quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

Revolução Russa: um marco na história da humanidade

Texto de Rafael Rocha – Jornalista – Recife/PE
publicado no HUMANITAS nº 15 – Outubro/2013

Para a URSS se tornar uma grande potência bélica foi preciso criar o  autoritarismo político e desprezar as demandas imediatas da população


O filósofo Friedrich Wilhelm Nietzsche ao criticar o espírito atrofiado da época em que viveu disse que temos necessidade da história, mas temos necessidade dela de uma maneira diferente da que tem o ocioso requintado nos jardins do saber (…) temos necessidade da história para a vida e para a ação, não para nos afastarmos preguiçosamente da vida e da ação." 
Neste mês de outubro colocamos, aqui, a história dentro da vida e da ação para lembrar o passado e o alcance dos fatos que deram corpo e esperanças a um povo, alcançando ainda outras terras e outros países.
Outubro marca um evento de grande porte histórico. Este evento chama-se Revolução Russa, um dos marcos da história humana, cuja importância se deve não apenas a seus efeitos políticos e econômicos de alcance global, mas também à capacidade de cativar a imaginação das gerações que se seguiram.  É um momento que as gerações de hoje têm de conhecer mesmo já passados 96 anos.
Juntamente com a Revolução Francesa, a Russa faz justiça à alcunha. Ambas quebraram um padrão de comportamento e de organização social. Abriram novo período histórico. A Revolução de 1917 marcou profundamente a evolução dos países no mundo, inclusive as relações internacionais no Século XX.
Para os marxistas, esse evento continua um marco, mesmo que o seu desenvolvimento tenha criado um novo tipo de sociedade e desvirtuado o que se chamava de governo popular. Para eles, é premente a necessidade de fazer com que o socialismo supere o capitalismo dentro das próprias sociedades capitalistas usando a força proletária, pois o caminho do socialismo passa antes pelo esgotamento da ideologia capitalista e burguesa.
O otimismo marxista do início do Século XX acreditava que o surgimento do socialismo na Rússia e a derrubada da monarquia czarista iriam criar um estopim para originar a Revolução Europeia. Assim, o socialismo, com a vitória da Revolução Russa e posterior envolvimento dos países europeus, seria acolhido em países como Alemanha e França. A sobrevivência de uma Rússia socialista dependia do triunfo da revolução em outros países.
Isso porque a Rússia era um país tecnologicamente atrasado. Basicamente rural. Possuía um pequeno proletariado industrial comparado com a Inglaterra, Alemanha e França. Em um país imenso, surgiu uma formidável força de mobilização política a tomar o poder da monarquia e, mais ainda, uma inacreditável luta ideológica para sustentar o projeto socialista em uma terra onde o atraso econômico, a agitação social, as catástrofes externas, a extensão do território e a difícil convivência de povos distintos tornavam inglória a tarefa de qualquer governo.
Imaginemos o novo projeto cheio de ineditismo, assediado pela contrarrevolução e sob a inimizade das grandes potências da época. Infelizmente para os ideólogos marxistas as tentativas de revolução na Alemanha e demais países da Europa Central fracassaram, deixando a Rússia bolchevique entregue à própria sorte.
Não podemos negar a grandeza da epopeia da Revolução Russa de 1917. Ela transformou a paisagem social e econômica do país que de atrasado e camponês passou a ter um enorme poder industrial. Mas para que isso acontecesse teve de atravessar uma Guerra Civil, implantar o comunismo e o controle do Estado na economia e sobre as pessoas.
Após a Segunda Guerra Mundial a Rússia, já agora chamada de URSS (União das Repúblicas Socialistas Soviéticas) e com Josef Stalin no poder, experimentou um rápido crescimento econômico, o qual alimentou as previsões de que a economia socialista superaria o capitalismo. O sacrifício para que ocorresse o desenvolvimento dessa potência mundial recaiu sobre o povo russo.
E mais ainda: a força de se tornar uma grande potência bélica fez-se através do autoritarismo político, desprezando as demandas imediatas da população, com uma inflexibilidade ideológica que acabou por desmoralizar o projeto socialista da Revolução. A falência do idealismo socialista seria, no plano ideológico, um dos fatores essenciais do fim do socialismo na Europa. 
Não cabe aqui especular, se após a queda da ideologia comunista implantada na Rússia o evento revolucionário teria dado certo caso os caminhos seguidos fossem outros. Mas sabemos que os efeitos da Revolução Russa e do socialismo fizeram-se sentir para além da União Soviética. Uma das grandes virtudes da Revolução de Outubro foi ter provocado profundas transformações no mundo, inclusive no sistema capitalista que pretendia superar.

Nenhum comentário:

Postar um comentário