terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

O niilismo e a descrença de um filósofo grego

Texto de Rafael Rocha –Jornalista – Recife/PE

Se é eterno não teve princípio, se não tem princípio é infinito, se é infinito não está em
nenhum lugar, se não está em nenhum lugar não existe”. Górgias de Leontinos

Górgias, retórico e filósofo grego nasceu em Leontinos no ano 485 de antes da Era Comum e faleceu em Lárissa no ano de 380 de antes da Era Comum. Era denominado "o Niilista". Juntamente com Protágoras de Abdera formou a primeira geração de sofistas. Como outros sofistas estava continuamente mudando de cidade, praticando e dando demonstrações públicas de suas habilidades também nos grandes centros pan-helênicos como Olímpia e Delfos, cobrando por suas apresentações e por aulas. Uma característica de suas aparições era a de ouvir questões da plateia sobre todos os assuntos e respondê-las sem qualquer preparo.
Górgias para fundamentar sua filosofia toma por base o niilismo, a descrença por razão principal, onde nada existe de absoluto, onde não existem verdades morais e nem hierarquia de valores. A verdade não existe, qualquer saber é impossível e tudo é falso porque é ilusório. Seu principal legado foi ter levado a retórica desde sua Sicília natal para a Ática e contribuir com a difusão do dialeto ático como idioma da prosa literária. Antístenes, fundador do cinismo, foi ouvinte de Górgias, e Platão escreveu um diálogo intitulado Górgias, onde discute a função e a validade da retórica. 
Seu niilismo baseia-se em três tópicos. Primeiro: na não existência do ser. Existe somente o nada. O ser não é uno, não é múltiplo, nem incriado e nem gerado, por conseguinte o ser é nada. Segundo: mesmo que o ser existisse, ele não poderia ser conhecido, pois se podemos pensar em coisas que não existem é porque existe uma separação entre o que pensamos e o ser, o que impossibilita o seu conhecimento. E mesmo que pudéssemos pensar e conhecer o ser não poderíamos nos expressar como ele é, porque as palavras não conseguem transmitir com veracidade nada que não seja ela mesma. Quando comunicamos, comunicamos palavras e não o ser. 
Para Górgias, como não existe uma verdade absoluta a falsidade está em tudo. As palavras assumem uma autonomia quase sem limites, pois estão desligadas do ser. As palavras são independentes e estão disponíveis para os mais diversos usos. Um dos principais usos é a retórica que utiliza a palavra para sugerir, para fazer crer e para persuadir os cidadãos.
A retórica tem assim grande utilidade para a política. As palavras têm também grande expressão na poesia que, diferente da retórica, não tem interesses práticos, mas artísticos. Frente ao drama da vida a única consolação é a palavra que adquire valor próprio porque não exprime a verdade, mas a aparência. A palavra cria um mundo perfeito onde é belo viver. A palavra exprime da melhor forma as paixões que direcionam a vida dos homens. 
As obras de retórica de Górgias ainda em existência (Encômio de Helena, Defesa de Palamedes, Sobre a Não-Existência e Epitáfio) foram preservadas através de uma obra chamada Technai, um manual de instrução retórica, que consistia de modelos a serem memorizados, e demonstrava diversos princípios da prática retórica.
Embora alguns estudiosos tenham alegado que cada uma dessas obras apresenta afirmações constrastantes, os quatro textos podem ser lidos como contribuições interrelacionadas à arte (technê) e à teoria (então promissora) da retórica.
Das obras ainda existentes de Górgias, apenas o Encômio e a Defesa encontram-se em sua forma integral. Diversas de suas obras políticas, retóricas e discursos foram referenciadas e citadas por Aristóteles, incluindo um discurso sobre a unidade helênica, uma oração fúnebre pelos atenienses mortos na guerra, e uma citação curta de um Encômio sobre os Eleenses. Além destes discursos, existem também paráfrases de seu tratado "Sobre a Natureza ou o Não-Existente".

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