segunda-feira, 27 de fevereiro de 2017

HUMANITAS Nº 57 – MARÇO DE 2017 – PÁGINA QUATRO

MULHER: A LUTA DE “SER”
Especial para o Humanitas

Texto de Ana Maria Leandro. Escritora e jornalista. Atua em Belo Horizonte/MG

É indispensável reconhecer, até nesta fase contemporânea, quando já temos exemplos estatísticos do passado de ostracismo milenar, o que a mulher sofreu na sociedade e na sua luta pelo “direito de SER”.
Fato oriundo de um sistema onde o homem é que tinha a autoridade de maneira geral, por influência da Igreja em conluio com políticas governamentais desde a Roma antiga.
A “Inquisição” foi o evento da história mais punitivo do gênero feminino. Pelo simples ato de demonstrar um conhecimento diferenciado dos homens ou do governo, a vítima era acusada de “bruxaria” sofrendo terríveis condenações, torturas e morte.
A Inquisição, como ficou conhecido o Tribunal da Inquisição da Igreja Católica, foi criada em 1233 pelo papa Gregório IX para combater o que denominavam heresia.
Somente em 2000, o pontificado do Papa João Paulo II foi pontuado pelo reconhecimento de diversos erros e por pedidos de perdão pelas iniquidades cometidas pela Igreja Católica em sua história.
Mas o processo de tirar da mulher o direito até de se expressar, antecedeu, e se prorrogou além da Inquisição. Grandes mulheres da história, que não se continham e se manifestavam, de forma explícita e declarada sofreram consequências por isso.
Até o início do século XX, o voto, na maioria dos países, era um “direito exclusivo dos homens” – e ainda assim definido por fatores de status econômico e social.
Foi já no século XX, que ativistas do gênero feminino se mobilizaram pelo direito à participação política e ficaram conhecidas como sufragistas.
O não direito da mulher de não se expressar foi descrito em Coríntios (1 Cor. 14: 24-36): “(...) calem-se as mulheres nas assembléias, pois não lhes é permitido falar; mostrem-se submissas como diz a própria Lei (...). Porventura foi dentre vós que saiu a palavra de Deus? Ou só a vós foi comunicada?”
Por absurdo que pareça, até hoje não é difícil identificar a ideia de que a mulher deva “apenas obedecer sem se manifestar”, pois ainda é um grande anseio e mesmo prática de alguns exemplos do gênero masculino.
Existem recentes casos divulgados na mídia, de mulheres que passaram anos encarceradas pelo próprio progenitor, sem direito a sair por motivo nenhum e regularmente violentadas pelo mesmo.
É lógico que já houve muita alteração nessa realidade, mas são fatos atuais. Muitos homens ainda não perceberam que a convivência se torna muito melhor, quando na parceria há diálogo, respeito recíproco por pontos de vista diferenciados.
Insisto em dizer em palestras, que se você anula o seu par você estará só. Talvez nem perca a presença física do outro, mas ficará só no pensar e no sentir, onde a solidão é pior.
No mercado de trabalho, até hoje a mulher ainda sofre diferenciações e preconceitos. As empresas insistem em negar o fato no discurso, mas não na prática. Como Consultora Empresarial já vi organizações onde os altos cargos têm predominância do gênero masculino. Citar casos isolados não desmente a estatística do fato. Aspecto este que se extravasa nas promoções a níveis superiores.     Em relação aos salários, as mulheres obtêm renda anual média inferior à dos homens. A diferença ocorre mesmo quando a mulher tem anos a mais de estudo.
Diversas vezes, a preferência por chefia masculina se apresenta se eles têm cursos superiores, mesmo trabalhando na mesma empresa ao lado de mulheres com níveis iguais de escolaridade e tecnologia.
De acordo com pesquisa da International Business Report (IBR), apesar de avanços nesta última década, as empresas brasileiras ainda demonstram a média de apenas 19% em cargos de alto escalão para as mulheres, índice abaixo da média global, de 24%.
A mulher brasileira, com mais lentidão que nos países de Primeiro Mundo, vem aumentando sua atuação no mercado de trabalho nos últimos anos. Isto por efeitos também sociais e de desenvolvimento de competências, como o aumento da escolaridade feminina, menor quantidade de filhos e mudanças de padrões culturais, que as estimulam a trabalhar.
Certa vez ouvi de um especialista, que até na economia é importante a atuação profissional da mulher, pelo simples fato de que elas são maioria na população. Sua ausência no contexto produtivo seria difícil de ser arcado economicamente pelo país.
Dados da última Pesquisa Nacional divulgada pelo IBGE, em 2013, indicam que viviam no Brasil 103,5 milhões de mulheres, o equivalente a 51,4% da população.  E mais: são responsáveis pelo sustento de 37,3% das famílias.
As mulheres contemporâneas precisam identificar que o avanço alcançado é consequência também da ação individual, do enfrentamento da decisão de evoluir, de buscar o melhor de si.  
Para “SER” é preciso mais que viver. É necessário também crescer em todos os sentidos.  Na busca da educação, da melhoria da escolaridade e do conhecimento, que proporcionam a superação dos obstáculos, e que se fazem essenciais para as conquistas humanas de qualquer que seja o sexo.

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