segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

Educação não é discurso... É referência!

Texto de Ana Maria Leandro – Escritora e Jornalista – Belo Horizonte/MG
publicado No HUMANITAS nº 7 – Fevereiro/2013

Entre a palmatória e a psicologia, os pais parecem ter perdido o senso da necessidade de promover nos filhos, a responsabilidade sobre a construção de suas próprias vidas. Ainda que cuidem de lhes oferecer toda a escolaridade formal (embora os que vivam abaixo da linha da miséria, não alcancem este privilégio), que os potencialize para a independência, cometem o engano de lhes proporcionar uma vida irreal em relação às suas condições pessoais, mesmo após a maioridade. Mas este referencial de “fachada” está presente também em nossas autoridades políticas.
É muito interessante ver em discursos, como “defendem” valores de educação; ética, integridade, trabalho. Discurso naturalmente de “fachada” , como se pode verificar sem dificuldades, nas demonstrações da corrupção e malversação do dinheiro público. Isto quando ainda não usam de suas influências, para proteger “filhinhos de papai” de suas próprias ações fraudulentas ou marginais. Ora, a administração de um país é como a administração da família: não adianta discursar bonito e agir na contramão do que se diz. Como citou nosso pesquisador e escritor Ricardo Tiné “a empresa Brasil S/A naufraga na travessia do oceano da corrupção e da incompetência e vai deixando um enorme rastro de miséria e descontentamento...” (Humanitas nº 5 - Ano I - Pág. 4).
Na preservação desta terrível herança, encontram-se jovens estudando em universidades caras, ou mesmo federais (onde já sabemos, as possibilidades de acesso são maiores para as classes abastadas), numa concentração de qual tipo de grupo? O mesmo que aprendeu a ter tudo com mais facilidade. É também nesses meios que se encontram muitas vezes herdeiros de autoridades públicas, usando suas influências para evitar que os “filhinhos” paguem por erros cometidos, como assassinatos de índios, pobres e outros que a história sempre registrou como “excluídos” do respeito humano. Para estes pais, qualquer resultado positivo dos filhos, como uma simples aprovação de série ou num vestibular, merece recompensas materiais, carros de última geração e outros.
Materializando sempre as recompensas, que outros tipos de conceitos terão estes jovens sobre valores? E aprendem rápido... Em cima de ameaças de mau comportamento e chantagens, para obterem o que desejam, atingem seus objetivos individualistas. Nada sabem sobre “valores essenciais”. Não é de se surpreender este efeito... Esta tem sido a lição capitalista. Qualquer recrudescimento da economia no país tem como consequência o excesso de compras de bens de consumo.
Um dos exemplos claros é a constatação do estrangulamento do trânsito nas principais capitais, numa frontal ignorância dos problemas ambientais consequentes. Famílias inteiras desfilam, cada integrante maior de idade com seu carro. Claro, afinal é preciso mostrar que o filhote, que mal fez dezoito anos já tirou sua carteira.
De fato é princípio básico de uma boa educação, a estimulação dos pais ao fazerem reconhecimento explícito dos talentos de seus filhos. Mas é imprescindível que os educadores percebam, que esta valorização deve partir da identificação, de que cada vitória é uma conquista para a vida de quem a atinge. Cada pessoa tem que compreender, que ele é o maior beneficiado por conquistas merecidas, atingidas pelo esforço próprio e não subtraídas via mentiras e falsidades...
Enfim; isto faz parte do aprendizado de saber discernir entre o bem e o mal; a causa e o efeito; a ação e a reação. Numa sociedade onde o “ter” é visivelmente mais relevante do que o “ser”, o que esperar das gerações em desenvolvimento? Pelo segmento da questão ambiental, este açodamento pelo possuir vai provocando também o desastre da invasão dos descartáveis e inviabilizando a vida planetária. E o que é pior, criando mentes capazes de matar pais, filhos e familiares, a troco de soluções materiais imediatas e palpáveis.
Sabe-se que destruir o planeta é destruir o ser humano que o habita. Mas que referências a este respeito as gerações que chegam estão recebendo? Pais e educadores estão atirando a nova geração pela janela, pelo desespero de não saberem como suportá-los. Janelas foram feitas para se abrirem para a luz e a sociedade está criando seres humanos, que só conseguem ver os valores obscuros do materialismo. Ou os abandonam, ou passam a fazer-lhes todas as vontades, na ânsia talvez de se sentirem amados. Ou tentando conseguir, que não sintam falta de um pai ou uma mãe que não os tenha assumido. Ou finalmente, para compensá-los do sofrimento de viver no meio de uniões conjugais, que naufragaram nas guerras do cotidiano. Mas as crianças crescem e lhes atiram impiedosamente no rosto, a descoberta destas manipulações.
E eis o quadro de pais perdidos nos controles que jamais tiveram, nem sobre si mesmo. Têm filhos para exibir a competência geradora (como se qualquer animal não fosse capaz disto); tratam os herdeiros como príncipes e princesas, com direito a exibições para vaidosas afirmações do ego... Isto enquanto conseguem suportá-los. Finalmente os jovens, habilitados na competência de realizarem a qualquer custo seus desejos, começam a se afastar dos pais e exigir uma independência que não possuem. Independência de livre arbítrio comportamental, não financeiro, pois nem estão preparados para tal.
É o mesmo caso de pessoas que procriam, sem planejamento e sem condições nem mesmo de autossustentação. Depois, confrontados com o “estorvo” que geraram e com a total falta de condições de assumi-los, atira-os nas lagoas ou nos lixos, ou quem sabe pelas janelas. Isto não acontece só em classes pobres. Muitos herdeiros de famílias de classe alta fazem o mesmo, porém de maneira a não terem os atos descobertos, em caríssimas clínicas ou casas de aborto criminoso. Quando não o fazem é porque sabem, que serão seus pais a assumir o novo ser que procriaram. Em breve estatística de número de crianças no país é fácil se ver o alto índice de filhos sem a companhia dos pais, criados por avós enquanto os pais biológicos continuam a viver, cada um para o seu lado, suas vidas de solteiros.
Assim sendo os avós muitas vezes assumem os custos materiais gerados pelos netos. Mas crianças não precisam apenas de sustentação monetária. E os pais biológicos literalmente deixam a serviço dos avós o trabalho que deveriam realizar. Erro apenas dos pais biológicos? Não... Também dos avós, que assumindo papéis que não lhes cabem, em nome do orgulho de verem a terceira geração “dar certo”, abstêm os filhos das próprias responsabilidades. Não pensem que estes filhos lhes serão gratos. Ao contrário... Vão se sentir “comprados” por poderes materiais e lhes jogarão ao rosto, que nada pediram.
Nesta guerra de “poderes” os netos acabarão por não saberem mais a quem respeitar... Aos pais ou aos avós?... Ou a nenhum deles? Aliás, quem merece respeito neste quadro? Para valorizar uma vida, o ser humano precisa antes compreender o valor de si mesmo. Precisa apossar-se de sua essência, encontrar-se na razão pela qual foi criado. Toda a maldade humana, criminalidade de qualquer espécie, prejuízo e destruição de vida alheia é distorção absoluta da finalidade da vida. Mas enquanto os valores, que plantarmos como herança forem estes, esta será a sociedade que estaremos construindo para viver.

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