quinta-feira, 27 de abril de 2017

HUMANITAS Nº 59 - MAIO DE 2017 - PÁGINA QUATRO

HOMOFOBIA: DISCRIMINAR É PRECONCEITO E É ILEGAL
Ana Leandro - colaboradora do Humanitas -  é escritora e jornalista. Atua em Belo Horizonte/MG

Vou tocar num tema que eu sei que é melindroso. Começo contando que um professor de minha pós-graduação em Comunicação disse, certa vez, que a "expertise" do cantor e compositor Roberto Carlos foi ter tomado como tema de sua trilha sonora o único assunto que agrada a todo mundo: o Amor!
Entretanto, no exercício jornalístico, não posso me furtar a falar sobre temas que causem resistências a uns ou outros. É preciso encarar a vida, com a realidade que ela é. Fugir da verdade nunca ajudou o ser humano a evoluir! E eis aqui neste Humanitas, um artigo sobre o tema que gerou o Dia Mundial contra a Homofobia. Embora a análise do tema e suas influências sociais tenham me levado a lembrar desta frase do professor, não creio que o assunto também não fale de Amor.
Dia 17 de Maio é o Dia Internacional contra a Homofobia. Pois foi exatamente nesse dia que ocorreu a exclusão da homossexualidade da Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados com a Saúde (CID) da Organização Mundial da Saúde (OMS). Essa foi uma importante vitória para o movimento LGBT (gays, lésbicas, bissexuais e transgêneros) comemorada por pessoas e ONGs congêneres.
Historicamente, parece-me óbvio o "porquê" dessa resistência à aceitação da homossexualidade. Para que a humanidade se multiplicasse, o que segundo as religiões era uma ordem divina, a heterossexualidade era a única opção aceitável.
Aliás, na história antiga, por questões também religiosas, a relação sexual só poderia ser aceita para fins de multiplicação, o que naturalmente se explica como uma negação do direito humano ao “prazer sexual”.
É claro que a homossexualidade não é coisa apenas dos tempos modernos. Sempre existiu, mas a era da comunicação invadiu e globalizou o mundo de tal forma, que não foi possível manter o assunto às escondidas.
O fato de ter ou não ter filhos nunca foi prova de heterossexualidade, pois sabe-se sobejamente que tanto homens, quanto mulheres, já descobriram, após viverem no processo apenas heterossexual e gerado filhos, que tinham também até mais prazer na relação com pessoas do mesmo sexo.
Com o tempo ficou visível os desejos de interesses no homossexualismo, lesbianismo e bissexualismo.
Mas a realidade é que vivemos numa sociedade altamente fingida, em que muitos, apesar de terem interesse homo ou lésbico, não se permitem manifestar isso publicamente, por medo das resistências de aceitação social.
A questão é que essa discriminação hoje já definida como homofobia, é prática ilegal. A homofobia chega a extremos de agressões físicas e verbais, e até de assassinatos de pessoas ou grupos, que se manifestem com interesses sexualmente fora do padrão heterossexual.
Mas a não aceitação do direito de exercer a sexualidade dentro do livre arbítrio do interessado já é por si só criminosa, e passível de ser submetida a penalidades judiciais.
Mesmo na era contemporânea há quem considere os interesses sexuais pelo mesmo gênero, ou pelos dois âmbitos (bissexualidade), ou ainda pela transexualidade (desejo de mudança do sexo contrário às características dos órgãos genitais com que nasceram), de forma ostensiva como uma “deformidade mental” ou doença, ou ainda por culpa de uma educação inadequada.
Outros continuam a insistir e a defender a tese de que são comportamentos “doentes”, que devem ser “tratados como tal para recuperação da normalidade”, segundo seus conceitos.
Mas isto é contrário à legitimidade de que "cada um não tem o direito de ser o que deseja ser".
Por motivos naturais, a legislação humana não teve a condição de estabelecer como crime ou marginalidade a opção sexual, porque esta não se estabelece apenas como livre arbítrio, mas também como um apelo fisiológico.
Portanto, não estando infringindo a lei, não pode o ato ser acusado por uma questão meramente de resistências pessoais.
Logo surgem os "resistentes” a esta aceitação com frases como: “Não quero meu filho vendo homens se manifestarem afetivamente em público”.
Chegamos ao absurdo de ouvir homens afirmarem, que não dizem ao filho do sexo masculino a expressão "eu te amo", para que este não "confunda as coisas". Ora, um pai não poder dizer a um filho que o ama, para mim é uma distorção do verdadeiro sentido do Amor.
Entretanto, o mundo não vai parar de "crescer e se multiplicar" por efeito do homossexualismo ou lesbianismo, uma vez que as relações heterossexuais não vão se extinguir.
Parece-me que, muito ao contrário, na era atual os casais reduzem o número de filhos, por questões principalmente econômicas e estruturais. Enfim, o ser humano é livre para ser feliz da maneira que o desejar, desde que não cause qualquer mal a quem quer que seja.
Esta não é uma defesa de comportamentos. É uma análise objetiva e lógica, de que ninguém pode exigir de quem quer que seja ser como “o outro deseja” e não como sua natureza lhe pede.
Homofobia é paralela ao fato de não aceitar outras características da natureza humana, como a diferença de cor da pele, e outros aspectos físicos, que são posturas preconceituosas.
No que tange à natureza humana, a evolução da espécie significa respeitar principalmente o direito de cada um ser como se sente mais feliz e mais realizado.

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