segunda-feira, 27 de fevereiro de 2017

HUMANITAS Nº 57 – MARÇO DE 2017 – PÁGINA DOIS



EDITORIAL

Idos de Março

O vidente fez um alerta ao grande conquistador romano Caio Júlio César: “cuidado com os idos de março!”
Outra vez estamos em março boquiabertos com a capacidade humana de sobreviver em um mundo violento.
Caio Júlio César ficou na história assassinado por um bando de traidores.
E o nosso Brasil também já teve seus idos de março quando um grupo de salafrários civis e militares, no distante ano de 1964, já no estertor do mês, criou um regime ditatorial que não deixa saudades, mas muitas sequelas que não podem ser esquecidas nem revogadas.
Mas também neste mês não nos faltam motivos de comemoração.
Março é o mês das mulheres.
Março é mês de festa para as cidades do Recife e de Olinda.
Porque é assim que a raça humana sobrevive. Recordando e vivendo alegrias variadas e desprezando os tempos de treva. Sempre existe uma luz no fim do túnel, e nós, pensadores, temos o dever de ajudar a mantê-la acesa aos olhos da humanidade.
Neste mês da mulher, melhor ouvi-las, senti-las, curtir junto a elas a vida e o prazer de viver.
Que as mulheres possam ir além do tempo. Que continuem a lutar por um mundo melhor. A mulher de hoje não deixa mais o tempo passar incólume pela janela.
Como bem disse o poeta, em toda mulher “existe uma linda menina cheia de graça que vem e que passa num doce balanço a caminho do mar”.
E para não deixar sem registro, eis que duas cidades libertárias fazem anos no dia 12 de março. Olinda, Patrimônio da Humanidade festeja seus 482 anos, sempre a contemplar do alto de suas colinas, a sua eterna companheira, Recife, capital de Pernambuco, que nessa mesma data completa 480 anos.
Como estamos vendo, os “idos de março” devem e têm de ser radiantes para todos nós.
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Intersexo: não existem apenas homens e mulheres

Francine Oliveira - mestre em Teoria Literária e Crítica de Cultura
São João Del Rei/MG

Ao nascer, o bebê será identificado pelo obstetra como "menino" ou "menina". Mas e quando não é possível saber? Embora livros escolares de Ciência não falem sobre isso, a ocorrência de casos em que se instala a incerteza é frequente.
Em termos gerais, um em cada 100 indivíduos nasce sem estar dentro do padrão anatômico feminino ou masculino.
Se considerarmos a configuração genética (XX ou XY) há uma estimativa de que uma em cada duas mil pessoas nasce fora desse espectro - isso mesmo, elas não são nem "XX", nem "XY".
Para além da questão dos genes, usa-se o termo "intersexo" para se referir a qualquer pessoa que apresente características biofisiológicas que não permitem que ela seja designada inteiramente como homem ou mulher.
Na maior parte dos casos, ser intersexo não afeta em nada a saúde do indivíduo e nem mesmo se encara como um problema médico, contudo, essas pessoas sofrem por conta do estigma de não estarem dentro dos padrões socialmente estabelecidos.
Assim, muitos dos bebês intersexo passam por cirurgia quando ainda são recém-nascidos, ou passam por tratamento com hormonização ainda na infância, por opção dos próprios pais, e, por vezes, não tomam conhecimento de sua condição.
O problema é que, não raro, essa decisão é feita com base na aparência dos genitais da criança, sem levar em consideração como isso pode afetar o desenvolvimento sexual da pessoa, havendo muitos casos em que os tratamentos resultam em esterilização involuntária (e desnecessária).
O fato de poucas pessoas saberem da existência dessa condição mostra a dificuldade em aceitar perspectivas fora dos binarismos, que organizam pensamento social.
A redução do sexo a apenas dois polos é uma construção social que guarda uma relação apenas limitada com o que se poderia considerar como natural - ou seja, que ocorre na natureza. 
Se, nem mesmo a biologia restringe o sexo a "macho" e "fêmea", não há porque se apegar a duas únicas expressões de gênero como válidas, negando a legitimidade de outras identidades.

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