Texto
de Maura de Almeida Martins Lima – Historiadora –
Recife/PE
Publicado no
HUMANITAS nº 14 – Setembro/2013
Além de divulgar
a arte do povo sertanejo, o cantor Luiz Gonzaga retratava os costumes e a vida social
do homem da caatinga.
A formação da sociedade brasileira remete ao
passado, da colonização de povos que contribuíram para a formação desta cultura
com seus ritmos e costumes: brancos europeus portugueses, índios e negros
africanos. O panorama econômico do Brasil surgiu com o escambo e em seguida a
exportação de pau-brasil, “plantation”
canavieira, café, borracha, cuja
mão-de-obra escrava muito contribuiu para o desenvolvimento do país.
Entretanto, a economia do nordeste nas décadas de 1930, 1940 e 1950 passava por um período letárgico, pois São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais eram autossuficientes na produção de açúcar, provocando sucessivas crises que davam origem às correntes migratórias que se fortaleceram não somente em função dessas crises, mas devido ao latifúndio, ao minifúndio inviável, à falta de emprego fixo no campo e nas zonas urbanas próximas das rurais e à baixa remuneração na agricultura familiar.
Dentre tantos que migraram, Luiz Gonzaga foi mais um que ao chegar ao Ceará serve ao Exército, aporta no Rio de janeiro e fixa residência. Compõe músicas para migrantes nordestinos abrangendo um cenário musical muito rico. A flora, a caatinga, o mandacaru e o gravatá, a fauna – “Asa Branca” considerada o hino do Nordeste e “Assum Preto” tão presente em suas canções, além do repertório lúdico terapêutico quando se refere aos tipos físicos das pessoas: “marelo, zambeta, bochudo”... para amenizar o sofrimento do nordestino revoltado com o antagonismo do seu dia a dia.
Como expressão folclórica a música representou várias expressões nas canções nordestinas sertanejas que influenciaram a obra de Luiz Gonzaga. O xaxado que remete à colheita e o sachar do feijão (limpeza feita em torno da planta) que se transformou em dança do bando de Lampião.
O forró - de origem controversa - diz-se da construção de uma ferrovia pernambucana por uma companhia inglesa que pronunciava a palavra For all rock cujo significado é dança para todos. O xote de origem alemã que remete aos salões aristocráticos.
O batuque de raízes africanas era uma forma de os negros expressarem sua cultura através da dança, também chamada “bambolê”, as quadrilhas juninas uma tradição europeia francesa e o coco uma espécie de folguedo, dança do litoral Norte e Nordeste.
Desses ritmos surgiu o baião, síntese sonora do Nordeste e suas expressões próprias utilizadas nas canções do rei do baião: abufelar (apaixonar-se), refugou a água (não quis beber), “arroxar a cia” (apertar a cela do cavalo), “queimar o chão” (quando o sol é muito quente, calor intenso, terra seca).
A identificação do gênero nordestino nas músicas de Luiz Gonzaga remete às canções feitas por migrantes para migrantes não perdendo a sua característica própria e nem sua identidade regional.
Quando se fala música popular um conceito ambivalente, queremos dizer que ela é produzida por uma elite intelectual e pelo nordestino reportando às décadas de 1930, 1940 e 1950, quando a produção Gonzagueana defendia uma dicotomia entre música erudita e música popular. Entretanto, o conceito de música popular como conceito ambivalente e dicotomia entre música popular e música erudita encontrou sua justificativa e validade na circularidade cultural, entre as culturas das classes dominantes e das classes subalternas que se movem de baixo para cima e de cima para baixo.
A música Gonzagueana é rural porque aborda a vontade que o nordestino sente de nadar contra a maré, ou seja, voltar à terra natal. Urbana, pois se trata da transferência de grande parte da população do Nordeste para o Sul e Sudeste e nordestina por apresentar características nordestinas. Sempre foram abordadas nas letras musicais de Luiz Gonzaga, questões como a falta de atenção com a região, alertando as autoridades competentes sobre os problemas existentes não sendo, portanto, músicas de protesto como as de Gilberto Gil, Caetano Veloso e Geraldo Vandré. “Asa Branca” – um protestozinho. “Vozes da Seca” um protesto. Mesmo não sendo folclorista e nem sociólogo, Gonzaga e seus parceiros procuravam divulgar a cultura popular nordestina como também conhecê-la em suas origens.
Apesar de não terem se dedicado a esse tipo de pesquisa, procuravam zelar pela integridade dessa cultura. Além da preocupação de divulgar a arte do povo sertanejo, Luiz Gonzaga e seus parceiros propuseram-se a retratar os costumes e a vida social do homem da caatinga.
O trabalho de Luiz Gonzaga e seus parceiros refletia uma realidade do Nordeste, e não existe em toda literatura brasileira quem retrate tão bem o Sertão nordestino como esse grupo de poetas com suas músicas e com seus “causos” que se identificavam de forma perfeita ao sertanejo, que parecia ter sido incorporado pelo espírito do poeta popular, sobretudo Zé Dantas que, embora fosse um sertanejo citadino nunca fez músicas sobre a cidade, ao contrário do que acontecia com Humberto Teixeira. Apesar de tudo isso, Gonzaga e seus parceiros não deixaram de compor músicas para ganhar dinheiro ou por encomenda, como é o caso de “Algodão”, composta para atender a uma solicitação do então ministro da Agricultura o pernambucano João Cleofas, que implantara o slogan “vamos plantar algodão.”
Indiretamente, Luiz Gonzaga assumia uma posição política que comungava com os poderes constituídos. Entretanto, se de um lado essa posição parece a voz da classe dominante, do outro, sua função era de utilidade pública, pois o algodão é um dos poucos produtos que encontrava no Nordeste seco o solo ideal. “Precisa ser forte, robusto / Valente e nascer no sertão / Tem que suar muito pra ganhar o pão, / que a coisa lá não é brinquedo não / Mas quando chega o tempo rico da colheita / Trabalhador vendo a fortuna se deleita / Chama a família e sai / Pelo roçado vai / Cantando alegre, ai, ai ,ai ai.(Algodão)”. Com esses versos só nos resta a imensa vontade de aprender mais com todos os que pesquisam, pesquisaram e pesquisarão a inesgotável obra gonzagueana.
Entretanto, a economia do nordeste nas décadas de 1930, 1940 e 1950 passava por um período letárgico, pois São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais eram autossuficientes na produção de açúcar, provocando sucessivas crises que davam origem às correntes migratórias que se fortaleceram não somente em função dessas crises, mas devido ao latifúndio, ao minifúndio inviável, à falta de emprego fixo no campo e nas zonas urbanas próximas das rurais e à baixa remuneração na agricultura familiar.
Dentre tantos que migraram, Luiz Gonzaga foi mais um que ao chegar ao Ceará serve ao Exército, aporta no Rio de janeiro e fixa residência. Compõe músicas para migrantes nordestinos abrangendo um cenário musical muito rico. A flora, a caatinga, o mandacaru e o gravatá, a fauna – “Asa Branca” considerada o hino do Nordeste e “Assum Preto” tão presente em suas canções, além do repertório lúdico terapêutico quando se refere aos tipos físicos das pessoas: “marelo, zambeta, bochudo”... para amenizar o sofrimento do nordestino revoltado com o antagonismo do seu dia a dia.
Como expressão folclórica a música representou várias expressões nas canções nordestinas sertanejas que influenciaram a obra de Luiz Gonzaga. O xaxado que remete à colheita e o sachar do feijão (limpeza feita em torno da planta) que se transformou em dança do bando de Lampião.
O forró - de origem controversa - diz-se da construção de uma ferrovia pernambucana por uma companhia inglesa que pronunciava a palavra For all rock cujo significado é dança para todos. O xote de origem alemã que remete aos salões aristocráticos.
O batuque de raízes africanas era uma forma de os negros expressarem sua cultura através da dança, também chamada “bambolê”, as quadrilhas juninas uma tradição europeia francesa e o coco uma espécie de folguedo, dança do litoral Norte e Nordeste.
Desses ritmos surgiu o baião, síntese sonora do Nordeste e suas expressões próprias utilizadas nas canções do rei do baião: abufelar (apaixonar-se), refugou a água (não quis beber), “arroxar a cia” (apertar a cela do cavalo), “queimar o chão” (quando o sol é muito quente, calor intenso, terra seca).
A identificação do gênero nordestino nas músicas de Luiz Gonzaga remete às canções feitas por migrantes para migrantes não perdendo a sua característica própria e nem sua identidade regional.
Quando se fala música popular um conceito ambivalente, queremos dizer que ela é produzida por uma elite intelectual e pelo nordestino reportando às décadas de 1930, 1940 e 1950, quando a produção Gonzagueana defendia uma dicotomia entre música erudita e música popular. Entretanto, o conceito de música popular como conceito ambivalente e dicotomia entre música popular e música erudita encontrou sua justificativa e validade na circularidade cultural, entre as culturas das classes dominantes e das classes subalternas que se movem de baixo para cima e de cima para baixo.
A música Gonzagueana é rural porque aborda a vontade que o nordestino sente de nadar contra a maré, ou seja, voltar à terra natal. Urbana, pois se trata da transferência de grande parte da população do Nordeste para o Sul e Sudeste e nordestina por apresentar características nordestinas. Sempre foram abordadas nas letras musicais de Luiz Gonzaga, questões como a falta de atenção com a região, alertando as autoridades competentes sobre os problemas existentes não sendo, portanto, músicas de protesto como as de Gilberto Gil, Caetano Veloso e Geraldo Vandré. “Asa Branca” – um protestozinho. “Vozes da Seca” um protesto. Mesmo não sendo folclorista e nem sociólogo, Gonzaga e seus parceiros procuravam divulgar a cultura popular nordestina como também conhecê-la em suas origens.
Apesar de não terem se dedicado a esse tipo de pesquisa, procuravam zelar pela integridade dessa cultura. Além da preocupação de divulgar a arte do povo sertanejo, Luiz Gonzaga e seus parceiros propuseram-se a retratar os costumes e a vida social do homem da caatinga.
O trabalho de Luiz Gonzaga e seus parceiros refletia uma realidade do Nordeste, e não existe em toda literatura brasileira quem retrate tão bem o Sertão nordestino como esse grupo de poetas com suas músicas e com seus “causos” que se identificavam de forma perfeita ao sertanejo, que parecia ter sido incorporado pelo espírito do poeta popular, sobretudo Zé Dantas que, embora fosse um sertanejo citadino nunca fez músicas sobre a cidade, ao contrário do que acontecia com Humberto Teixeira. Apesar de tudo isso, Gonzaga e seus parceiros não deixaram de compor músicas para ganhar dinheiro ou por encomenda, como é o caso de “Algodão”, composta para atender a uma solicitação do então ministro da Agricultura o pernambucano João Cleofas, que implantara o slogan “vamos plantar algodão.”
Indiretamente, Luiz Gonzaga assumia uma posição política que comungava com os poderes constituídos. Entretanto, se de um lado essa posição parece a voz da classe dominante, do outro, sua função era de utilidade pública, pois o algodão é um dos poucos produtos que encontrava no Nordeste seco o solo ideal. “Precisa ser forte, robusto / Valente e nascer no sertão / Tem que suar muito pra ganhar o pão, / que a coisa lá não é brinquedo não / Mas quando chega o tempo rico da colheita / Trabalhador vendo a fortuna se deleita / Chama a família e sai / Pelo roçado vai / Cantando alegre, ai, ai ,ai ai.(Algodão)”. Com esses versos só nos resta a imensa vontade de aprender mais com todos os que pesquisam, pesquisaram e pesquisarão a inesgotável obra gonzagueana.
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