quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

Travando o bom combate

Texto de Celso Lungaretti – Jornalista – São Paulo/SP
publicado no HUMANITAS nº 14 - Setembro/2013

Desculpem-me os que prefeririam ler algo mais efusivo, menos amargo, mas yo “soy un hombre” sincero. Nunca soube ser de outra maneira.
Então, de um lado, louvo o esforço e abnegação do imprescindível jornalista Rafael Rocha com este muito nosso Humanitas, que faz o que os jornalistas humanistas fazem: usam todas as suas ferramentas para manter vivo o pensamento crítico e os ideais solidários/compassivos. Do outro, recordo-me que já lá se vão exatos 45 anos que eu comecei a fazer jornais, ainda no Curso Clássico, quando o responsável pelo tabloide da escola ficou sem tempo para tocar o projeto adiante e me passou a tarefa.
Quando entrei numa modesta gráfica de bairro, ainda com composição a quente, para a revisão final, nem de longe imaginava que descobrira meu ofício.
Hoje, contudo, estou cético quanto à possibilidade de fazermos a reflexão penetrar nas jovens cabeças das quais depende o que é imprescindível, necessário e até vital: a transformação do mundo. Querem algo mais direto, que já não somos os melhores para lhes oferecer.
Vão direto à ação e cometem os mesmos erros que outrora cometemos e tanto gostaríamos de ajudá-los a evitar.
Então, depois de tanto travar o bom combate e até conseguir umas poucas vitórias improváveis (além, claro, das muitas derrotas mais do que prováveis...), sinto-me um pouco como o Paulo Francis que, a certa altura, dizia: 
“Quando perdemos todas as ilusões, só nos resta fazermos bem aquilo que sabemos fazer”. 
O que, no caso do jornalista Rafael Rocha, do meu e (presumo) dos demais colaboradores, é espalharmos nossas sementes, com poucas esperanças de que frutifiquem e se tornem um real contrapeso à desumanização, mas... é a tarefa que ainda nos cabe e da qual só nós podemos nos desincumbir.
Temos de tentar, até o fim, transmitir o legado dos nossos sonhos e as lições de nossas batalhas, "as marcas que ganhei, na luta contra o rei, nas discussões com Deus". 
Infelizmente, como dizia o Chico Buarque: sem fantasia.

Nenhum comentário:

Postar um comentário