segunda-feira, 27 de fevereiro de 2017

HUMANITAS Nº 57 – MARÇO DE 2017 – PÁGINA OITO



RECIFE E OLINDA ESTÃO EM FESTA 
Especial do Humanitas



Ambas as cidades nasceram e cresceram lado a lado. Foram partícipes de muitas revoluções libertárias. Agora, em março, no dia 12, elas estão aniversariando. Olinda fará 482 anos e o Recife 480, para alegria dos seus habitantes e admiradores. Nossos parabéns!
O Recife, capital de Pernambuco, tem em si o poder da criatividade e da aventura. Tanto no plano de desbravar espaços como no de produção intelectual. Olinda, cantada em prosa e verso por tantos bardos, foi a primeira cidade pernambucana de grande relevo.
Em Olinda, Bento Teixeira lançou a sua “Prosopopeia”, no Século XVI, poema épico em homenagem ao capitão governador de Pernambuco, Jorge de Albuquerque Coelho. Também nesse poema, a cidade do Recife recebe sua primeira apresentação: “Um porto tão quieto e tão seguro / Que para as curvas naus serve de muro”. 
As duas cidades têm caracteres próprios.  Diversidade.  Rebeldia. Contrastes. Cultura.
Olinda também é Patrimônio Histórico e Cultural da Humanidade”, título que os seus habitantes exibem com orgulho.

HUMANITAS Nº 57 – MARÇO DE 2017 – PÁGINA SETE

OS MUROS
Especial para o Humanitas

Texto de Paulo Alexandre. Mestre em História. Mora e ensina no Recife/PE

“Precisamos de pontes, não de muros”, disse o papa Francisco, numa celebração dominical que evocava os 25 anos da queda do Muro de Berlim.
Esta alusão a muros e pontes é recorrente e tem variáveis em torno da mesma ideia: escolhemos insistentemente a divisão em vez da união.
Muros são personagens históricos quase vívidos, impondo-se firmes e verticalmente como opressores, separando aquilo que não se quer unido, dividindo aquilo que não se quer somado.
Muros remontam a nosso berçário civilizacional, quando grupos antigos montavam obstáculos físicos para deter inimigos e garantir seus domínios.
As cidades antigas eram muradas e também passaram a ser murados alguns limites mais amplos, demarcando mundos distintos de humanos distintos.
Entre os anos 122 e 126 o imperador romano Adriano mandou erigir o Vallum Aelium, que passou a ser reconhecido com naturalidade como a Muralha de Adriano e tinha propósito defensivo militar estratégico, mas também deixava clara a ideia de que do lado de lá da estrutura estava uma outra natureza de homens, os bárbaros, as tribos animalescas que não eram assemelhadas ao esplendor de Roma.
Séculos e muros depois, na Alemanha (ou nas Alemanhas) o Muro de Berlim traçava os limites entre modelos sociais e projetos políticos que se afirmavam como opostos.
Este muro durou relativamente pouco, mas os simbolismos em torno dele são presentes e serão duradouros e por isso mesmo referenciam outras muralhas demarcatórias e divisionistas.
O Muro de Israel construído sobre a Palestina e sobre os palestinos é outra obra de nossa engenharia da truculência e está ainda em expansão, traçando uma abusiva fronteira tridimensional de concreto em terras tomadas dos palestinos por meio dos assentamentos israelenses irregulares que são fincados diante do silêncio omisso (ou conivente e até parceiro) do Ocidente.
Como a divisão é uma vocação que os poderosos exercem como uma missão, o novo muro em evidência é o ianque, que foi elevado a uma condição de obsessão pelo presidente Trump.
O presidente de franja quer que os mexicanos paguem pelo muro que é seu projeto populista de ludibriar os ianques, imputando aos estrangeiros pobres que cruzam a fronteira as mazelas que não foram produzidas por eles.
Mister Trump condena os mexicanos pelo narcotráfico que “invade” os EUA, mas não se atém ao fato de que seus compatriotas são os maiores consumidores de drogas do mundo e o maior mercado do mundo gera oferta.
O capitalismo que Trump segue como religião funciona assim: se há demanda abundante a oferta buscará satisfazer o mercado, logo, com muro ou sem mexicanos não faltarão depois fornecedores e estrangeiros a quem culpar pelo pecado pátrio.
O Muro de Trump é um projeto velho. É resultado de uma perspectiva antiga que também rotula e estabelece uma divisão fundada em poder e presunção.
Os bárbaros ao sul do muro são os mexicanos do México e os mexicanos genéricos até a Patagônia. Somos esses mexicanos também, embora muitos de nós não tenham percebido.
Que o Muro de Trump nos sirva como lição sobre o que queremos para a América Latina, pois ou o concreto nos subjuga ou nos faz entender que precisamos de um novo rumo para os americanos ao sul do Rio Bravo, um rumo nosso, integrado e próspero porque esta América Latina de veias abertas sobre a qual escreveu o uruguaio Eduardo Galeano precisa gerar riqueza também para os seus filhos.
O general nacionalista mexicano Porfírio Díaz governou seu país em duas oportunidades e proferiu uma sábia verdade sobre a situação de sua terra: "Pobre México: tão longe de Deus e tão perto dos EUA".
Que o lamento de Díaz deixe de ser uma dolorida constatação para os mexicanos do México e para os demais mexicanos dos outros Méxicos da América Latina. E que nossas elites não tenham a cabeça, o coração e os interesses do outro lado do muro.

HUMANITAS Nº 57 – MARÇO DE 2017 – PÁGINA SEIS

O VERDADEIRO SENTIDO DA VIDA

Texto de Décio Schroeter - Escritor – Porto Alegre/RS
Especial para o Humanitas
Texto extraído de Irreligiosos.ning.com

As pessoas morrem não porque os deuses o decretaram, mas em decorrência de uma série de falhas “técnicas”: infecção, câncer ou um ataque do coração.
O DNA em nossas células é com frequência danificado sob condições rotineiras, mas nossas células têm diversos sistemas de reparo de DNA.
Se um gene crucial for permanentemente danificado, há normalmente cópias extras do gene por perto. E se a célula inteira morrer, outras podem substituí-la. Temos um rim extra, um pulmão extra, uma gônoda extra, dentes extras, conforme Leonid Gavrilov, pesquisador da Universidade de Chicago.
No entanto, conforme os defeitos de um sistema complexo vão aumentando, chega um momento em que apenas um defeito a mais é suficiente para danificar o todo, resultando na condição conhecida como fragilidade.
Acontece com carros, grandes organizações e com usinas, num instante a coisa toda deixa de funcionar.
E também acontece conosco: mais cedo ou mais tarde, o número de articulações e de artérias calcificadas é simplesmente grande demais. Não há mais backups. Nós nos desgastamos até não termos mais o que desgastar (Mortais: Nós, a Medicina e o que Realmente Importa no Final”,  de Atul Gawande, Editora Objetiva).
Algumas correntes filosóficas (por exemplo, humanismo, pós-humanismo, e, até certo ponto, o empirismo) geralmente asseveram que não há uma ultravida.
Um ateu e cético, ima­gina o seu futuro após a morte da mesma forma que ima­gina o seu pas­sado antes do seu nas­ci­mento: o nada, nulo, isento de expe­ri­ên­cia ou de noção seja do que for.
Animais morrem, amigos morrem e todos morreremos, mas uma coisa nunca morre, que é a reputação que é deixada após a morte.
A única coisa que poderemos conseguir será uma exuberante paz de espírito, a qual nos dará coragem e tranquilidade para enfrentar a morte. Assim iremos para o túmulo (ou cremação) em paz com a consciência de dever cumprido.
Para muitos, a ques­tão filo­só­fica não é o “por ­quê vivo?” mas sim o “como vivo?” É na res­posta a essa ques­tão que se pode encon­trar o sen­tido de existência.
Lembre-se somente de uma coisa: “você é um ser mortal”.  Se você não está apegado a nada, a morte pode vir neste exato momento ou na próxima esquina e você estará em atitude de boas-vindas.
Livre-se do apego da morte e estará absolutamente pronto para ir.  O meu medo de morrer era não deixar a minha contribuição com a verdade (que não é absoluta) genuína e original da minha própria consciência.
Porque “quem morre sem dizer verdadeiramente, o que pensa, é o que morre de verdade”. Morrerá e levará consigo aquele seu pensamento que não fez publicar. A curiosidade intelectual existe em algumas pessoas e é provável que sirva para libertá-las de certas ilusões que persistem até hoje.
A verdade é para quem não tem medo de morrer. Os ateus, agnósticos, racionalistas, humanistas seculares, céticos que investigam, comparam, perguntam, questionam, duvidam, já o fizeram, e não desembarcaram nesse mundo a passeio.
Discordam do que pensam e propagam os doutrinadores, simplesmente porque não toleram mentiras. E são muitos os que escreveram um livro, por exemplo, que também é uma forma de perpetuar a memória. Tem a ver com a nossa vontade, que é antiga, de continuar vivendo.
Sêneca dizia que o homem vive preocupado em viver muito e não em viver bem, quando não depende dele viver muito, mas viver bem. “Só quem aceita a morte e está pronto para morrer pode sentir o verdadeiro sabor da vida”.
O filósofo Epicuro chamou de tolice e aflição temer a morte e a espera da morte, pois enquanto vivemos ela não existe, e quando ela chega, nós nos retiramos e não existiremos mais. Segundo ele, os maiores obstáculos para a felicidade humana são o temor da morte e o medo da ira divina”, mas eles podem ser eliminados graças ao conhecimento da natureza.
A ética de Epicuro assegura aos homens que a felicidade é facilmente alcançável, desde que algumas poucas necessidades naturais sejam satisfeitas, pois a felicidade não é outra coisa que a ausência de dor física e um estado de ânimo livre de qualquer perturbação ou paixão.
Assim, a felicidade, para Epicuro, se identifica com um prazer estável, que os gregos chamavam de “ataraxia”.


HUMANITAS Nº 57 – MARÇO DE 2017 – PÁGINA CINCO

PREGUIÇA BAIANA
Especial para o Humanitas
Texto de Araken Vaz Galvão. Escritor e membro da Academia de Artes do Recôncavo. Mora em Valença/BA

Alguém me enviou, não me lembro quem, a informação de que a antropologista baiana, Elisete Zanlorenzi, da PUC-Campinas, ao defender sua tese de mestrado, na USP, afirmara, escudada em uma pesquisa que durou quatro anos, que a famosa “malemolência” ou preguiça baiana, na verdade, não passava de racismo.
Afirmava, ademais, que a visão de que o morador da Bahia vive em clima de “festa eterna” não passa de discriminação, já que, segundo sua pesquisa, o baiano é muitas vezes mais eficiente que o trabalhador das outras regiões do Brasil.
O objetivo da tese foi descobrir como a imagem da preguiça baiana surgiu e se consolidou, e Zanlorenzi concluiu, após sua longa pesquisa, que a imagem da preguiça derivou do discurso discriminatório contra os negros e mestiços, que são cerca de 79% da população do nosso Estado.
Sempre acompanhando o que diz a informação que me foi repassada, no seu estudo ela mostra que a elevada porcentagem de negros e mestiços não é uma coincidência. A atribuição da preguiça aos baianos tem um teor racista.
Antes de continuar, data vênia, salvo melhor juízo – antes que me classifique de racista – este 79% da população baiana ser negra ou mestiça, configura-se uma verdade acabada, mas nunca comprovada. Alguém chuta um número e este chute começa a se tornar incontestável.
Seria válido em relação a Salvador, Recôncavo e a zona hoje chamada de Baixo-Sul. O que não significa nem 30% de um Estado que tem a mesma extensão territorial da França e uns 13 milhões de habitantes.
No sertão o quadro étnico é bem diferente e a miscigenação com o negro – ou melhor, com as negras – foi bem menor. Inclusive se encontram no interior – no sertão – várias, se não a maioria, das comunidades remanescentes de quilombos, ou seja, composta apenas de negros, o que comprovaria a relatividade da miscigenação negra geral.
Da mesma forma que entre esses “negros e pardos”, encontram-se muito cafuzos, já que o contato do negro com a índia foi bem maior do que nos impõem as atuais análises “negristas”.
Voltando à tese de Zanlorenzi, ela continua afirmando que a imagem de povo preguiçoso se enraizou no próprio Estado, por meio da elite portuguesa, que considerava os escravos indolentes e preguiçosos, devido às evidentes expressões faciais de desgosto e de lentidão na execução dos serviços. Afinal, como trabalhar bem-humorado em regime de escravidão? Certíssimo, aliás!
Zanlorenzi afirma que de nossa terra o clichê de preguiçoso se espalhou de forma acentuada no Sul e Sudeste a partir das migrações da década de 40.
Todos os que chegavam do Nordeste viraram baianos.
Chamá-los de preguiçosos foi a forma de defesa encontrada para denegrir a imagem dos trabalhadores nordestinos (muito mais paraibanos do que propriamente baianos).
Eles eram taxados como desqualificados, estabelecendo fronteiras simbólicas entre dois mundos como forma de “proteção” dos seus empregos.
Sua pesquisa demonstra ainda que é no Rio de Janeiro onde existem mais dos chamados “desocupados” (pessoas em faixa etária superior a 21 anos que transitam por shoppings, praias, ambientes de lazer e principalmente bares de bairros durante os dias da semana entre 9 e 18h), considerando levantamento feito em todos os estados brasileiros.
Longe de mim – baiano convicto e histórico – discordar da ilustre mestranda, mas não entendo porque tanta celeuma em relação à preguiça. Por quê?
Sempre que vejo esse assunto em pauta, vem à mente um filme de Buñuel, no qual um personagem masculino – refinado burguês, quiçá com certo ar de aristocrata – ensina a um jovem mudo e pobre, que trabalho é atividade das bestas, tomada esta palavra no seu sentido etimológico, e não no seu sentido popular de bobo.
Por que se glorifica tanto o trabalho – em detrimento da preguiça – se o resultado do trabalho, quase sempre é canalizado para a algibeira alheia?
Não é por acaso que o povo diz: Quem trabalha não tem tempo para ganhar dinheiro...

HUMANITAS Nº 57 – MARÇO DE 2017 – PÁGINA QUATRO

MULHER: A LUTA DE “SER”
Especial para o Humanitas

Texto de Ana Maria Leandro. Escritora e jornalista. Atua em Belo Horizonte/MG

É indispensável reconhecer, até nesta fase contemporânea, quando já temos exemplos estatísticos do passado de ostracismo milenar, o que a mulher sofreu na sociedade e na sua luta pelo “direito de SER”.
Fato oriundo de um sistema onde o homem é que tinha a autoridade de maneira geral, por influência da Igreja em conluio com políticas governamentais desde a Roma antiga.
A “Inquisição” foi o evento da história mais punitivo do gênero feminino. Pelo simples ato de demonstrar um conhecimento diferenciado dos homens ou do governo, a vítima era acusada de “bruxaria” sofrendo terríveis condenações, torturas e morte.
A Inquisição, como ficou conhecido o Tribunal da Inquisição da Igreja Católica, foi criada em 1233 pelo papa Gregório IX para combater o que denominavam heresia.
Somente em 2000, o pontificado do Papa João Paulo II foi pontuado pelo reconhecimento de diversos erros e por pedidos de perdão pelas iniquidades cometidas pela Igreja Católica em sua história.
Mas o processo de tirar da mulher o direito até de se expressar, antecedeu, e se prorrogou além da Inquisição. Grandes mulheres da história, que não se continham e se manifestavam, de forma explícita e declarada sofreram consequências por isso.
Até o início do século XX, o voto, na maioria dos países, era um “direito exclusivo dos homens” – e ainda assim definido por fatores de status econômico e social.
Foi já no século XX, que ativistas do gênero feminino se mobilizaram pelo direito à participação política e ficaram conhecidas como sufragistas.
O não direito da mulher de não se expressar foi descrito em Coríntios (1 Cor. 14: 24-36): “(...) calem-se as mulheres nas assembléias, pois não lhes é permitido falar; mostrem-se submissas como diz a própria Lei (...). Porventura foi dentre vós que saiu a palavra de Deus? Ou só a vós foi comunicada?”
Por absurdo que pareça, até hoje não é difícil identificar a ideia de que a mulher deva “apenas obedecer sem se manifestar”, pois ainda é um grande anseio e mesmo prática de alguns exemplos do gênero masculino.
Existem recentes casos divulgados na mídia, de mulheres que passaram anos encarceradas pelo próprio progenitor, sem direito a sair por motivo nenhum e regularmente violentadas pelo mesmo.
É lógico que já houve muita alteração nessa realidade, mas são fatos atuais. Muitos homens ainda não perceberam que a convivência se torna muito melhor, quando na parceria há diálogo, respeito recíproco por pontos de vista diferenciados.
Insisto em dizer em palestras, que se você anula o seu par você estará só. Talvez nem perca a presença física do outro, mas ficará só no pensar e no sentir, onde a solidão é pior.
No mercado de trabalho, até hoje a mulher ainda sofre diferenciações e preconceitos. As empresas insistem em negar o fato no discurso, mas não na prática. Como Consultora Empresarial já vi organizações onde os altos cargos têm predominância do gênero masculino. Citar casos isolados não desmente a estatística do fato. Aspecto este que se extravasa nas promoções a níveis superiores.     Em relação aos salários, as mulheres obtêm renda anual média inferior à dos homens. A diferença ocorre mesmo quando a mulher tem anos a mais de estudo.
Diversas vezes, a preferência por chefia masculina se apresenta se eles têm cursos superiores, mesmo trabalhando na mesma empresa ao lado de mulheres com níveis iguais de escolaridade e tecnologia.
De acordo com pesquisa da International Business Report (IBR), apesar de avanços nesta última década, as empresas brasileiras ainda demonstram a média de apenas 19% em cargos de alto escalão para as mulheres, índice abaixo da média global, de 24%.
A mulher brasileira, com mais lentidão que nos países de Primeiro Mundo, vem aumentando sua atuação no mercado de trabalho nos últimos anos. Isto por efeitos também sociais e de desenvolvimento de competências, como o aumento da escolaridade feminina, menor quantidade de filhos e mudanças de padrões culturais, que as estimulam a trabalhar.
Certa vez ouvi de um especialista, que até na economia é importante a atuação profissional da mulher, pelo simples fato de que elas são maioria na população. Sua ausência no contexto produtivo seria difícil de ser arcado economicamente pelo país.
Dados da última Pesquisa Nacional divulgada pelo IBGE, em 2013, indicam que viviam no Brasil 103,5 milhões de mulheres, o equivalente a 51,4% da população.  E mais: são responsáveis pelo sustento de 37,3% das famílias.
As mulheres contemporâneas precisam identificar que o avanço alcançado é consequência também da ação individual, do enfrentamento da decisão de evoluir, de buscar o melhor de si.  
Para “SER” é preciso mais que viver. É necessário também crescer em todos os sentidos.  Na busca da educação, da melhoria da escolaridade e do conhecimento, que proporcionam a superação dos obstáculos, e que se fazem essenciais para as conquistas humanas de qualquer que seja o sexo.

HUMANITAS Nº 57 – MARÇO DE 2017 – PÁGINA TRÊS

POETA DO MÊS
SYLVIA PLATH - Poeta, romancista e contista norte-americana. É creditada por dar continuidade ao gênero de poesia confessional, iniciado por Robert Lowell e W. D. Snodgrass. Nasceu em Jamaica Plain, Massachussets/EUA e, vítima da depressão, suicidou-se em Londres (Primrose Hill) no dia 11 de fevereiro de 1963.
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NOTAS DE SINFONIA INTERCALADA
Ivy Gomide - Rio de Janeiro/RJ

pétala por pétala
na boca do algodão doce
vozes algozes
emudecem gritos
de tiro-teio
eu tiro-teimo
em ti
apenas porque
o perfume
suspira
e aspira
na sequência da
sinfonia
interCALADA
notas orvalhadas
re escrevem
brincos
na lua.
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RETRATO DE MULHER TRISTE
Cecília Meireles - Rio de Janeiro/RJ

Vestiu-se para um baile que não há.
Sentou-se com suas últimas joias.
E olha para o lado, imóvel.

Está vendo os salões que se acabaram,
embala-se em valsas que não dançou,
levemente sorri para um homem.
O homem que não existiu.

Se alguém lhe disser que sonha,
levantará com desdém o arco das sobrancelhas,
Pois jamais se viveu com tanta plenitude.

Mas para falar de sua vida
tem de abaixar as quase infantis pestanas,
e esperar que se apaguem duas infinitas lágrimas.
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CARTAS DOS LEITORES

Uma coisa que faltava era o HUMANITAS escrever sobre a arte cinematográfica e sobre as grandes obras e astros do cinema. Fico feliz por ver minha sugestão acatada. Antonio Pedro Oliveira – Rio de Janeiro/RJ
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O ilustre jornalista Rafael Rocha e colaboradores estão de parabéns por este magnífico trabalho. Com a primeira página colorida o HUMANITAS entra em nova era. Ficou maravilhoso o jornal. Luiz Carlos Siqueira – Brasília/DF
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Belos poemas. Ótimos textos. Crônicas muito especiais. O jornal ficou muito lindo com a primeira página em cores. Amei! Vera Gomes – Olinda/PE
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Espetacular com a primeira página colorida. Luiz Carlos de Lima – Vitória/ES

HUMANITAS Nº 57 – MARÇO DE 2017 – PÁGINA DOIS



EDITORIAL

Idos de Março

O vidente fez um alerta ao grande conquistador romano Caio Júlio César: “cuidado com os idos de março!”
Outra vez estamos em março boquiabertos com a capacidade humana de sobreviver em um mundo violento.
Caio Júlio César ficou na história assassinado por um bando de traidores.
E o nosso Brasil também já teve seus idos de março quando um grupo de salafrários civis e militares, no distante ano de 1964, já no estertor do mês, criou um regime ditatorial que não deixa saudades, mas muitas sequelas que não podem ser esquecidas nem revogadas.
Mas também neste mês não nos faltam motivos de comemoração.
Março é o mês das mulheres.
Março é mês de festa para as cidades do Recife e de Olinda.
Porque é assim que a raça humana sobrevive. Recordando e vivendo alegrias variadas e desprezando os tempos de treva. Sempre existe uma luz no fim do túnel, e nós, pensadores, temos o dever de ajudar a mantê-la acesa aos olhos da humanidade.
Neste mês da mulher, melhor ouvi-las, senti-las, curtir junto a elas a vida e o prazer de viver.
Que as mulheres possam ir além do tempo. Que continuem a lutar por um mundo melhor. A mulher de hoje não deixa mais o tempo passar incólume pela janela.
Como bem disse o poeta, em toda mulher “existe uma linda menina cheia de graça que vem e que passa num doce balanço a caminho do mar”.
E para não deixar sem registro, eis que duas cidades libertárias fazem anos no dia 12 de março. Olinda, Patrimônio da Humanidade festeja seus 482 anos, sempre a contemplar do alto de suas colinas, a sua eterna companheira, Recife, capital de Pernambuco, que nessa mesma data completa 480 anos.
Como estamos vendo, os “idos de março” devem e têm de ser radiantes para todos nós.
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Intersexo: não existem apenas homens e mulheres

Francine Oliveira - mestre em Teoria Literária e Crítica de Cultura
São João Del Rei/MG

Ao nascer, o bebê será identificado pelo obstetra como "menino" ou "menina". Mas e quando não é possível saber? Embora livros escolares de Ciência não falem sobre isso, a ocorrência de casos em que se instala a incerteza é frequente.
Em termos gerais, um em cada 100 indivíduos nasce sem estar dentro do padrão anatômico feminino ou masculino.
Se considerarmos a configuração genética (XX ou XY) há uma estimativa de que uma em cada duas mil pessoas nasce fora desse espectro - isso mesmo, elas não são nem "XX", nem "XY".
Para além da questão dos genes, usa-se o termo "intersexo" para se referir a qualquer pessoa que apresente características biofisiológicas que não permitem que ela seja designada inteiramente como homem ou mulher.
Na maior parte dos casos, ser intersexo não afeta em nada a saúde do indivíduo e nem mesmo se encara como um problema médico, contudo, essas pessoas sofrem por conta do estigma de não estarem dentro dos padrões socialmente estabelecidos.
Assim, muitos dos bebês intersexo passam por cirurgia quando ainda são recém-nascidos, ou passam por tratamento com hormonização ainda na infância, por opção dos próprios pais, e, por vezes, não tomam conhecimento de sua condição.
O problema é que, não raro, essa decisão é feita com base na aparência dos genitais da criança, sem levar em consideração como isso pode afetar o desenvolvimento sexual da pessoa, havendo muitos casos em que os tratamentos resultam em esterilização involuntária (e desnecessária).
O fato de poucas pessoas saberem da existência dessa condição mostra a dificuldade em aceitar perspectivas fora dos binarismos, que organizam pensamento social.
A redução do sexo a apenas dois polos é uma construção social que guarda uma relação apenas limitada com o que se poderia considerar como natural - ou seja, que ocorre na natureza. 
Se, nem mesmo a biologia restringe o sexo a "macho" e "fêmea", não há porque se apegar a duas únicas expressões de gênero como válidas, negando a legitimidade de outras identidades.

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2017

HUMANITAS Nº 57 – MARÇO DE 2017 – PRIMEIRA PÁGINA





PARABÉNS ÀS CIDADES LIBERTÁRIAS!
Recife – 480 anos
Olinda – 482 anos
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MARÇO TAMBÉM É O MÊS DE ABRAÇAR A MULHER!
Texto da jornalista Ana Maria Leandro, na PÁGINA 4
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Na PÁGINA 5, o escritor Araken Vaz Galvão Sampaio, Valença/BA, salienta ser um ato de racismo propagar que o baiano seja preguiçoso e “malemolente”
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O professor de História, Paulo Alexandre, disserta, na PÁGINA 7, sobre a ordem de construção de um muro entre os EUA e o México dada pelo presidente ianque Donald Trump
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Na PÁGINA 2, Francine Oliveira, Mestre em Teoria Literária e Crítica de Cultura, diz que um em cada 100 indivíduos nasce sem estar dentro do padrão anatômico feminino ou masculino
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A questão filosófica não é o “por que vivo?”, mas sim o “como vivo?”Na PÁGINA 6, o escritor e colaborador Décio Schroeter, de Porto Alegre/RS,disserta sobre esse tema
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O REFÚGIO POÉTICO, na PÁGINA 3, traz para os leitores poemas de Sylvia Plath, Ivy Gomide e Cecília Meireles