O DOMINGO QUE SANGROU A IRLANDA DO NORTE
Rafael Rocha – Recife/PE
“Garrafas quebradas sob os pés das
crianças / Corpos espalhados num beco sem saída / Mas não vou atender ao clamor
da batalha / Ele me encurrala, me encurrala / Contra a parede /// Domingo,
domingo sangrento / Domingo, domingo sangrento / Domingo, domingo sangrento” (Broken bottles under children's feet / And
bodies strewn across a dead end street / But I won't heed the battle call / It
puts my back up, puts my back up / Against the wall! /// Sunday, bloody Sunday
/ Sunday, bloody Sunday / Sunday, bloody Sunday).
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“Domingo
Sangrento” é uma expressão popularizada pelo refrão da música “Sunday Bloody Sunday”, lançada em 1983
pelo grupo musical irlandês U2. Poucos sabem, porém, que a canção foi inspirada
na repressão
de um protesto pacífico que manchou de sangue a história da Irlanda do Norte no
dia 30 de janeiro de 1972. Somente depois de 38 anos, em 2010, revelou-se a
verdade sobre os acontecimentos que levaram 14 seres humanos à morte.
Milhares de
pessoas (entre 5 mil a 20 mil) marcharam, nesse domingo, pela cidade de
Derry, em defesa dos direitos humanos. A maioria dos manifestantes professava a
religião católica e defendia a unificação da Irlanda do Norte com a República
da Irlanda.
O protesto era
contra a política adotada pelo Governo Britânico em 1971. Essa política
governamental possibilitava que os nacionalistas suspeitos de pertencerem a
grupos radicais como o movimento independentista IRA (Exército Republicano
Irlandês) fossem presos sem julgamento.
O protesto
pacífico foi reprimido violentamente pelo Exército Britânico. No fim, 14
mortos, sete dos quais adolescentes, e 16 feridos. Todas as vítimas estavam
desarmadas e cinco delas foram alvejadas pelas costas. Uma investigação sobre o
massacre foi realizada imediatamente, mas isentou de culpa os militares
britânicos, os quais afirmaram terem disparado em resposta a ataques dos
manifestantes.
Nos dias
seguintes, em represália, o IRA convoca uma greve geral, atendida por 90% da
população local.
Manifestantes
atiram pedras e bombas e incendeiam carros. Em Dublin, na Irlanda, a embaixada
britânica é incendiada.
O primeiro
inquérito pós incidente acusa os civis de terem dado o primeiro tiro (ainda que
um legista de Derry afirme que a morte dos manifestantes tenha sido “puro assassinato”).
No ano de 1998
procedeu-se a uma nova análise do ocorrido, cujas conclusões viriam a ser
reveladas doze anos depois. A nova versão mostrou que nenhuma das vítimas
estava armada e que o Exército britânico não fez qualquer aviso antes de
começar a disparar.
Após o "Domingo Sangrento", o IRA ganhou um número enorme de
jovens voluntários, dando força ainda maior a esse grupo guerrilheiro.
Duas investigações foram
realizadas pelo Governo britânico, mas o Widgery Tribunal livrou em grande
parte os soldados britânicos e as autoridades da responsabilidade, mas foi
criticado por muitos por ter escondido a verdade sobre o incidente.
Entre os envolvidos no lado
britânico, estava Jonathan Powell, que seria chefe de equipe do primeiro-ministro
Tony Blair.
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