quarta-feira, 30 de janeiro de 2019

HUMANITAS Nº 80 – FEVEREIRO 2019 – PRIMEIRA PÁGINA


“O GRITO” QUE ABALOU O MUNDO DAS
ARTES PLÁSTICAS NOS FINS DO SÉCULO 19

Edvard Munch (1863-1944) foi um pintor norueguês e um dos precursores do expressionismo alemão. Em Paris, manteve relações com os pintores pós-impressionistas Toulouse-Lautrec e Paul Gauguin dos quais recebeu grande influência. Sua obra-prima “O Grito” (1893) é uma das mais famosas do mundo das artes plásticas. (PÁGINA 8)

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 Leia a curiosa história do menor mês do ano na PÁGINA 4
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Na PÁGINA 6, o Especial do Humanitas diz que Pernambuco
foi o primeiro lugar a produzir cerveja no Brasil e nas Américas
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Na PÁGINA 3, mergulhe nos poemas de grandes poetas e
use sua inteligência no xadrez
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O jornalista Evaldo Costa, Recife/PE, diz, na PÁGINA 5, que os seguidoresde Miguel Arraes não podem compactuar com os algozes da democracia

HUMANITAS Nº 80 – FEVEREIRO 2019 – PÁGINA 2

EDITORIAL
Nossa presença

Qual o significado de nossa presença neste planeta?
Essa pergunta vive eternizada no cérebro humano. O ser humano indaga. Busca respostas.
Como bem disse Richard Dawkins, “nós existimos para nos replicarmos, para fazer cópias de nós mesmos. Isso é o que somos. Somos réplicas de replicadores, que também são réplicas de réplicas”. 
Além disso, somos criaturas sexuais e precisamos de complementos para construir nossas réplicas. É a nossa descendência que garante nosso estar no mundo. São as nossas linhagens multiplicadas.
Os seres que se reproduzem sexualmente concentram os seus esforços em busca de seduzir parceiros sexuais para multiplicar suas espécies. Temos de morrer para dar lugar às novas espécies.
Depois de surgirmos na nossa dimensão temporal, vivemos a dimensão energia/matéria, e a seguir a mudança evolutiva, que vai continuar a agir junto com nossas réplicas sobre todo o período fecundante.
Para que o ciclo da vida possa se fechar, precisamos “devolver” à Natureza tudo o que pegamos “emprestado” aqui no planeta Terra, incluindo nisso morrer e retornar à poeira atômica.
Somos um Universo aprendendo a si mesmo. Somos um Universo ainda a se tornar consciente e responsável pela própria evolução.
Nós decidimos o futuro da nossa espécie, e não podemos substituir essa realidade por alguma versão divina mitológica, só porque desejamos ser imortais e por termos medo de morrer.
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O guarda-chuva
Antonio Carlos Gomes – Guarujá/SP

Dizem que homem não gosta de ganhar presentes. Ouço desde criança. Lembro-me ainda dos meus aniversários onde morria de vontade de ficar à porta para receber e, meu pai me educando dizia:
- O importante são as visitas, não o que trazem.
Hoje a sociologia diz que os afetos são aprendidos e não espontâneos. Concordo, naquele tempo ficava que nem os cães de Pavlov, sem poder salivar. Não aprendi a ganhar presentes.
Enquanto as mulheres fazem a maior festa quando agradadas; nós homens apenas dizemos um seco:
- Obrigado.
Meu filho, mais expansivo, encontrou uma solução. Quando recebe alguma coisa, fala alto de boca cheia:
- OBA!
Está melhor que a média.
No geral este é um assunto muito difícil.
No final do ano é um martírio. Festa do escritório: no amigo secreto recebemos presentes de quem mal conhecemos.
Na vizinhança onde justamente o João, que brigamos por causa do muro, vem com um agrado. Na família é pior ainda. Tem a lista das crianças. Recheada. A lista das esposas. Bem cara. A lista das solteiras. Só uma recordação barata principalmente se não for parente. E a lista dos homens.
O que sobrou do dinheiro, ou seja, muito pouco.
No dia vinte e seis contabilizamos. Primeiro recebemos críticas por ter dito um obrigado muito baixo e com lábios de fotografia.
A seguir contamos os cintos, agendas, carteiras e mais algumas tranqueiras que não precisamos.
Há alguns anos atrás ganhei um guarda-chuva. Estava começando a epidemia de importados. Era um deles.
Não era preto, era de um azul escuro, na verdade discreto, com minúsculas flores de Liz espalhadas sem espalhafato.
Foi uma vizinha que trouxe o agrado. Recebi com a cara padrão e coloquei no carro. Por dentro pensei:
- Não gosta de mim, só falta a galocha azul turquesa.
Depois de usá-lo em algumas ocasiões, ele começou a receber elogios pela cor e discrição. Confesso que mudei de opinião, e até algum afeto dispensei ao mesmo.
Um dia, Bibi, é o nome da presenteadora, visitava minha esposa e começou a chover. Foi emprestado o simpático guarda-chuva. Ela nem lembrou que foi ela quem o trouxe.
Saiu com o guarda-chuva e nunca mais este voltou. Só posso concluir que lembrança é para lembrar, não para uso. Continuo não sabendo receber presentes.

HUMANITAS Nº 80 – FEVEREIRO 2019 – PÁGINA 3


REFÚGIO POÉTICO – CARTAS DOS LEITORES – TESTE DE XADREZ

CRÍTICA DA POESIA
Vasko Popa – Belgrado (1922/1991)
Tradução de Aleksandar Jovanovic

Depois da leitura de poemas
No serão literário da fábrica
Começa o diálogo

Um ouvinte ruivo
De face marcada por manchas solares
Ergue dois dedos

Camaradas poetas

Se eu lhes versificasse
Toda a minha vida
O papel ficaria rubro

E pegaria fogo
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CANÇÃO SOBRE O MESMO TEMA ANTIGO
João Alphonsus de Guimarães
Belo Horizonte (MG) – 1901/1944

Eram cinco donzelas.
Queriam todas me adorar.
Mas não adorei nenhuma delas.
Oh, elas
Queriam todas me adorar.

Eram cinco donzelas.
Queriam todas me abraçar
Mas não abracei nenhuma delas.
 Oh, elas
 Queriam todas me abraçar.

Eram cinco donzelas.
Queriam todas me beijar.
Não beijei nenhuma delas,
Oh, elas
Queriam todas me beijar.

Eram cinco donzelas
Queriam todas me matar
Mas não matei nenhuma delas,
Oh, elas
Queriam todas me matar.

Eram cinco donzelas.
Queriam todas me desprezar.
Mas eu amei a todas elas,
Oh, elas
Queriam todas me desprezar.
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ANÁLISE DA SOMBRA
César Leal
Recife (PE) – 1924/2013

Analisa-se da sombra
seu caráter permanente:
pela manhã retraindo
a imagem, à tarde crescente.

E aquele instante em que a sombra
adelgaça o corpo fino
como se no chão entrasse
quando o sol se encontra a pino.

Quem a esse instante mira
em oposição ao lado
onde o sol era luz antes
logo vê o passo vago

da sombra que agora cresce
o corpo de onde se filtra
até fundir-se no limbo
que em torno dela gravita.

Forma esse limbo a coroa
que as sombras traz federadas:
soma de todas as sombras
num só nó à noite atadas.
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CARTAS DOS LEITORES

O Humanitas é uma publicação que faz o diferencial. Promover mudanças que não se submetam ao costume da mentira é um grande desafio, numa sociedade que vive presa às rédeas deste cenário. Ana Maria Ferreira  Leandro – Belo Horizonte/MG

HUMANITAS Nº 80 – FEVEREIRO 2019 – PÁGINA 4

A CURIOSA HISTÓRIA DO MENOR MÊS DO ANO
Especial do Humanitas

Tudo começou por volta do século 6 de antes da Era Comum, quando o rei Tarquínio reformulou o calendário romano, adicionando mais dois meses, quando até então eram apenas dez: janeiro e fevereiro.
Ele fez isso, pois o novo calendário passou a se basear nas mudanças de fase da Lua, totalizando um ano de 355 dias.
Para facilitar a distribuição dos dias entre os meses, fevereiro, na época o último mês do ano, acabou ficando com apenas 28 dias.
Outros fatores contribuíram para que ele ficasse menor, como o fato de cair no ápice do inverno romano.
“O período de frio trazia muitas doenças, e fevereiro passou a ser considerado de mau agouro. O próprio nome do mês faz uma alusão à palavra febre“, diz o astrônomo Roberto Bockzo, do Instituto de Astronomia e Geofísica da USP.
O nome fevereiro vem do latim februarius, inspirado em Februo, deus da morte e da purificação na mitologia etrusca.
Em 44 de antes da Era Comum, o imperador Júlio César alterou o calendário de novo – agora tendo por base o ciclo solar –, e o ano passou a contar com 365 dias, sendo que fevereiro ganhou mais um dia, ficando com 29.
Mas a fartura durou pouco.
Mais tarde, César Augusto assumiu o poder e, para homenageá-lo, o Senado romano rebatizou de agosto o oitavo mês do ano.
Só que agosto tinha 30 dias, e pegaria mal o novo soberano ter seu mês com menos dias do que o de outro – Júlio César já tinha um mês em sua honra, julho, com 31 dias.
Assim, decidiu-se que agosto teria 31 dias. Para isso, tirou-se um dia do infeliz fevereiro, que voltou a ter somente 28, ganhando um dia a mais apenas nos anos bissextos.
Já houve um dia 30 de fevereiro? Sim, mas só na Suécia e na extinta União Soviética. 
E aconteceu três vezes.
Uma na Suécia, graças a uma ideia que deu errado, e as outras duas foram na União Soviética, devido a uma reforma desastrada do calendário. Exceto esses casos específicos, que só valeram para esses países, a data nunca mais se repetiu.
Desde a criação dos doze meses do ano, na época do Império Romano, fevereiro sempre teve menos dias.
Isso ocorreu porque, durante alguns anos, ele foi o último mês do calendário e, como os outros tinham uma quantidade já definida de dias, sua duração era limitada ao tempo que faltava para terminar o ano.
Quando migrou para ser o segundo mês do calendário, manteve a curta duração.
Na Suécia aconteceu o seguinte: o ano tropical (período de um ano baseado no ciclo das estações) tem 365,2422 dias.
Sabendo disso, os romanos criaram um calendário em que, a cada três anos de 365 dias, temos um bissexto, de 366, resultando na média de 365,25 dias por ano. Esse calendário foi chamado de Juliano.
A diferença entre a média do calendário e a duração do ano tropical parece insignificante, mas 1,5 mil anos depois, o mundo já estava dez dias atrasado.
Em 1578, o papa Gregório XIII reajustou o sistema, mudando a regra dos bissextos. Em 1582, ele tirou o atraso ao pular do dia 4 para o dia 15 de outubro.
O novo calendário foi logo adotado pelos países católicos. Já os protestantes só se adaptaram no século 18. A Suécia foi a exceção: em vez de pular os dias de uma vez, o país decidiu deixar de lado os dias extras dos anos bissextos de 1700 a 1740, tirando a diferença de dez dias gradativamente.
Como planejado, a Suécia pulou o dia extra de 1700. Mas, após entrar em uma guerra, deixou de pulá-lo em 1704 e 1708, fazendo seu calendário ficar sem nenhuma lógica.
Para arrumar a bagunça, em 1712 eles voltaram ao calendário juliano e adicionaram um dia (o 30 de fevereiro) para compensar o perdido em 1700.
O caso da Rússia, foi que no início da URSS, estabeleceu-se que todas as semanas teriam cinco dias, todos os meses teriam 30 (inclusive fevereiro) e mais cinco feriados seriam distribuídos pelo ano, totalizando 365 datas.
Esse sistema foi iniciado em outubro de 1929 e cancelado em 1932. Assim, aconteceram dois 30 de fevereiro na União soviética nesse intervalo: nos anos de 1931 e 1932.
Mesmo sendo o menor mês do ano, em fevereiro há muito o que se comemorar, pois ocorrem muitas festas e feriado prolongado.
Apesar de não ter uma data fixa, o Carnaval geralmente é comemorado no mês de fevereiro. Mesmo com sua tradição pagã, a data em que a festa é celebrada foi definida pelo calendário cristão, mas também pode acontecer no mês de março, como neste ano de 2019. No Brasil, como também em alguns outros países, a festa é feriado nacional.

HUMANITAS Nº 80 – FEVEREIRO 2019 – PÁGINA 5

MIGUEL ARRAES E OS ALGOZES DA DEMOCRACIA
Evaldo Costa é jornalista. Atua no Recife/PE

“Meu mandato é inegociável. Existe até que expire sua duração legal ou enquanto eu for vivo. Posso ser preso, mas não deposto”, disse o então governador Miguel Arraes, em 1º de abril de 1964, a três coronéis e um almirante que tentavam convencê-lo a renunciar ou a aceitar secretários indicados pelos militares que derrubavam o governo João Goulart.
Tinha como testemunhas, além dos quatro militares, o então superintendente da Sudene, Celso Furtado, o prefeito Pelópidas Silveira, que seria preso no dia seguinte, e outras poucas pessoas. “Tenho oito filhos. Como iria olhar para eles se aceitasse isso?” – perguntou?
Havia canhões posicionados contra o Palácio, na Rua da Aurora e na própria Praça da República, desde a madrugada. Consultado pelo comandante da Polícia Militar se deveria resistir militarmente, foi claro: “Não! Desmobilize qualquer aparato bélico. Não quero ver derramamento de sangue”.
Miguel Arraes saiu do Palácio em um fusca, conduzido pelo amigo Waldir Ximenes, para a prisão em Fernando de Noronha e, no segundo semestre do ano seguinte, deixou o país para quinze anos de exílio na Argélia. Viveu até o risco da eliminação física, na própria Argélia, no bojo da chamada Operação Condor.
Este episódio e suas prolongadas e penosas consequências são costumeiramente apresentados como definidores da trajetória política de Miguel Arraes que, se vivo fosse, faria 93 anos no dia 15 de dezembro deste ano.
 E é por isso que foi homenageado, em 2018, com a inscrição do seu nome no Panteão da Pátria, por decisão do Congresso Nacional e proposta do deputado Tadeu Alencar.
Para que serve um panteão? Os Estados Unidos têm zelo religioso pelos seus pais fundadores. Com isso, procuram instituir padrão de conduta, modelos virtuosos, indicar exemplos a serem seguidos.
E o que ensina a biografia de Miguel Arraes de Alencar?
Que o cumprimento do dever não está condicionado a contingências pessoais. Ofereceram a ele a continuação no cargo, se aceitasse nomear secretários impostos (a maioria dos 22 governadores aceitou esta fórmula). Recusou. Disseram que se, simplesmente, renunciasse seria deixado em paz. Disse não e pagou o preço.
Que o que se diz por escrito ou em palanque não pode ser mudado ao sabor das conveniências. Arraes tinha compromissos claros com o povo pobre de Pernambuco e só não honrou quando foi impedido.
Na Prefeitura do Recife, realizou uma obra social que ainda marca a paisagem da cidade. Como governador, garantiu a livre organização dos trabalhadores e mediou o Acordo do Campo que, pela via do entendimento, trouxe a zona da mata de Pernambuco da idade média para o século XX.
Os valores de um homem público não podem ir ganhando novas formas como nuvens ao vento.
No segundo e no terceiro governo pós-regime militar, Arraes continuou fiel aos mais pobres.
E continuou construindo soluções para problemas seculares.
Três quartos dos pernambucanos viviam nas trevas. Os programas de eletrificação fizeram Pernambuco ser o primeiro estado da federação a ter todos os domicílios, rurais inclusive, ligados à rede de distribuição de energia. Independentemente da renda do morador.
Os programas de microcrédito mudaram muitas vidas décadas antes de garantirem Prêmio Nobel na Ásia.
Que a coerência é necessária. Arraes era um homem de esquerda que sempre foi capaz de dialogar e de encontrar espaços de entendimento com quem pensava diferente dele. Nunca quis hegemonia absoluta. Sempre foi capaz de fazer alianças que permitissem consolidar avanços. Mas nunca escondeu que tinha lado e o seu lado era o da maioria desvalida.
A inscrição do nome de Miguel Arraes no Panteão da Pátria, como se vê, é uma ótima oportunidade para um bate-papo sereno com a história. Leva-nos a rememorar o que não pode nem deve ser esquecido. Faz-nos pensar quem somos e de que lado estamos. E decidir: nossa referência é Arraes ou aqueles que o cassaram e o mandaram para o exílio?
Quem honra a memória e se sente homenageado com a inscrição do nome de Arraes no Panteão da Pátria nunca ficará do lado do mais forte por ser mais forte.
Quem diz ter Arraes como referência não pode confraternizar com os algozes da democracia.

HUMANITAS Nº 80 – FEVEREIRO 2019 – PÁGINA 6

PERNAMBUCO FABRICOU A PRIMEIRA
CERVEJA BRASILEIRA E AMERICANA
Especial do Humanitas

A primeira cervejaria no Brasil e na América do Sul foi criada e montada em Pernambuco, logo após a chegada, ao Recife, em 1637, do conde Maurício de Nassau. Junto com Nassau veio o cervejeiro Dirck Dicx com uma planta de cervejaria e os componentes para serem montados. Na Zona Norte da capital pernambucana nasceu a primeira cerveja, não somente nacional, mas das Américas.
A cervejaria foi montada em outubro de 1640 na residência chamada “La Fontaine”, localizada no Recife, na Capunga, bairro das Graças, que Nassau deixou de utilizar após a construção do parque de Vrijburg (Palácio de Friburgo), onde hoje se encontra o Palácio da Justiça.
Indo mais distante, a primeira cerveja do mundo surgiu há mais de 11 mil anos de antes da Era Comum, na região onde hoje fica o Irã e o Iraque, na antiga Suméria.
Diferentemente do que vemos hoje, os responsáveis pela produção da cerveja não eram os homens, pois eles naquelas épocas não tinham tempo para ficar em casa cozinhando, cuidando da prole ou fazendo cerveja.
Por causa das guerras a serem lutadas, animais a serem caçados e outras tarefas a serem cumpridas, eram as mulheres que fabricavam a bebida. Por isso, a deusa da cerveja, Ninkasi, é uma figura feminina. Era a deusa suméria da cerveja e mestre cervejeira entre os deuses. Nascida das bolhas de uma fonte de água fresca, seu nome significa “senhora que enche a boca”.
No Antigo Egito, os trabalhadores que ergueram as grandes pirâmides eram pagos com cerveja. A ração diária deles era de cinco litros, mas a cerveja era muito menos alcoólica do que a moderna. Na Idade Média, ela manteve o status de alimento. Um dos poucos alimentos seguros naquela época, pois era fabricada com higiene pelos monges católicos.
Na liturgia da Igreja, a bebida foi incorporada como substituta das comidas sólidas nos períodos de jejum dos clérigos.
Louis Pasteur, um cientista francês, é lembrado, hoje, por suas notáveis descobertas das causas e prevenções de doenças.
Entre seus feitos mais notáveis pode-se citar a redução da mortalidade e a criação da primeira vacina contra a raiva.
Seus experimentos deram fundamento para a teoria microbiológica da doença.
Ele atendeu à solicitação de alguns dos vinicultores e cervejeiros da região que pediram para descobrir como os vinhos e a cervejas azedavam.
Durante sua investigação, através do uso de microscópio, ele pôde constatar que a levedura ocasionava isso. Solucionou esse problema através de um processo que originou a atual técnica de pasteurização dos alimentos.
Atualmente, no mundo inteiro existem quatro escolas de cerveja: a alemã, a belga, a britânica e a americana.
A American Lager, mais leve, é a mais consumida no mundo. No Brasil, o estilo é chamado de Pilsen.
A chegada dos holandeses comandados por Maurício de Nassau trouxe um período de grande prosperidade para a cidade do Recife, que se desenvolveu rapidamente ao ganhar a primeira fábrica de cerveja das Américas e se tornar o principal porto da Companhia das Índias Ocidentais no Brasil, ganhando, ainda, o primeiro observatório astronômico do continente.
A cerveja saiu de cena no Recife na época do Brasil Colônia. Os portugueses estavam mais interessados em vender o vinho lusitano. E a cerveja ainda tinha como outra concorrente a aguardente de cana, vinda dos engenhos de Pernambuco.
Com a Independência e a abertura dos portos aos produtos de outros países – a cevada e o lúpulo incluídos – a cerveja voltou a ganhar espaço.
Os fabricantes de cerveja também disputavam mercado (além dos vinhos de Portugal e da aguardente dos engenhos) com os licores, que tinham o jenipapo como carro-chefe.
O jornal Diário de Pernambuco, do Recife, o mais antigo da América Latina, publicou texto, no dia 21 de fevereiro de 1873, sobre uma Imperial Fábrica de Cerveja, do prussiano Henry Joseph Leiden, cuja sede ficava na Rua do Sebo, 35, hoje Barão de São Borja. Segundo o matutino, essa fábrica “produzia dois tipos de cerveja (branca e preta), e mais limonada e água gasosa”. Ainda de acordo com o citado jornal, a fábrica de Leiden no Recife era um sucesso e terminou por se tornar “ponto de encontro, com espaço para piqueniques, mesas de bilhar e de cartas, para apresentações artísticas e até jogos de críquete”.
E mais: o mesmo jornal publicou anúncio da fábrica Leiden no dia 12 de agosto de 1869, com o brasão imperial e um slogan onde se dizia: “a melhor cerveja nacional do Brasil é sobretudo de Pernambuco”.

HUMANITAS Nº 80 – FEVEREIRO 2019 – PÁGINA 7

SABER DEIXAR PARTIR!
Ana Maria Ferreira Leandro – Colaboradora do Humanitas -  É escritora e jornalista. Atua em Belo Horizonte/MG

Saber deixar partir.
Há quem defenda que o amor é isso mesmo.
Respeitar a liberdade do outro é um ato de amor.
Dou o exemplo dos pais que veem crescer os filhos e que depois os veem sair de casa para viver as suas próprias vidas.
Saber deixar partir é ter a convicção intrínseca de que tudo é efêmero, ou de que nada é eterno; a consciência plena de que todas as histórias têm um princípio e um fim, até mesmo as de amor.
Pena é que a maior parte das pessoas não possua a maturidade emocional necessária para “saber deixar partir”.
São essas pessoas com “mal perder” que exterminam muitas vezes o amor, apagando todas as recordações dos momentos bons e tornando a vida do outro um verdadeiro inferno.
Por outro lado, aquilo que me é dado a observar numa grande parte dos casais que mantêm um relacionamento de aparências é o seu sentimento de posse no lugar onde deveria existir o sentimento de cumplicidade.
Ninguém pertence a ninguém, cada pessoa é única e basta-se a si mesma, moldar a personalidade do outro é limitar a própria oportunidade de amar; ninguém pode se sentir feliz ou fazer feliz se não poder expressar livremente seu eu.
Saber deixar partir requer tanta preparação como saber partir.
Quase sempre quem não sabe deixar partir e quem não sabe partir é movido pelos mesmos motivos: o medo de ficar só, a incapacidade de sentir-se independente, o medo de não ser socialmente aceito...
Uma relação de amor é como uma intervenção cirúrgica onde os sinais vitais deverão prevalecer sobre todas as coisas. Deve-se lutar sempre pela sobrevivência de uma relação, mas quando se chega à conclusão de que já se tentou com todas as forças e não se conseguiu, há que ter a coragem de deixar partir ou mesmo de partir, caso contrário, corre-se o risco de culpar o outro pela nossa infelicidade.
Muitos de nós assistimos, impávidos e serenos à morte do amor, muitas vezes camuflada por um casamento. Ofuscados pelo brilho da taça içada bem alto, muitos se esquecem que a mesma está, não raras vezes, erguida sobre um monte de cinzas.
Deixar partir talvez seja a coisa mais difícil que façamos na vida.
Ao longo da nossa vida precisamos aprender como deixar quem amamos partir.
Um pouquinho a cada dia, até que um dia, ela se foi por completo e restou a lembrança, daquilo que vivemos juntos e que foi bom.
Deixar partir é difícil, principalmente quando ainda gostamos dessa pessoa. Quando desejamos do fundo do coração que os caminhos, as decisões e as palavras tivessem sido outras.
Mas é necessário e diria que é um dos últimos grandes passos do amor.
Quando deixamos o outro partir, permitimos que ele seja feliz e nos permitirmos ser felizes.
Aprendemos a não ser âncora que aprisiona, e sim estrada que conduz, vento que impulsiona as asas em voos mais altos.