MULHER: A LUTA DE “SER”
Especial para o Humanitas
Texto de Ana Maria Leandro. Escritora e
jornalista. Atua em Belo Horizonte/MG
É indispensável
reconhecer, até nesta fase contemporânea, quando já temos exemplos estatísticos
do passado de ostracismo milenar, o que a mulher sofreu na sociedade e na sua
luta pelo “direito de SER”.
Fato oriundo de
um sistema onde o homem é que tinha a autoridade de maneira geral, por
influência da Igreja em conluio com políticas governamentais desde a Roma
antiga.
A “Inquisição” foi o evento da história
mais punitivo do gênero feminino. Pelo simples ato de demonstrar um
conhecimento diferenciado dos homens ou do governo, a vítima era acusada de “bruxaria” sofrendo terríveis
condenações, torturas e morte.
A Inquisição,
como ficou conhecido o Tribunal da Inquisição da Igreja Católica, foi criada em
1233 pelo papa Gregório IX para combater o que denominavam heresia.
Somente em 2000,
o pontificado do Papa João Paulo II foi pontuado pelo reconhecimento de
diversos erros e por pedidos de perdão pelas iniquidades cometidas pela Igreja
Católica em sua história.
Mas o processo de
tirar da mulher o direito até de se expressar, antecedeu, e se prorrogou além
da Inquisição. Grandes mulheres da história, que não se continham e se
manifestavam, de forma explícita e declarada sofreram consequências por isso.
Até o início do
século XX, o voto, na maioria dos países, era um “direito exclusivo dos homens” – e ainda assim definido por
fatores de status econômico e social.
Foi já no século
XX, que ativistas do gênero feminino se mobilizaram pelo direito à
participação política e ficaram conhecidas como sufragistas.
O não direito da mulher de não se expressar
foi descrito em Coríntios (1 Cor. 14:
24-36): “(...) calem-se as mulheres
nas assembléias, pois não lhes é permitido falar; mostrem-se submissas como diz
a própria Lei (...). Porventura foi dentre vós que saiu a palavra de Deus? Ou
só a vós foi comunicada?”
Por absurdo que
pareça, até hoje não é difícil identificar a ideia de que a mulher deva “apenas obedecer sem se manifestar”,
pois ainda é um grande anseio e mesmo prática de alguns exemplos do gênero
masculino.
Existem recentes
casos divulgados na mídia, de mulheres que passaram anos encarceradas pelo
próprio progenitor, sem direito a sair por motivo nenhum e regularmente
violentadas pelo mesmo.
É lógico que já
houve muita alteração nessa realidade, mas são fatos atuais. Muitos homens
ainda não perceberam que a convivência se torna muito melhor, quando na
parceria há diálogo, respeito recíproco por pontos de vista diferenciados.
Insisto em dizer
em palestras, que se você anula o seu par você estará só. Talvez nem perca a
presença física do outro, mas ficará só no pensar e no sentir, onde a solidão é
pior.
No mercado de
trabalho, até hoje a mulher ainda sofre diferenciações e preconceitos. As
empresas insistem em negar o fato no discurso, mas não na prática. Como
Consultora Empresarial já vi organizações onde os altos cargos têm
predominância do gênero masculino. Citar casos isolados não desmente a
estatística do fato. Aspecto este que se extravasa nas promoções a níveis
superiores. Em relação aos salários, as mulheres obtêm
renda anual média inferior à dos homens. A diferença ocorre mesmo quando a
mulher tem anos a mais de estudo.
Diversas vezes, a
preferência por chefia masculina se apresenta se eles têm cursos superiores,
mesmo trabalhando na mesma empresa ao lado de mulheres com níveis iguais de
escolaridade e tecnologia.
De acordo com
pesquisa da International Business Report (IBR), apesar de avanços nesta última
década, as empresas brasileiras ainda demonstram a média de apenas 19% em
cargos de alto escalão para as mulheres, índice abaixo da média global, de 24%.
A mulher
brasileira, com mais lentidão que nos países de Primeiro Mundo, vem aumentando
sua atuação no mercado de trabalho nos últimos anos. Isto por efeitos também
sociais e de desenvolvimento de competências, como o aumento da escolaridade
feminina, menor quantidade de filhos e mudanças de padrões culturais, que as
estimulam a trabalhar.
Certa vez ouvi de
um especialista, que até na economia é importante a atuação profissional da
mulher, pelo simples fato de que elas são maioria na população. Sua ausência no
contexto produtivo seria difícil de ser arcado economicamente pelo país.
Dados da última
Pesquisa Nacional divulgada pelo IBGE, em 2013, indicam que viviam no Brasil
103,5 milhões de mulheres, o equivalente a 51,4% da população. E mais:
são responsáveis pelo sustento de 37,3% das famílias.
As mulheres
contemporâneas precisam identificar que o avanço alcançado é consequência
também da ação individual, do enfrentamento da decisão de evoluir, de buscar o
melhor de si.
Para “SER”
é preciso mais que viver. É necessário também crescer em todos os sentidos.
Na busca da educação, da melhoria da escolaridade e do conhecimento, que
proporcionam a superação dos obstáculos, e que se fazem essenciais para as
conquistas humanas de qualquer que seja o sexo.
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