sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

Refúgio Poético



Poemas publicados no HUMANITAS nº 18 – JANEIRO/2014


 Loucura
Rafael Rocha – Recife/PE

Levante a noite estrelas como um dístico
A tempestade ponha raios sobre as águas
Terremotos criem sons apocalípticos
Antes de um corpo inteiro trazer mágoas
A dissolver dentro de mim o abandono
Como se raízes não possam ter na terra
A desejar para meu tempo eterno sono
Quando as mãos se preparam para a guerra
Matando anseios de paixões tormentosas
Renascidas do ventre e dentre as pernas
Onde o poeta glorifica a causa louca
E onde põe desvairado a própria boca
Pronta a sugar todo o doce mel das rosas
A deslizar dessas vermelhas pétalas.
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Ela não sabe
Valdeci Ferraz – Caruaru/PE

Ela não sabe da missa um terço.
Nem imagina o estrago
Quando me recusa um beijo
Ela não sabe
O tamanho do meu desejo
Ela não sabe nada do meu amor.

Ela não vê meu vulto nas madrugadas
Escalando estrelas. Surfando nos ventos.
Arranhando as paredes com unhas de prata
E beijando o chão onde ela pisa.
Ela não vê as minhas lágrimas noturnas
Escorrendo pelo ladrilho do quarto.
Pérolas solitárias engolidas pela noite.

Ela não percebe os meus volteios
A minha palavra doida
O meu gesto bobo
Meu riso triste
Ela não escuta o som do meu gemido
Navegando nos lençóis da cama
Nem percebe o tremor dos meus pés
Solicitando carícias atropeladas.
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Noites de lua cheia
Antonio Carlos Gomes – Guarujá/SP

Quando o vento traz a solidão
A lua vem como companhia
Converso com ela no anfiteatro das estrelas.
Então o vento perde o furor
Vem mansinho
Vem como brisa
Escutar as falas de amor
Que fazem alegorias
Nas noites de lua cheia
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O universo da arte
Genésio Linhares – Recife/PE

Sim! A arte é um grande ofício  deslumbrante
Posto que nela tudo é feito em ritual
Pois sua matéria, a essência espiritual
É a fonte poética do seu vero amante.

A arte finge e simula, mas é brilhante
Em seu exclusivo e puro mundo ideal
De beleza sacrossanta e magistral
A arrebatar nossa alma que vaga errante.

Um novo sentido de vida oferece
Talvez, não o paraíso eterno do divino
Nem a vitória do bem contra a maldade

Mas o sopro vivo da arte nos enobrece
A recriar outro universo e o seu destino
No imo deste mundo onde impera a fealdade.
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Partilha
Marisa Soveral – Porto/Portugal

Nesta existência incerta e complexa
Um verdadeiro afecto é uma bênção
Com ele crescemos e podemos florir
O mais importante temos à nossa mão

Que bom é partilhar íntimas afinidades
Podermos juntos em uníssono divagar
Olhar os olhos brilhantes e enlevados
Sentir uma imensa vontade de abraçar

Compartilhar com fé a lágrima e o sorriso
Ter aquele ombro especial que aconchega
E sentir aquele orgulho grande e incisivo

Podem lampejar raios estourar trovões
Sei que estás por aí, posso contar contigo
Para embalar as minhas dores e tensões!

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