domingo, 28 de junho de 2015

JORNAL HUMANITAS – Nº 37 – JULHO 2015 – PÁGINA 8

O universo tem um propósito?
Lawrence M. Krauss
Físico norte-americano
 Especial para o Humanitas
Texto transcrito de www.ateus.net

Improvável.
Talvez você esperasse uma afirmação mais forte, num sentido ou noutro.
Mas - como cientista - não acho que possa fazê-lo. Enquanto nada na biologia, química, física, geologia, astronomia ou cosmologia jamais forneceu evidências diretas de haver propósito na natureza, a ciência nunca poderá provar acima de qualquer dúvida que tal propósito não existe.
Como disse Carl Sagan, em outro contexto: ausência de evidência não é evidência de ausência.
Naturalmente, nada impediria que a ciência descobrisse evidências positivas de orientação ou propósitos divinos, se essas estivessem ao nosso alcance.
Por exemplo, se amanhã à noite olhássemos as estrelas, e elas estivessem organizadas em um padrão que diz estou aqui, acho que até os céticos mais aferrados da ciência suspeitariam que algo estivesse acontecendo.
Mas nenhum desses sinais inequívocos foi encontrado entre os milhões e milhões de conjuntos de dados que coletamos a respeito do mundo natural ao longo de séculos de exploração. E é precisamente essa a razão pela qual um cientista pode concluir que é muito improvável haver qualquer propósito divino.
Se um criador tivesse tal propósito, poderia escolher demonstrá-lo de uma forma um pouco mais clara aos habitantes de sua criação.
Sempre estaremos livres, como fazem algumas pessoas, para interpretar as leis da natureza como indícios de propósito; por exemplo, o Papa Pio quando o físico belga George Lemaitre demonstrou que a teoria geral da relatividade de Einstein implicava que o universo teve um começo.
Isso foi interpretado pelo Papa como uma prova científica do Gênesis, mas Lemaitre pediu que parasse de fazer tal afirmação.
O big bang - como se tornou conhecido - pode ser interpretado em termos de origem divina, mas pode ser igualmente interpretado como remover deus completamente da equação.
A conclusão está na mente do observador, e está fora do âmbito da teoria e predição científicas.
Finalmente, mesmo se o universo tiver um propósito oculto, tudo o que sabemos sobre o cosmos sugere que não desempenhamos um papel central nele.
Nós somos, enquanto planeta, cosmicamente insignificantes.
A vida na terra acabará como provavelmente já acabou em incontáveis outros planetas no passado, e acabará no futuro.
Todas as estrelas e todas as galáxias que vemos poderiam desaparecer num instante, e o universo continuaria a se comportar mais ou menos como o faz agora.
A natureza parece ser tão impassível quanto inflexível.
Portanto, religiões organizadas, que colocam a humanidade no centro de algum plano divino, são uma afronta à nossa dignidade e à nossa inteligência.
Um universo sem propósito não deveria nos deprimir, tampouco sugerir que nossas vidas são inúteis.
Como parte de uma inspiradora história cósmica, nós nos vemos num remoto planeta neste remoto canto do universo, dotados de inteligência e autoconsciência.
Nós não deveríamos nos desesperar, mas humildemente nos alegrar, aproveitar ao máximo esses dons, e celebrar nosso breve momento ao sol.
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FRASES DE KRAUSS

Acreditar que um deus criou o universo é apenas preguiça intelectual
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Os religiosos nunca tocam na questão da criação de Deus, pois essa é ainda mais confusa do que a solução religiosa que deram para a criação do universo.
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Prefiro viver num universo onde a vida é breve e preciosa a noutro onde o sentido da vida nos é ditado por um Saddam Hussein dos céus.

JORNAL HUMANITAS – Nº 37 – JULHO 2015 – PÁGINA 7

Rede Globo: principal agente
da imbecilização da sociedade brasileira
Igor Fuser – jornalista e professor
São Paulo/SP
Texto transcrito de www.luizmullerpt.wordpress.com
O jornalista Igor Fuser  é doutor em Ciência Política pela Universidade de São Paulo (USP) e professor de Relações Internacionais da Universidade Federal do ABC (UFABC). Ganhou notoriedade ao denunciar as ações da mídia tradicional na perpetuação de uma sociedade violenta e excludente, dos acúmulos dos governos progressistas latino-americanos na última década e do momento da luta de classes no continente, que não é propício às grandes mudanças.O professor prevê ainda maior interferência dos Estados Unidos em situações de fragilidade política nos próximos anos, conforme surgirem oportunidades de levar a América Latina de volta para o seu círculo direto de influência.
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A Rede Globo é o aparelho ideológico mais eficiente que as classes dominantes já construíram no Brasil desde o início do século XX. Substitui perfeitamente a Igreja Católica como instrumento de controle das mentes e do comportamento. A Globo esteve ao lado de todos os governos de direita, desde o regime militar – no qual se transformou no gigante que é hoje – até Fernando Henrique Cardoso.
Serviu caninamente à ditadura, demonizando as forças de esquerda e endossando o discurso ufanista do tipo Brasil Ame-o ou Deixe-o” e as versões sabidamente falsas sobre a morte de combatentes da resistência assassinados na tortura e apresentados como caídos em tiroteios. Após o fim da ditadura, alinhou-se no apoio à implantação do neoliberalismo, apresentado como a única forma possível de organizar a economia e a sociedade.
No plano cultural é impossível medir o imenso prejuízo causado pela Rede Globo, que opera como o principal agente da imbecilização da sociedade brasileira. Começando pelas novelas, seguindo pelos reality shows”, pelos programas de auditório, o papel da Globo é sempre o de anestesiar as consciências, bloquear qualquer tipo de reflexão crítica. A Globo impôs um português brasileiro standard”, que anula o que as culturas regionais têm de mais importante – o sotaque local, a maneira de falar de cada região. 
Pratica ativamente o racismo, ao destinar aos personagens da raça negra papéis secundários e subalternos nas novelas em que os heróis e heroínas são sempre brancos. Os personagens brancos são os únicos que têm personalidade própria e psicologia complexa.
Os brancos são os únicos capazes de despertar empatia dos telespectadores, enquanto os negros se limitam a funções de apoio.  Aliás, estes são os únicos que aparecem em cena trabalhando, em qualquer novela, os únicos que se dedicam a labores manuais.
A postura racista da Globo não poupa sequer as crianças, induzidas, há várias gerações, a valorizar a pele branca e os cabelos loiros como o padrão superior de beleza, a partir de programas como o da Xuxa.
O jornalismo da Globo contraria os padrões básicos da ética, ao negar o direito ao contraditório. Só a versão ou ponto de vista do interesse da empresa é que é veiculado. Ocorre nos programas jornalísticos da Globo a manipulação constante dos fatos. As greves, por exemplo, são apresentadas sempre do ponto de vista dos patrões, ou seja, como transtorno ou bagunça, sem que os trabalhadores tenham direito à voz.
Os movimentos sociais são caluniados e a violência policial pouco aparece. Ao contrário, procura-se sempre disseminar na sociedade um clima de medo, com uma abordagem exagerada e sensacionalista das questões de segurança pública, a fim de favorecer as falsas soluções de caráter violento e os atores políticos que as defendem.
No plano da política, a Rede Globo tem adotado perante os governos petistas uma conduta de sabotagem permanente, omitindo todos os fatos que possam apresentar uma visão positiva da administração federal, ao mesmo tempo em que as notícias de corrupção são apresentadas, muitas vezes sem a sustentação em provas e evidências, de forma escandalosa, em uma postura de constante denuncismo.
A Globo pratica o monopólio dos meios de comunicação, ao controlar simultaneamente as principais emissoras de TV e rádio em todos os Estados brasileiros juntamente com uma rede de jornais, revistas, emissoras de TV a cabo e portais na internet.
Uma verdadeira democratização das comunicações no Brasil passa, necessariamente, pela adoção de medidas contra a Rede Globo, para que o monopólio seja desmontado e que a sua programação tenha de se submeter a critérios pautados pela ética jornalística, pelo respeito aos direitos humanos e pelo interesse público.

JORNAL HUMANITAS – Nº 37 – JULHO 2015 – PÁGINA 6

Nossa face no espelho
Jorge Oliveira de Almeida
Rio de Janeiro/RJ

Interessante como nos olhamos no espelho e ficamos com a firme convicção de que estamos nos vendo. Puro engano! 
Imagine-se olhando para um espelho e levantando o braço esquerdo. Você verá o seu braço levantado também no lado esquerdo da imagem, mas se você fizer o mesmo gesto em frente a uma pessoa, esta verá o seu braço levantado no lado direito.
Bem, você pensará: “o que está sendo levantado é tão somente uma questão de detalhe, pois não faz diferença o lado em que estou a ver o braço levantado”. Quanto ao braço, certamente sim, mas não quanto ao rosto, uma vez que as duas partes do nosso rosto (a direita e a esquerda) não são simétricas.
Se tomarmos qualquer das metades de nosso rosto e a duplicarmos, ficaremos com uma imagem bastante diferente de nosso rosto; em verdade, podemos produzir duas imagens diferentes!
Pessoas há que comentam não sair bem nas fotos. Isso é o que elas naturalmente julgam, mas essa conclusão no mor das vezes carece de realidade, uma vez que as fotos nos mostram a nossa imagem não como as vemos no espelho, mas como os outros a veem.
Essa é a razão pela qual nos sentimos muitas vezes diferentes ao analisar uma foto, porque estamos acostumados a ver a nossa imagem todos os dias no espelho, mas nem sempre uma foto está disponível a cada dia.
Também por isso, as pessoas idosas sempre (infelizmente) se acham mais velhas ao contemplar” uma foto sua, porque esta nos mostra a realidade e isso é sempre difícil de aceitar! Um canhoto ou um homossexual assim nasceram e não tiveram escolha.
Casos há (como aconteceu comigo) que as pessoas deixam de ser canhotas por ignorância dos pais e são obrigadas a fazer tudo com a mão direita. Isso obriga o organismo a realizar uma adaptação que naturalmente não é benéfica.
No caso da homossexualidade imagino que devido ao fato de o cérebro já se achar formado por ocasião da adolescência, que é quando os hormônios afloram!
Os anoréxicos assim o são porque não se veem no espelho como nós os vemos. Veem no espelho o simulacro de uma situação que só existe em suas cabeças. Julgam-se gordos e querem de todas as maneiras emagrecer. Tudo o que vemos e sentimos é determinado pelo que o nosso organismo estabelece.
Se somos mais ou menos agressivos, mais ou menos inteligentes, isso não depende somente de nossas vontades, mas principalmente de uma carga genética que recebemos como uma mala pronta ao nascer e da conformidade de nossos lóbulos cerebrais.
Dessa forma, quando nos vemos num espelho, existe mais esta variável que não deve ser afastada: não nos vemos no espelho como os outros nos veem, mas como queremos ser vistos, como achamos que somos!!
Em síntese, o que você vê no espelho não é você, mas talvez algo assim como um clone ou um avatar, como você preferir... ou talvez como uma realidade” virtual!!

JORNAL HUMANITAS – Nº 37 – JULHO/2015 – PÁGINAS 4 E 5

O holocausto manicomial:
trechos da história do maior hospício do Brasil
 Thayara Castelo Branco
Advogada, Mestre e Doutoranda em Ciências Criminais pela PUCRS
Colunista do site www.justificando.com

Texto transcrito de www.justificando.com

Sessenta mil mortos [1]. Esse é o resultado do tratamento manicomial executado no Hospital Colônia de Barbacena/MG [2]. Fundado em 1903 com capacidade para 200 leitos, o hospital contava com uma média de 5 mil pacientes em 1961 e ficou conhecido pelo genocídio em massa ocorrido especialmente entre as décadas de 60 e 80. Trens com vagões lotados [3] (chamados de “trens de doido”), semelhantes aos dos campos de concentração alemães, despejavam diariamente os “dejetos humanos” para “tratamento” no hospital.
“Lá suas roupas eram arrancadas, seus cabelos raspados e, seus nomes, apagados. Nus no corpo e na identidade, a humanidade sequestrada, homens, mulheres e até mesmo crianças viravam Ignorados de Tal”; “(…) comiam ratos e fezes, bebiam esgoto ou urina, dormiam sobre capim, eram espancados e violentados até a morte” [4]. 
Estima-se que “cerca de 70% dos internados não tinham qualquer diagnóstico de doença mental”. O hospital era destinado para a contenção dos indesejáveis, com função de higienização e sanitarismo da localidade, ou seja, sob as bases da teoria eugênica [5] eram enviadas “pessoas não agradáveis e incômodas para alguém com mais poder, como opositores políticos, prostitutas, homossexuais, mendigos, pessoas sem documentos, epiléticos, alcoolistas, meninas grávidas e violentadas por seus patrões, esposas confinadas para que o marido pudesse morar com a amante, filhas de fazendeiros que perderam a virgindade antes do casamento, entre outros grupos marginalizados na sociedade”. Em resumo: era preciso livrar-se da escória, do mal social e do incômodo em um local onde ninguém pudesse ter acesso. Era a “barbárie” humana.
“Os pacientes do Colônia morriam de frio, de fome, de doença. Morriam também de choque. Em alguns dias os eletrochoques eram tantos e tão fortes que a sobrecarga derrubava a rede do município. Nos períodos de maior lotação, 16 pessoas morriam a cada dia e ao morrer, davam lucro. Entre 1969 e 1980, mais de 1.800 corpos de pacientes do manicômio foram vendidos para 17 faculdades de medicina do país, sem que ninguém questionasse. Quando houve excesso de cadáveres e o mercado encolheu, os corpos passaram a ser decompostos em ácido, no pátio da Colônia, na frente dos pacientes ainda vivos, para que as ossadas pudessem ser comercializadas” [6].
E assim, dos ditos “loucos” enclausurados no Colônia, o Estado comia e roía até os ossos!
O psiquiatra italiano Franco Basaglia [7], pioneiro na luta antimanicomial na Itália, esteve no Brasil e conheceu o Colônia em 1979. Na ocasião, chamou uma coletiva de imprensa e desabafou: “Estive hoje num campo de concentração nazista. Em lugar nenhum do mundo, presenciei uma tragédia como essa” [8].
Os números exorbitantes e silenciados (por mais de 50 anos) das execuções sumárias, frias e violentas que ocorreram no Hospital Colônia de Barbacena superam, e muito, as mortes registradas e ocultadas na ditadura militar brasileira (dentre índios, camponeses, perseguidos políticos etc). Superam inclusive os números das mais sangrentas ditaduras da América Latina, Chile com mais de 40 mil e Argentina com mais de 30 mil mortos. Que Estado de Direito atual é esse? Como se pode permitir a prática e a ocultação desse genocídio por mais de 50 anos sem uma resposta estatal efetiva e humanizada para essas vítimas e seus familiares? 
Diante desse cenário nos parece claro o que Foucault [9] chamou de “emergência das técnicas de normalização”. Que são poderes não somente entendidos como efeito de conexão entre saber médico, judiciário e político, mas que se constituiu com autonomia e regras próprias, atravessando e estendendo sua soberania na sociedade, sem se apoiar exclusivamente em nenhuma instituição específica.
Os poderes de normalização utilizam um discurso que não se organiza apenas em torno da perversidade, mas do medo, da moralização, da contenção e da hipocrisia.
Hoje restam menos de 200 sobreviventes do Colônia. Alguns deles estão e ficarão internados até o fim da vida porque não conseguem estabelecer vínculos sociais, em decorrência dos excessos de torturas e traumas sofridos no hospício e por não terem mais nenhum contato familiar. Outros sobreviventes foram transferidos para residências terapêuticas em busca de dignidade humana e para reaprender a tomar posse de si mesmos. O certo é que os que não morreram de fato, morreram em essência, em alma, como pessoa humana. Não há muito o que ser feito para recuperar essas estruturas já mortificadas.
Nesse quadro esquizofrênico tem-se: um Estado apático, omisso, permissivo, perverso, autorizador e co-autor dessa eterna história manchada de muito sangue e horror.  A sociedade, por sua vez, em alguns poucos momentos sensibiliza-se com outras tragédias da história mundial, mas desconhece o que ocorreu no seu quintal, às suas vistas. Enquanto micropoderes de normalização, quando sabem da sua história, usam o seu confortável tapa-olho fingindo não fazer parte disso ou pior, seus silêncios aplaudem e validam a eliminação dos indesejáveis sociais (até hoje), afinal, louco bom é louco morto, né?!.
E enquanto isso na sala de justiça… o vazio e a mudez dos inocentes gritam por liberdade e humanidade nas inúmeras masmorras psiquiátricas existentes pelo país afora.
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NOTAS BIBLIOGRÁFICAS
[1] Os 60 mil mortos estão enterrados no Cemitério da Paz, construído junto com o Hospital Colônia no início do século XX, cuja área pertence à Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais. Está desativado desde a década de 80 e a explicação do psiquiatra Jairo Toledo, que respondeu pela direção do centro Hospitalar Psiquiátrico Barbacena até março de 2013, é que o terreno está saturado. (ARBEX, Daniela. Holocausto brasileiro – vida, genocídio e 60 mil mortes no maior hospício do Brasil. São Paulo: Geração Editorial, 2013. P. 65).
[2] Sobre o manicômio de Barbacena, ver o documentário Em nome da razão, de Helvécio Ratton, filmado em 1979, que se tornou o símbolo da luta antimanicomial. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=07p3y-OLDAA
Outro documentário mais recente também trata da mesma questão, denominado Dos loucos e das rosas, disponível em:https://www.youtube.com/watch?v=dQMIUqj6tPw
[3] Além do trem, muitas pessoas chegavam ao hospital de ônibus ou em viaturas policiais. Várias requisições de internações eram assinadas por delegados, isso porque, antes do Hospital Colônia, muitas pessoas que se achava ter sofrimento psíquico em MG eram colocadas em cadeias publicas ou Santas Casas de Misericórdia.
[4] ARBEX, Daniela. Holocausto brasileiro – vida, genocídio e 60 mil mortes no maior hospício do Brasil. São Paulo: Geração Editorial, 2013. P. 14.
[5]  O interessante é que o fundamento eugênico para consubstanciar as práticas do Hospital Colônia, nem sequer, coadunava-se com a teoria eugênica desenvolvida no Brasil no início do século XX, muito menos com a teoria nazista de Hitler. Isso porque, o movimento eugênico brasileiro do início do século XX, apostava em medidas preventivas para o melhoramento da raça, como: (a) higienização da população por meio do exame e do certificado pré-nupcial; (b) esterilização dos anormais. E não eram só negros e mestiços que ofereciam riscos para o futuro da nação, mas os anormais e todos os pobres, que sempre foram responsáveis pela miséria moral e material e agora, pela degeneração da espécie. Em resumo, a grande preocupação dos médicos cientistas era com as elites, na reformulação da organização familiar (de origem colonial). O projeto científico evolucionista era assegurar uma prole sadia, evitando a reprodução das taras hereditárias que também degeneravam as raças” (LOBO, Lilia Ferreira. Os infames da história: pobres, escravos e deficientes no Brasil. Rio de Janeiro: Lamparina, 2008. pp. 203-204). Ou seja, no caso do Hospital Colônia não havia nenhum interesse em melhoramento da raça brasileira. O que se executava naquela instituição total ia para além da brutalidade humana, tratava-se de extermínio puro e simples, no contexto mais desumano e genocida possível. Inocuizava-se e matava-se pelos motivos mais abomináveis.
[6] ARBEX, Daniela. Holocausto brasileiro. P. 14.
[7] Sobre Franco Basaglia, dentre outras obras, indica-se: BASAGLIA, Franco. A instituição negada. Rio de Janeiro: Graal, 1985.
[8] ARBEX, Daniela. Holocausto brasileiro.p. 15.

JORNAL HUMANITAS – Nº 37 – JULHO/2015 – PÁGINA 3

Refúgio Poético

Considerações sobre a violência de Estado
Antonio Carlos Gomes - Guarujá/SP

A história não muda
Mas os retardados
Tentam retardá-la
Não como saudosistas
Nem como arqueólogos
Mas como ratos
No paiol queimado
Procurando o grão de milho
Que se escondeu nas frestas

O homem mata o homem
Não como defesa
Mas para que este
Não perceba sua fraqueza
E sua ignorância
Pois nos destroços
Do seu palácio de quimeras
Tenta fazer à areia da demolição
Pedras da nova construção
Aparando o vento

Deixe a história andar
O rei não para a história
Apenas coloca na masmorra
Quem um dia será algoz
E a cabeça decepada
Dirá:
- Fui rei
Mais nada!
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 TRIBUTO A MÁRIO QUINTANA

Mário de Miranda Quintana foi um poeta, tradutor e jornalista, nascido em 30 de junho de 1906. É considerado um dos maiores poetas brasileiros do século 20. Em 1926 foi premiado no concurso de contos do jornal Diário de Notícias de Porto Alegre com A Sétima Passagem.
Na década de 40, Quintana é alvo de elogios dos maiores intelectuais da época e recebe uma indicação para a Academia Brasileira de Letras, que nunca se concretizou. Sobre isso ele compõe - com seu afamado bom humor - o conhecido Poeminha do Contra.
Em agosto de 1966 o poeta é homenageado na Academia Brasileira de Letras. E na década de 80 recebe o Prêmio Machado de Assis, da Academia Brasileira de Letras pelo conjunto da obra.
Em 1989 é eleito o Príncipe dos Poetas Brasileiros, pela Academia Nilopolitana de Letras, Centro de Memórias e Dados de Nilópolis e pelo jornal carioca A Voz. Faleceu com 88 anos, em 5 de maio de 1994.
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 CARTAS DOS LEITORES

O Humanitas vem de uma cidade banhada por rios, cidade marcada por lutas libertárias e também mostra isso em sua linha editorial. Karla Francisca de Assis – Recife/PE
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Uma pérola rara o Humanitas! Maria do Carmo Silva – Santos/SP
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Difícil definir o que sinto após terminar cada leitura deste jornal e de sentir o quanto faz bem descobrir coisas que nos foram escondidas pelos religiosos.  Joelma Fraga – Olinda/PE
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Trazendo mais conhecimento aos leitores o Humanitas faz seu papel de propagar a verdade. Gosto muito de ler esse pequeno/grande jornal. Goretti Assunção – Olinda/PE
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Uma coisa que falta ao Humanitas é falar da arte cinematográfica e sobre as grandes obras e astros do cinema. Sugestão dada. Antonio Pedro Oliveira – Rio de Janeiro/RJ
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Ler o Humanitas para mim é um prazer. Espero que essa publicação continue crescendo para o bem dos livres pensadores e daqueles que amam a verdade. Rogério Lima – Recife/PE

JORNAL HUMANITAS – Nº 37 – JULHO/2015 – PÁGINA 2

EDITORIAL
Loucos pela verdade

Estamos vivendo um tempo onde os fascistas de plantão pretendem acionar suas armas contra os diferentes de tal forma que, temerosa, o resto da população possa acatar o pensamento único. Devemos ter muito cuidado.
Quem age contra o que a mídia comum ordena e aconselha; quem não segue a linha de ter um corpo sarado; aquele que tem cabelo diferente; aquele que ama alguém do mesmo sexo; aquele que se veste de acordo com o que gosta... Todos podem ser considerados loucos e ameaçados de serem presos, mortos ou espancados.
Sim, porque de uma forma ou de outra, ainda existem no país manicômios esperando para receber os loucos pela própria liberdade. Manicômios gêmeos ao do Hospital Colônia de Barbacena, cuja história está sendo lembrada aqui neste Humanitas pela advogada Thayara Castelo Branco, nas páginas 4 e 5.
Vale também recordar a frase de Friedrich Nietzsche: Aqueles que foram vistos dançando foram julgados insanos por aqueles que não podiam escutar a música. 
A luta humanista tem de aumentar a luz de seu farol sobre homens e mulheres para que as brutalidades contra as pessoas sejam divulgadas. A luta pela verdade inclui buscar o conhecimento por si mesmo e não aceitar um fato apenas pela fé.
Os fascistas que se arvoram donos da verdade estão lado a lado com as armas da morte, lado a lado com as religiões organizadas, lado a lado com a mentira e a opressão. Eles seguem uma perigosa cartilha manipuladora. A cartilha de Joseph Goebbels que dizia: Uma mentira repetida mil vezes acaba por se tornar uma verdade.
Aqui somos forjados para falar as verdades com o intuito de enaltecer a raça humana, fugindo a todo custo do poder, pois acreditamos que quando o homem persegue o poder, perde a visão de humanismo.
Jamais esqueçamos que o homem é e será sempre a medida de todas as coisas.
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A posse e o afeto
Antonio Carlos Gomes – Guarujá/SP

Lembro do “Tio Patinhas”! As revistas com esse personagem eram trazidas por meu pai desde que começaram a sair no Brasil. Grandes, com tamanho de meio caderno de jornal.
O que me chamava atenção era aquele personagem numa sala de moedas, sempre solitário. Será que Disney associou a solidão à posse de objetos?
A época era de dificuldades no País, golpes de estado, ditaduras e planos econômicos que lembravam outra figura dos quadrinhos: o “Cebolinha” com os planos infalíveis para derrubar “Mônica”.
Até os primeiros anos de Faculdade compravam-se as revistinhas, sempre com o mesmo tema. Era época da ditadura, mas o desenho se repetia.
Hoje, a penetração das revistas é muito menor. A televisão e a internet, com suas imagens substituíram o desenho. Mas o tema mudou?
Não! Com o isolamento das pessoas os objetos começaram a ter valor aumentado.
Percebi que cada vez que me sentia solitário, coisa habitual em nossa sociedade, o desejo de adquirir alguma coisa aumentava, e muito.
Como dinheiro não dá em árvores”, dirigi meus desejos para as lojas de R$ 1,99 que apaziguavam os mesmos e não pesavam no orçamento.
Parece-me lógico que o objetivo de uma viagem é conhecer pessoas, costumes e lugares diferentes. As viagens para compras (atualmente é moda buscar enxoval chinês nos EUA) são bons pretextos para passeios.
Creio que a vida atual isola as pessoas. O contato passou a ser virtual ao invés de presencial. Nas grandes cidades o hábito de fazer visitas tornou-se mais restrito e ausente em alguns grupos.
Por outro lado, a máquina da propaganda tornou-se mais eficiente e a comunicação eletrônica permite a compra por catálogo, sem sair de seu computador. A carência de contato humano tornou-se visível.
O desejo de compra - visto por este prisma, em um país com a economia estável pela primeira vez desde que nasci - dá uma falsa noção de poder, poder este que não pode ser extrapolado.
E a mesma noção de poder transforma as pessoas em miniaturas do “Tio Patinhas” colecionando objetos desnecessários, que nunca serão completos já que a carência é afetiva e objetos não suprem afetos.
Pensando bem, todos deveriam adotar a lojinha de R$ 1,99, hoje está R$ 4,99 como forma de não desperdiçar dinheiro e voltar a visitar amigos, parentes e tomar uma cerveja com eles, será muito melhor para a autoestima de cada um.

sábado, 27 de junho de 2015

JORNAL HUMANITAS – Nº 37 - JULHO/2015 – PRIMEIRA PÁGINA

Hospital Colônia De Barbacena
O CAMPO DE CONCENTRAÇÃO MANICOMIAL DO BRASIL
Texto de Thayara Castelo Branco – páginas 4 e 5
MAIS:
Jorge Oliveira de Almeida mostra na página 6 o que vemos quando nos olhamos no espelho
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O jornalista Igor Fuser diz quem é o principal agente da imbecilização dos brasileiros na página 7
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Na página 8 o físico Lawrence Krauss confirma que o universo não tem nenhum propósito