Texto
de Genésio Linhares – Professor – Recife/PE
publicado no HUMANITAS nº 04 – Novembro/2012
Devemos perseguir um ideal de paideia para os tempos presentes e
publicado no HUMANITAS nº 04 – Novembro/2012
Devemos perseguir um ideal de paideia para os tempos presentes e
resgatar a dignidade, o
respeito e os direitos de todo ser humano
O termo Paideia não é muito
conhecido entre a grande maioria das pessoas em nosso país. No entanto, no meio
intelectual e no ambiente das ciências humanas o termo já é bem mais familiar.
Paideia é uma expressão tipicamente grega e de extenso uso na Grécia antiga.
Bastante utilizado por Sócrates, Platão, Aristóteles e demais homens de
cultura. Não há uma tradução exata para este vocábulo, pois é polissêmico;
assim, houve uma transliteração do grego para a nossa língua.
Os latinos, nos tempos de Cícero e Varrão, indicavam com a palavra humanitas, o mesmo significado que os gregos davam com o seu termo paideia. Humanitas, para aqueles, significava a educação do ser humano no sentido das “boas artes” distintas dos outros animais. Deste modo, as boas artes incluíam a poesia, a eloquência, a filosofia etc, todas procurando valorizar o que o ser humano é e deve ser.
Em outros termos, a finalidade dessas boas artes era estimular a capacidade de formar esse ser humano verdadeiro, em sua forma mais autêntica e perfeita. Entretanto, para os gregos paideia significa formação, educação, cultura, conhecimento, civilização, organização, política etc. Dessa forma, segundo Nicola Abbagnanno, em seu Dicionário de Filosofia, paideia é a busca e a realização que o homem faz de si, da sua verdadeira natureza humana.
Neste sentido, podemos, aproximadamente, chamar de paideia o humanitas grego, uma vez que a preocupação dos helenos era a preparação, a formação e realização do ser humano individual e social em sua plenitude. Ainda segundo Abbagnanno, paideia tem um estreito sentido com cultura. E esta com a filosofia, no tocante a todas as formas de investigação, porque para os gregos o ser humano só podia realizar-se por meio do autoconhecimento e de seu mundo. O conhecimento do mundo referia-se à vida da comunidade, na polis (cidade-estado).
O conhecimento dessa vida era resultado do processo de formação cultural. Um fim, um ideal a ser alcançado pelos indivíduos enquanto verdadeiros cidadãos da polis. Ideal este que podemos encontrar em Platão e em Aristóteles. E é importante enfatizar que tal processo de formação era visto como algo que excluía qualquer atividade infra-humana ou ultra-humana.
Esta formação excluía aquelas atividades utilitárias como artes, ofícios e todo o trabalho manual, consideradas inferiores, típicas dos escravos e que não distinguia o ser humano do animal. Esta concepção perdurou até o mundo moderno. Mais precisamente a partir de Hegel, filósofo alemão. Primeiro pensador a valorizar o trabalho produtivo, como também em Karl Marx.
Aquele processo formativo como dissemos também excluía toda e qualquer atividade ultra-humana. Tudo o que diz respeito ao transcendente, deus ou deuses, está fora desse processo. O ideal clássico de cultura ou paideia constituía-se assim de dois aspectos: aristocrático e naturalista. Ambos resultavam na bios teoretikos, vida contemplativa ou teórica, onde o indivíduo de cultura se dedicava a buscar a sabedoria superior, fim último da cultura. A vida teórica era a vida dedicada ao pensar filosófico. Platão em seu projeto ideal de República mostra isso de maneira tão contundente ao ponto de exigir que quem fosse o governante de um estado deveria ser um rei filósofo ou um filósofo rei. O fato é que nenhum estado poderia construir uma sociedade harmoniosa e civilizatória sem a presença da cultura e da vida dedicada à filosofia.
Aristóteles, na obra A Política, também reconhece esta importância e valor, mas não exige que o governante seja necessariamente um filósofo. Ele defende a vida teórica como o supremo ideal, mas que não se pode abandonar a vida política. Esta exige uma presença e participação mais consequente dos cidadãos. O que podemos extrair dessas concepções antigas do ideal de paideia e cultura humanística para a nossa contemporaneidade? Em primeiro lugar, existem muitas diferenças daquele período para o nosso. Diferenças abissais. No entanto, a nosso ver, o ideal de paideia tem valores universais que devem ser perseguidos, adaptados e repensados por nossa sociedade.
Claro que devemos atualizar tais valores para as nossas concepções de civilização, educação, cultura e formação do ser humano, bem mais amplo do que aquela concepção grega antiga; contudo, devemos ter cuidado para não cairmos nos tecnicismos e nas estreitas visões tecnocratas e cientificistas que o sistema mundial tanto preconiza e procura impor para todos os povos, marginalizando e desprezando os profundos valores humanísticos.
Enfim, acreditamos que devemos perseguir um ideal de paideia para os tempos presentes. Um ideal que resgate a dignidade, o respeito e os direitos de qualquer ser humano como um todo, independentemente de cor, sexo, opções sexuais, crença política e ideológica, respeito e valorização com as culturas e manifestações folclóricas locais e outras manifestações de minorias.
Entretanto, este ideal só pode ser conseguido, até porque está implícito em seu próprio conceito, através da educação, mas uma educação filosófica, levando todos a pensar livremente e por si mesmos; assim como pela ação política das mais diversas formas eficazes e éticas, visando ao ser humano acima de tudo, livre e sem nenhum tipo de corrente que o subordine.
Exemplo maior e mais nobre tem sido este jornal Humanitas, criado exatamente para a livre divulgação da verdade, do conhecimento, da cultura e do pensar reflexivo de nossos honrados colaboradores sem estar preso a nenhum poder. Aliás, retificamos, preso a um único poder: o poder criativo e filosófico de cada um de nós.
Os latinos, nos tempos de Cícero e Varrão, indicavam com a palavra humanitas, o mesmo significado que os gregos davam com o seu termo paideia. Humanitas, para aqueles, significava a educação do ser humano no sentido das “boas artes” distintas dos outros animais. Deste modo, as boas artes incluíam a poesia, a eloquência, a filosofia etc, todas procurando valorizar o que o ser humano é e deve ser.
Em outros termos, a finalidade dessas boas artes era estimular a capacidade de formar esse ser humano verdadeiro, em sua forma mais autêntica e perfeita. Entretanto, para os gregos paideia significa formação, educação, cultura, conhecimento, civilização, organização, política etc. Dessa forma, segundo Nicola Abbagnanno, em seu Dicionário de Filosofia, paideia é a busca e a realização que o homem faz de si, da sua verdadeira natureza humana.
Neste sentido, podemos, aproximadamente, chamar de paideia o humanitas grego, uma vez que a preocupação dos helenos era a preparação, a formação e realização do ser humano individual e social em sua plenitude. Ainda segundo Abbagnanno, paideia tem um estreito sentido com cultura. E esta com a filosofia, no tocante a todas as formas de investigação, porque para os gregos o ser humano só podia realizar-se por meio do autoconhecimento e de seu mundo. O conhecimento do mundo referia-se à vida da comunidade, na polis (cidade-estado).
O conhecimento dessa vida era resultado do processo de formação cultural. Um fim, um ideal a ser alcançado pelos indivíduos enquanto verdadeiros cidadãos da polis. Ideal este que podemos encontrar em Platão e em Aristóteles. E é importante enfatizar que tal processo de formação era visto como algo que excluía qualquer atividade infra-humana ou ultra-humana.
Esta formação excluía aquelas atividades utilitárias como artes, ofícios e todo o trabalho manual, consideradas inferiores, típicas dos escravos e que não distinguia o ser humano do animal. Esta concepção perdurou até o mundo moderno. Mais precisamente a partir de Hegel, filósofo alemão. Primeiro pensador a valorizar o trabalho produtivo, como também em Karl Marx.
Aquele processo formativo como dissemos também excluía toda e qualquer atividade ultra-humana. Tudo o que diz respeito ao transcendente, deus ou deuses, está fora desse processo. O ideal clássico de cultura ou paideia constituía-se assim de dois aspectos: aristocrático e naturalista. Ambos resultavam na bios teoretikos, vida contemplativa ou teórica, onde o indivíduo de cultura se dedicava a buscar a sabedoria superior, fim último da cultura. A vida teórica era a vida dedicada ao pensar filosófico. Platão em seu projeto ideal de República mostra isso de maneira tão contundente ao ponto de exigir que quem fosse o governante de um estado deveria ser um rei filósofo ou um filósofo rei. O fato é que nenhum estado poderia construir uma sociedade harmoniosa e civilizatória sem a presença da cultura e da vida dedicada à filosofia.
Aristóteles, na obra A Política, também reconhece esta importância e valor, mas não exige que o governante seja necessariamente um filósofo. Ele defende a vida teórica como o supremo ideal, mas que não se pode abandonar a vida política. Esta exige uma presença e participação mais consequente dos cidadãos. O que podemos extrair dessas concepções antigas do ideal de paideia e cultura humanística para a nossa contemporaneidade? Em primeiro lugar, existem muitas diferenças daquele período para o nosso. Diferenças abissais. No entanto, a nosso ver, o ideal de paideia tem valores universais que devem ser perseguidos, adaptados e repensados por nossa sociedade.
Claro que devemos atualizar tais valores para as nossas concepções de civilização, educação, cultura e formação do ser humano, bem mais amplo do que aquela concepção grega antiga; contudo, devemos ter cuidado para não cairmos nos tecnicismos e nas estreitas visões tecnocratas e cientificistas que o sistema mundial tanto preconiza e procura impor para todos os povos, marginalizando e desprezando os profundos valores humanísticos.
Enfim, acreditamos que devemos perseguir um ideal de paideia para os tempos presentes. Um ideal que resgate a dignidade, o respeito e os direitos de qualquer ser humano como um todo, independentemente de cor, sexo, opções sexuais, crença política e ideológica, respeito e valorização com as culturas e manifestações folclóricas locais e outras manifestações de minorias.
Entretanto, este ideal só pode ser conseguido, até porque está implícito em seu próprio conceito, através da educação, mas uma educação filosófica, levando todos a pensar livremente e por si mesmos; assim como pela ação política das mais diversas formas eficazes e éticas, visando ao ser humano acima de tudo, livre e sem nenhum tipo de corrente que o subordine.
Exemplo maior e mais nobre tem sido este jornal Humanitas, criado exatamente para a livre divulgação da verdade, do conhecimento, da cultura e do pensar reflexivo de nossos honrados colaboradores sem estar preso a nenhum poder. Aliás, retificamos, preso a um único poder: o poder criativo e filosófico de cada um de nós.
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