Texto de Antônio
Carlos Gomes – Médico - Guarujá/SP
Publicado no HUMANITAS nº 20 - Março/2014
O que caracteriza o ser humano é a posse de
objetos. Pensem comigo:
O humano nasce prematuro, sendo o mais
prematuro dos animais. Leva, ao contrário dos outros bichos, alguns anos para
ter independência da mãe e nos primeiros dois anos é totalmente dependente.
Não tem a proteção de pelos. Acredita-se que
se originou na Líbia e tinha o tamanho de um rato, não estando apto a grandes
variações de temperatura, nem ao inverno gelado, nem de se submeter ao sol
escaldante.
É dentre os predadores um dos mais fracos,
tanto nas forças das mãos: sem garras; como na mandíbula incapaz de matar um
animal pela apreensão.
Vivia originalmente em todas as cavernas
como coletor e aproveitando restos. Era um ser com poucas chances de
sobrevivência.
O meio que encontrou para sobreviver com
tantas limitações foi o uso das mãos, inicialmente para jogar pedras e a seguir
para lascá-las.
A passagem para a pedra lascada já exigiu
uma organização, a pedra tem que ser separada no veio, caso contrário não
serve, isto fez que dentro do grupo houvesse quem soubesse onde encontrar a
pedra certa e outros que soubessem dividi-la, gerando desde já uma divisão para
sobrevivência.
O uso dos dedos para fazer as armas e
usá-las direcionou o desenvolvimento para as mãos, e com elas para os objetos
que começaram a ser separados em com e sem utilidade. Aquele que
possuísse um objeto “útil” seria invejado e se possível roubado, caso não
conseguisse defendê-lo.
Em minha opinião de poeta, um dos fatores
que motivou todo desenvolvimento da nossa espécie foi o contato com objetos.
Este contato criou claramente o sentimento
de posse. Quem tem um objeto útil tem mais poder do que quem não o possui.
Este modelo perdura até hoje, onde a divisão
de objetos é quase impossível. Basta ver que nosso sistema de castas ou classes
sociais funciona quase sem mobilidade: Quem nasceu pobre, isto é, sem objetos,
continuará pobre ao contrário dos “afortunados” que já nascem com as “posses”.
Enquanto os primeiros tentam por todos os
meios conseguir objetos necessários, os segundos não abrem mão, com uma
compulsão de acúmulo. A fala e o fogo, eu acho que são simultâneos, ou talvez
posteriores. O que marca o frágil ser humano é a posse. Numa sociedade de
bilhões de habitantes, não dá para continuar com alguns colecionando objetos em
detrimento de outros.
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