sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

Um Feliz Você Novo...

Texto de Ana Amaria Leandro - Belo Horizonte/MG
Publicado no HUMANITAS nº 18 – Janeiro/2014

Era um fim de ano e eu atuava na direção de uma escola. Uma chuvinha passageira, típica mensagem de um sol escondido atrás de nuvens cessava lentamente. Súbito, o sol brilhante e penetrante surgiu por trás de nuvens contornadas pelo brilho dos raios. Um maravilhoso e multicolorido arco-íris se projetou na abóbada celeste, parecendo tão próximo como se possível fosse alcançá-lo.
No pátio coberto da escola cercado por grandes colunas, que davam passagem para a área externa, as crianças batiam palmas e gritavam extasiadas, pois o arco-íris é sempre para elas um motivo de festa!
Percebi então um garotinho quietinho, assentado no primeiro degrau da escadaria, pensativo a olhar, surpreendentemente com tristeza, o fenômeno natural. Aproximei-me cautelosa, com medo de interromper uma divagação interior, que ele não quisesse dividir e assentei-me ao seu lado. Mas ele, tirando os olhos do infinito, fitou-me perguntando:
- É verdade que a felicidade está no fim do arco-íris?
Surpreendi-me com a pergunta! Não era próprio de sua idade colocar a felicidade em um ponto, como algo móvel. Sem lhe responder de imediato, querendo sondar melhor o fundamento de sua pergunta, retruquei-lhe com outra pergunta cautelosa:
- Por que você quer saber isto, meu bem?
- Para ir até lá e buscá-la para minha mãe. Ela disse que a vida é muito ruim e que ela nunca conheceu a felicidade.
Um aperto amargo perpassou-me o peito. Fiquei a me perguntar que direito tinha um adulto de transferir a uma criança, o compromisso (inconscientemente assumido) de lhe trazer a felicidade?
Tomei-lhe as mãozinhas miúdas entre as minhas e respondi:
- Querido, a felicidade não está no fim do arco-íris. Muito embora, vê-lo, já possa ser uma forma de felicidade. O simples de querer fazer feliz sua mãe feliz, já poderia ser para ela uma forma de felicidade; embora talvez, ela ainda não se tenha dado conta disto. Assim é a felicidade; está em todos os lugares, e ao mesmo tempo não está em lugar algum. Sua mamãe precisa encontrar a felicidade dela onde ela estiver da forma como ela quer e acredita.
Não me esqueço do episódio já citado em outras obras minhas, porque me surpreende como os adultos conseguem transferir para episódios fora de seus controles, o poder de ser ou de não ser feliz. E uma passagem de ano é sempre um fato vivido como se a vida pudesse se alterar pela simples virada de um calendário civil.
Existem indícios que mesmo em eras pré-históricas, alguns homens já se preocupavam em marcar o tempo. Há 5 mil anos, os sumérios tinham um calendário bem parecido com o nosso, com um ano dividido em 12 meses de 30 dias, o dia em 12 períodos e cada um desses períodos em 30 partes. O calendário civil foi feito pelo homem e, claro, não o inverso. Não foi o calendário que fez as etapas de sua história, mas sim o que você registrou nesse caminho.
Assim, por exemplo, molhar os pés nas águas do mar na passagem do ano é para muita gente fundamental para que a vida “se renove”. Como se existisse vida sem “ser”. E como se “renovação” fosse algo como um objeto, inerente ao ser, ao seu pensar, seu agir em direção à realização de ideais. Outros “mitos” se somam a esta panaceia de fatores capazes de se tornarem mais fortes do que o próprio homem. Na realidade o personagem principal de uma vida é sempre o próprio ser que a vive. E a vida não é um pacote de soluções compradas, mas construída por cada um.
Não existe renovação! O “novo” é resultado de mudanças pessoais, que encaramos para o encontro de nós mesmos e por consequência da vida que desejamos. Erramos muitas vezes nesses percursos, mas não tem importância, não é preciso esperar outro começo de ano para planos e expectativas, pois todo dia é um novo dia de recomeço. Busque sim, momentos de organização e planejamento da realização de expectativas, de fortalecimento ao crédito em si mesmo da maneira que julgar mais prazerosa e eficaz para você. E se você não aceitar este “novo” feito por você, que não há como delegar a terceiros, nem mesmo precisará do tempo para encontrar o envelhecimento interior. De fato “inovar-se” exige um revisar constante de ideias; uma disposição incansável de busca; uma exigência implacável de crescimento e evolução. 
Este é o preço do “Feliz Você tão Procurado”.

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