Texto de Araken Passos Vaz Galvão Sampaio – Escritor – Valença/BA
publicado no HUMANITAS
nº 9 – Abril/2013
O mais curioso sobre a
origem da palavra samba é que o Aurélio eletrônico registra-a
como vinda do quimbundo
semba ou ainda do luba e outras línguas bantas
Embora Theodoro Sampaio em sua Geografia
(pág. 311), de publicação anterior, tenha registrado Samba como a “corruptela
de çama ou çamba, corda
ou cordão; cadeia feita de mãos dadas por pessoas em folguedos; a dança de
roda”, em um livro póstumo, este de publicação mais recente (História da
Fundação da Cidade do Salvador, pág. 81), diz que “Samba (ou sema) era uma
dança em roda em que os comparsas davam-se as mãos, formando uma cadeia ou
corda. De todas, porém, a mais solene era a em que os guerreiros, formavam um
imenso círculo, e sem mudar de posição, cantavam, um por um, seus feitos em um
canto grave e compassado” (sic).E continua (pág. 81/82, deste último
livro): “Em atitude seria, próximo uns dos outros, sem se darem as mãos, a
direita sobre o quadril e a esquerda pendente, inclinando o busto e o
levantando num movimento rítmico, e batendo com o pé direito no chão em
uníssono, entoavam um canto harmonioso, e celebravam a glória dos antepassados e
incitavam os guerreiros novos a combates. As mulheres, apartadas e recolhidas
numa cabana vizinha, limitavam-se a responder ao que ouviam, e, então, nesta
cerimônia mais propriamente guerreira do que uma dança de folguedo, surgiam
três pagés com os seus ornatos de plumas, como aliás se viam adereçad
os todos os circunstantes, e, depondo o maracá sagrado, começavam a baforar cada guerreiro, um após outro, com o fumo embriagante do peíym(1), tirado das suas enormes cogoêras(2), ou charutos, para que recebesse cada qual o espírito da força com que vencer os seus inimigos”. Escritor coevo diz que esta cerimônia, um tanto imponente, se repetia entre os tupinambás de três em três anos.
O mais curioso sobre a origem da palavra samba é que o Aurélio eletrônico registra-a como vinda do quimbundo semba, o mesmo que umbigada. Ou do umbundo samba, o mesmo que estar animado, estar excitado. Ou ainda do luba e outras línguas bantas, samba, que seria o mesmo que pular, saltar com alegria. Já o Huoaiss eletrônico também registra samba como vindo de um dos idiomas banto e diz que para A. Ramos existia em Luanda esse tipo de dança. Cita ainda Nei Lopes, para quem samba seria o mesmo que “cabriolar, brincar, divertir-se como cabrito”.
E que pode ser ainda uma “espécie de dança em que um bailarino bate contra o peito do outro”. Afirma que Nei Lopes lembra que no umbundo (idioma banto), semba “é uma dança caracterizada pela separação de dois bailarinos que se encontram no meio da arena”. Afirma ainda que a raiz, semba, significa separar, de onde teria vindo a palavra umbigada (masemba, nesse idioma).
E diz mais: que a umbigada, “[...] com efeito, remonta às mais antigas formas do samba entre nós”. E apóia-se no Dicionário Pernambucano de Pereira da Costa, quando diz: “A Júlia que é sambista arreliada, dá no Júlio fortíssima umbigada...”
Para concluir, dizendo que Nei Lopes afirma que semba é o étimo remoto de samba, que teria aparecido em nossa língua em 1842. Enquanto o seu étimo, semba, só teria chegado aqui bem depois, em 1880. Segundo esses autores, que identificam o samba apenas com idiomas africanos, esta palavra nada teria a ver com o tupi. Pelo menos isso fica implícito.
Porém, além do que afirma Theodoro Sampaio, registremos que há incorporado em nosso idioma palavras cujo étimo é samba, como Sambacuim, que Aurélio registra como uma “Árvore da família das moráceas (Cecropia palmata), cujo tronco indiviso é alto e elegante.
Tem folhas amplas, arredondadas e digitadas, flores mínimas cerradamente reunidas em espigas muito densas, avermelhadas, gomo terminal com enormes estípulas protetoras, e abriga formigas agressivas”. Que seria o mesmo que Imbaúba ou Matataúba.
Outro desses casos é Sambacuité – também registrado por Aurélio, como um “Arbusto (Hyptis mutabilis) da família das labiadas, nativo da América Tropical, dotado de folhas cordiformes, denteadas, e pequeninas flores esbranquiçadas, com manchas roxas, em espigas racemosas. É aromático, sendo usado na medicina popular.” Esse arbusto é conhecido ainda como: Alfavaca-de-caboclo ou Sambaité.
O caso mais famoso – para concluir este capítulo – é o Sambaqui, registrado nesse dicionário como a “designação dada a antiquíssimos depósitos, situados ora na costa, ora em lagoas ou rios do litoral, e formados de montões de conchas, restos de cozinha e de esqueletos amontoados por tribos selvagens que habitaram o litoral americano em época pré-histórica.
(Sin.: no PA, cernambi (var. sarnambi), mina de cernambi ou apenas mina; na BA, banco; em SP e SC, casqueiro, concheira ou ostreira; noutros pontos do Brasil, berbigueira, caieira ou caleira, ilha de casca, samauqui e (lus.) concheiro”. Esclarece ainda que, em dinamarquês (para os cientistas nórdicos que a estudaram), essa ocorrência arqueológica é chamada de kjökkenmödding.
Já o Houaiss diz que sambaqui é, certamente, de origem indígena, de étimo tupi não identificado. Cita Theodoro Sampaio e Silveira Bueno, que consideram esta palavra como “resíduo de ostras ou casqueiro, derivado de ta’mba, sa’mba, concha mais qui, que é igual a amontoado”. Palavra vinda do tupi tamba’ki, palavra incorporada ao português em 1928.
Entretanto, o ponto mais curioso relacionado com o samba (música) é que não existe na África uma manifestação musical similar. Podemos, ao ouvir, identificar no seu ritmo algo muito forte relacionado com a música africana, principalmente nos instrumentos de percussão. Por isso não seria inusitado se dizer que o samba é uma manifestação musical mística, tipicamente brasileira, onde a origem indígena – quase perdida – talvez tenha ficado apenas no nome, com a participação forte dos negros(3) e dos brancos(4). Há algo de curioso, porém, no fato de o samba indígena ser dançado em roda... Samba-de-roda?
os todos os circunstantes, e, depondo o maracá sagrado, começavam a baforar cada guerreiro, um após outro, com o fumo embriagante do peíym(1), tirado das suas enormes cogoêras(2), ou charutos, para que recebesse cada qual o espírito da força com que vencer os seus inimigos”. Escritor coevo diz que esta cerimônia, um tanto imponente, se repetia entre os tupinambás de três em três anos.
O mais curioso sobre a origem da palavra samba é que o Aurélio eletrônico registra-a como vinda do quimbundo semba, o mesmo que umbigada. Ou do umbundo samba, o mesmo que estar animado, estar excitado. Ou ainda do luba e outras línguas bantas, samba, que seria o mesmo que pular, saltar com alegria. Já o Huoaiss eletrônico também registra samba como vindo de um dos idiomas banto e diz que para A. Ramos existia em Luanda esse tipo de dança. Cita ainda Nei Lopes, para quem samba seria o mesmo que “cabriolar, brincar, divertir-se como cabrito”.
E que pode ser ainda uma “espécie de dança em que um bailarino bate contra o peito do outro”. Afirma que Nei Lopes lembra que no umbundo (idioma banto), semba “é uma dança caracterizada pela separação de dois bailarinos que se encontram no meio da arena”. Afirma ainda que a raiz, semba, significa separar, de onde teria vindo a palavra umbigada (masemba, nesse idioma).
E diz mais: que a umbigada, “[...] com efeito, remonta às mais antigas formas do samba entre nós”. E apóia-se no Dicionário Pernambucano de Pereira da Costa, quando diz: “A Júlia que é sambista arreliada, dá no Júlio fortíssima umbigada...”
Para concluir, dizendo que Nei Lopes afirma que semba é o étimo remoto de samba, que teria aparecido em nossa língua em 1842. Enquanto o seu étimo, semba, só teria chegado aqui bem depois, em 1880. Segundo esses autores, que identificam o samba apenas com idiomas africanos, esta palavra nada teria a ver com o tupi. Pelo menos isso fica implícito.
Porém, além do que afirma Theodoro Sampaio, registremos que há incorporado em nosso idioma palavras cujo étimo é samba, como Sambacuim, que Aurélio registra como uma “Árvore da família das moráceas (Cecropia palmata), cujo tronco indiviso é alto e elegante.
Tem folhas amplas, arredondadas e digitadas, flores mínimas cerradamente reunidas em espigas muito densas, avermelhadas, gomo terminal com enormes estípulas protetoras, e abriga formigas agressivas”. Que seria o mesmo que Imbaúba ou Matataúba.
Outro desses casos é Sambacuité – também registrado por Aurélio, como um “Arbusto (Hyptis mutabilis) da família das labiadas, nativo da América Tropical, dotado de folhas cordiformes, denteadas, e pequeninas flores esbranquiçadas, com manchas roxas, em espigas racemosas. É aromático, sendo usado na medicina popular.” Esse arbusto é conhecido ainda como: Alfavaca-de-caboclo ou Sambaité.
O caso mais famoso – para concluir este capítulo – é o Sambaqui, registrado nesse dicionário como a “designação dada a antiquíssimos depósitos, situados ora na costa, ora em lagoas ou rios do litoral, e formados de montões de conchas, restos de cozinha e de esqueletos amontoados por tribos selvagens que habitaram o litoral americano em época pré-histórica.
(Sin.: no PA, cernambi (var. sarnambi), mina de cernambi ou apenas mina; na BA, banco; em SP e SC, casqueiro, concheira ou ostreira; noutros pontos do Brasil, berbigueira, caieira ou caleira, ilha de casca, samauqui e (lus.) concheiro”. Esclarece ainda que, em dinamarquês (para os cientistas nórdicos que a estudaram), essa ocorrência arqueológica é chamada de kjökkenmödding.
Já o Houaiss diz que sambaqui é, certamente, de origem indígena, de étimo tupi não identificado. Cita Theodoro Sampaio e Silveira Bueno, que consideram esta palavra como “resíduo de ostras ou casqueiro, derivado de ta’mba, sa’mba, concha mais qui, que é igual a amontoado”. Palavra vinda do tupi tamba’ki, palavra incorporada ao português em 1928.
Entretanto, o ponto mais curioso relacionado com o samba (música) é que não existe na África uma manifestação musical similar. Podemos, ao ouvir, identificar no seu ritmo algo muito forte relacionado com a música africana, principalmente nos instrumentos de percussão. Por isso não seria inusitado se dizer que o samba é uma manifestação musical mística, tipicamente brasileira, onde a origem indígena – quase perdida – talvez tenha ficado apenas no nome, com a participação forte dos negros(3) e dos brancos(4). Há algo de curioso, porém, no fato de o samba indígena ser dançado em roda... Samba-de-roda?
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O autor é membro titular do Conselho Estadual de Cultura da Bahia,
da Academia Valenciana de Educadores, Letras e Artes, em Valença/BA. Livros
publicados: Valença,
História de uma cidade (ensaio histórico); Crônica de uma Família Sertaneja
(romance); Pargo (contos); participação e organização nas antologias Todas as
Estações (Segundo Livro), Rio de Letras, Valenciando e Trívio. Contato: arakenvaz@gmail.com ou http://arakenvaz.blogspot.com
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(1) O fumo ou tabaco – segundo
Sampaio – pode ser encontrado escrito ainda como petim, petun, betun,
pitim, ainda segundo o mesmo autor.
(2) O mesmo que charuto.
Registre-se, de passagem, que nossos índios não usavam, da forma como o faziam
os índios do atual Estados Unidos, o cachimbo.
(3) O gingado, o remelexo, a
percussão.
(4) Afinal, o pandeiro veio da
Espanha e o violão – de origem árabe – veio de Portugal. E a cuíca – dizem –
veio da Índia. Enquanto o atabaque é de origem persa (Hoje Irã).
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