sexta-feira, 9 de janeiro de 2015

HUMANITAS Nº 31 – JANEIRO/2015 – PÁGINA 4

O DOMINGO QUE SANGROU A IRLANDA DO NORTE
Rafael Rocha – Recife/PE

“Garrafas quebradas sob os pés das crianças / Corpos espalhados num beco sem saída / Mas não vou atender ao clamor da batalha / Ele me encurrala, me encurrala / Contra a parede /// Domingo, domingo sangrento / Domingo, domingo sangrento / Domingo, domingo sangrento” (Broken bottles under children's feet / And bodies strewn across a dead end street / But I won't heed the battle call / It puts my back up, puts my back up / Against the wall! /// Sunday, bloody Sunday / Sunday, bloody Sunday / Sunday, bloody Sunday).
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“Domingo Sangrento” é uma expressão popularizada pelo refrão da música “Sunday Bloody Sunday”, lançada em 1983 pelo grupo musical irlandês U2. Poucos sabem, porém, que a canção foi inspirada na repressão de um protesto pacífico que manchou de sangue a história da Irlanda do Norte no dia 30 de janeiro de 1972. Somente depois de 38 anos, em 2010, revelou-se a verdade sobre os acontecimentos que levaram 14 seres humanos à morte.
Milhares de pessoas (entre 5 mil a 20 mil) marcharam, nesse domingo, pela cidade de Derry, em defesa dos direitos humanos. A maioria dos manifestantes professava a religião católica e defendia a unificação da Irlanda do Norte com a República da Irlanda.
O protesto era contra a política adotada pelo Governo Britânico em 1971. Essa política governamental possibilitava que os nacionalistas suspeitos de pertencerem a grupos radicais como o movimento independentista IRA (Exército Republicano Irlandês) fossem presos sem julgamento.
O protesto pacífico foi reprimido violentamente pelo Exército Britânico. No fim, 14 mortos, sete dos quais adolescentes, e 16 feridos. Todas as vítimas estavam desarmadas e cinco delas foram alvejadas pelas costas. Uma investigação sobre o massacre foi realizada imediatamente, mas isentou de culpa os militares britânicos, os quais afirmaram terem disparado em resposta a ataques dos manifestantes.
Nos dias seguintes, em represália, o IRA convoca uma greve geral, atendida por 90% da população local.
Manifestantes atiram pedras e bombas e incendeiam carros. Em Dublin, na Irlanda, a embaixada britânica é incendiada.
O primeiro inquérito pós incidente acusa os civis de terem dado o primeiro tiro (ainda que um legista de Derry afirme que a morte dos manifestantes tenha sido “puro assassinato”).
No ano de 1998 procedeu-se a uma nova análise do ocorrido, cujas conclusões viriam a ser reveladas doze anos depois. A nova versão mostrou que nenhuma das vítimas estava armada e que o Exército britânico não fez qualquer aviso antes de começar a disparar.
Após o "Domingo Sangrento", o IRA ganhou um número enorme de jovens voluntários, dando força ainda maior a esse grupo guerrilheiro.
Duas investigações foram realizadas pelo Governo britânico, mas o Widgery Tribunal livrou em grande parte os soldados britânicos e as autoridades da responsabilidade, mas foi criticado por muitos por ter escondido a verdade sobre o incidente.
Entre os envolvidos no lado britânico, estava Jonathan Powell, que seria chefe de equipe do primeiro-ministro Tony Blair.

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