terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

Refúgio poético

Poemas publicados no HUMANITAS nº 11 – Junho/2013


Controvérsia 
Antônio Carlos Gomes- Médico- Guarujá/SP 

Dentro de mim fala sim
Vai que pode haver paixão
Enquanto a razão ruim
Brinda com sonoro não.


São duas as forças assim,
Forçando meu coração
E penso: - Pobre de mim,
Já perdi até razão!


Desejo tão complicado
Que quer unanimidade
Da razão fria de um lado
Do outro sobra à saudade.


Saudade aquele bocado
Colo e de felicidade
Que num dia foi sufocado
Procurando a liberdade


Choroso choro por dentro
Por fora só a ansiedade
Quando fico sonolento
Sonho o amor de verdade.
 

.................................................
Invocação 
Silvia Motta -Poeta - Cabo Frio - RJ 

Inepta frente à grandiosa
Insígnia do poder divino,
Imiscuo-me à poeira universal.
Intrépida, a procurar-te em brilho irregular,
Impérvia, na essência imarcescível do Infinito,
Invoco-te, mas abomino-te em mim.
Idílio entre sublime e ímpio, és em mim, Electra!
 

......................................... 
Desabafo 
Robson Sampaio - Poeta - Recife/PE 

Eu queria falar
Faltaram palavras
Eu queria gritar
Faltou voz
Eu queria chorar
Faltaram lágrimas
Eu queria sorrir
Faltou alegria
Eu queria ser bom
Faltou compreensão
Eu queria ser mau
Faltou coragem
Eu queria ter fé
Faltou crença
Eu queria ser feliz
Faltou você
........................................ 
Poeta e homem 
Rafael Rocha - Jornalista- Recife/PE 

Ser um poeta é também ser meio louco
Aventureiro e pássaro e dono do ar
Navegando mares onde pouco a pouco
As canções sexuais vão predominar.

Ser poeta é um meio de viver em fogo
Amando ninfas às quais não pode amar
Viajando em cérebro ao fundo do corpo
E deglutindo em si mesmo o desvairar.

E nessa insana união de meios e espaços
Urge nascer uma poesia nos abraços
Da fêmea geradora das sutis delícias

Homem: mergulhar na macieza dos braços.
Poeta: renascer das centenas de cansaços
Em beijos e deslizes nas mais loucas carícias.
...........................................................
A garagem da vizinha

Joaquim de Magalhães Fernandes Barreiros poeta e cantor popular português mais conhecido como Quim Barreiros 

Lá na rua onde eu moro, conheci uma vizinha
Separada do marido está morando sozinha
Além dela ser bonita é um poço de bondade
Vendo meu carro na chuva ofereceu sua garagem! 


Ela disse: ninguém usa desde que ele me deixou!
Dentro da minha garagem teias de aranha juntou!
Põe teu carro aqui dentro, se não vai enferrujar!
A garagem é usada, mas teu carro vai gostar! 


Ponho o carro, tiro o carro, na hora que eu quiser
Que garagem apertadinha, que doçura de mulher.
Tiro cedo e ponho à noite, e às vezes à tardinha
Estou até mudando o óleo na garagem da vizinha! 

........................................................ 
Agora eu era... 
Genésio Linhares- Professor- Recife/PE 

Agora eu era um cavaleiro
Sem cavalo e sem espada
Sem paixão, sem amor primeiro
A andar sem rumo, sem nada

Agora eu era um ser virtual
De intelecto assaz eletrônico
Um ser talvez artificial
Andarilho zumbi, ctônico

Agora eu era apenas sombra
Apenas sombra de mim mesmo
Oh, angústia existencial!

Agora eu era uma alfombra
Lacaio informático a esmo
Sem dor, sem tristeza, sem sal.
................................................... 
A ilusão morreu 
Marisa Soveral - Poeta- Porto/Portugal

Entristecida fico,
Quando me morre uma ilusão
Que me ajudou a viver
Afastando tédio e cinza!
Alguém
Modelado no espírito
Sempre belo,
Sempre inteligente,
Sempre dadivoso
Que me aliciou e projetou
Ao sonho,
E deu calor a uma vida
Que sem finalidade
É pelo tédio mordida!..


 Morta a ilusão é o vazio!..
A estrada cinzenta e fria
Arrefece-me,
Meu corpo se enruga e seca
Fragilizado pela ventania!
Os dias são vividos
E sulcados pelo desânimo
De nada apetecer
Para chegar à noite
E esquecer!..
O sono é o intervalo
Do desamor
Reconfortante
Na inconsciência
Da dor!

Nenhum comentário:

Postar um comentário