quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

Futebol: a manipulação maciça das massas

Texto de Rafael Rocha – Jornalista – Recife/PE 
Publicado no HUMANITAS nº 11 – Junho/2013

O futebol é utilizado nos países subdesenvolvidos para que as massas populares entrem no opiário e esqueçam as mazelas do mundo onde vivem


Tempo de futebol no Brasil é e será tempo para descontrair as massas e para desviar a atenção popular das questões sociais mais complexas. Tudo exatamente igual às corridas, encenações, lutas de gladiadores que também desviavam a atenção dos antigos romanos das mesmas questões. O Estado romano, por meio de jogos sangrentos e grande ostentação de poder, manipulava a plebe e a mantinha longe das decisões governamentais. Era a chamada política do pão e circo - panis et circenses. Qualquer semelhança com a bola rolando de pé em pé nos gramados não é mera coincidência.
Hoje não mais morte e sangue nas arenas. Apenas uma satisfação tremenda às demandas do mercado capitalista através do futebol em todo o mundo dito civilizado. A massa é marginalizada, através da grande mídia televisiva e impressa, com a apresentação do esporte tal uma novela, onde a miséria é deglutida como destino comum. Na realidade, ao extrair o excedente psíquico da massa, através das imagens televisionadas, o futebol mostra o seu posicionamento subdesenvolvimentista e contrarrevolucionário. Cada gol marcado e visto na tela, como bem disse o sociólogo e jornalista Felisberto Vasconcelos (Revista Caros Amigos-agosto 2010) “é a celebração da televisão como valor de troca e aparato de domínio. A TV é a mais-valia ideológica do futebol. O câncer totalitário apreendido pelo olho e ouvido”. 
Sim, ainda que tenhamos paixão por esse tipo de esporte e torçamos por uma determinada equipe ou seleção, temos de aceitar que o futebol não traz nada de bom a favor do humanismo. O futebol é contra. E se reclamarem que o povo tem de ficar alegre e na torcida recordemos o Pão e Circo de Roma Antiga e assinalemos que alegria também pode ser fascista. 
Observemos o quanto a sociedade brasileira baixa o nível de conhecimento e de cultura quanto mais se expande o futebol. O domínio da televisão alcança o inconsciente coletivo, o nível de conversações entre as pessoas cai de forma radical, o barulho nas ruas aumenta horizontal e verticalmente, as atitudes violentas também. Que cultura é essa?
Enquanto isso falta tudo em nossa nação, mas dinheiro para o futebol não. A Educação de qualidade é uma bola murcha. A Saúde é colocada para escanteio. A Segurança é jogada para as laterais. As obras públicas prioritárias ligadas a tais setores são adiadas para que se construam monstros de concreto armado de valores bilionários que sirvam como novas arenas aos gladiadores do século XXI: os jogadores de futebol. Estes são analfabetos funcionais em sua totalidade, mas com os bolsos repletos com um dinheiro que poderia ser capitalizado de forma mais concreta em ações de validades permanentes e não circunstanciais.
Durante a ditadura civil/militar, ainda segundo Felisberto Vasconcelos, “o cretinismo futebolístico do ditador Garrastazu Médici exorbitou com a democracia”, sendo premiado com um título de futebol mundial em 1970. A Argentina foi agraciada, em 1978, com um título mundial de futebol para que o povo esquecesse as matanças, torturas e sequestros de crianças a que o governo de Jorge Rafael Videla estava a mergulhar o país.
Sim, esqueçam o futebol dos países desenvolvidos. Ele é usado nesses países como um entrelaçamento cultural e entretenimento visual. Nos países subdesenvolvidos não! O futebol é utilizado nos países subdesenvolvidos para que as massas populares entrem no opiário, tornem invisíveis e esqueçam as mazelas do mundo onde vivem.
Um jogador de futebol ganhar mais do que um professor e mestre e pós-graduado e do que um médico é um absurdo. E absurdo maior é uma entidade sediada em Zurique intrometer-se nas raízes culturais de um país tropical proibindo eventos e comidas típicas durante uma disputa de futebol para dar vez à cultura ianque via MacDonalds e outras marcas do capitalismo. Infeliz do governo que se dobra a isso. Sejam governos estaduais ou o federal. Infelizes dos governos que constroem futuros elefantes brancos com o suado dinheiro público e ainda ficam a se gabar sobre o quanto isso vai trazer de lucro para a terra. Meras falácias! O futuro dirá!
Realmente, a política do pão e do circo cai como uma luva para o Brasil e para seus governantes. O poder político faz o que bem deseja e o trabalhador sofrendo em sua luta por um salário digno para viver, baixa a cabeça e começa a se preocupar apenas com o troféu que a sua seleção possa ganhar. Fica extasiado com a monumentalidade dos estádios e cego com os dribles dos políticos. E tal como a população da Roma Antiga se prepara para gastar aquilo que não tem nas novas arenas e a aplaudir em delírio ídolos de barro como robôs da nova ordem e massa manipulada delirante.
Mergulhando no espírito dos gladiadores da Roma Antiga, bem que os torcedores poderiam gritar nas arquibancadas das novas arenas: "Ave, César! Os perdedores da pátria te saúdam”.

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