Editorial do HUMANITAS - Julho/2013
Crenças são invenções humanas
advindas de suas necessidades. Nos primórdios da civilização não existiam
outros recursos com os quais os homens pudessem suprir as angústias vividas.
Assim a humanidade criou as crenças como recurso para aliviá-la da ansiedade
pela busca de respostas aos mistérios naturais. O interessante é que cada grupo
humano compreende os mistérios de acordo com os recursos naturais existentes em
seu habitat. Tudo porque cada um habitou espaço geográfico diferente e
desenvolveu um sistema de crença diferente.
Desde a origem da humanidade
até hoje muita crendice desapareceu, assim como milenares superstições,
rituais, costumes. Atualmente é impossível classificar paralelamente as
crenças, pois todas as já praticadas partiram do princípio do sistema
cultural de uma época.
As culturas que apareceram na
história da humanidade apresentam, desde seus primórdios, fortes vínculos com
as crenças e figuras simbólicas representadas por deuses, astros, homens,
animais, ou quaisquer outros objetos que pudessem servir como representação
concreta à imaginação.
Nos povoados pré-históricos,
seus habitantes, crendo na existência de fenômenos sobrenaturais, sentiam-se ameaçados
por essas forças e passaram a desenvolver rituais e práticas crendo na
possibilidade de contato entre o homem e o sobrenatural. Usando tais mecanismos
estariam de par a par com os deuses e deixariam de correr o risco de serem
punidos por explorar a natureza de maneira errônea.
Assim, desenvolveram
símbolos, significados e valores místicos institucionalizando, a partir disso,
sistemas de crenças e rituais. No processo evolutivo desses sistemas para
adoração do sobrenatural, ou melhor, dos deuses da natureza, os homens
primitivos institucionalizaram o que conhecemos como “religião”.
Como diz M. Ortega, “as religiões são sinais de identidade, tanto das
pessoas como das sociedades. Por isso são tão variadas e têm, ao mesmo tempo,
tantas coisas em comum”. Com
o passar dos anos, os deuses foram gradativamente perdendo o reino da abstração
primitiva e começando a apresentar novas faces na vida concreta, ganhando
também novas representações.
Essas representações criadas
pelo homem incluíam fama, beleza, ciência, medicina, sem esquecer o poder
divino das substâncias farmacológicas e narcóticas, alcançando a psicologia de
hoje e os livros de auto-ajuda. Com as novas respostas dadas pela ciência
aparecem agora novos candidatos prontos para assumir o trono do deus
recém-eliminado. Esses também prometem alternativas menos sacrificantes para
que o homem possa conquistar o “bem-estar” eterno.
Tudo
muito simples. Nada complicado. O mal-estar tem nome: a incerteza quanto à
vida, o medo de morrer. Ele é inerente à espécie humana. Como o homem não
possui capacidade mágica de eliminar essa incerteza e esse medo, utiliza
mecanismos inconscientes que se identificam com as representações simbólicas
inseridas nas sociedades e nas culturas, sendo estas representações que
enriquecem nosso ego de forma que possam nos ajudar a esquivar nosso corpo e
nossa mente do medo e da dor do existir.
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