sexta-feira, 9 de janeiro de 2015

HUMANITAS Nº 31 – JANEIRO/2015 – PÁGINA 2

EDITORIAL
A CRIATIVIDADE HUMANA NÃO É UM PRESENTE DIVINO

O ser humano é o único animal racional do planeta Terra. O ser humano é o único animal que consegue superar seus instintos pela razão. Essa é uma conquista pela qual toda humanidade pode se orgulhar.
A capacidade humana de realizar trabalhos e tarefas as mais diversas, as múltiplas inteligências e a complexidade de criação humana são impressionantes. Tudo isso devemos à nossa gradual evolução no planeta, mas essa conquista natural não é suficiente para alguns. 
Pelo medo da morte e buscando uma forma de obter poder, homens e mulheres dotados do dom da oratória convenceram outros homens e mulheres que o nosso potencial é um empréstimo divino e que devemos pagar com gratidão eterna por esse “ganho”. Mais do que claro que o dinheiro é indispensável para demonstrar gratidão a um deus e enriquecer os representantes de tal deus.
A ideologia cristã ensina aos seus fiéis que as vitórias humanas não fazem parte dos esforços humanos. Fazem parte da intervenção divina. Para isso os representantes do deus cristão exortam e obrigam os fiéis a constantes expressões de agradecimento que devem se tornar um mantra entre eles. 
O uso da frase “graças a deus” é a maior expressão cristã de rebaixamento humano. Por essa frase, homem e mulher que a citam são rebaixados a objetos e tornam-se ferramentas secundárias de suas conquistas. Apesar de a frase parecer inofensiva, ela é uma ofensa ao potencial criativo humano. Os cristãos além de se submeterem a fantasias divinas nessa expressão acabam por detonar com a autoestima deles e das outras pessoas ao seu redor.
Nada acontece por intervenção de um deus ou por consequência de um destino predestinado. As conquistas humanas são méritos de um bom trabalho humano. Nossa potencialidade criativa faz parte de nossa potencialidade criativa. Não é um presente nem um empréstimo divino.
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CARTAS DOS LEITORES

El periódico HUMANITAS ha sido muy bien recibido en Barcelona. Brasileños que viven aquí alaban los creadores de este diario. Carmen Vásquez – Barcelona-Espanha

Recebo o HUMANITAS na Banca Guararapes no centro do Recife. Fico sempre aguardando ansiosamente a chegada mensal desta publicação na banca. Ana Gardênia Silva – Recife/PE
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A EXISTÊNCIA PRECEDE A ESSÊNCIA
Jean-Paul Sartre – Especial para o HUMANITAS

No século XVIII, para o ateísmo dos filósofos, suprime-se a noção de Deus, mas não a ideia de que a essência precede a existência. O homem possui uma natureza humana e essa natureza, que é o conceito humano, encontra-se em todos os homens, o que significa que cada homem é um exemplo particular de um conceito universal: o homem.
O existencialismo ateu, que eu represento, é mais coerente. Declara ele que, se Deus não existe, há pelo menos um ser no qual a existência precede a essência, um ser que existe antes de poder ser definido por qualquer conceito, e este ser é o homem ou, como diz Heidegger, a realidade humana.
Que significará aqui o dizer-se que a existência precede a essência? Significa que o homem primeiramente existe, se descobre, surge no mundo; e que só depois se define.
O homem, tal como o concebe o existencialista, se não é definível, é porque primeiramente não é nada. Só depois será alguma coisa e tal como a si próprio se fizer. Assim, não há natureza humana, visto que não há um deus para concebê-la.
O homem é, não apenas como ele se concebe, mas como ele quer que seja, como ele se concebe depois da existência, como ele se deseja após este impulso para a existência. O homem primeiro existe, ou seja, o homem, antes de mais nada, é o que se lança para um futuro, e o que é consciente de se projetar no futuro.
Mas se verdadeiramente a existência precede a essência, o homem é responsável por aquilo que é. Assim, o primeiro esforço do existencialismo é o de pôr todo homem no domínio do que ele é e de lhe atribuir a total responsabilidade da sua existência. Portanto, o homem é responsável por todos os homens.

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