A MEDIOCRIDADE É UM FATO CONSUMADO
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Araken Vaz Galvão é escritor e membro da Academia de Artes do
Recôncavo. Mora em Valença/BA
Quando
ainda era vivo, o poeta Carlos Drummond de Andrade insurgiu-se contra um
cidadão que afirmava que não existiam provas reais da existência do
Aleijadinho. Drummond, com aquele humor amargo que o caracterizava, declarou –
grosso modo – que só faltava alguém dizer que as obras de Aleijadinho também
não existiam.
Na ocasião eu, cá do meu anônimo rincão,
escrevi algo sobre esse assunto. Agora sou obrigado a repetir-me, porque não
custa muito bater na mesma tecla.
E, ao fazê-lo, vou tomar emprestado o verso
da conhecida música de Juca Chaves, para dar título a estas anotações.
Mas, por que o faço?
Porque daquela oportunidade até hoje, volta
e meia, aparece um imbecil, aos quais chamo de idiotas da mídia, com
declarações bombásticas, cujo objetivo único é aparecer nos chamados meios de
comunicação.
Não faz muito tempo um idiota aqui na Bahia
declarou que Zumbi dos Palmares era homossexual, o autor da afirmação imbecil o
era, logo todos teriam que ser também.
E não me venham com o policiamento fascista
de que estou discriminando os homossexuais, porque estou defendendo a memória
de um dos maiores vultos da nossa História e, ademais, perguntando: é
relevante a sua sexualidade?
É sim – dirão os ditos defensores das
autoproclamadas minorias.
E completarão: porque isso eleva a
auto-estima dos gays, já tão discriminados em nossa sociedade.
.
Será que isso é verdade? Será que distorcendo o passado estamos edificando bem
o presente, para termos um melhor futuro? Não podemos negar a existência da
discriminação, nem defendê-la, porém será esta a melhor forma de combatê-la?
O Brasil é uma sociedade histórica e
culturalmente elitista e, portanto, preconceituosa. Chamar uma pessoa de velha
é uma das piores ofensas deste país. Os próprios velhos, na ilusão de fugirem
da discriminação, tentam ocultar-se sob biombos semânticos ridículos do tipo “terceira
idade” e outras idiotices.
Os negros conhecem bem a discriminação e
utilizam a lei para se defenderem dela. Há, inclusive, alguns que a praticam
sob os mais variados pretextos ou sob formas camufladas, não se sabe se por
cansaço por sofrerem-na a toda hora na própria pele, ou se por reflexo e
assimilação da cultura dominante na sociedade.
Então não me venham com lorotas de que é
preconceito falar contra essa idiotice que é afirmar que alguém, que
viveu há centenas ou milhares de anos, tinha esse ou aquele hábito sexual. Não
suporto mais ouvir essa conversa.
Não faz muito tempo, tiveram o desplante de
“descobrir” que Alexandre da Macedônia era “bicha”! Só faltaram “descobrir” também um velho
soldado grego, já aposentado, que teria tido um “caso” com o famoso
conquistador... Convenhamos, tenham
paciência! (...)
(...) Lembro de Drummond e de sua atitude
frente a esse tipo de idiota que, só para ter espaço na mídia, escavaca a vida
alheia, em particular de quem já morreu e não pode se defender, a procura de “pecados”
para atirar a primeira pedra. Quando não os encontram devido à antiguidade do
personagem, inventa-os. (...)
(...) Não tenho dúvidas em dizer que
afirmações do tipo da que fizeram sobre Alexandre, só podem ser – no mínimo –
levianas. (...)
(...) Lembrei-me também do que Simone de
Beauvoir escrevera sobre Sartre, depois deste morto, e depois de ter vivido com
ele em concubinato por tantos anos, colocando-o no índex das feministas xiítas,
como contumaz machista. (...)
(...) Todos esses livros são risíveis e
mais risíveis ainda são os idiotas da mídia, seus autores, cujas obras só
servem para limpar o orifício fecal que eles possuem, não no lugar tradicional,
mas no cérebro; porque, já disse alguém famoso “o papel aceita tudo”. (...)
(...) Li na Veja, (24/set./97, pag. 44), sob o título: ”A vida secreta dos escritores”,
esta jóia de nota: “Depois de anos de controvérsia, Katherine
Ducan-Jones, professora em Oxford, concluiu que William Shakespeare era
homossexual. Num livro recém-editado, ela sustenta que o bardo dedicou aos
homens a maioria de seus sonetos de amor”.
O dramaturgo inglês não é o único escritor
que historiadores tentam tirar do armário. Vejamos outros casos: Goethe
- Um acadêmico de Bonn chocou a Alemanha ao afirmar que o poeta nacional alemão
era gay; Graham Greene - Uma biografia recente sustenta que o escritor
inglês só se casou para esconder o caso com um amigo de Oxford; Daphne du
Maurier - A biografia “O Mundo
Privado de Daphne du Maurier” afirma que a escritora romântica inglesa
era lésbica. Acompanha cada informação a foto do escritor, para que ninguém
tenha dúvida sobre quem está falando.
Seria o caso de encerrar sem comentários,
já que estou de bom humor, ou deveria estar. Mas não estou. Então só me resta
dizer: É ser muito filha da puta para escrever tanta besteira. Ou, como
pode-se dizer em espanhol, hay que ser
muy maricón para afirmar que todos los
hombres importantes también lo son, o lo fueron.
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