sábado, 31 de janeiro de 2015

HUMANITAS Nº 32 – FEVEREIRO DE 2015 – PÁGINA 8

Uma semana para transformar a arte
Pedro Rodrigues Arcanjo – Olinda/PE

No mês de fevereiro de 1922 aconteceu em São Paulo a Semana da Arte Moderna que, diferentemente do que se diz na mídia não foi criada sob o patrocínio de uma classe média emergente, e sim da elite agrária paulista.
A Semana de Arte Moderna refletiu o grande anseio por mudanças no campo artístico tal como ocorria na área da política.
Na verdade, podemos definir a Semana de Arte Moderna com uma intenção também destrutiva.
Tornou-se muito claro que seus criadores pretendiam, acima de tudo, destruir as velhas formas artísticas na literatura, música e artes plásticas brasileira, incluindo nisso a apresentação de uma nova forma de arte e de literatura.
Oswald de Andrade, um dos criadores da Semana afirmou categoricamente que "não sabemos o que queremos. Mas sabemos o que não queremos".
A Semana, na realidade, durou só três noites, com recitais, exposições de artes plásticas, conferências etc. A cidade de São Paulo esquentou com o clima provocativo dos intelectuais da época com temas vanguardistas e fora da linha de pensamento dos antigos.
O público também se manifestou aplaudindo e vaiando os participantes, entre eles os escritores Mário de Andrade, Mennotti Del Picchia, Oswald de Andrade, Ronald de Carvalho, Guilherme de Almeida, Sérgio Milliett. Os pintores Anita Malfatti, Di Cavalcanti, o maestro Heitor Villa-Lobos e outros.
De acordo com o jornalista e escritor Jorge Tadeu da Silva, “se a Semana foi realizada por jovens inexperientes, sob o domínio de doutrinas europeias nem sempre bem assimiladas, conforme acentuam alguns críticos, ela significou também o atestado de óbito da arte dominante. A Semana cumpriu a função de qualquer vanguarda: exterminar o passado e limpar o terreno”.
Oswald de Andrade talvez fosse um dos artistas que melhor representavam o clima de ruptura que o evento procurava criar.
O poeta Manuel Bandeira, que não esteve presente, provocou inúmeras reações de desagrado e de ódio por causa de seu poema “Os Sapos”, que fazia uma sátira do Parnasianismo, lido por Ronald de Carvalho durante o evento.
Ainda assim, muitos críticos e historiadores desconsideram o alcance e a amplitude que depois muita gente atribuiu à Semana.
No fim do evento, diversos artistas de vanguarda que dele participaram com o intuito de banir do Brasil as facetas artísticas mais tradicionais acabaram voltando para a Europa, o que trouxe mais dificuldades para que o processo de ruptura tivesse uma continuidade mais ampla.
De qualquer maneira não se tem dúvida alguma que a Semana de Arte Moderna de 1922 pode ser considerada um marco do Modernismo brasileiro. A sua intenção maior foi a de inserir o país nas questões do século, estabelecendo uma arte nacional totalmente nova.
Os intelectuais brasileiros mostraram nesse evento o quanto era necessário se abandonar os valores estéticos antigos, ainda muito apreciados em nosso país, para dar lugar a um estilo moderno e completamente contrário. A literatura explorou mais o descontentamento com o estilo antigo, tendo a poesia como carro-chefe.
Entre os escritores e poetas modernistas de destaque da semana podemos citar Oswald de Andrade, Guilherme de Almeida, Mennotti Del Picchia e Manuel Bandeira. Nas artes plásticas, a pintora Anita Malfatti foi o nome de maior relevo.

HUMANITAS Nº 32 – FEVEREIRO DE 2015 – PÁGINA 7

Combater os pastores e libertar as ovelhas
Lilian Sokorowa – Londrina/PR - Especial para o Humanitas

Parece que um erro grosseiro de logística tem sido cometido por ateus e irreligiosos em geral: combater os pastores e não libertar as ovelhas, ensinando-as a não precisar de pastoreio.
Pelo bem da verdade, ovelhas não precisam de pastores, a não ser que queiram ser dominadas. Senão vejamos:
Quem surgiu primeiro: o pastor ou as ovelhas? Esta é aquela famosa pergunta que dá para se comparar com outra: "Quem surgiu primeiro: o ovo ou a galinha?" (odeio esta pergunta ridícula).
É óbvio que aqui a resposta não deixa dúvidas: foram as ovelhas! 
Ovelhas andavam soltas e livres pela natureza, pastando e indo para onde mais lhe aprouvesse, seguindo seus instintos naturais.
Quando surgiu a figura do pastor, foi para grupá-las e dominá-las. Com o pastor, as ovelhas perderam a sua liberdade de ir e vir e decidir por si mesmas e passaram a seguir apenas o comando do seu líder.
Pastores nada têm de bonzinhos. Cuidam das ovelhas, mas como quem cuida do seu patrimônio e não por instinto de proteção a elas.
Ovelhas são dóceis e facilmente aceitam comandos, sem se rebelar. Acho que não é por outra razão que os crentes são chamados de "ovelhinhas do Senhor" ou "ovelhas do seu pastor". E eles parecem orgulhar-se disso porque não se ofendem de serem tratados como ovelhas.
Não só não se ofendem como admitem serem mesmo como ovelhas e até, orgulhosamente, se filiam a "clubes de ovelhas" e "sites de compras coletivas para ovelhas".
Não vou citar nomes, mas esses clubes e sites existem e possuem milhares de ovelhas filiadas, da mesma forma como existem os cartões de crédito crentes, das assembleias de Deus e das neopentecostais, com milhares de adesões. 
Pastor pensa (pouco, maldosamente, mas pensa). Ovelhas não pensam. Na comparação, seria o caso de se dizer que o perigoso é o pastor, por ser ele quem comanda as ovelhas.
Mas e se não houvesse ovelhas para comandar, haveria pastores? Este é o ponto. Enquanto existirem ovelhas dóceis dispostas a aceitar comandos, haverá sempre um ou mais pastores querendo liderá-las.
Os pastores adoram-nas porque ovelhas dão lucro.
Como não se pode acabar com as ovelhas, devemos ensiná-las a voltar ao seu "status quo ante", isto é, livres na natureza, para agirem por conta própria, sem precisar de pastor.
Mantendo as ovelhas inacessíveis aos pastores, talvez assim, sem freguesia, essa classe oportunista desapareça da nossa sociedade.

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Texto original publicado na rede www.irreligiosos.ning.com

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COMENTÁRIOS

Alfredo Bernachi disse: Religião é apenas a fachada de um objetivo maior: enriquecer à custa de seus seguidores.
Exatamente como a caridade que eles propalam. Apenas propaganda. Arrecadam um milhão e dão 20 mil em caridade. Chamam a televisão e os crédulos para testemunharem. O resto eles embolsam.
Assim, fica a questão: Qual é o objetivo da religião? O que está sendo exposto ou o que está sendo oculto?
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Ivo S. G. Reis disse: A TV é uma forte aliada das religiões. As pessoas sofrem lavagens cerebrais nos templos e em suas casas, diante da telinha. E o povo (infelizmente) tende a acreditar no que vê na TV.
Não é por outra razão que até a Rede Globo, de orientação católica e contra os evangélicos, entrou nesse mercado.
Antes de tudo, é uma empresa e, como tal, não dispensa o lucro. Por isso, tem agora o seu selo musical, investindo em músicas gospel e de louvor, que não faz distinção.
A mídia passou a apoiar fortemente a doutrinação religiosa e na luta contra ela o buraco é mais embaixo. Quem sustenta tudo isso? As ovelhas! Qual o caminho?
Libertar as ovelhas, usando, para isso, a contrainformação e a contrapropaganda, porque estamos numa guerra de informação.
Assim, acho que todos os ateus devem ajudar. O problema é que os inimigos também estão na internet e têm grana e nós não, além de sermos dispersos.

HUMANITAS Nº 32 – FEVEREIRO DE 2015 – PÁGINA 6

Mesa de bar é o lugar mais democrático que existe
Rafael Rocha – Recife/PE

Vamos sentar nossos corpanzis nas cadeiras. Ponham à mesa. Sentemo-nos ao redor dela. O bar está aberto. Sejam bem-vindos! Querem beber o quê? Brahma? Antártica? Skol? Uísque? Vodca? Cachaça? Temos de tudo! E tira-gostos os mais variados. Podem falar alto. Podem gritar. Podem discutir sobre futebol, política, cinema, música, literatura, mulher... Tudo ao gosto de cada cliente.
No bar quem manda é o freguês. ainda que o dono e a dona do bar tenham, na realidade, a última palavra quando se trata de “colocar no prego” o consumo do dia... Pensem nisso! E pensem também que é na mesa do bar que a vida entra em paroxismo. É da mesa de bar que a morte foge como o diabo da cruz, ainda que muitos tenham entrado em contato com ela por infelicidade ou azar. Como dizia Gonzaguinha: “Mesa de bar é lugar para tudo que é papo da vida rolar”.
Nada de medo! Bêbados são os amigos reais do mundo imaginário onde o deus Dionísio comanda as ideias. Mas nada de falar de coisas coerentes. Mesa de bar é lugar onde o incoerente comanda a vida e esta se envolve com todos os tipos de fantasias e magias.
Na mesa de um bar / todo mundo é sempre maior / todo mundo derrama as tintas da sua alegria / copos batendo na festa da rapaziada / se bem que a gente não esquece / que a barriga anda meio vazia.
E não custa nada lembrar agora o amigo Jota que já tinha bebido mais de vinte garrafas de cerveja e, no auge da bebedeira, decidiu ir para outro bar. Claro, um bom bebedor é assim, quando decide, faz e pronto! Mas quando ele foi se levantar da cadeira caiu de cara no chão. Tentou se levantar e caiu de novo.
Pobre Jota! A farra tinha sido pesada! Mas ele era corajoso. Rastejou até a porta do bar que já estava prestes a fechar. Quem sabe, pensou Jota, se tomando um ar fresco ele conseguisse erguer o corpo e ir para o outro bar ao lado? Esperou um pouco, tentou se levantar e caiu de novo.
A partir daí começou a rastejar. Pelo menos isso ele conseguiu. Foi rastejando pela rua com a cabeça cheia de ideias etílicas para falar/conversar com os amigos no outro bar. Mas viu que isso seria impossível. Então teve uma ideia brilhante: resolveu desistir do outro bar e ir pra casa já que não conseguia nem andar.
Depois de rastejar dois quarteirões chegou em casa. Pensou que poderia erguer o corpo agora. Que nada! Desabou de novo! Mas, corajosamente, rastejando, entrou em casa e conseguiu alcançar a cama. Acordou na manhã seguinte com a sua mulher dando uma tremenda bronca:
- Bonito, hein?! Bebendo novamente na rua até tarde!
- Quem disse isso? - perguntou ele, com olhar inocente.
- Ligaram do bar – respondeu a mulher - e o dono disse que você esqueceu a cadeira de rodas lá. Outra vez!
Histórias iguais a essa do Jota são contadas e recontadas em toda mesa de bar. Quem escuta termina rindo e quem conta imagina ser um grande “contador de causos”.
Pois, se formos sinceros, a mesa do bar “é lugar para tudo que é papo da vida rolar”.
A mesa de bar reúne a fina flor da boêmia e todos os que participam dela sabem tudo da vida. São filósofos inveterados. E quando encontramos uma mesa de bar com alguns velhinhos jogando dominó aí é que sabemos dar valor ao lugar. Se tais pessoas entre os 70 e 80 anos sentam-se a uma mesa de bar para jogar dominó é porque o bar e essa mesa é tal qual como disse o Gonzaguinha: “Coração fantasia e realidade / É o ideal paraíso / onde nós fica à vontade”.
Uma mesa de bar é uma regalia, ainda que algumas pessoas não entendam isso. Ficar cercado de garrafas de cerveja e mergulhado junto aos comparsas nas mais variadas discussões de botequim, fofocando sobre os outros e metendo o pau nos políticos é um luxo. Mais do que isso é um privilégio. Uma dádiva da democracia.
Falar livremente de forma a ser ouvido em todas as outras mesas, gesticular e filosofar sobre a vida, o futebol, as mulheres, a música, a política é algo que apenas um sistema democrático permite.
“Mesa de bar é onde se toma um porre de liberdade / Companheiros em pleno exercício de democracia”.

HUMANITAS Nº 32 – FEVEREIRO DE 2015 – PÁGINA 5

Carnaval 2015:
Outra grande festa
para a história de Olinda
e do Recife
Olinda sempre surpreende quem vem brincar o Carnaval pelas suas ruas estreitas, subindo e descendo as ladeiras no ritmo quente do Frevo. Ainda que o Carnaval se repita todo ano, a festa em Olinda possui uma vibração tal que parece ser sempre a primeira vez.
“Pitombeiras dos Quatro Cantos”, “Elefante”, “Vassourinhas”,Maracatu Leão de Ouro”  “Flor da Lira”, desfilam e levam ao delírio milhares de foliões tanto de Pernambuco como de outros estados. Isso sem contar as centenas de blocos que foram e são criados espontaneamente pelos foliões como “Homem da Meia Noite”, “A Mulher do dia”, “A Porta”, “Trinca de Ás”, “Hoje a Mangueira Entra”, “Eu Acho é Pouco”, “Ceroula”, “Patusco”,Enquanto Isso, na Sala da Justiça”.
Fôlego é necessário (e muito) para quem pretende visitar a Cidade Patrimônio da Humanidade no Carnaval. Imprescindível é ver os famosos bonecos gigantes de mais de dois metros, cujo colorido chama a atenção de todos. Eles saem às ruas e desfilam junto com os foliões no Centro Histórico de Olinda, na Cidade Alta. O Carnaval de Olinda é agitação pura.
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O “Caboclo de Lança” é personagem do Maracatu Rural ou de Baque Solto – também conhecido como Maracatu de Orquestra. A origem desse maracatu ainda não está totalmente desvendada. Até a década de 1920, os caboclos de lança, eram trabalhadores das lavouras de cana de açúcar e não despertavam tanto interesse como hoje em Pernambuco. O ritual que antecede a apresentação do caboclo de lança envolve cerimônias em terreiros, como a bênção das lanças e da flor que carrega na boca, a consagração da Calunga (boneca representando a divindade, levada pela baiana), e a abstinência sexual dos homens, que começa alguns dias antes do Carnaval.
Os “Papangus” do carnaval de Bezerros, cidade do agreste de Pernambuco (107 Kms do Recife) é uma tradição nascida de uma brincadeira de familiares dos senhores de engenhos, que saíam mascarados e mal vestidos para visitar amigos nas festas de entrudo – antigo Carnaval do século dezenove –, e comer angu, comida típica do agreste pernambucano. Por isso, as crianças passaram a chamar os mascarados de papa-angu.

HUMANITAS Nº 32 – FEVEREIRO DE 2015 – PÁGINA 4

Fevereiro traz o Galo da Madrugada às ruas
Anne Christine Mendes – Recife/PE

O maior bloco carnavalesco do mundo, o “Galo da Madrugada”, pretende lotar mais vez as ruas do Recife no Sábado de Zé Pereira. A população está à sua espera, ansiosamente, pronta para dividir com turistas e artistas convidados do clube a contagiante alegria que envolve a já tradicional abertura do Carnaval de Pernambuco.
No ano passado a agremiação levou às ruas do Recife cerca de 2,6 milhões de pessoas e pretende bater este ano o próprio recorde. Oficialmente, o Galo da Madrugada é considerado pelo Guiness Book - o livro dos recordes - o maior bloco de Carnaval do mundo desde o ano de 1995.
Quem já participou do desfile do “Galo da Madrugada” conhece o carisma que envolve a agremiação, hipnotizando a grande massa de foliões com o ritmo principal da grande festa carnavalesca do Recife: o “Frevo”.
Outra tradição que o turista e amante do Carnaval do Recife poderá participar é a “Noite dos Tambores Silenciosos”, cerimônia de sincretismo religioso realizada em pleno Carnaval no Pátio do Terço, bairro de São José, no Recife, na segunda-feira à noite.
O evento reúne maracatus de todo o estado de Pernambuco, para louvar a Virgem do Rosário, padroeira dos negros e reverenciar os ancestrais africanos, que sofreram durante a escravidão no Brasil Colonial.
Outras atrações multicoloridas poderão ser curtidas do sábado até a terça-feira, como os caboclinhos, as numerosas troças carnavalescas e os bonecos gigantes que enchem de alegria e de colorido as ruas de Olinda.

HUMANITAS Nº 32 - FEVEREIRO DE 2015 - PÁGINA 3

 REFÚGIO POÉTICO

Voltei, Recife

Lourenço da Fonseca Barbosa (Capiba)


Voltei, Recife
Foi a saudade
Que me trouxe pelo braço
Quero ver novamente "Vassoura"
Na rua abafando
Tomar umas e outras
E cair no passo

Cadê "Toureiros"?
Cadê "Bola de Ouro"?
As "Pás", os "Lenhadores"
O "Bloco Batutas de São José"?
Quero sentir
A embriaguez do frevo
Que entra na cabeça
Depois toma o corpo
E acaba no pé

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Frevo da Saudade

Nelson Ferreira


Quem tem saudade
não está sozinho
tem o carinho
da recordação
por isso quando estou mais isolado
estou bem acompanhado
com você no coração

Um sorriso,
um abraço e uma flor
tudo é você na imaginação
serpentina ou confete,
carnaval de amor
tudo é você no coração
você existe como
um anjo de bondade
e me acompanha nesse
frevo de saudade
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Recife, manhã de sol
J. Michiles

Vejo o Recife prateado
À luz da lua que surgiu
Há um poema aos namorados
No céu e nas águas dos rios
Um seresteiro, um violão
Anunciando o amanhecer
Um sino ao longe a badalar
Recife inteiro vai render
Ave Maria ao pé do altar
Bumba-meu-boi, Maracatu
Recife dos meus carnavais
Não vejo mais sinhá mocinha
À luz de um lampião de gás
És primavera dos amores
Do horizonte és arrebol
Vai madrugada serena
Traz delirante poema
Recife manhã de sol
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TRIBUTO A CARLOS PENA FILHO

Carlos Souto Pena Filho nasceu em 17 de maio de 1929 no Recife-PE, onde faleceu em 11 de julho de 1960. Filho de Laurindo e Carlos Souto Pena (portugueses) fez seu curso primário em Portugal e o secundário no Colégio Nóbrega, Recife, concluindo nesta cidade seu curso universitário, formando-se em Direito pela Faculdade de Direito do Recife, em frente a qual se encontra o seu busto.
Estreou em livro no ano de 1952 com o volume O Tempo da Busca (Edições Região) seguindo-se Memórias do Boi Serapião (Gráfico Amador – 1965 - Recife); A Vertigem Lúcida (Secretaria da Educação/PE - 1958) e Livro Geral (Rio de Janeiro - Livraria São José, 1958).  Morreu num acidente de automóvel aos 30 anos.  Carlos Pena Filho é muito pouco conhecido talvez devido à alta qualidade de sua criação poética.
De acordo com a crítica especializada, ele era dono de um lirismo envolvente. Um poeta de imagens plásticas nas quais se destacava um intenso gosto pela cor - em particular o azul e o verde.

HUMANITAS Nº 32 – FEVEREIRO DE 2015 - PÁGINA 2

EDITORIAL

É Carnaval! Tempo de festa! Recife e Olinda estão em ebulição!

Pernambuco está em festa! O Recife e Olinda estão em ebulição! Chegou fevereiro! Chegou o Carnaval. O “Galo da Madrugada” vai às ruas. O “Frevo” põe a população em clima quente. O “Maracatu” abre alas ao Rei Momo. Os “Caboclinhos” dançam com todo o colorido do folclore!
O Carnaval diz presente na alma do recifense e do olindense como se as vidas de todos dependessem dessa louca algazarra que começa oficialmente no sábado, 14 de fevereiro, com o desfile do maior bloco carnavalesco do mundo, o “Galo da Madrugada”, e acaba (ah, quando acaba!..) na Quarta-feira de Cinzas, quando os mais diversos blocos denominados “Bacalhau na Vara” ainda levam milhares de foliões às ruas para um último adeus à dionisíaca festa, ao frevo, aos amores fugazes e aos sonhos passageiros nascidos em três dias.
Para quem não sabe o Carnaval de Pernambuco, particularmente o do Recife e o de Olinda é uma festa genuinamente popular, ainda que seus governantes queiram transformar o tradicional evento em algo diferenciado, negligenciando o povo e valorizando o carnaval fechado dentro de espaços apenas abertos para as ditas elites.
 A burguesia sempre tentou (e tenta) fazer com que o Carnaval do Recife e o de Olinda fiquem restritos a essas elites. O passar do tempo fez a cultura carnavalesca pernambucana ganhar novos rumos, inserindo nesses rumos a alma e a essência do povo.
Em um crescendo, o Carnaval de Pernambuco alcançou os dias atuais sempre alucinante e com suas raízes presas à alma da população. Sua majestade, o “Frevo”, continua a reinar, consagrado como símbolo da identidade cultural pernambucana e Patrimônio Imaterial da Humanidade desde 5 de dezembro de 2012.
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CARTAS DOS LEITORES

Muito bom o artigo sobre eutanásia publicado no Humanitas de dezembro. Parabéns ao autor e a todos que fazem este jornal. Carlos Lemos - Salvador/BA
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Amei o conto sobre a boneca da Zizi publicado pelo poeta Valdeci Ferraz no jornal de dezembro. Muita sensibilidade. Valeu. Maria Clara de Araujo – Olinda/PE
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A festa mais antiga do mundo
Anne Christine Mendes – Recife/PE

O Carnaval é uma festa popular que surgiu na Antiguidade como forma de celebração da natureza e dos deuses.
Após séculos foi aceito pela Igreja Católica e incluído no calendário cristão e ainda hoje acontece no mundo com características diferenciadas para cada país.
No Brasil o carnaval sofreu influência de uma festa de rua, de origem portuguesa, chamada de entrudo”, que consistia em jogar farinha, ovos podres e tinta nas pessoas.
Cada parte do Brasil possui um carnaval com características culturais diferenciadas.
O Rio de Janeiro é famoso pelos desfiles das escolas de samba. Na Bahia os trios elétricos atraem milhões de foliões.
Mas Pernambuco é o estado do Brasil onde o carnaval de rua é o mais espontâneo e popular.
No século XIII, os nobres franceses começaram a promover festas onde era obrigatório o uso de máscaras e  roupas luxuosas – os bailes. Foi provavelmente desses bailes que surgiram as primeiras festas à fantasia que logo ganharam popularidade entre as altas classes europeias, espalhando-se pelo mundo.
A origem do Carnaval é incerta, mas acredita-se que tenha surgido na Grécia por volta do ano 520 antes da Era Comum. Era uma festa onde o vinho era fundamental e as pessoas se reuniam em nome do deus Dionísio” com a única intenção de se divertir, celebrar a chegada da primavera e a fertilidade. 

segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

HUMANITAS Nº 32 – FEVEREIRO DE 2015 - PÁGINA 1

O CARNAVAL CHEGOU!

A mais alucinante festa do Recife e de Olinda, em Pernambuco, vai trazer milhares de pessoas às ruas de ambas as cidades neste mês de fevereiro. Mais uma vez o tradicional Frevo” marcará presença na grande festa e a população mostrará sua criatividade nas fantasias e nas sátiras sociopolíticas.
Ainda que os governantes dessas cidades tentem acabar com o Carnaval participação (valorizando camarotes para as elites), a população do Recife e de Olinda vai marcar presença a partir do dia 14 de fevereiro, com a saída às ruas do Galo da Madrugada”.
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MAIS NESTA EDIÇÃO:

Nas páginas 4 e 5 deste “Humanitas” um resumo sobre o Carnaval do Recife e de Olinda
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O colaborador Pedro Arcanjo fala sobre a Semana de Arte Moderna de 1922 na página 8
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Na página 7 apresentamos um texto polêmico da colaboradora Lilian Sokorowa sobre pastores e ovelhas 

sexta-feira, 9 de janeiro de 2015

HUMANITAS Nº 31 – JANEIRO/2015 – PÁGINA 8

A DERROCADA DAS ÍNDIAS OCIDENTAIS NO NORDESTE
Pedro Rodrigues Arcanjo – Olinda/PE

A invasão holandesa em Pernambuco (1630) é fato de grande relevância na história do Nordeste brasileiro, pois forneceu uma herança sociocultural de grande porte deixada pelos flamengos logo após capitularem no dia 26 de janeiro de 1654.
Não se pode deixar de destacar que no domínio holandês, principalmente no governo do conde alemão João Maurício de Nassau, Pernambuco cresceu bastante, especialmente no âmbito da cidade do Recife, tanto em termos socioeconômicos como culturais.
Já foi dito e redito que tudo na História das Civilizações pode ficar resumido em temas ligados à economia ou à produção. Cabe muito bem dentro desse pensamento salientar que os comerciantes e produtores brasileiros conseguiram expulsar os holandeses porque começaram a perder dinheiro.
E não se deve esquecer que os substitutos de Maurício de Nassau não conseguiram reeditar o governo deste, ao rasgarem o testamento político do conde, começando a cobrar dos produtores de cana-de-açúcar do Recife e de Olinda as dívidas contraídas junto à Companhia das Índias Ocidentais.
Tal cobrança foi feita em um momento errado, quando o clima não ajudou muito na safra de cana, causando grandes prejuízos para os produtores.
Fora isso, vale ressaltar que no âmbito histórico o processo de expulsão dos holandeses do Nordeste é de grande importância.
A Insurreição Pernambucana é considerada pela corrente militar tradicional brasileira como o primeiro movimento patriótico do Brasil e contou com lutas bem violentas, como as duas batalhas dos Guararapes.
Os principais líderes que lutaram contra os holandeses foram o senhor de engenho João Fernandes Vieira; os soldados André Vidal de Negreiros e Antônio Dias Cardoso, hoje patrono do 1º Batalhão de Forças Especiais do Exército Brasileiro; o nativo Felipe Camarão, mais conhecido como Poti, que liderou diversas ações de guerrilha; e o negro Henrique Dias, que comandou diversos ex-escravos.
Os rebeldes pernambucanos acumularam vitórias como a do monte das Tabocas (1646) e as batalhas dos Guararapes (1648 e 1649). Incentivada por D. João IV, rei de Portugal principal interessado no fim do domínio flamengo a Insurreição teve inicio em 1645 e só terminou no dia 26 de janeiro de 1654, quando os holandeses se renderam, sendo expulsos do território brasileiro no dia seguinte.
Muitos historiadores dizem que o processo de expulsão dos holandeses foi a primeira manifestação de um espírito nacionalista no país, quando a palavra “pátria” foi pronunciada pela primeira vez no território brasileiro através do texto "Compromisso Imortal" assinado por 18 líderes em maio de 1645.
Também é emblemático assinalar que o Exército brasileiro adotou o dia 19 de abril, data da primeira Batalha dos Guararapes como o dia de seu aniversário.
Após a segunda Batalha dos Guararapes (1649), os holandeses foram derrotados e no dia 26 de janeiro de 1654, renderam-se na Campina do Taborda, deixando definitivamente o Nordeste brasileiro nessa data.
Ainda assim o definitivo tratado de paz só foi assinado no ano de 1661 após a armada holandesa cercar a cidade de Lisboa e ameaçar Portugal exigindo o pagamento de uma indenização pela perda dos territórios. Assim, a Holanda conseguiu receber cerca de 650 milhões de dólares (na moeda de hoje).

HUMANITAS Nº 31 – JANEIRO/2015 – PÁGINA 7

A MANIPULAÇÃO DAS MASSAS PELA RELIGIÃO CRISTÃ

Vanessa Fagundes – Campinas/SP


De acordo com Karl Marx (ateu e idealizador de uma sociedade sem classes) a religião é uma ferramenta utilizada pelas classes dominantes para que as massas possam "aliviar" brevemente seu "sofrimento", pelo ato religioso de "experiência e emoção”.
Ele afirma ser do interesse das classes dominantes inculcarem nas massas a convicção religiosa de que seus atuais sofrimentos as levarão a uma "eventual felicidade".
Enquanto as massas acreditarem na religião nunca tentarão um esforço genuíno para compreender e superar a verdadeira fonte de seu sofrimento, que, na opinião do Marx é o sistema econômico capitalista.
Marx defendia que a religião seria utilizada para "controlar as pessoas" e que seria o "ópio do povo". Esta foi a razão para que os regimes comunistas no passado e no presente restringissem a liberdade religiosa e proibissem cultos religiosos.
Mas isso tem motivação! Basta ler a Rerum Novarum ((Das Coisas Novas) encíclica papal sobre a condição dos operários, elaborada pelo papa Leão XII e publicada em 15/05/1891:
“...a opinião enfim mais avantajada que os operários formam de si mesmos e a sua união mais compacta, tudo isto, sem falar da corrupção dos costumes, deu em resultado final um temível conflito. Por toda a parte, os espíritos estão apreensivos e numa ansiedade expectante, o que por si só basta para mostrar quantos e quão graves interesses estão em jogo”.
“...contra a natureza todos os esforços são vãos. Foi ela, que estabeleceu entre os homens diferenças multíplices e profundas; diferenças de inteligência, de talento, de habilidade, de saúde, de força; diferenças necessárias, de onde nasce espontaneamente a desigualdade das condições”. 
“...Entre os deveres, eis os que dizem respeito ao pobre e ao operário: deve fornecer integral e fielmente todo o trabalho a que se comprometeu.”
“...deve fugir dos homens perversos que, nos seus discursos artificiosos, lhe sugerem esperanças exageradas e lhe fazem grandes promessas, as quais só conduzem a estéreis pesares e à ruína das fortunas."
“...Os costumes cristãos reduzem o desejo excessivo das riquezas e a sede dos prazeres... contentam-se enfim com uma vida e alimentação frugal, e suprem pela economia a modicidade do rendimento, longe desses vícios que consomem não só as pequenas, mas as grandes fortunas, e dissipam os maiores patrimônios”.
(A Igreja Católica manda defender os maiores patrimônios contra a ganância dos pobres!)
“....o trabalho tem uma tal fecundidade e tal eficácia, que se pode afirmar, sem receio de engano, que ele é a fonte única de onde procede a riqueza das nações”.
“A equidade manda, pois, que o Estado se preocupe com os trabalhadores, e proceda de modo que, de todos os bens que eles proporcionam à sociedade, lhes seja dada uma parte razoável, como habitação e vestuário, e que possam viver à custa de menos trabalho e privações.”
(Prover o básico para quem trabalha é muita caridade!)
“...O trabalho muito prolongado e pesado e uma retribuição mesquinha dão, não poucas vezes, aos operários ocasiões de greves”.
“É preciso que o Estado ponha cobro a esta desordem grave e frequente, porque as greves causam dano não só aos patrões e aos mesmos operários, mas também ao comércio e aos interesses comuns”.
(A religião através dessa encíclica defende interesses comuns? De quem?)
“...Certamente em nenhuma outra época se viu tão grande multiplicidade de associações de todo o gênero, principalmente associações operárias. Opinião confirmada por numerosos indícios, que elas são ordinariamente governadas por chefes ocultos, e que obedecem a uma palavra de ordem igualmente hostil ao nome cristão e à segurança das nações: que, depois de terem açambarcado todas as empresas, se há operários que recusam entrar em seu seio, elas fazem-lhe expiar a sua recusa pela miséria.”
Conclusão: o cristão e as igrejas cristãs querem uma sociedade em que o pobre aceite que deve continuar pobre para proteger o patrimônio do rico.
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Nota da autora - Devo ressaltar que não sou a favor do comunismo da forma como foi desenvolvido. É importante lembrar que o seu idealizador nunca chegou a descrever como seria a concretização do comunismo e, portanto, tudo que se chama de comunismo hoje é uma subversão dos ideais marxistas.

HUMANITAS Nº 31 – JANEIRO/2015 – PÁGINA 6

A TERCEIRA MARGEM DAS RELAÇÕES HUMANAS

Ana Maria Leandro – Belo Horizonte/MG

Entrou em disparada escola adentro (a mesma escola, que por tantas vezes entrara para buscar o conhecimento) e começou a atirar a esmo.
Cegamente, como se não quisesse matar ninguém especificamente, mas ao mesmo tempo quisesse exterminar a todos.
Deixou nove feridos em sua sanha de destruição e depois invadiu a área de serviço, sob o olhar incrédulo da  zeladora, que implorava piedade.
Neste momento voltou lentamente o revólver para a própria cabeça e atirou. Acabou com uma vida de dezoito anos. Suspeita-se que o motivo foi complexo de inferioridade, pela obesidade!
Na obra de Guimarães Rosa - “A terceira  margem do rio” – pode-se inferir a procura insana de um personagem por uma margem onde a dureza da vida é feita apenas pela natureza, não pelos desencontros humanos.
Aliás, estes ele não queria encontrar, motivo de sua opção de viver em uma canoa no meio do rio.
Na metáfora da vida, podemos dizer que a terceira margem das relações humanas é um local que exige o esforço de cada um, em sair de sua respectiva margem, para um encontro no meio, onde se possa estabelecer um diálogo navegável com o outro.
A famosa “solidariedade” que as pessoas parecem querer mostrar tão ostensivamente nas situações de calamidade pública, não se manifesta, entretanto, no dia a dia, nem mesmo nas relações próximas.
Os preconceitos em relação à estética, raça e outros aspectos, não pesariam tanto nas pessoas, se deixássemos nossas confortáveis margens, para aceitá-los como são.
O caso real que inicia esta matéria evidencia uma situação de extremo distúrbio psicoemocional pela gravidade da culminância. 
Mas sempre devemos nos perguntar, até que ponto um ser humano não cultiva anos a fio uma infelicidade, por se sentir rejeitado ou discriminado por um grupo.
Frases irônicas, brincadeiras humilhantes, apelidos e outras tantas maneiras “sutis” de abordar uma diferença, são ferramentas perversas, que baixam a autoestima de um ser humano e o fazem sentir-se desamado, ou até mesmo sem interesse de viver. 
Mostrar-se “bom e solidário”, para que todos batam palmas é fácil, mesmo porque infelizmente, existem pessoas que assim procedem, apenas para sentirem um sentimento de “superioridade” sobre o outro “coitado”.
Ser capaz de colaborar com a felicidade do próximo, sem que ninguém nem mesmo perceba, é, sobretudo uma manifestação de grandeza espiritual.
Às vezes, basta uma palavra de incentivo, um convívio de respeito e compartilhamento, para que o outro se sinta confortável e até com mais forças, para vencer suas próprias dificuldades. 
Somos seres em processo de evolução e como tal temos imperfeições.  Na busca de aperfeiçoamento, precisamos desenvolver valores, que nos fortifiquem na aceitação do que somos.
Isto por si só, já elimina os complexos e as dificuldades de autoaceitação. Mas é também nosso papel, auxiliarmos aqueles que encontram mais dificuldades para este ajuste.
Negar auxílio para quem necessita de uma palavra de afeto, ou de um gesto de aceitação, é tão grave quanto negar água a quem tem sede.
Busquemos a terceira margem da vida, seja na convivência com nossos pares, no trabalho, nas amizades, ou com nossos semelhantes em geral.

HUMANITAS Nº 31 – JANEIRO/2015 – PÁGINA 5

A MÁ-FÉ DE BRAÇOS DADOS COM AÇÕES ANTIDEMOCRÁTICAS
Carlos Demócrito A. de Lima – Recife/PE

O termo “bolivarianismo” tornou-se moda no meio público (população, políticos e mídia) que teima em não aceitar a democracia no Brasil.
Quem utiliza esse chavão, na verdade, é totalmente desinformado ou o utiliza de má-fé para influenciar pessoas menos esclarecidas com ideias sem pé e sem cabeça.
Lamentável, principalmente quando um juiz do Supremo Tribunal também invoca o termo contra o governo, atentando contra a nossa Constituição.
O ex-presidente venezuelano Hugo Chávez foi quem criou o termo “bolivarianismo”, que se origina do sobrenome de Simón Bolívar, libertador da América espanhola.
Os políticos de oposição no Brasil resolveram apossar-se também desse termo para criticar o governo legitimamente eleito, dizendo que o ex-presidente Lula e a presidente Dilma Rousseff estariam "transformando o Brasil em uma Venezuela", espalhando que “bolivarianismo” é sinônimo de comunismo. Muitos, no analfabetismo histórico e político, nem sabem quem foi Simón Bolívar.
Se não fosse tanta ignorância ou uso de má-fé por parte de pessoas formadoras de opinião ou de outras que estão no mais alto cargo jurídico ou de outras que são representantes do povo no Congresso nacional isso seria até uma piada.
Mas não o é pelo simples fato que visam acabar com a engatinhante democracia brasileira e tornar o país ingovernável.
Seria bom que as pessoas que gostam de repetir esse chavão (“bolivarianismo” pra lá e pra cá) resolvessem buscar mais conhecimentos históricos.
A palavra “bolivarianismo” provém do sobrenome do general venezuelano do século XIX, Simón Bolívar, que liderou os movimentos de independência da Venezuela, da Colômbia, do Equador, do Peru e da Bolívia contra o império espanhol.
“Bolivarianismo” está muito longe de ser uma ditadura comunista. A Venezuela, Bolívia e Equador possuem estilos governamentais e sociedades humanas muito diferentes das da União Soviética de Stalin e demais seguidores. No regime stalinista não existia liberdade política ou pluralidade de partidos, sendo crime de lesa-pátria um cidadão pensar ou agir diferente da ideologia dominante. Aquele que fosse, falasse ou pensasse contra era enviado para o gulag soviético, campo de trabalho forçado e símbolo da repressão ditatorial stalinista.
Nos países latino-americanos nada disso ocorre. Neles existe total liberdade de expressão, tanto no seio da mídia como no da oposição partidária. E o Brasil também está inserido nesse meio democrático.
Sobre a ingênua (ou de má-fé) divulgação de que no governo Lula e hoje no governo Dilma o Brasil “virou uma Venezuela” isso é ainda mais engraçado, pois demonstra falta total de estudos ou de conhecimentos históricos.
Nosso país continua com suas raízes culturais e particulares. É parceiro econômico e estratégico da Venezuela, como também de muitos outros países latino-americanos. Porém, as diretrizes do governo Dilma Rousseff e do governo venezuelano e outros são bastante diferentes, tanto na retórica quanto na prática.
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HISTÓRIA

Simón Bolívar nasceu na cidade de Caracas (Venezuela) em 24 de julho de 1783 e morreu na cidade de Santa Marta (Colômbia) em 17 de dezembro de 1830.
Foi um político e militar venezuelano que atuou no processo de independência da América espanhola.
Bolívar foi de grande importância para a independência da Colômbia, Panamá, Perú, Equador, Bolívia e Venezuela. Ele é uma das figuras históricas mais importantes da América Latina, sendo considerado um herói revolucionário.
Em função de sua atuação militar e política na emancipação de vários países latino-americanos, ficou conhecido como "O Libertador". Atuou também como presidente de alguns países que ajudou a libertar do domínio espanhol.
Simón Bolívar era de uma família aristocrata venezuelana. Estudou na Europa, onde teve contato com os ideais Iluministas.  Retornou para a Venezuela e entrou para as Juntas de Resistência. Em 1813, liderou o movimento de independência da Venezuela.
Em 1819, participou da fundação da Grande Colômbia (composta por Bolívia, Equador, Venezuela e Panamá) sendo escolhido governador. Foi presidente da Venezuela em 1819. Em 1824, junto com o futuro coronel Antonio José de Sucre, derrotou o exército espanhol, libertando o Peru. Governou esse país entre 1824 e 1827. Foi também presidente da Bolívia. Faleceu aos 47 anos de idade.
Entre suas frases preferidas podemos assinalar: "O sistema de governo mais perfeito é aquele que produz a maior quantidade de felicidade possível, maior quantidade de segurança social e maior quantidade de estabilidade política".

HUMANITAS Nº 31 – JANEIRO/2015 – PÁGINA 4

O DOMINGO QUE SANGROU A IRLANDA DO NORTE
Rafael Rocha – Recife/PE

“Garrafas quebradas sob os pés das crianças / Corpos espalhados num beco sem saída / Mas não vou atender ao clamor da batalha / Ele me encurrala, me encurrala / Contra a parede /// Domingo, domingo sangrento / Domingo, domingo sangrento / Domingo, domingo sangrento” (Broken bottles under children's feet / And bodies strewn across a dead end street / But I won't heed the battle call / It puts my back up, puts my back up / Against the wall! /// Sunday, bloody Sunday / Sunday, bloody Sunday / Sunday, bloody Sunday).
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“Domingo Sangrento” é uma expressão popularizada pelo refrão da música “Sunday Bloody Sunday”, lançada em 1983 pelo grupo musical irlandês U2. Poucos sabem, porém, que a canção foi inspirada na repressão de um protesto pacífico que manchou de sangue a história da Irlanda do Norte no dia 30 de janeiro de 1972. Somente depois de 38 anos, em 2010, revelou-se a verdade sobre os acontecimentos que levaram 14 seres humanos à morte.
Milhares de pessoas (entre 5 mil a 20 mil) marcharam, nesse domingo, pela cidade de Derry, em defesa dos direitos humanos. A maioria dos manifestantes professava a religião católica e defendia a unificação da Irlanda do Norte com a República da Irlanda.
O protesto era contra a política adotada pelo Governo Britânico em 1971. Essa política governamental possibilitava que os nacionalistas suspeitos de pertencerem a grupos radicais como o movimento independentista IRA (Exército Republicano Irlandês) fossem presos sem julgamento.
O protesto pacífico foi reprimido violentamente pelo Exército Britânico. No fim, 14 mortos, sete dos quais adolescentes, e 16 feridos. Todas as vítimas estavam desarmadas e cinco delas foram alvejadas pelas costas. Uma investigação sobre o massacre foi realizada imediatamente, mas isentou de culpa os militares britânicos, os quais afirmaram terem disparado em resposta a ataques dos manifestantes.
Nos dias seguintes, em represália, o IRA convoca uma greve geral, atendida por 90% da população local.
Manifestantes atiram pedras e bombas e incendeiam carros. Em Dublin, na Irlanda, a embaixada britânica é incendiada.
O primeiro inquérito pós incidente acusa os civis de terem dado o primeiro tiro (ainda que um legista de Derry afirme que a morte dos manifestantes tenha sido “puro assassinato”).
No ano de 1998 procedeu-se a uma nova análise do ocorrido, cujas conclusões viriam a ser reveladas doze anos depois. A nova versão mostrou que nenhuma das vítimas estava armada e que o Exército britânico não fez qualquer aviso antes de começar a disparar.
Após o "Domingo Sangrento", o IRA ganhou um número enorme de jovens voluntários, dando força ainda maior a esse grupo guerrilheiro.
Duas investigações foram realizadas pelo Governo britânico, mas o Widgery Tribunal livrou em grande parte os soldados britânicos e as autoridades da responsabilidade, mas foi criticado por muitos por ter escondido a verdade sobre o incidente.
Entre os envolvidos no lado britânico, estava Jonathan Powell, que seria chefe de equipe do primeiro-ministro Tony Blair.

HUMANITAS Nº 31 – JANEIRO/2015 – PÁGINA 3

REFÚGIO POÉTICO
TRIBUTO A ANÍBAL MACHADO

Aníbal Monteiro Machado nasceu em Sabará (MG) no dia 9 de dezembro de 1894 e faleceu no Rio de Janeiro (RJ) em 20 de janeiro de 1964.
Como crítico de artes plásticas no jornal Diário de Minas trabalhou com os poetas Carlos Drummond de Andrade e João Alphonsus de Guimaraens.
Começou na literatura ainda estudante e no Rio de Janeiro ligou-se aos Modernistas, colaborando na Revista de Antropofagia, Estética, Revista Acadêmica e Boletim de Ariel.
Publicou Vida Feliz, 1944; Histórias Reunidas, 1955; Cadernos de João, 1957; João Ternura, em 1965.
Marcou presença no panorama do conto brasileiro com Viagem aos Seios de Duília; Tati, a Garota; e A Morte da Porta-Estandarte.
Ainda foi jogador de futebol e participou do primeiro time do Clube Atlético Mineiro, em 1909, entrando no rol da fama por ter marcado o primeiro gol da história dessa agremiação. Tinha o apelido de Pingo.
Jogou por três anos, até se formar em Direito, participando depois da diretoria do clube.
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LACUNA
Antônio Carlos Gomes - Guarujá/SP

Quando o vigor da mocidade
Abandona a vida
Imediatamente
A lacuna é preenchida
Pela solidão

E ela conversa
É muito prosa
Traz recordações
Que desnudas de ilusões
Dão o saber

Triste saber
Fora de hora
Não conteve na juventude
O ímpeto que a arvora
E com ares de sapiência
Enfrenta a mudez da fala
Ante a surdez
Dos convivas ocupados
São jovens e estão agitados.
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A SOPA E AS NUVENS

Charles Baudelaire


Minha pequena louca bem-amada servia-me o jantar enquanto eu, pela janela aberta da sala, contemplava as arquiteturas moventes, (...) os vapores, as maravilhosas construções do impalpável. E eu me dizia através da contemplação:
“Essas fantasmagorias são quase tão belas quanto os olhos da minha bela bem-amada, a louquinha monstruosa de olhos verdes”. 
Subitamente senti um violento soco nas costas e ouvi uma voz rouca e charmosa, uma voz histérica, como que enrouquecida pela aguardente, a voz de minha bem-amada que dizia:
- Vamos logo, tome sua sopa, seu bobalhão, negociante de nuvens.
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HOLOGRAMA
Rafael Rocha – Recife/PE
Do livro: Poemas Escolhidos

Nossa cama abre o infinito
Aos nossos corpos restritos
Às estrelas lá do céu
A noite inteira o teu grito
Ecoa tal qual o gemido:
- Teu corpo ao meu pertenceu!

Tem sabor de graviola
O beijo dado na boca
Tua saliva melhor!
Teus olhos são saltimbancos
Do sexo dois pirilampos
Na vertigem do amor!

Mas hoje é apenas miragem
Um sonho nesta paisagem
A ferir meu coração
Que tenta fazer reciclagem
Do tempo velho e selvagem
Simples e mera ilusão!

Estou sozinho na cama
E meu sonho grita e chama
O eclodir de um amor
E a mais antiga dama
É apenas um holograma
De um corpo que já passou