CAPITALISMO SEM GRAÇA
Thomas Henrique de Toledo Stella é
professor e historiador. Mora em São Paulo/SP
Esse
mundo capitalista virou a coisa mais sem graça que já foi inventada.
A natureza segue sendo vorazmente devastada
para dar lugar a cidades feias, sujas e poluídas.
Antes, cada país tinha sua arquitetura,
hoje, com a tal "globalization",
só se constrói arranha-céu de vidro.
O mesmo ocorre com as artes, em especial
com a música, que é fabricada com melodia primária e refrão repetitivo para
vender fácil.
O mundo virou uma cópia mal feita dos
Estados Unidos e os personagens literários e seres mitológicos deram lugar a
super-heróis patéticos de cinema, que são financiados pelo Pentágono para
fazerem propagandas subliminares ou explícitas das guerras imperialistas.
Religião virou negócio, pura mercadoria na
qual quanto mais mentira se conta, mais fiéis aparecem, talvez por que o mundo
real é deveras sem graça para se acreditar que ele seja a única verdade.
Mas a religião é funcional ao sistema
porque serve como um aliviador de tensão, um tipo de ópio que outros encontram
no álcool ou vícios. Ao se converter (aleluia!) troca-se uma droga pela outra,
mas a enfermidade na alma permanece.
As doenças físicas proliferam porque se
come de tudo que não presta, para a felicidade da indústria farmacêutica que
lucra com o tratamento, mas nunca com a cura.
Na mídia só se vê notícias mentirosas e
enviesadas pelos interesses de patrocinadores. Entretenimento barato com
filmes, novelas e esportes com enredo pré-definido e jogos de resultados
combinados.
Tudo isto pra preencher a rotina do fim de
semana porque ao longo dos dias é preciso levantar cedo e voltar tarde para
trabalhar, enfrentando trânsito e confusão. A vida se resume a trabalhar para
gastar e quanto mais se trabalha, mais se fica pobre. Quem não tem é infeliz
por não ter e quem tem é infeliz porque descobre que o que tem não serve pra
nada.
Ensinam que se deve defender até a morte
esse sistema baseado na exploração de muitos e que leva à riqueza de poucos: é
o escravo lambendo as botas do senhor, com muita convicção. Assim, as pessoas
viraram gado, obedecendo fielmente aos ditames da grande mídia, da escola e da
igreja, sempre para manter os mesmos ladrões corruptos no poder político e
econômico, enquanto inventam-se bodes expiatórios para o espetáculo da
condenação.
Redes sociais viram muros de lamentações
desse mundo cinza e sem cor, hipócrita e ilusório.
Todos aprisionados em bolhas sociais nas
quais se aprende a odiar quem é da outra bolha ou mesmo quem pensa uma vírgula
diferente dentro da bolha. Afinal, deve-se cultuar o indivíduo e rejeitar tudo
o que é público. O senso de coletividade, comunidade e sociedade se diluem no
culto ao eu.
É cada um querendo passar a perna no outro,
numa mistura de egoísmo e egolatria. Privada, privatização e privataria: dá
vontade de dar descarga e mandar tudo isto para o esgoto de onde veio.
Sou dos que aprenderam a não deixar se
levar por esse mundo e a criar a própria realidade. Poderia estar rico, desde
que entrasse no jogo. Mas, e os outros, como ficam?
Não
dá para sentir-se satisfeito rodeado de gente triste, nem achar-se consciente
cercado de alienados. Já poderia ter me mudado para um meio de mato qualquer,
onde sentir-me-ia pleno em contato com a natureza. Mas fico para ajudar os que
ainda não acordaram e para ser uma pedra na engrenagem dessa máquina podre. Uma
hora esse mundo desaba e quero estar entre aqueles que vão construir o novo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário