais ainda outras coisas como condições de fazer cópia de um texto, colocar uma música ou passar um vídeo em sala de aula. Só temos, e muitas vezes funcionando bem mal, uma sala de vídeo cujo uso os professores têm que praticamente disputar no tapa.
E nem vou falar em computadores!
Enfim, falta muita coisa além de mudança de currículo, mas nossos governantes preferem repassar o dinheiro da educação para sei lá quem produzir material inútil como apostilas e "provas oficiais" que têm como objetivo "mostrar" como os professores são os culpados, como estão “despreparados” e, por isso, é justo atrelar seus salários às "melhoras" nas notas dos alunos.
Eu queria muito mesmo saber quantos empresários estão enriquecendo com a produção das apostilas e provas periódicas que são impostas às escolas.

HUMANITAS Nº 83 - MAIO DE 2019 - PÁGINA 3

Refúgio Poético – Cartas dos Leitores – Teste de Xadrez
Sonho Azul
Rafael Rocha – Recife/PE
Do livro “Loucura” – 2018

Qual o motivo de teus olhos serem claros
de um anil infinito e tão igual ao céu?
De onde vens para fazer-me insano
e pôr-me a negar os olhos mais escuros?

Qual deus tornou o teu olhar tão índigo
nessa face de anjo assim toda marfim?
Qual esperma criou a vida desses olhos
trazendo a marca de teu nome secreto?

Esse azul demais azul é atmosfera
onde o desejo faz morada e prisão
a atentar meus olhos velhos e impuros.

És apenas uma ninfeta encantadora!
És o quadro não pintado pelo poeta!
És a loucura de meu sonho azul!

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O raio de sol furando a nuvem mais densa
Divina de Jesus Scarpim
São Paulo/SP

No dia de ser triste uma alegria chegou
como um intrometido e inadequado monstro
que tivesse cara
cheiro e voz
de aberração.
Em espírito
olhar e sentimento
de gente mais que humana
e mais que anjo.
Como aqueles seres para os quais
o ser bom é o natural.
E naquele dia
para ver o brilho
ninguém precisou de sol.
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CARTAS DOS LEITORES

Sobre o Editorial intitulado “Nossa Presença” do Humanitas nº 80, fevereiro de 2019: Aos 71 anos, quem não pensa na morte? Na verdade, pensei nela em quase todas as idades. Parece estranho um fim pessoal sem um propósito claro, depois da ofuscante claridade de propósitos da juventude. Talvez, por isso, na maturidade, o propósito da vida se invente como consolação. A insuportável ausência da magna resposta conduz cada um por diversos caminhos. Para quem se distrai escrevendo, aquilo que podemos perceber da vida chega a parecer um lápis sem grafite ou uma caneta sem tinta. Um conto que nem pode com o papel contar, pois ficou suspenso no ar. Num mês ou no outro, me reúno com amizades da adolescência. Os "rapazes" já passaram dos 70. As "meninas" ainda não. Eventualmente, acontece de algum tentar certo brilhantismo existencial com palavras. Ah, como isso é chato, mama mia! Sou o único que não faz questão da tal resposta. Sinto-me bem assim, sem empréstimos reconfortantes, porque não preciso ser confortado. Minha acolhedora ignorância não aceita fantasia nem no carnaval. Ivani Medina – Rio de Janeiro/RJ
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São poucas as pessoas que se aprofundam na leitura de textos profundos e polêmicos do Humanitas. Muitas dessas pessoas têm medo de que suas ideias religiosas erguidas ao longo da vida desabem como um castelo de areia. Então ignoram e, como não tem como rebater os textos, não criticam nem opinam. Karla Venâncio – Salvador/BA

HUMANITAS Nº 83 - MAIO DE 2019 - PÁGINA 4

Ah! Os mamíferos...
Araken Vaz Galvão é escritor e membro da Academia de Artes do Recôncavo. Atua em Valença/BA
Há alguns dias, um mês se muito, assisti na TV em uma programação que chamo de “mata tempo” que é, na verdade, enquanto o tempo nos mata, dois documentários, os quais, se não me engano, eram da Espanha e do Himalaia, sobre os costumes dos cervos, bem que sobre esse último minhas dúvidas são bem maiores, inclusive não estou bem seguro se são mesmo cervos.
Dois fatos, longinquamente relacionados, porém ambos intimamente ligados à procriação, eram evidentes no momento em que assisti o documentário – meu objetivo era apenas o de matar o que nos mata, o tempo, não esqueçamos –, não aguçou meu interesse de modo mais intenso.
Depois de passados uns dias, não sei por qual razão ocorreu-me a quase constante lembrança sobre o tema e, mais, o insistente relacionamento entre os dois episódios, sem que conscientemente encontre motivo para essa persistente relação.
O que havia de mais evidente – e que volta sempre a minha memória – era o fato de que as fêmeas dos cervos da Espanha tinham como hábito, durante o período do acasalamento, juntarem-se em um vale, onde as fêmeas ficavam a sacudir com insistência, e com um esforço evidente, as pequenas caudas, friccionando-as de modo constante, e com bastante força, como se tivesse a intenção de disseminar a sua volta o líquido viscoso que lhes escorria das vaginas. 
Estão rendendo tributo à natureza, pensei. Como costumava dizer, de forma galhofeira, um amigo meu, já falecido (como, aliás, vem sucedendo a quase todos aqueles que, junto comigo, viram passar o tempo bom da juventude...), ou seja, estavam espalhando o feromônio”– retifiquei-me, para sufocar a saudade –, com o objetivo de atrair os machos.
Claro que os machos atendiam pronta e prazerosamente o apelo e partiam para a disputa, por meio de potentes marradas, enquanto isso, a fêmea que procedeu daquela forma, passava a ruminar sua relva fresca, sem se importar com o poder das marradas nem em quem seria o vencedor, cujo troféu seria elas.
Porém, sabia eu, que aquela indiferença era apenas fingida, afinal ela era uma fêmea.
O episódio trivial, até certo ponto, ficou em minha memória e passou àquele recanto voltar, depois de certo tempo, não muito longo, à minha mente.
A outra passagem do documentário de cunho similar, que passara – mais ou menos no mesmo período – e que ainda assedia a minha cachimônia era relacionada também com a reprodução, e tratava-se de rebanhos que se deslocavam de uma região montanhosa bem alta (creio que no Tibete), coberta quase sempre de neves, para às margens de um rio, em um lugar de clima mais ameno, com vista a trazer a luz suas crias.
O curioso desse fato é que não havia predadores, prontos a devorar alguns daquele sem número de filhotes, salvo uns abutres imensos, mas que não atacavam, apenas olhavam à distância, jogando com a sorte, ficavam prudentemente afastados.
Tinha antes se banqueteado com os restos do parto, mas alimentavam, porém, a agoureira esperança de algum nascimento morto ou mal formado que, por essa razão fosse abandonado, para servir-lhes de pasto.
Devoravam também, mas sem realizar ataques acintosos, aqueles filhotes mais curiosos o destemidos que, procuravam descobrir o mundo, sem imaginar as fatais armadilhas que pudessem encontrar.
Essas suas temerosas incursões eram acompanhadas por atentos, ávidos e compridos olhos dos abutres. A suceder tal fato – e o documentarista registrou um deles –, só possível se houvesse descuido das mamães, as de primeiro parto deviam ser as mais relapsas, o que não impedia, no entanto, que o instinto se manifestasse repentinamente, provocando um estalo – como o que se referiu o Padre Antônio Vieira – e partisse desesperada berrando (ou mugindo, não sei em qual som se enquadra a voz dos cervídeos) e, ao localizá-lo, parasse, como faria quaisquer mães de quaisquer espécies, como dando um suspiro profundo, parecendo até murmurar: Graças ao Deus dos Cervos, meu filho ainda está vivo.
E partir furiosa para o abutre que, sobre alguma elevação, planejava uma refeição.
Não se contentando com que este voasse, persistia no ataque até que esse alçasse voo para bem alto e para bem longe.
A cena que se seguia, como não podia deixar de ser, era – como fazemos na Bahia – de um carinhoso cheiro e da indefectível mamada.  


HUMANITAS Nº 83 - MAIO DE 2019 - PÁGINA 5

O processo da conurbação nas grandes cidades
Especial do Humanitas
Hoje, muitos municípios perderam suas antigas fronteiras. Bairros se aglutinaram, as cidades se misturaram e a geografia natural se perdeu.
Então foi criado um desequilíbrio social e um crescimento desordenado, nascendo assim a conurbação urbana. Sem espaço para crescer na horizontal, as cidades se verticalizam.
A conurbação representa um fenômeno urbano que está intimamente relacionado com o desenvolvimento das cidades modernas.
Trata-se, portanto, do encontro limítrofe entre duas ou mais cidades, que ocorre por meio de um significativo e acelerado crescimento urbano.
No Brasil, o processo de conurbação surgiu a partir da década de 50, diante da modernização do país e do acelerado crescimento industrial e urbano.
É notório o processo de conurbação em diversas capitais no país, sendo que São Paulo é considerada uma das maiores do país e do mundo.
Fora do Brasil, merecem destaque as regiões metropolitanas de Tóquio, Nova Iorque e Londres, as quais sofreram o processo de conurbação após a Segunda Guerra Mundial.
O processo de conurbação pode gerar uma região metropolitana.
Essa região indica um conjunto de municípios que estão conectados e que apresenta grande densidade populacional, com mais de um milhão de habitantes.
É formada por uma cidade núcleo e outra adjacente que ocorre através do processo de conurbação.
Um exemplo notório é o “ABC Paulista” formado pelas cidades de Santo André, São Bernardo do Campo, São Caetano do Sul, Diadema, Ribeirão Pires, Mauá e Rio Grande da Serra.
Quando incluída à cidade de São Paulo, é chamada de “Grande São Paulo” ou Região Metropolitana de São Paulo (RMSP) que abriga 39 municípios.
As metrópoles representam as principais cidades de uma região metropolitana.
Com a expansão da urbanização e o desenvolvimento das cidades, a conurbação integra diversas cidades.
Diante disso, os limites físicos (geográficos) entre as cidades tendem a desaparecer.
Geralmente é difícil notar quando termina uma e começa a outra, que podem ser separadas apenas por uma rua ou avenida.
Esse processo necessita de um melhor planejamento, controle urbano e políticas públicas voltadas para as regiões conurbadas uma vez que acaba ocorrendo dependência entre os municípios.
Quanto a isso, devemos lembrar que a conurbação pode trazer diversos problemas às cidades. Podemos incluir nesses problemas o caos no sistema de transporte, falta de habitação, nascimento de favelas, aumento na violência urbana, diminuição da qualidade de vida, dentre outros.
Além disso, também pode gerar conflitos entre as estruturas administrativas e políticas das cidades envolvidas.
Mas isso também pode facilitar a vida das pessoas que estão em busca de oportunidades, de trabalho, por exemplo, e mesmo para aproveitar as melhores possibilidades oferecidas pelas cidades vizinhas: sistema de saúde, de educação, de lazer, dentre outros.
Nesse caso, podemos pensar nas cidades que estão muito próximas, no entanto, que apresentam custos de vida distintos. Assim, muitas pessoas moram na cidade que apresenta custo mais baixo, e trabalham na cidade ao lado, que possui melhores empregos.
As cidades onde isso ocorre isso são chamadas de “cidades dormitórios”, ou seja, aquelas em que o cidadão tem sua moradia, mas se desloca diariamente para trabalhar.
Graças à industrialização e à urbanização tardias, o Brasil apresenta um processo de conturbação bastante recente. Mas, hoje, praticamente todas as capitais do país são conurbadas.
A explosão e proliferação oriundas da Revolução Industrial trouxeram como herança consequências nocivas para a sociedade.
A constante movimentação populacional, o aumento da propriedade privada, as demandas cada vez maiores com recursos cada vez mais escassos provocam enorme trânsito de veículos, ruas e avenidas congestionadas, filas, brigas, cansaço, depressão, poluição. Tudo isso está interligado.
Se uma ação humana se reflete sobre a sociedade, uma ação múltipla na sociedade também se reflete na humanidade e isso vem ocorrendo desde o Século XVIII.
As mais diversas revoluções e inovações tecnológicas moldaram a rotina das pessoas e atualmente precisamos refletir sobre a situação do mundo e sobre suas respectivas projeções.
A responsabilidade recai sobre cada indivíduo, mesmo que diante da massificação tal reflexão torne-se complexa.

HUMANITAS Nº 83 - MAIO DE 2019 - PÁGINA 6

Salvação de quê? Para quê? Para onde?
Décio Schroeter colaborador deste Humanitas é escritor. Atua em Porto Alegre/RS
Você cristão acredita que a Bíblia é a palavra de Deus, que Jesus é o filho de um deus (ou é deus) e que apenas aqueles que têm fé em Jesus alcançarão a salvação após a morte.
O Cristianismo diz que “os que não forem escolhidos por Jesus serão lançados em um lago de fogo, que arderá para sempre”.
E, para isso, não seria preciso muito: bastaria não crer na mensagem cristã. “Quem crer e for batizado será salvo; mas quem não crer será condenado”. (Mc 16:16 ).
Seria justa uma pena sem fim para alguém que agiu erradamente por uns poucos anos, ou que simplesmente não acreditou em alguém?
Na hipótese de existir esse deus, ele seria mau, muito mau mesmo!
A Bíblia diz que Elias foi para o céu em vida.
A mesma Bíblia diz que ninguém jamais subiu ao céu! Qual é a verdade?
Subiu... “E sucedeu que, indo eles andando e falando, eis que um carro de fogo, com cavalos de fogo, os separou um do outro; e Elias subiu ao céu num redemoinho!.(2 Reis 2:11).
Ou não subiu? “Ora, ninguém subiu ao céu, senão o que desceu do céu, o Filho do homem”. (João, 3:13).
E aí? Onde está a verdade?
De fato é preciso se entregar a uma formidável devoção ao fundamentalismo para se acreditar piamente no que a Bíblia fala sobre o assunto.
As Escrituras são contraditórias e incompletas. Na verdade, mais simbólicas do que documentais. E não é este ateu que diz isso, mas até teólogos que reconhecem as contradições das escrituras sagradas.
Observe a genealogia de Jesus registrada por Mateus e a escrita por Lucas. Se uma estiver certa, a outra estará errada. Se uma pode estar errada, a outra também pode.
Como aceitar que essa palavra divina seja verdade? A palavra inspirada não poderia contradizer-se. Se se contradiz tem tanta segurança como a minha palavra ou a sua, que deve ser verificada.
Eu posso pensar que estou dizendo a verdade e estar enganado.
Entretanto, tenho a prova de que pelo menos um dos dois evangelistas estava enganado; e com base e muitos estudos realizados, afirmo que todas as duas genealogias são mitos.
O motivo de tantas contradições não inspiradas deve estar na diversidade de autores.
O Antigo Testamento, segundo constataram cientistas de diversas áreas que o examinaram, compõe-se de uma reunião de textos como uma verdadeira colcha de retalhos.
O relato da criação já apresentou a primeira contradição, porque foram reunidos dois textos de autores que conheciam versões distintas do mito.
Acreditar que os primeiros membros da nossa espécie foram modelados a partir do barro e do hálito divino, em um jardim com uma cobra falante, pela mão de um deus invisível é de uma imbecilidade irritante.
Assim como obra de carpintaria ruim, o Novo Testamento, da escritura cristã, não ficou atrás.
Pensar e acreditar que Jesus vai voltar para julgar os vivos e os mortos em algum momento é outra imbecilidade irritante.
Assim, a chamada verdade - a palavra divina - virou aquela confusão que você vê em quase tudo da história e biografia do suposto Jesus.
Acho que a vida é breve demais, para nos enganarmos e servirmos de marionetes para os sabidos nesse teatro da vida.
Os religiosos pregam e vendem apenas algo como uma promessa que nunca será cumprida, não importa qual a religião, seita, ou deus, ou seja, vida eterna e o tal de Reino do Céu.
Alguém já voltou depois da morte para testemunhar? Não! Nunca!
Assim como a maioria dos cristãos, você acredita que simples mortais como nós não podemos rejeitar a dita moralidade da Bíblia?
Não podemos dizer que o suposto Jesus bíblico mente?
Não podemos dizer, por exemplo, que Deus estava errado na sua bondade divina quando “afogou” a maior parte da humanidade no suposto Dilúvio narrado no Gênesis?
Ateísmo é o reconhecimento do óbvio, e que é contra as crenças ilógicas religiosas não justificadas em um deus bíblico, deus ilusão, deus imaginário, que diz se interessar por mim, que me aprova, que me ama e que vai me recompensar depois da morte desde que eu o aceite e creia nele.
E todos que discordam disso passarão - depois da morte - na eternidade de um inferno imaginário, quando sabemos que o inferno para muitos é aqui e agora (fome, sofrimento, doenças, crueldades, mortes violentas...!)


HUMANITAS Nº 83 - MAIO DE 2019 - PÁGINA 7


Homofobia é uma prática ilegal
Ana MariaFerreira Leandro – colaboradora do Humanitas - é escritora e jornalista. Atua em Belo Horizonte/MG
Vou tocar num tema melindroso. Um professor de minha pós-graduação em Comunicação disse, certa vez, que a "expertise" do cantor e compositor Roberto Carlos foi ter tomado como tema de sua trilha sonora o único assunto que agrada a todo mundo: o Amor!
Entretanto, no exercício jornalístico, não posso me furtar a falar sobre temas que causem resistências a uns ou outros. É preciso a realidade. Fugir da verdade nunca ajudou o ser humano a evoluir! E eis aqui neste Humanitas, um artigo sobre o tema que gerou o Dia Mundial contra a Homofobia. Embora a análise do tema e suas influências sociais tenham me levado a lembrar desta frase do professor, não creio que o assunto também não fale de Amor.
Dia 17 de Maio é o Dia Internacional contra a Homofobia. Nesse dia ocorreu a exclusão da homossexualidade da Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados com a Saúde (CID) da Organização Mundial da Saúde (OMS). Essa foi uma importante vitória para o movimento LGBT (gays, lésbicas, bissexuais e transgêneros) comemorada por pessoas e ONGs congêneres.
Historicamente, parece-me óbvio o "porquê" dessa resistência à aceitação da homossexualidade. Para que a humanidade se multiplicasse, o que segundo as religiões era uma ordem divina, a heterossexualidade era a única opção aceitável.
Na história antiga, por questões também religiosas, a relação sexual só poderia ser aceita para fins de multiplicação, o que naturalmente se explica como uma negação do direito humano ao “prazer sexual”
É claro que a homossexualidade não é dos tempos modernos. Sempre existiu. A era da comunicação invadiu e globalizou o mundo de tal forma, que não foi possível manter o assunto às escondidas.
O fato de ter ou não ter filhos nunca foi prova de heterossexualidade, pois sabe-se sobejamente que tanto homens, quanto mulheres, já descobriram, após viverem no processo apenas heterossexual e gerado filhos, que tinham também até mais prazer na relação com pessoas do mesmo sexo.
Com o tempo ficou visível os desejos de interesses no homossexualismo, lesbianismo e bissexualismo.
Mas a realidade é que vivemos numa sociedade altamente fingida, em que muitos, apesar de terem interesse homo ou lésbico, não se permitem manifestar isso publicamente, por medo das resistências de aceitação social.
A questão é que essa discriminação hoje já definida como homofobia, é prática ilegal. A homofobia chega a extremos de agressões físicas e verbais, e até de assassinatos de pessoas ou grupos, que se manifestem com interesses sexualmente fora do padrão heterossexual.
Mas a não aceitação do direito de exercer a sexualidade dentro do livre arbítrio do interessado já é por si só criminosa, e passível de ser submetida a penalidades judiciais.
Mesmo na era contemporânea há quem considere os interesses sexuais pelo mesmo gênero, ou pelos dois âmbitos (bissexualidade), ou ainda pela transexualidade (desejo de mudança do sexo contrário às características dos órgãos genitais com que nasceram), de forma ostensiva como uma “deformidade mental” ou doença, ou ainda por culpa de uma educação inadequada.
Outros continuam a insistir e a defender a tese de que são comportamentos “doentes”, que devem ser “tratados como tal para recuperação da normalidade”, segundo seus conceitos.
Mas isto é contrário à legitimidade de que "cada um não tem o direito de ser o que deseja ser"
Por motivos naturais, a legislação humana não teve a condição de estabelecer como crime ou marginalidade a opção sexual, porque esta não se estabelece apenas como livre arbítrio, mas também como um apelo fisiológico.
Portanto, não estando infringindo a lei, não pode o ato ser acusado por uma questão meramente de resistências pessoais.
Logo surgem os "resistentes” a esta aceitação com frases como: “Não quero meu filho vendo homens se manifestarem afetivamente em público”.
Chegamos ao absurdo de ouvir homens afirmarem, que não dizem ao filho do sexo masculino a expressão "eu te amo", para que este não "confunda as coisas".
Ora, um pai não poder dizer a um filho que o ama, para mim é uma distorção do verdadeiro sentido do Amor.
Entretanto, o mundo não vai parar de "crescer e se multiplicar" por efeito do homossexualismo ou lesbianismo, uma vez que as relações heterossexuais não vão se extinguir.
Parece-me que, muito ao contrário, na era atual os casais reduzem o número de filhos, por questões principalmente econômicas e estruturais.
Enfim, o ser humano é livre para ser feliz da maneira que o desejar, desde que não cause qualquer mal a quem quer que seja.
Esta não é uma defesa de comportamentos.
É uma análise objetiva e lógica, de que ninguém pode exigir de quem quer que seja ser como “o outro deseja” e não como sua natureza lhe pede.
Homofobia é paralela ao fato de não aceitar outras características da natureza humana, como a diferença de cor da pele, e outros aspectos físicos, que são posturas preconceituosas.
No que tange à natureza humana, a evolução da espécie significa respeitar principalmente o direito de cada um ser como se sente mais feliz e mais realizado.