Texto de Ricardo Augusto Bezerra Tiné –
Pesquisador – Guaraí/TO
Publicado no HUMANITAS nº 18 – Janeiro/2014
Cerca de 130 mil palavras utilizadas hoje em
território brasileiro têm origem nas línguas nativas dos nossos ancestrais
indígenas
“Há muito tempo pesquisadores e professores
de língua portuguesa vêm demonstrando insatisfação com as deficiências da
gramática normativa, apontando um crescente desinteresse dos alunos por este
respeito à falta de coerência interna, à sua inadequação às realidades de nossa
língua e à má formação de normas e definições”.
Fiz questão de começar este artigo citando as palavras do autor Mário Perini, na orelha da capa de seu magnífico livro “Gramática Descritiva do Português”. Não com a intenção de insulto nem desmerecimento, mas com uma única e verdadeira vontade de incentivar e engrossar as fileiras dos estudos diacrônicos, ao contrário do que se tem praticado até hoje no Brasil em relação à verdadeira nomenclatura, etimologia, fonética e evolução histórica da língua da nossa Nação.
Mário Perini é professor de linguística na Universidade Federal de Minas Gerais, em Belo Horizonte. Disso podemos ter uma noção ampla da devastação cultural causada pela irresponsabilidade em se querer imputar a um povo soberano uma língua que jamais lhe pertenceu como língua materna: a portuguesa.
Mário Perini, no prefácio do livro citado escancara: “A linguística se tem desenvolvido grandemente nos últimos tempos; no Brasil passamos do quase nada da década de 60 até uma comunidade numerosa, com produção intensa, frequentemente de boa qualidade, em praticamente todas as grandes áreas da disciplina. Hoje se faz linguística de bom nível entre nós; lançam-se as bases para uma descrição coerente, empiricamente adequada, teoricamente sofisticada de todos os aspectos da língua, de seu uso, variação, aquisição, evolução histórica e assim por diante. Descobrem-se coisas novas e reinterpretam-se velhas descobertas, lançando mais luz sobre a nossa língua, sobre a realidade linguística do país e sobre a linguagem em geral”.
E se esse é o argumento para se dizer que brasileiro fala português, o que fez a língua portuguesa permanecer portuguesa depois de 600 anos de influência da língua árabe sobre o seu povo?
Se seis séculos não foram suficientes para extingui-la, que tal mais 200 anos nos quais os portugueses foram colonos germanos? Ou ainda 300 anos como colonos romanos? Bom esclarecimento da verdade nos dá Francisco da Silveira Bueno, emérito de Filologia Portuguesa da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de São Paulo, não em relação a esses seus colonizadores, mas sim em relação à sua formação interna:
“Durante os séculos que precederam a fundação do Condado Portucalense, em que não nos é lícito falar de Portugal, e, portanto, do português como idioma de nacionalidade, o dialeto usado na Galiza pouco se diferençava do leonês (origem castelhana). [...], Galiza e o território do futuro Portugal faziam parte de Leão, não só geográfica e política, mas também linguisticamente”.
Voltando às palavras de Mário Perini quando explana sobre a evolução da linguística brasileira, oponho-me às suas colocações pelo simples direito de entender que a linguística é a ciência que deve expor os fatos históricos reais da etimologia das línguas e suas evoluções em toda temporalidade de que se tem conhecimento. E a realidade perversa do povo brasileiro mora no fato de falar uma língua de origem e evolução própria, e ser obrigado a aprender e a escrever regras gramaticais normativas de outra língua.
Mas foi o próprio Perini que definiu a função da gramática quanto da sua relação com a linguagem de um povo: “A gramática só deve existir enquanto instrumento fiel de registro da língua que a serviu como base, jamais ser ela estorvo para quem a busca”.
No livro “Sofrendo a Gramática – 3ª edição, 2003, pg. 31”, esse mesmo autor intitula o capítulo 4, com uma pergunta, talvez, para ele mesmo, decerto:
“Qual é mesmo a língua que falamos?” E continua: “As línguas diferem muitíssimo quanto à sua importância cultural, política e econômica”.
Como entender os argumentos do autor que por um lado cria ideias iluminadas e por outro elabora uma gramática descritiva do português para brasileiros aprenderem?
Nos estudos étimo-lexicológicos aos quais dediquei quinze anos de minha vida, e que ainda persigo, posso afirmar sem nenhuma dúvida que cerca de 130 mil palavras utilizadas hoje em território brasileiro têm origem nas línguas nativas dos nossos ancestrais indígenas.
Evoluídas, evidentemente, devido ao contato com outros povos, assim como bem o são todas as línguas do mundo. O que falta no Brasil para o reconhecimento óbvio da língua brasileira é caráter e espírito nacionalista.
Como nós brasileiros podemos aceitar tamanho vilipêndio da nossa cultura?
Fiz questão de começar este artigo citando as palavras do autor Mário Perini, na orelha da capa de seu magnífico livro “Gramática Descritiva do Português”. Não com a intenção de insulto nem desmerecimento, mas com uma única e verdadeira vontade de incentivar e engrossar as fileiras dos estudos diacrônicos, ao contrário do que se tem praticado até hoje no Brasil em relação à verdadeira nomenclatura, etimologia, fonética e evolução histórica da língua da nossa Nação.
Mário Perini é professor de linguística na Universidade Federal de Minas Gerais, em Belo Horizonte. Disso podemos ter uma noção ampla da devastação cultural causada pela irresponsabilidade em se querer imputar a um povo soberano uma língua que jamais lhe pertenceu como língua materna: a portuguesa.
Mário Perini, no prefácio do livro citado escancara: “A linguística se tem desenvolvido grandemente nos últimos tempos; no Brasil passamos do quase nada da década de 60 até uma comunidade numerosa, com produção intensa, frequentemente de boa qualidade, em praticamente todas as grandes áreas da disciplina. Hoje se faz linguística de bom nível entre nós; lançam-se as bases para uma descrição coerente, empiricamente adequada, teoricamente sofisticada de todos os aspectos da língua, de seu uso, variação, aquisição, evolução histórica e assim por diante. Descobrem-se coisas novas e reinterpretam-se velhas descobertas, lançando mais luz sobre a nossa língua, sobre a realidade linguística do país e sobre a linguagem em geral”.
E se esse é o argumento para se dizer que brasileiro fala português, o que fez a língua portuguesa permanecer portuguesa depois de 600 anos de influência da língua árabe sobre o seu povo?
Se seis séculos não foram suficientes para extingui-la, que tal mais 200 anos nos quais os portugueses foram colonos germanos? Ou ainda 300 anos como colonos romanos? Bom esclarecimento da verdade nos dá Francisco da Silveira Bueno, emérito de Filologia Portuguesa da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de São Paulo, não em relação a esses seus colonizadores, mas sim em relação à sua formação interna:
“Durante os séculos que precederam a fundação do Condado Portucalense, em que não nos é lícito falar de Portugal, e, portanto, do português como idioma de nacionalidade, o dialeto usado na Galiza pouco se diferençava do leonês (origem castelhana). [...], Galiza e o território do futuro Portugal faziam parte de Leão, não só geográfica e política, mas também linguisticamente”.
Voltando às palavras de Mário Perini quando explana sobre a evolução da linguística brasileira, oponho-me às suas colocações pelo simples direito de entender que a linguística é a ciência que deve expor os fatos históricos reais da etimologia das línguas e suas evoluções em toda temporalidade de que se tem conhecimento. E a realidade perversa do povo brasileiro mora no fato de falar uma língua de origem e evolução própria, e ser obrigado a aprender e a escrever regras gramaticais normativas de outra língua.
Mas foi o próprio Perini que definiu a função da gramática quanto da sua relação com a linguagem de um povo: “A gramática só deve existir enquanto instrumento fiel de registro da língua que a serviu como base, jamais ser ela estorvo para quem a busca”.
No livro “Sofrendo a Gramática – 3ª edição, 2003, pg. 31”, esse mesmo autor intitula o capítulo 4, com uma pergunta, talvez, para ele mesmo, decerto:
“Qual é mesmo a língua que falamos?” E continua: “As línguas diferem muitíssimo quanto à sua importância cultural, política e econômica”.
Como entender os argumentos do autor que por um lado cria ideias iluminadas e por outro elabora uma gramática descritiva do português para brasileiros aprenderem?
Nos estudos étimo-lexicológicos aos quais dediquei quinze anos de minha vida, e que ainda persigo, posso afirmar sem nenhuma dúvida que cerca de 130 mil palavras utilizadas hoje em território brasileiro têm origem nas línguas nativas dos nossos ancestrais indígenas.
Evoluídas, evidentemente, devido ao contato com outros povos, assim como bem o são todas as línguas do mundo. O que falta no Brasil para o reconhecimento óbvio da língua brasileira é caráter e espírito nacionalista.
Como nós brasileiros podemos aceitar tamanho vilipêndio da nossa cultura?
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