quinta-feira, 13 de março de 2014

A MAGIA DAS MÁSCARAS CARNAVALESCAS

Texto de Genésio Linhares – Professor MS – Recife/PE - Publicado no HUMANITAS de Março/2014
A máscara carnavalesca embeleza o ambiente de festa e é um adereço mágico e encantador que enfeita, colore e alegra o nosso carnaval
 
O uso de máscaras perde-se no tempo. Acredita-se, apesar de haver controvérsias, que  o termo máscara existe desde 30 mil anos atrás. As máscaras eram utilizadas para diversos fins como para curar doenças, tirar espíritos ruins, para rituais religiosos ou como persona, ou seja, como forma de mostrar o seu modo de ser e estar em sociedade, seja como função ou papel social assumido profissionalmente ou simplesmente pelo fato de estar em convívio com outros seres humanos.
E mais, existem indivíduos mais afetados que, na maior parte do tempo, obnubilam, disfarçam e ofuscam a sua verdadeira identidade que comumente conhecemos como hipócritas. O fato é que, quanto mais complexa e mais sofisticada se torna uma sociedade, paradoxalmente, aumenta vertiginosamente a utilização de máscaras, fingimentos e falsidades.
Pode-se afirmar que a máscara, ao que tudo indica, é um fenômeno universal, pois vamos encontrá-la em todos os povos. O mundo hodierno é testemunha e partícipe deste jogo de simulacros, de mentiras inerentes nas tramas e interrelações cotidianas.
É bem verdade que existem graus, tanto para mais como para menos, neste jogo, dependendo de uma série de circunstâncias, pois existem ambientes onde pesam com maior intensidade, os valores éticos e uma maior aproximação com a verdade. Não significando por outro lado que as máscaras, as personas desapareçam por completo.
Independente das relações sejam elas políticas, econômicas, sociais, culturais, artísticas, formais e informais e até íntimas, verificamos a presença das máscaras. Ora mais densas, ora mais tênues e transparentes, elas não se ausentam inteiramente.  Nem mesmo em momentos festivos e descontraídos como é o caso do carnaval. Justamente aqui, de modo bastante curioso, é que a máscara e às vezes a roupa fantasiosa assumem um caráter deveras ostensivo para muitos foliões, já para outros não.
No entanto, como compreender melhor as razões que levam muitos indivíduos a esconder o seu rosto, a sua face exatamente num momento tão lúdico como o período momesco e dionisíaco?
Talvez para dar vazão às suas fantasias, aos desejos mais íntimos e por que não ao seu lado demoníaco e como demonstração de poder, de assustar e aterrorizar os menos avisados.
Em nosso carnaval existem inúmeras manifestações que utilizam máscaras. Lembremos da “A La Ursa quer dinheiro...”, os Papangus, de Bezerros, os caboclos de lança anunciando a chegada do carnaval etc. Além de bailes com máscaras.
O uso das máscaras é muito antigo. Vários povos a usavam e ainda usam para cerimônias e rituais religiosos. Os gregos antigos passaram a servir-se de máscaras para apresentações teatrais como representação dos personagens de tragédias e comédias e, provavelmente em períodos de seus carnavais. Os romanos, em épocas carnavalescas, também a usavam.
É no período renascentista italiano, mas precisamente em Veneza, que podemos verificar seu uso intenso por grande parte das pessoas neste mesmo período momesco. Interessante também que o nome máscara vem do italiano maschera, provindo, ao que parece, do latim medievo masca, significando “espectro, pesadelo, máscara”, tendo talvez uma raiz árabe de maskhara “palhaço, bufão” e também, bruxo, feiticeiro, monstro, emoção e alma.
A máscara carnavalesca embeleza o ambiente de festa. Cria um clima de alegria, fantasias, ilusões e de tristeza, ao mesmo tempo em que mantém em anonimato àquele ou àquela que está por trás dela. Através da máscara a pessoa libera suas loucuras, sarcasmos e ironias, seus desejos mais íntimos e seus outros “eus” que sem ela, muito provavelmente, não teria coragem de externar.
Os venezianos desde o século XV criaram personagens típicos desta festa tão contagiosa. Uma delas, a Colombina, a eterna amante de Arlequim. Este se apresenta de modo pouco inteligente e trapalhão, anda dançando e sua máscara negra é bastante utilizada. Esses dois personagens, junto com Pierrot, fazem parte do nosso carnaval, tendo inclusive canções enaltecendo-os. Além destes, os venezianos criaram as figuras de Pulcinela, Pantalone, Brighela e outros, desconhecidos entre nós.
No Brasil, no Rio de Janeiro, a partir do século XIX, em 1840, ocorreu o primeiro baile de máscaras com o intuito de civilizar o entrudo, que consistia em lançar água, farinha, ovos e tintas uns nos outros. No Recife, o primeiro baile de máscara ocorreu na Passagem da Madalena, na Rua Benfica e foi notícia no jornal Diario de Pernambuco de 13 de fevereiro de 1845, mas era restrito às famílias nobres da cidade. Somente em 18 de fevereiro de 1848 aconteceu o primeiro baile de máscara para o grande público.
Enfim, seja em bailes ou nas ruas, todos nós presenciamos a máscara ou até saímos também mascarados. É um adereço mágico e encantador que enfeita, colore e alegra o nosso carnaval. E às vezes assusta crianças e adultos. Talvez para lembrar que mesmo em momentos de euforia, danças e bebidas, a vida é um misto de sentimentos, inclusive de seus perigos, riscos e da própria morte. Quantos não saem com máscaras e roupas de caveira para comemorar e celebrar estes três dias?

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