domingo, 28 de junho de 2015

JORNAL HUMANITAS – Nº 37 – JULHO/2015 – PÁGINA 2

EDITORIAL
Loucos pela verdade

Estamos vivendo um tempo onde os fascistas de plantão pretendem acionar suas armas contra os diferentes de tal forma que, temerosa, o resto da população possa acatar o pensamento único. Devemos ter muito cuidado.
Quem age contra o que a mídia comum ordena e aconselha; quem não segue a linha de ter um corpo sarado; aquele que tem cabelo diferente; aquele que ama alguém do mesmo sexo; aquele que se veste de acordo com o que gosta... Todos podem ser considerados loucos e ameaçados de serem presos, mortos ou espancados.
Sim, porque de uma forma ou de outra, ainda existem no país manicômios esperando para receber os loucos pela própria liberdade. Manicômios gêmeos ao do Hospital Colônia de Barbacena, cuja história está sendo lembrada aqui neste Humanitas pela advogada Thayara Castelo Branco, nas páginas 4 e 5.
Vale também recordar a frase de Friedrich Nietzsche: Aqueles que foram vistos dançando foram julgados insanos por aqueles que não podiam escutar a música. 
A luta humanista tem de aumentar a luz de seu farol sobre homens e mulheres para que as brutalidades contra as pessoas sejam divulgadas. A luta pela verdade inclui buscar o conhecimento por si mesmo e não aceitar um fato apenas pela fé.
Os fascistas que se arvoram donos da verdade estão lado a lado com as armas da morte, lado a lado com as religiões organizadas, lado a lado com a mentira e a opressão. Eles seguem uma perigosa cartilha manipuladora. A cartilha de Joseph Goebbels que dizia: Uma mentira repetida mil vezes acaba por se tornar uma verdade.
Aqui somos forjados para falar as verdades com o intuito de enaltecer a raça humana, fugindo a todo custo do poder, pois acreditamos que quando o homem persegue o poder, perde a visão de humanismo.
Jamais esqueçamos que o homem é e será sempre a medida de todas as coisas.
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A posse e o afeto
Antonio Carlos Gomes – Guarujá/SP

Lembro do “Tio Patinhas”! As revistas com esse personagem eram trazidas por meu pai desde que começaram a sair no Brasil. Grandes, com tamanho de meio caderno de jornal.
O que me chamava atenção era aquele personagem numa sala de moedas, sempre solitário. Será que Disney associou a solidão à posse de objetos?
A época era de dificuldades no País, golpes de estado, ditaduras e planos econômicos que lembravam outra figura dos quadrinhos: o “Cebolinha” com os planos infalíveis para derrubar “Mônica”.
Até os primeiros anos de Faculdade compravam-se as revistinhas, sempre com o mesmo tema. Era época da ditadura, mas o desenho se repetia.
Hoje, a penetração das revistas é muito menor. A televisão e a internet, com suas imagens substituíram o desenho. Mas o tema mudou?
Não! Com o isolamento das pessoas os objetos começaram a ter valor aumentado.
Percebi que cada vez que me sentia solitário, coisa habitual em nossa sociedade, o desejo de adquirir alguma coisa aumentava, e muito.
Como dinheiro não dá em árvores”, dirigi meus desejos para as lojas de R$ 1,99 que apaziguavam os mesmos e não pesavam no orçamento.
Parece-me lógico que o objetivo de uma viagem é conhecer pessoas, costumes e lugares diferentes. As viagens para compras (atualmente é moda buscar enxoval chinês nos EUA) são bons pretextos para passeios.
Creio que a vida atual isola as pessoas. O contato passou a ser virtual ao invés de presencial. Nas grandes cidades o hábito de fazer visitas tornou-se mais restrito e ausente em alguns grupos.
Por outro lado, a máquina da propaganda tornou-se mais eficiente e a comunicação eletrônica permite a compra por catálogo, sem sair de seu computador. A carência de contato humano tornou-se visível.
O desejo de compra - visto por este prisma, em um país com a economia estável pela primeira vez desde que nasci - dá uma falsa noção de poder, poder este que não pode ser extrapolado.
E a mesma noção de poder transforma as pessoas em miniaturas do “Tio Patinhas” colecionando objetos desnecessários, que nunca serão completos já que a carência é afetiva e objetos não suprem afetos.
Pensando bem, todos deveriam adotar a lojinha de R$ 1,99, hoje está R$ 4,99 como forma de não desperdiçar dinheiro e voltar a visitar amigos, parentes e tomar uma cerveja com eles, será muito melhor para a autoestima de cada um.

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