EDITORIAL
Idos de Março
O vidente
fez um alerta ao grande conquistador romano Caio Júlio César: “cuidado com
os idos de março!”
Outra vez estamos em março boquiabertos com
a capacidade humana de sobreviver em um mundo violento.
Caio Júlio César ficou na história
assassinado por um bando de traidores.
E o nosso Brasil também já teve seus idos
de março quando um grupo de salafrários civis e militares, no distante ano de
1964, já no estertor do mês, criou um regime ditatorial que não deixa saudades,
mas muitas sequelas que não podem ser esquecidas nem revogadas.
Mas também neste mês não nos faltam motivos
de comemoração.
Março é o mês das mulheres.
Março é mês de festa para as cidades do
Recife e de Olinda.
Porque é assim que a raça humana sobrevive.
Recordando e vivendo alegrias variadas e desprezando os tempos de treva. Sempre
existe uma luz no fim do túnel, e nós, pensadores, temos o dever de ajudar a
mantê-la acesa aos olhos da humanidade.
Neste mês da mulher, melhor ouvi-las,
senti-las, curtir junto a elas a vida e o prazer de viver.
Que as mulheres possam ir além do tempo.
Que continuem a lutar por um mundo melhor. A mulher de hoje não deixa mais o
tempo passar incólume pela janela.
Como bem disse o poeta, em toda mulher “existe uma linda menina cheia de graça que
vem e que passa num doce balanço a caminho do mar”.
E para não deixar sem registro, eis que
duas cidades libertárias fazem anos no dia 12 de março. Olinda, Patrimônio da
Humanidade festeja seus 482 anos, sempre a contemplar do alto de suas colinas,
a sua eterna companheira, Recife, capital de Pernambuco, que nessa mesma data
completa 480 anos.
Como estamos vendo, os “idos de março”
devem e têm de ser radiantes para todos nós.
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Intersexo: não existem apenas homens e mulheres
Francine Oliveira - mestre em Teoria
Literária e Crítica de Cultura
São João Del Rei/MG
Ao
nascer, o bebê será identificado pelo obstetra como "menino"
ou "menina". Mas e quando não é possível saber? Embora livros
escolares de Ciência não falem sobre isso,
a ocorrência de casos em que se instala a incerteza é frequente.
Em termos gerais, um em cada 100 indivíduos
nasce sem estar dentro do padrão anatômico feminino ou masculino.
Se considerarmos a configuração genética
(XX ou XY) há uma estimativa de que uma em cada duas mil pessoas nasce fora
desse espectro - isso mesmo, elas não são nem "XX", nem "XY".
Para além da questão dos genes, usa-se o
termo "intersexo" para se
referir a qualquer pessoa que apresente características biofisiológicas que não
permitem que ela seja designada inteiramente como homem ou mulher.
Na maior parte dos casos, ser intersexo
não afeta em nada a saúde do indivíduo e nem mesmo se encara como um problema
médico, contudo, essas pessoas sofrem por conta do estigma de não estarem
dentro dos padrões socialmente estabelecidos.
Assim, muitos dos bebês intersexo passam
por cirurgia quando ainda são recém-nascidos, ou passam por tratamento com
hormonização ainda na infância, por opção dos próprios pais, e, por vezes, não
tomam conhecimento de sua condição.
O problema é que, não raro, essa decisão é
feita com base na aparência dos genitais da criança, sem levar em consideração
como isso pode afetar o desenvolvimento sexual da pessoa, havendo muitos casos
em que os tratamentos resultam em esterilização involuntária (e desnecessária).
O fato de poucas pessoas saberem da
existência dessa condição mostra a dificuldade em aceitar perspectivas fora dos
binarismos, que organizam pensamento social.
A redução do sexo a apenas dois polos é uma
construção social que guarda uma relação apenas limitada com o que se poderia
considerar como natural - ou seja, que ocorre na natureza.
Se,
nem mesmo a biologia restringe o sexo a "macho" e "fêmea",
não há porque se apegar a duas únicas expressões de gênero como válidas,
negando a legitimidade de outras identidades.
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