domingo, 28 de junho de 2015

JORNAL HUMANITAS – Nº 37 – JULHO 2015 – PÁGINA 7

Rede Globo: principal agente
da imbecilização da sociedade brasileira
Igor Fuser – jornalista e professor
São Paulo/SP
Texto transcrito de www.luizmullerpt.wordpress.com
O jornalista Igor Fuser  é doutor em Ciência Política pela Universidade de São Paulo (USP) e professor de Relações Internacionais da Universidade Federal do ABC (UFABC). Ganhou notoriedade ao denunciar as ações da mídia tradicional na perpetuação de uma sociedade violenta e excludente, dos acúmulos dos governos progressistas latino-americanos na última década e do momento da luta de classes no continente, que não é propício às grandes mudanças.O professor prevê ainda maior interferência dos Estados Unidos em situações de fragilidade política nos próximos anos, conforme surgirem oportunidades de levar a América Latina de volta para o seu círculo direto de influência.
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A Rede Globo é o aparelho ideológico mais eficiente que as classes dominantes já construíram no Brasil desde o início do século XX. Substitui perfeitamente a Igreja Católica como instrumento de controle das mentes e do comportamento. A Globo esteve ao lado de todos os governos de direita, desde o regime militar – no qual se transformou no gigante que é hoje – até Fernando Henrique Cardoso.
Serviu caninamente à ditadura, demonizando as forças de esquerda e endossando o discurso ufanista do tipo Brasil Ame-o ou Deixe-o” e as versões sabidamente falsas sobre a morte de combatentes da resistência assassinados na tortura e apresentados como caídos em tiroteios. Após o fim da ditadura, alinhou-se no apoio à implantação do neoliberalismo, apresentado como a única forma possível de organizar a economia e a sociedade.
No plano cultural é impossível medir o imenso prejuízo causado pela Rede Globo, que opera como o principal agente da imbecilização da sociedade brasileira. Começando pelas novelas, seguindo pelos reality shows”, pelos programas de auditório, o papel da Globo é sempre o de anestesiar as consciências, bloquear qualquer tipo de reflexão crítica. A Globo impôs um português brasileiro standard”, que anula o que as culturas regionais têm de mais importante – o sotaque local, a maneira de falar de cada região. 
Pratica ativamente o racismo, ao destinar aos personagens da raça negra papéis secundários e subalternos nas novelas em que os heróis e heroínas são sempre brancos. Os personagens brancos são os únicos que têm personalidade própria e psicologia complexa.
Os brancos são os únicos capazes de despertar empatia dos telespectadores, enquanto os negros se limitam a funções de apoio.  Aliás, estes são os únicos que aparecem em cena trabalhando, em qualquer novela, os únicos que se dedicam a labores manuais.
A postura racista da Globo não poupa sequer as crianças, induzidas, há várias gerações, a valorizar a pele branca e os cabelos loiros como o padrão superior de beleza, a partir de programas como o da Xuxa.
O jornalismo da Globo contraria os padrões básicos da ética, ao negar o direito ao contraditório. Só a versão ou ponto de vista do interesse da empresa é que é veiculado. Ocorre nos programas jornalísticos da Globo a manipulação constante dos fatos. As greves, por exemplo, são apresentadas sempre do ponto de vista dos patrões, ou seja, como transtorno ou bagunça, sem que os trabalhadores tenham direito à voz.
Os movimentos sociais são caluniados e a violência policial pouco aparece. Ao contrário, procura-se sempre disseminar na sociedade um clima de medo, com uma abordagem exagerada e sensacionalista das questões de segurança pública, a fim de favorecer as falsas soluções de caráter violento e os atores políticos que as defendem.
No plano da política, a Rede Globo tem adotado perante os governos petistas uma conduta de sabotagem permanente, omitindo todos os fatos que possam apresentar uma visão positiva da administração federal, ao mesmo tempo em que as notícias de corrupção são apresentadas, muitas vezes sem a sustentação em provas e evidências, de forma escandalosa, em uma postura de constante denuncismo.
A Globo pratica o monopólio dos meios de comunicação, ao controlar simultaneamente as principais emissoras de TV e rádio em todos os Estados brasileiros juntamente com uma rede de jornais, revistas, emissoras de TV a cabo e portais na internet.
Uma verdadeira democratização das comunicações no Brasil passa, necessariamente, pela adoção de medidas contra a Rede Globo, para que o monopólio seja desmontado e que a sua programação tenha de se submeter a critérios pautados pela ética jornalística, pelo respeito aos direitos humanos e pelo interesse público.

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