sábado, 22 de fevereiro de 2014

Ideias novas e lampejos de luz no horizonte

Texto de Rafael Rocha – Jornalista – Recife/PE
Publicado no HUMANITAS nº 19 – Fevereiro/2014

Prescindir de uma religião não leva o homem a ser um bicho irracional. O ateísmo
é compatível com os anseios básicos da sociedade civil


Desvarios místicos, sectarismos, seitas, nascimento de novas religiões e maior incremento das antigas, fundamentalismos associados ao terror e à fé cresceram bastante no fim do século 20 e no começo do século 21.
Mas um bafejar de qualidade e lampejos de luz no horizonte aparecem. Os livres pensadores e os intelectuais ateus começam a reagir. Surge uma nova forma de pensar. Descobre-se que o radicalismo nas religiões pode ser maléfico demais. Divulgam-se ideias novas, incluindo a de que existem meios de o homem ser menos enganado. De que o ser humano pode ser ainda mais humano mesmo sem acreditar em um deus.
Os livres pensadores descobriram há muito tempo, mas agora estão tendo a oportunidade de reavaliar o ditado de que política e religião não podem entrar em discussão. Descobriram que nessa frase não existe a democracia da palavra, e sim, censura e proibição para envolver impessoalmente o homem. Essa interdição do pensamento, na realidade, é um dos principais motivos da alienação e do atraso existentes nos países latinos. No Brasil, principalmente. Portanto, estamos levando ao conhecimento do mundo que a radicalização das crenças em um ou outro deus, em uma ou outra religião, traz apenas discórdia. E que no tempestuoso universo da religiosidade a terra é regada com terror, sangue e imposturas as mais diversas para fornecer poder e dinheiro a determinados grupos ou pessoas.
Prescindir de uma religião ou de todas não leva o homem a ser um bicho inconsciente ou irracional. O ateísmo é, e muito, compatível com os anseios básicos existentes na sociedade civil. Os filósofos e livres pensadores conseguem demonstrar que, hoje, acreditar em um deus não garante saúde corporal e mental para ninguém. O ateísmo não é o fim do mundo. E está mais do que provado que o fanatismo e o irracionalismo da religião são péssimos exemplos para a civilização.
Lembro que o irracionalismo leva até a proibir o estudo e o desenvolvimento científico, para mergulhar o homem em ideias irreais. Nos EUA, o livro bíblia é o mais utilizado nas escolas primárias. Nessas escolas proíbem mencionar o nome de Charles Darwin, bem como falar de suas teorias evolucionistas. Absurdo sem tamanho! Nas escolas estadunidenses, a intolerância religiosa é pregada de forma aberta contra os ateus.
Nelas ensina-se que o fim do mundo está perto e que o fim do homem será glorioso apenas se ele aceitar a ideia de um redentor. Nessas escolas desrespeita-se a liberdade individual e os avanços da ciência são interditados, e isso pode colocar em risco a sobrevivência da humanidade.
O ensino falacioso de que os animais terrestres sobreviveram aos pares na arca de Noé, que a luz de galáxias distantes foi criada a caminho da Terra e que os primeiros membros da nossa espécie foram modelados a partir do barro e do hálito divino, em um jardim com uma cobra falante e pela mão de um deus invisível são ideias bizarras e primitivas. E mais bizarro ainda é quando vemos que esse deus bíblico tem sido pivô principal das mais diversas chacinas, das piores imposturas e de inumeráveis sofrimentos em nome da fé.
Se pelo menos esse deus aparecesse e fornecesse uma pista do que é. Mas isso não acontece. Ele prefere a clandestinidade, o anonimato e, espantosamente, habitar no invisível. É um deus que se esconde obstinadamente do homem e se planta no dogma da fé para se tornar viável. Simplesmente pelo simples motivo que ele não é. Ele não existe.
Pelo que aprendemos, sociedades com menos religião ou sem religião são mais saudáveis. Mesmo assim, ser ateu não é tão fácil como se pensa. A população precisa saber mais sobre o ateísmo.
Muitos países desenvolvidos do mundo, como a Noruega, Islândia, Austrália, Canadá, Suécia, Suíça, Bélgica, Japão, Holanda, Dinamarca e Reino Unido, estão incluídos atualmente entre as sociedades menos religiosas do planeta. O Relatório do Desenvolvimento Humano das Nações Unidas publicou em 2005, que essas sociedades também são as mais saudáveis, no tocante aos indicadores de expectativa de vida, alfabetização, renda per capita, educação, igualdade entre os sexos, taxa de homicídios e mortalidade infantil.
Enfim, no mesmo relatório, os 50 países a ocuparem os lugares mais baixos, são religiosos. O Brasil, infelizmente, está entre eles. Portanto, quem desejar ficar à altura da nova época e do novo tempo tem de mergulhar no estudo e no conhecimento sobre o que vem a ser a ideia dos sem religião e dos sem deus. Tem de olhar mais atentamente para as mentiras que as seitas e as religiões organizadas impermeabilizam a torto e a direito na mente humana. E observar que o ateísmo retira o homem de prisões invisíveis e abre espaço para uma busca mais consistente da verdade.

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