Texto de Perimar Moura – Ilhéus/BA – Publicado no
HUMANITAS nº 11 – Junho/2013
No dia em que dermos mais créditos a nós mesmos
aprenderemos a nos respeitar melhor e o mundo consequentemente melhorará como
um todo
Sinto-me muito mais leve desde que deixei
de lado o que chamo hoje de muleta psicológica, que muitos chamam de deus.
Descobri, sim, que é possível viver sem essa muleta. Continuo na vida a
defender a ideia de que o humanista ateu é puramente humanista, pois ele não
espera, mesmo que sem querer, mesmo que inconscientemente, qualquer espécie de
“recompensa divina”.
Se um ateu faz o bem é única e
exclusivamente porque acha o mais correto a ser feito (não quero dizer com isso
que todos os ateus são bons ou justos, pois tal como muitos teístas ruins
existem ateus ruis).
Descobri que não existem “forças divinas universais que expliquem o
desenvolvimento e a evolução humanas”. Tecnicamente
a evolução é proveniente de uma mutação genética, mais precisamente um ERRO
genético que ocorre de forma ALEATÓRIA, sendo assim não é oriundo de
nenhum desígnio divino superior ou inferior ou de qualquer outra esfera que não
do acaso puro e simples.
Isso já foi comprovado cientificamente. Não
se trata, portanto, de uma opinião pessoal. Mas qualquer pessoa pode refutar
dizendo que não se trata desse tipo de evolução, mas sim de outras formas como
a evolução do pensamento, dos sentimentos etc. Pois bem, esses tipos de “evoluções” são na verdade frutos da que aqui citei acima, pois, após um organismo
sofrer tais mutações ele tende a tentar se adaptar às novas condições a que é
submetido pela natureza que o cerca.
Quando esse organismo é bem-sucedido a
espécie como um todo tem um sucesso evolutivo. Quando não é bem-sucedido, a
espécie pode chegar à extinção. Isso é o que Charles Darwin chamou de seleção
natural, falando em linhas gerais. Se pararmos para observar os animais, vemos
que todos sobrevivem à sua maneira, cumprem suas funções na natureza e, no
entanto, não possuem qualquer tipo de crença, mesmo aqueles animais mais
inteligentes e mais próximos da nossa espécie.
O mesmo ocorre com as crianças. Elas nascem
sem qualquer conceito religioso e seguem suas vidas como qualquer outra espécie
viva. Quando os pais as levam para os templos e igrejas as estão levando para o
que considero lavagem cerebral, pois crianças pequenas ainda não têm
discernimento para isso. O conceito de uma existência divina, penso eu,
conforta apenas quando as coisas vão bem.
Muitas pessoas de vez em quando balbuciam
“graças a deus” quando seu time favorito ganha, mas esquecem que do outro lado havia
outro time. Será que o deus em que essa pessoa acreditava estava posicionado
contra o outro time? O mesmo ocorre em outros setores da vida que não os
esportes, e vejo tal frase se repetir, muitas vezes, ou quase sempre, de forma
leviana.
Uma amiga disse: “Quero acreditar que o que eu sinto é divino”.
Pois bem, é exatamente o que acontece. Ela e muitos outros querem tanto
acreditar que acabam distorcendo a visão do real e atribuindo tudo que ocorre
de bom ao divino e tudo que ocorre de mal ao ser humano. Meu conselho é que
acredite mais em nossa espécie. No dia em que dermos mais créditos a nós mesmos
aprenderemos a nos respeitar melhor e o mundo consequentemente melhorará como
um todo. Para isso só precisamos dar crédito a nós mesmos.
Hoje eu vivo muito melhor sem as vendas que
me impediam de ver as coisas com o brilho que realmente têm. Ao deixar de
acreditar em um deus passei a ser mais humano, mais simples e mais seguro, sem
a necessidade de um bode expiatório para dar vazão às necessidades que eu mesmo
poderia tratar. As pessoas que dizem que acreditar em um deus traz conforto eu
respondo: muitas vezes esse conforto de que falo não passa de comodismo.
O
mundo vai mais mal do que bem, apesar de ter muito maior número de crentes do
que de ateus. Basta olhar as guerras, a quantidade de pessoas com fome, o
descaso dos mais abonados financeiramente etc. Se estamos aqui só de passagem,
façamos dessa PASSAGEM o melhor que pudermos agora. Nada de deixar para
supostas outras formas de existências, pois isso caracterizaria também um
descompromisso comodista com “permissividade divina”.
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