Texto de Celso
Lungaretti – Jornalista – São Paulo/SP
publicado no
HUMANITAS nº 14 - Setembro/2013
Desculpem-me os que prefeririam ler algo
mais efusivo, menos amargo, mas yo “soy
un hombre” sincero. Nunca soube ser
de outra maneira.
Então, de um lado, louvo o esforço e
abnegação do imprescindível jornalista Rafael Rocha com este muito nosso Humanitas, que faz o que os jornalistas humanistas fazem: usam todas as suas
ferramentas para manter vivo o pensamento crítico e os ideais
solidários/compassivos. Do outro, recordo-me que já lá se vão exatos 45 anos
que eu comecei a fazer jornais, ainda no Curso Clássico, quando o responsável
pelo tabloide da escola ficou sem tempo para tocar o projeto adiante e me
passou a tarefa.
Quando entrei numa modesta gráfica de
bairro, ainda com composição a quente, para a revisão final, nem de longe
imaginava que descobrira meu ofício.
Hoje, contudo, estou cético quanto à
possibilidade de fazermos a reflexão penetrar nas jovens cabeças das quais
depende o que é imprescindível, necessário e até vital: a transformação do
mundo. Querem algo mais direto, que já não somos os melhores para lhes
oferecer.
Vão direto à ação e cometem os mesmos erros
que outrora cometemos e tanto gostaríamos de ajudá-los a evitar.
Então, depois de tanto travar o bom combate
e até conseguir umas poucas vitórias improváveis (além, claro, das muitas
derrotas mais do que prováveis...), sinto-me um pouco como o Paulo Francis que,
a certa altura, dizia:
“Quando perdemos todas as ilusões, só nos
resta fazermos bem aquilo que sabemos fazer”.
O que, no caso do jornalista Rafael Rocha,
do meu e (presumo) dos demais colaboradores, é espalharmos nossas sementes, com
poucas esperanças de que frutifiquem e se tornem um real contrapeso à
desumanização, mas... é a tarefa que ainda nos cabe e da qual só nós podemos
nos desincumbir.
Temos de tentar, até o fim, transmitir o
legado dos nossos sonhos e as lições de nossas batalhas, "as marcas que ganhei, na luta contra o
rei, nas discussões com Deus".
Infelizmente,
como dizia o Chico Buarque: sem fantasia.
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