sexta-feira, 14 de março de 2014

Uma erótica e antiga atividade carnavalesca: o beijo na boca

Texto de Rafael Rocha – Jornalista – Recife/PE 
Publicado no HUMANITAS de Março/2014

As pessoas inteligentes sabem que o beijo na boca, apesar de muito bom e gostoso, também pode causar doenças virais e bacterianas

O Carnaval chegou e beijar na boca é o lema! Sentir o sabor da saliva do outro é o prazer! Fechar os olhos e mergulhar em um espaço diferente, erótico e lascivo?
Sim, beijar é bom! Beijar é saudável, desde que as pessoas que se beijam se conheçam e a outra saiba da outra. No Carnaval, quando a libertinagem toma conta dos corpos, quando mulheres e homens entram na vertigem lasciva e dionisíaca da festa, os beijos acontecem sem que as pessoas se conheçam mais a fundo. Nada contra o beijar, mas o que dizer do beijo na boca? O que falar simplesmente do beijo?
As referências mais antigas de beijos entre os seres humanos foram esculpidas por volta do ano de 2.500 antes da Era Comum nas paredes dos templos de Khajuraho, na Índia.
Já entre os persas, nos mais longínquos tempos históricos, os homens trocavam beijos na boca, ainda que isso só valesse para pessoas do mesmo nível social. Se um dos homens fosse considerado hierarquicamente inferior, o beijo deveria ser dado no rosto.
No caso da Grécia Antiga, só eram permitidos beijos na boca entre pais e filhos, irmãos ou amigos muito próximos.
Chegando na Antiga Roma descobrimos que existiam três tipos de beijos: o “basium”, trocado entre conhecidos; o “osculum”, dado apenas em amigos íntimos; e o “suavium”, que era o beijo dos amantes.
Os imperadores romanos permitiam que os nobres mais influentes beijassem seus lábios, enquanto os menos importantes tinham de beijar suas mãos. Os súditos podiam beijar apenas seus pés. 
No Renascimento beijar na boca era uma forma de saudação comum. Na Velha Albion, a Inglaterra, o visitante ao chegar na casa de alguém, beijava o anfitrião, sua mulher, todos os filhos e até mesmo o cachorro e o gato, mas o beijo foi proibido em 1439, pelo rei Henrique VI para evitar a proliferação de doenças. Oliver Cromwell, no século XVII, proibiu beijos aos domingos. Em 1909, um grupo de americanos considerou o contato dos lábios prejudicial à saúde, fundando então a “Liga Antibeijo”.
O beijo de língua”, expressão criada por volta de 1920, quando as línguas se entrelaçam, é um dos mais famosos beijos, sendo originário da França.
Agora, vamos voltar ao beijo no Carnaval aqui no Brasil. O interessante é que pouca gente sabe que para tentar dar um fim à farra de milhares de foliões no Carnaval, representantes do Judiciário, em Brasília, decidiram acabar com os beijos durante o reinado de Momo.
Assim, quem for flagrado cometendo o ato poderá pegar até três anos de prisão. É a primeira de muitas medidas visando melhorar a imagem e “evangelizar” o Carnaval no Brasil. Será aprovada mesmo?
Em Olinda, Pernambuco, os "beijos forçados" no Carnaval foram proibidos como uma maneira de proteger as mulheres que querem participar da festa sem serem atacadas por foliões desagradáveis, de acordo com o governante da cidade.
A proibição visa coibir uma "tradição", na qual grupos de homens formam corredores nas ruas de Olinda e sapecam beijos nas mulheres. Só uma coisa os legisladores esqueceram: “Carnaval é a festa da carne e do vale-tudo e quem vai pra chuva sabe que vai se molhar”.
Claro que as pessoas inteligentes entendem que o beijo na boca, apesar de muito bom e gostoso, também pode causar doenças virais e bacterianas.
Elas e eles sabem disso! E no Carnaval a possibilidade de contágio aumenta, já que muitas pessoas aproveitam o clima de paquera e acabam beijando desconhecidos. O problema é que tais pessoas não têm como saber se o parceiro(a) que mal conheceu é saudável.
Sim, é verdade! As chances de contrair doenças sexualmente transmissíveis também aumentam. Muitas infecções acontecem através da troca de saliva, pelo fato de a boca possuir uma flora natural, formada por bactérias, vírus e fungos, que convivem pacificamente em determinado organismo, mas que podem transmitir doenças a outros.
O beijo na boca pode se tornar perigoso, sim. Doenças causadas por bactérias como gripe, herpes, amigdalite, gengivite, cárie dental e a meningite, além das virais, a hepatite e a mononucleose, podem se manifestar logo após a folia. Alguns vírus, como o da gripe, são tão resistentes ao ponto de serem transmitidos tanto pelo beijo quanto através de um simples aperto de mão. 
Porém, não dá para pedir às pessoas para não beijarem na boca durante o reinado de Baco. O beijo é participante marcado na licenciosidade do Carnaval, onde tudo de erótico é permitido.

UM PARCEIRO PARA ETERNIZÁ-LO...

Texto de Ana Maria Leandro – Jornalista - Belo Horizonte/MG 
Publicado no HUMANITAS nº 20 – Março/2014

Ele chega e você nem percebe. Não pergunta se pode entrar; invade e pronto! Se você o recebe ele sorri, se o ignora ele o massacra. Se lhe oferece resistência ele zomba...  Pois ele sabe que será o vencedor!
Também não se preocupa se você está ocupado com o que já passou. Esta é a vez dele e ele não aceita rivais. Não quer saber de suas saudades. Prefere participar de suas esperanças. Ao longo de sua vida, todos os dias, ele lhe dará oportunidade de renovação. Se você for capaz deste “renascer” diário, se eternizará. Mas se insistir na imutabilidade, provavelmente morrerá em vida... E sem dúvida, esta é a pior das mortes!
Se você não aceitar sua companhia, a velhice lhe enrugará o espírito, antes mesmo de lhe deixar marcas na face. Mas a juventude permanecerá sempre em você, se aceitar sua impetuosidade. Porque ele exige um revisar constante de suas ideias; uma disposição incansável de redirecionamento; uma exigência implacável de crescimento e evolução.
Ele viverá a desafiá-lo. Vai lhe colocar barreiras aparentemente intransponíveis, só para testá-lo. Se você recuar ele o derrubará. Vai deixá-lo no chão: frustrado, arrasado, se sentindo impotente. E não pense que lhe dará algum gesto de misericórdia. Se você quiser, que se levante. Se fizer isto, será no mínimo uma demonstração, de que começa a aceitá-lo. Mas não significa que haverá complacência. Apenas lhe será dado o direito de reaver suas forças. Entretanto a luta continua; e ela é sua...
Este parceiro indomável jamais chora o tempo que passou. Está ocupado demais com o hoje e tem vistas longas para o amanhã. Em sua onipotência ele pouco se preocupa com suas crenças e preconceitos, pois ele não vive de utopias e quer que você não necessite de bengalas para suportar a vida. Sua vida é questão sua e será sempre tão frágil quanto você for crédulo e submisso a ordens exteriores à sua interioridade.
Nessa revisão constante, ele recria, inova. Não é a “pedra do caminho” de Drummond, pois o poeta esqueceu-se de avisar que esta pedra é você, que tem medo, se paralisa e tropeça em si próprio.
Suspeita-se que tenha sido ele o responsável pela implosão universal, que gerou a terra e os demais astros, em sua insaciável sede de transformações. Foi ele que colocou na boca de Lavoisier, a verdade insofismável de que “na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma”. Chamam-no de “Novo”, mas seu cognome é “Mudança”. Aceite este companheiro e projete-se na eternidade que você tanto confunde com outra vida. A outra vida são seus efeitos. E nesta parceria suas realizações terão efeitos mais duradouros, do que sua própria vida...

quinta-feira, 13 de março de 2014

A magia das máscaras carnavalescas

No Carnaval do Recife e de Olinda, seja nos bailes dos clubes ou nas ruas, todos nós presenciamos a máscara ou até saímos também mascarados. É um adereço cheio de mistério e de magia.
Os Papangus da cidade de Bezerros/PE levam 
um colorido intenso às ruas dessa cidade
Enquanto isso, a beleza feminina fica ainda maior
atrás da máscara por manter o anonimato de sua dona
Caveiras, bruxas e vampiros tudo é válido nos momentos
lúdicos que marcam o reinado de Momo nas ruas do
Recife, Olinda e em outras cidades brasileiras

A MAGIA DAS MÁSCARAS CARNAVALESCAS

Texto de Genésio Linhares – Professor MS – Recife/PE - Publicado no HUMANITAS de Março/2014
A máscara carnavalesca embeleza o ambiente de festa e é um adereço mágico e encantador que enfeita, colore e alegra o nosso carnaval
 
O uso de máscaras perde-se no tempo. Acredita-se, apesar de haver controvérsias, que  o termo máscara existe desde 30 mil anos atrás. As máscaras eram utilizadas para diversos fins como para curar doenças, tirar espíritos ruins, para rituais religiosos ou como persona, ou seja, como forma de mostrar o seu modo de ser e estar em sociedade, seja como função ou papel social assumido profissionalmente ou simplesmente pelo fato de estar em convívio com outros seres humanos.
E mais, existem indivíduos mais afetados que, na maior parte do tempo, obnubilam, disfarçam e ofuscam a sua verdadeira identidade que comumente conhecemos como hipócritas. O fato é que, quanto mais complexa e mais sofisticada se torna uma sociedade, paradoxalmente, aumenta vertiginosamente a utilização de máscaras, fingimentos e falsidades.
Pode-se afirmar que a máscara, ao que tudo indica, é um fenômeno universal, pois vamos encontrá-la em todos os povos. O mundo hodierno é testemunha e partícipe deste jogo de simulacros, de mentiras inerentes nas tramas e interrelações cotidianas.
É bem verdade que existem graus, tanto para mais como para menos, neste jogo, dependendo de uma série de circunstâncias, pois existem ambientes onde pesam com maior intensidade, os valores éticos e uma maior aproximação com a verdade. Não significando por outro lado que as máscaras, as personas desapareçam por completo.
Independente das relações sejam elas políticas, econômicas, sociais, culturais, artísticas, formais e informais e até íntimas, verificamos a presença das máscaras. Ora mais densas, ora mais tênues e transparentes, elas não se ausentam inteiramente.  Nem mesmo em momentos festivos e descontraídos como é o caso do carnaval. Justamente aqui, de modo bastante curioso, é que a máscara e às vezes a roupa fantasiosa assumem um caráter deveras ostensivo para muitos foliões, já para outros não.
No entanto, como compreender melhor as razões que levam muitos indivíduos a esconder o seu rosto, a sua face exatamente num momento tão lúdico como o período momesco e dionisíaco?
Talvez para dar vazão às suas fantasias, aos desejos mais íntimos e por que não ao seu lado demoníaco e como demonstração de poder, de assustar e aterrorizar os menos avisados.
Em nosso carnaval existem inúmeras manifestações que utilizam máscaras. Lembremos da “A La Ursa quer dinheiro...”, os Papangus, de Bezerros, os caboclos de lança anunciando a chegada do carnaval etc. Além de bailes com máscaras.
O uso das máscaras é muito antigo. Vários povos a usavam e ainda usam para cerimônias e rituais religiosos. Os gregos antigos passaram a servir-se de máscaras para apresentações teatrais como representação dos personagens de tragédias e comédias e, provavelmente em períodos de seus carnavais. Os romanos, em épocas carnavalescas, também a usavam.
É no período renascentista italiano, mas precisamente em Veneza, que podemos verificar seu uso intenso por grande parte das pessoas neste mesmo período momesco. Interessante também que o nome máscara vem do italiano maschera, provindo, ao que parece, do latim medievo masca, significando “espectro, pesadelo, máscara”, tendo talvez uma raiz árabe de maskhara “palhaço, bufão” e também, bruxo, feiticeiro, monstro, emoção e alma.
A máscara carnavalesca embeleza o ambiente de festa. Cria um clima de alegria, fantasias, ilusões e de tristeza, ao mesmo tempo em que mantém em anonimato àquele ou àquela que está por trás dela. Através da máscara a pessoa libera suas loucuras, sarcasmos e ironias, seus desejos mais íntimos e seus outros “eus” que sem ela, muito provavelmente, não teria coragem de externar.
Os venezianos desde o século XV criaram personagens típicos desta festa tão contagiosa. Uma delas, a Colombina, a eterna amante de Arlequim. Este se apresenta de modo pouco inteligente e trapalhão, anda dançando e sua máscara negra é bastante utilizada. Esses dois personagens, junto com Pierrot, fazem parte do nosso carnaval, tendo inclusive canções enaltecendo-os. Além destes, os venezianos criaram as figuras de Pulcinela, Pantalone, Brighela e outros, desconhecidos entre nós.
No Brasil, no Rio de Janeiro, a partir do século XIX, em 1840, ocorreu o primeiro baile de máscaras com o intuito de civilizar o entrudo, que consistia em lançar água, farinha, ovos e tintas uns nos outros. No Recife, o primeiro baile de máscara ocorreu na Passagem da Madalena, na Rua Benfica e foi notícia no jornal Diario de Pernambuco de 13 de fevereiro de 1845, mas era restrito às famílias nobres da cidade. Somente em 18 de fevereiro de 1848 aconteceu o primeiro baile de máscara para o grande público.
Enfim, seja em bailes ou nas ruas, todos nós presenciamos a máscara ou até saímos também mascarados. É um adereço mágico e encantador que enfeita, colore e alegra o nosso carnaval. E às vezes assusta crianças e adultos. Talvez para lembrar que mesmo em momentos de euforia, danças e bebidas, a vida é um misto de sentimentos, inclusive de seus perigos, riscos e da própria morte. Quantos não saem com máscaras e roupas de caveira para comemorar e celebrar estes três dias?

sábado, 8 de março de 2014

REFÚGIO POÉTICO

Poemas publicados no HUMANITAS nº 20 - Março 2014

RECIFE
Arnóbio Marrocos – Recife/PE

Recife
De tantos Brasis
De lindas mulheres
E de homens viris

Recife
Metrópole Nordestina
De praias tão belas
Oh! linda menina!

Recife
Dos Mascates
De guerra e paz
Dos grandes embates

Recife
Capital da folia
Do reinado de Momo
Estação da Alegria

Recife
De sangue real
Berço de ouro
Minha terra natal
***********
OLINDA
Rafael Rocha – Recife/PE

Olinda do frevo maior
Ofício de minha canção
Onde buscando o amparo
Fiz milagres nunca vistos
Pedindo ao Carmo da virgem
O brilho da luz do farol
No bairro novo do sonho
Numa casa recém-caiada
Em um varadouro sem fim
Nasceu a história maciça
Do jardim atlântico novo
Onde o doce rio desemboca
E de onde os bultrins da vida
Chamam homens/mulheres
Pra mim.
***********
O CANTO DO GALO
Robson Sampaio – Recife/PE

Que canto é esse
Que sacode a multidão?
Que canto é esse
Que mexe com o coração
E que acorda o Recife?

É o canto do Galo
É o som da Madrugada
É o canto do Galo
Do Galo da Madrugada

É o canto e o encanto
De gente nas ruas, ruas de gente
Mar de frevo, frevo da gente
Frevo do Galo

A fragilidade da mulher é a força maior dela mesma

Texto de Serena Roberta Souza Borges – Recife/PE
Publicado no HUMANITAS nº 20 - Março/2014 
 Na realidade, a mulher não precisa ter um dia específico. Todos os dias são dias das mulheres, pois elas  estão vivas e atuantes

O dia 8 de Março é, desde 1975, comemorado pelas Nações Unidas como Dia Internacional da Mulher. Neste dia, em 1857, operárias de Nova York entraram em greve ocupando uma fábrica, para reivindicar redução de um horário de mais de 16 horas por dia para 10 horas. Essas operárias, que recebiam menos de um terço do salário dos homens, foram fechadas na fábrica onde de repente aconteceu um incêndio e 130 mulheres morreram queimadas.
No ano de 1903, profissionais liberais norte-americanas criaram a Women´s Trade Union League, associação que tinha como principal objetivo ajudar todas as trabalhadoras a exigirem melhores condições de trabalho. Em 1908, mais de 14 mil mulheres marcharam nas ruas de Nova York reivindicando o mesmo que as operárias do ano de 1857, bem como o direito ao voto. Em 1910, numa conferência internacional de mulheres realizada na Dinamarca, foi decidido, em homenagem a essas mulheres, festejar o 8 de Março como Dia Internacional da Mulher.
Consideremos que estabelecer uma data específica para as mulheres não é lá grande coisa, porque a mulher não precisa de um dia específico. Todos os dias são dias das mulheres, pois elas estão vivas e atuantes! Ainda hoje, em muitos lugares do mundos, sabemos que as mulheres continuam sendo discriminadas, ficando em segundo lugar na escala de valores devido ao regime patriarcal e machista. Porém, elas estão cada vez mais conquistando espaço e lugar na sociedade.
Já foi comprovado estatisticamente, que a mulher sofre discriminação, principalmente na parte profissional, ainda que seja competente, quando ocupa o mesmo cargo de um homem, seu salário é menor. No entanto, a culpa disso não é somente dos homens, pois essa discriminação existe também por parte das próprias mulheres. Uma mulher, quase sempre não confia em outra para exercer um cargo importante e de confiança.
Ser "feminista" não foi e nunca será a solução.
A mulher não precisa se masculinizar para ser respeitada, achando que somente dessa forma ela poderá ser reconhecida e valorizada, pois mesmo sendo feminina, ou melhor, principalmente sendo feminina, ela pode mostrar o seu valor e a sua capacidade.
Toda mulher deve saber transformar a rotina do seu dia-a-dia numa sucessão de novidades e descobertas, nunca desistindo dos seus sonhos.
Ela com delicadeza soube galgar e conquistar degraus na escada da vida, profissional, familiar e pessoal. Assim, ela nunca deve tentar se impor pela força, querendo mostrar "igualdade" com os homens, pelo contrário, deve fazer questão de ser sempre o "sexo frágil" e ter consciência, que "fragilidade", não significa fraqueza. Significa "sensibilidade".
Ela com delicadeza soube galgar e conquistar degraus na escada da vida, profissional, familiar e pessoal. Assim, ela nunca deve tentar se impor pela força, querendo mostrar "igualdade" com os homens, pelo contrário, deve fazer questão de ser sempre o "sexo frágil" e ter consciência, que "fragilidade", não significa fraqueza.
Significa "sensibilidade". A mulher inteligente deve fazer questão de ser tratada e considerada com um "vaso frágil", para ser tratada com respeito, com carinho, com amor, com cuidado, e é nesse momento que ela mostra a "força" que tem.
Por isso tudo, parabéns à mulher, não somente no dia 8 de março, não apenas no segundo domingo do mês de maio (dia das mães). Vamos parabenizar a mulher todos os dias, todas as horas, todos os minutos e todos os segundos, porque ela é sempre "mulher" o tempo todo.

Recife e Olinda: aniversário de duas cidades guerreiras

Publicado no HUMANITAS Nº 20 - Março/2014


Nasceram e cresceram lado a lado. Participaram de muitas revoluções libertárias. Agora neste março, no dia 12, estão aniversariando. Olinda fará 479 anos e o Recife 477. Em um mês atípico, logo depois do Carnaval as duas cidades entram novamente em festa para alegria dos seus habitantes e admiradores. Nossos parabéns!

quinta-feira, 6 de março de 2014

OBJETOS

Texto de Antônio Carlos Gomes – Médico - Guarujá/SP
Publicado no HUMANITAS nº 20 - Março/2014 

O que caracteriza o ser humano é a posse de objetos. Pensem comigo:
O humano nasce prematuro, sendo o mais prematuro dos animais. Leva, ao contrário dos outros bichos, alguns anos para ter independência da mãe e nos primeiros dois anos é totalmente dependente.
Não tem a proteção de pelos. Acredita-se que se originou na Líbia e tinha o tamanho de um rato, não estando apto a grandes variações de temperatura, nem ao inverno gelado, nem de se submeter ao sol escaldante.
É dentre os predadores um dos mais fracos, tanto nas forças das mãos: sem garras; como na mandíbula incapaz de matar um animal pela apreensão.
Vivia originalmente em todas as cavernas como coletor e aproveitando restos. Era um ser com poucas chances de sobrevivência.
O meio que encontrou para sobreviver com tantas limitações foi o uso das mãos, inicialmente para jogar pedras e a seguir para lascá-las.
A passagem para a pedra lascada já exigiu uma organização, a pedra tem que ser separada no veio, caso contrário não serve, isto fez que dentro do grupo houvesse quem soubesse onde encontrar a pedra certa e outros que soubessem dividi-la, gerando desde já uma divisão para sobrevivência.
O uso dos dedos para fazer as armas e usá-las direcionou o desenvolvimento para as mãos, e com elas para os objetos que começaram a ser separados em com e sem utilidade. Aquele que possuísse um objeto “útil” seria invejado e se possível roubado, caso não conseguisse defendê-lo.
Em minha opinião de poeta, um dos fatores que motivou todo desenvolvimento da nossa espécie foi o contato com objetos.
Este contato criou claramente o sentimento de posse. Quem tem um objeto útil tem mais poder do que quem não o possui.
Este modelo perdura até hoje, onde a divisão de objetos é quase impossível. Basta ver que nosso sistema de castas ou classes sociais funciona quase sem mobilidade: Quem nasceu pobre, isto é, sem objetos, continuará pobre ao contrário dos “afortunados” que já nascem com as “posses”.
Enquanto os primeiros tentam por todos os meios conseguir objetos necessários, os segundos não abrem mão, com uma compulsão de acúmulo. A fala e o fogo, eu acho que são simultâneos, ou talvez posteriores. O que marca o frágil ser humano é a posse. Numa sociedade de bilhões de habitantes, não dá para continuar com alguns colecionando objetos em detrimento de outros.

CARTAS DOS LEITORES

Cartas publicadas no jornal HUMANITAS nº 20 – Março/2014

O Recife ganhou um jornal cultural de incrível teor e polemicidade. Gosto demais deste Humanitas. Maria do Carmo Azevedo de Souza – Olinda/PE 
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Gostaria de sugerir aos editores deste conceituado jornal um artigo ou reportagem sobre a Colônia Cecília, ajuntamento anarquista criado no Paraná em fins do século XIX por um italiano chamado Giovani Rossi autor do livro Il Commune in Riva al Mare. André Vitório de Lima - Curitiba/PR 
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Em ano de Copa do Mundo de futebol no Brasil acho que seria bom um texto especial falando sobre os benefícios e os não benefícios da realização desse evento em nosso país, levando também em consideração que por ser um ano eleitoral muita coisa pode acontecer contra e a favor. Geraldo Monteiro de Lima – Recife/PE

CARNAVAL, RECIFE, OLINDA E MULHERES

Editorial publicado no jornal HUMANITAS nº 20 – Março/2014

Este mês de março de 2014 é um mês atípico e precioso. Tudo porque nesse período, além do Carnaval estaremos a homenagear as mulheres e as cidades do Recife e de Olinda. O Carnaval alcança as ruas com o Galo da Madrugada no dia 1º de março, no dia 8 estaremos abraçados com todas as mulheres do mundo, e no dia 12 cantaremos em prosa e verso as cidades de Olinda e do Recife, que fazem 479 e 477 anos, respectivamente.
O Recife, capital de Pernambuco, tem em si o poder da criatividade e da aventura. Tanto no plano do desbravamento do espaço como no de produção intelectual. Olinda, cantada em prosa e verso por tantos bardos, foi a primeira cidade pernambucana de grande relevo. Nela Bento Teixeira lançou a sua Prosopopeia, no Século XVI, poema épico em homenagem ao capitão governador de Pernambuco, Jorge de Albuquerque Coelho. Também nesse poema, a cidade do Recife recebe sua primeira apresentação:Um porto tão quieto e tão seguro / Que para as curvas naus serve de muro”.
Agora, um lembrete: todos os dias são dias de todas as mulheres. Não podemos ficar restritos a uma data. Isso é apologia capitalista para vender presentes e encher os shoppings centers. As mulheres merecem ser lembradas e homenageadas durante todos os 365 dias do ano, durante todas as 24 horas do dia, a cada minuto e segundo de nossas vidas. Sejam elas as mais humildes, chiques, batalhadoras, mães, empresárias, trabalhadoras, donas de casa, mulheres que são companheiras, amantes e amigas de seus companheiros, tanto que fazem as 24 horas do dia tornarem-se preciosas ao darem objetivo ao sentido da vida. As mulheres movem o mundo.
Mas o principal mesmo é que no inicio deste março a cidade está em festa total. Curtindo o Galo da Madrugada! Curtindo o Carnaval de rua! O frevo! O maracatu! Os Caboclinhos! Desde o fim de 2013 que os pernambucanos estão a se preparar para o reinado de Momo. A folia está presente na alma do recifense e do olindense, como se as vidas de todos dependessem dessa louca algazarra que começa oficialmente no sábado, 1º de março, com o desfile do maior bloco carnavalesco do mundo, o Galo da Madrugada, e acaba (ah, quando acaba!..) na quarta-feira de Cinzas, quando os mais diversos blocos denominados Bacalhau na Vara ainda levam milhares de foliões às ruas para um último adeus à dionisíaca festa, ao frevo, aos amores fugazes e aos sonhos passageiros nascidos em três dias.