quinta-feira, 27 de abril de 2017

HUMANITAS Nº 59 – MAIO DE 2017 – PÁGINA SEIS

FIM DO PÓLO NAVAL DE RIO GRANDE

Sandro Ari Andrade de Miranda é advogado e mestre em ciências sociais. Atua em Pelotas/RS

Não seria um equívoco dizer que o problema hoje enfrentado pela indústria naval brasileira, em especial a do Município de Rio Grande (RS), é uma tragédia anunciada.
Trata-se de uma consequência esperada do golpe de estado executado no Brasil em 2016 e uma das bandeiras do programa “Ponte para o Futuro” de Michel Temer.
Já afirmei, literalmente, em 13 de abril de 2016:
[…] se o golpe sair vencedor do Parlamento, não tenham dúvidas que a nacionalização da produção dos insumos do petróleo e do gás vai ser abandonada e, novamente, vamos ver o Brasil comprando plataformas exclusivamente da China, dos “Tigres Asiáticos” e dos Estados Unidos”.
Mais do que privatizar serviços e a economia, uma das bandeiras do grupo que dá sustentação a Michel Temer, e que inclui o PMDB, o PSDB, o DEM, o PSD e outros partidos de menor envergadura, é desnacionalizar a economia. E mais: abrir mercados, transnacionalizar a produção e deixar o país atrativo para o “mercado financeiro”.
Pois cada emprego perdido em Rio Grande, em São José do Norte e em outras cidades do Rio de Janeiro, Pernambuco e Bahia, estados onde também havia uma ascendente indústria naval, representa bilhões de reais em ganhos de capital para um minúsculo grupo de pessoas que joga no Cassino da Avenida Paulista chamado Bovespa (...).
(...) Segundo dados do Sindicato dos Metalúrgicos de Rio Grande, a indústria naval hoje beneficia de forma direta mais de 50 mil pessoas, e essa população está abrigada nas cidades de Rio Grande, Pelotas, São José do Norte, Capão do Leão e Santa Vitória do Palmar.
(...) O desmonte do sistema pode representar uma tragédia gigantesca para a Zona Sul do Estado, com resultados alarmantes e que devem ter resultado imediato em todos os setores, do comércio à construção civil, dos serviços (hotelaria, educação, assistência, segurança etc) ao mercado de bens duráveis.
No centro da discussão, para os menos informados, está a política de petróleo e gás introduzida no Governo Lula, na qual a Petrobras passou a comprar as suas plataformas no Brasil, dando preferência à indústria nacional.
Tal política, que gerou milhares de postos de trabalho em vários lugares do país, e alimentou um grande crescimento da economia foi reforçada com a descoberta do Pré-sal, e com a transferência dos recursos obtidos para o investimento em políticas de educação e meio ambiente. Tudo, absolutamente tudo isso, foi perdido quando Michel Temer (PMDB/SP) assumiu o poder.
Aliás, nesse meio tempo ocorreu uma articulação entre Serra (PSDB/SP), Romero Jucá (PMDB/RR), Renan Calheiros (PMDB/AL), Eduardo Cunha (PMDB/AL) e Aécio Neves (PSDB/MG), para aprovar o fim do “fundo social do pré-sal” e o fim da prioridade da indústria naval nacional nas compras públicas da Petrobras (na verdade, de todas as estatais).
O argumento era o de abrir o mercado e criar empregos, só esqueceram de destacar que tais empregos seriam criados na Ásia.
Em síntese, nada do que se vê hoje em Rio Grande está distante do cenário imposto pela agenda da “Ponte” de Michel Temer. E o resultado tem sido uma tragédia social sem fim. Pessoas são tratadas como meras peças em um jugo de tabuleiro onde a grande maioria perde e apenas um grupo minúsculo, que representa menos de 1% da população, ganha muito dinheiro (...)
O grande aliado desta onda golpista e de massacre aos mais básicos direitos de cidadãos e cidadãs é o silêncio. Enquanto silenciamos e aceitamos com passividade um momento que nunca chega, estamos vendo nosso presente e nosso futuro sendo destruídos.
Talvez, esperar até 2018 para mudar, seja tarde demais…

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