EDITORIAL
Nossa presença
Qual o significado de nossa presença neste planeta?
Essa pergunta
vive eternizada no cérebro humano. O ser humano indaga. Busca respostas.
Como bem disse
Richard Dawkins, “nós existimos para nos
replicarmos, para fazer cópias de nós mesmos. Isso é o que somos. Somos
réplicas de replicadores, que também são réplicas de réplicas”.
Além disso, somos
criaturas sexuais e precisamos de complementos para construir nossas réplicas.
É a nossa descendência que garante nosso estar no mundo. São as nossas
linhagens multiplicadas.
Os seres que se
reproduzem sexualmente concentram os seus esforços em busca de seduzir
parceiros sexuais para multiplicar suas espécies. Temos de morrer para dar
lugar às novas espécies.
Depois de surgirmos
na nossa dimensão temporal, vivemos a dimensão energia/matéria, e a seguir a
mudança evolutiva, que vai continuar a agir junto com nossas réplicas sobre
todo o período fecundante.
Para que o ciclo
da vida possa se fechar, precisamos “devolver”
à Natureza tudo o que pegamos “emprestado”
aqui no planeta Terra, incluindo nisso morrer e retornar à poeira atômica.
Somos um Universo
aprendendo a si mesmo. Somos um Universo ainda a se tornar consciente e
responsável pela própria evolução.
Nós decidimos o
futuro da nossa espécie, e não podemos substituir essa realidade por alguma
versão divina mitológica, só porque desejamos ser imortais e por termos medo de
morrer.
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O guarda-chuva
Antonio
Carlos Gomes – Guarujá/SP
Dizem que homem não gosta de ganhar presentes. Ouço
desde criança. Lembro-me ainda dos meus aniversários onde morria de vontade de
ficar à porta para receber e, meu pai me educando dizia:
- O importante são as visitas, não o que trazem.
Hoje a sociologia diz que os afetos são aprendidos
e não espontâneos. Concordo, naquele tempo ficava que nem os cães de Pavlov,
sem poder salivar. Não aprendi a ganhar presentes.
Enquanto as mulheres fazem a maior festa quando
agradadas; nós homens apenas dizemos um seco:
- Obrigado.
Meu filho, mais expansivo, encontrou uma solução.
Quando recebe alguma coisa, fala alto de boca cheia:
- OBA!
Está melhor que a média.
No geral este é um assunto muito difícil.
No final do ano é um martírio. Festa do escritório:
no amigo secreto recebemos presentes de quem mal conhecemos.
Na vizinhança onde justamente o João, que brigamos
por causa do muro, vem com um agrado. Na família é pior ainda. Tem a lista das
crianças. Recheada. A lista das esposas. Bem cara. A lista das solteiras. Só
uma recordação barata principalmente se não for parente. E a lista dos homens.
O que sobrou do dinheiro, ou seja, muito pouco.
No dia vinte e seis contabilizamos. Primeiro
recebemos críticas por ter dito um obrigado muito baixo e com lábios de
fotografia.
A seguir contamos os cintos, agendas, carteiras e
mais algumas tranqueiras que não precisamos.
Há alguns anos atrás ganhei um guarda-chuva. Estava
começando a epidemia de importados. Era um deles.
Não era preto, era de um azul escuro, na verdade
discreto, com minúsculas flores de Liz espalhadas sem espalhafato.
Foi uma vizinha que trouxe o agrado. Recebi com a
cara padrão e coloquei no carro. Por dentro pensei:
- Não gosta de mim, só falta a galocha azul
turquesa.
Depois de usá-lo em algumas ocasiões, ele começou a
receber elogios pela cor e discrição. Confesso que mudei de opinião, e até
algum afeto dispensei ao mesmo.
Um dia, Bibi, é o nome da presenteadora, visitava
minha esposa e começou a chover. Foi emprestado o simpático guarda-chuva. Ela
nem lembrou que foi ela quem o trouxe.
Saiu com o guarda-chuva e nunca mais este voltou.
Só posso concluir que lembrança é para lembrar, não para uso. Continuo não
sabendo receber presentes.
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