sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

A necessidade humana da competência (2)

Texto de Manfred Grellmann – Camaragibe/PE
Publicado no HUMANITAS nº 17 – Dezembro/2013

A quem um político deve prestar contas senão ao povo? A mando de interesses alienígenas obscuros, a “bem preparada” classe política (para isto ela recebe orientação!), faz uma única coisa: deixa o povo no obscurantismo político-cultural e na passividade. Nada mais simples: a alma dos negócios de um larápio é a ocultação e o silêncio.
A liberdade de expressão na democracia tem muito mais a ver com  a desagregação cultural do que com a construção de uma sociedade equilibrada. Basta observar a selvageria econômica da lida com o dinheiro. Ninguém comenta, incluindo a imprensa, que votar é tão somente a ponta minúscula de um iceberg. Na verdade, o processo de governar não pode ser independente do controle de comissões formadas pela população para  fiscalizar a contabilidade e os planejamentos das mirabolantes obras públicas, que os políticos defendem com unhas e verborreia.
A principal  atuação do cidadão depois de votar é a de fiscalizar. Algo que a democracia “esconde e a imprensa escamoteia”. Votar é tão somente o início de uma intenção. Os eleitores têm de agir usando seus direitos “constitucionais” (também escamoteados) e formando comissões populares, visando fiscalizar, controlar e auditar, “sem reservas”, todos os documentos contábeis e projetos  de seus empregados (os políticos). A sociedade não é somente composta por empresários que com seu poder econômico agem como um rolo compressor, impondo APENAS seu insaciável desejo por lucros.
O cidadão aprende desde cedo que entregar dinheiro a um estranho para aplicar é porta aberta para ser roubado. Paradoxalmente, quando ele vota entrega toda a arrecadação do estado e até a Casa da Moeda a estranhos e ninguém acha que deve fiscalizar o uso desses recursos durante todo o mandato desses estranhos. O que o eleitor faz é  delegar  para ser  roubado.
Escondem do cidadão o quanto ele tem o dever de desenvolver  a cultura de fiscalizar e “atuar efetivamente” em conjunto no pé do político e em toda atividade deste. O cidadão tem de usar parte de seu tempo para participar de comissões que fiscalizem  de forma efetiva as ações dos políticos em sincronia com a justiça. Justiça para a nação e não para os endinheirados.
A orientação de  telefonar  para gabinete de político cobrando transparência é como enganar criança com pirulito, enquanto papai faz safadeza com a empregada no quartinho. Votar como se vota hoje, não pode sequer ser considerado uma participação, a não ser como cúmplice de roubos com aproveitamento unilateral.
O povo não tem o direito de reclamar. O povo é quem entrega a nação aos corruptos! Se não quisermos ser roubados, e enganados devemos  tomar medidas preventivas logo, e não xingar e chorar depois da sujeira feita.
O eleitor é (e isto é impossível de ser negado) o patrão, o dono do estado, “gerador da receita, e o político é tão somente um empregado, um servidor!” Afinal, ele recebe um salário e, diga-se, é muitíssimo bem pago. Contratualmente, responde por um período e depois, ao ser dispensado, fica com o título de EX e um monte de vantagens “simplesmente imorais”. Não conheço nenhuma empresa que pague alguma coisa a um ex-funcionário depois de dispensado com os direitos legais!
O ex-político no Brasil não é apenas um ex-político. Ouvimos o povo chamá-lo de ex-ladrão, ex-lesa pátria, ex-mentiroso, ex-trambiqueiro, ex-cobrador de propinas. A lista é longa. E, claro, com muito xingamento  acompanhado de raiva e ódio.
No ato do voto é comum ouvir: “estou votando em um novo ladrão que vai me roubar no próximo exercício”.
Para o brasileiro o termo político é palavrão, vergonha e mau caráter. Essa cultura ficou tão entranhada que quando o eleitor decide se  transformar também em político vai seguir as mesmas pegadas.
Podemos dizer: os políticos saem do povo e este também não é diferente deles, pois ao entrar para ocupar um cargo, não vai remar contra a correnteza. Vai se encaixar em uma cultura fortemente instalada, deixando de lado eventuais considerações morais, que serão ocupadas pelo: “vou defender o meu”.
Democracia é um regime em constante aperfeiçoamento, dizem. Se o voto não corresponder à expectativa das promessas de campanha, então ele deve ser mudado no próximo pleito.
Enfim, mais um jogo de loteria no país. Um jogo às avessas, onde a maioria absoluta ganha insatisfação, raiva e o real sentimento de que foi enganada. Assim vão-se empurrando os problemas, “construindo a democracia” enquanto os larápios engordam. As coleiras são as mesmas, mas os cães mudam.
E que venha a Copa do Mundo de futebol em 2014 com muita torcida para sermos campeões. O bom será somar mais  um campeonato de futebol, pois, campeões da corrupção, da irresponsabilidade e do analfabetismo cultural e político já somos há muito tempo. Títulos que dificilmente algum outro país nos irá tirar.

Nenhum comentário:

Postar um comentário