segunda-feira, 27 de fevereiro de 2017

HUMANITAS Nº 57 – MARÇO DE 2017 – PÁGINA SEIS

O VERDADEIRO SENTIDO DA VIDA

Texto de Décio Schroeter - Escritor – Porto Alegre/RS
Especial para o Humanitas
Texto extraído de Irreligiosos.ning.com

As pessoas morrem não porque os deuses o decretaram, mas em decorrência de uma série de falhas “técnicas”: infecção, câncer ou um ataque do coração.
O DNA em nossas células é com frequência danificado sob condições rotineiras, mas nossas células têm diversos sistemas de reparo de DNA.
Se um gene crucial for permanentemente danificado, há normalmente cópias extras do gene por perto. E se a célula inteira morrer, outras podem substituí-la. Temos um rim extra, um pulmão extra, uma gônoda extra, dentes extras, conforme Leonid Gavrilov, pesquisador da Universidade de Chicago.
No entanto, conforme os defeitos de um sistema complexo vão aumentando, chega um momento em que apenas um defeito a mais é suficiente para danificar o todo, resultando na condição conhecida como fragilidade.
Acontece com carros, grandes organizações e com usinas, num instante a coisa toda deixa de funcionar.
E também acontece conosco: mais cedo ou mais tarde, o número de articulações e de artérias calcificadas é simplesmente grande demais. Não há mais backups. Nós nos desgastamos até não termos mais o que desgastar (Mortais: Nós, a Medicina e o que Realmente Importa no Final”,  de Atul Gawande, Editora Objetiva).
Algumas correntes filosóficas (por exemplo, humanismo, pós-humanismo, e, até certo ponto, o empirismo) geralmente asseveram que não há uma ultravida.
Um ateu e cético, ima­gina o seu futuro após a morte da mesma forma que ima­gina o seu pas­sado antes do seu nas­ci­mento: o nada, nulo, isento de expe­ri­ên­cia ou de noção seja do que for.
Animais morrem, amigos morrem e todos morreremos, mas uma coisa nunca morre, que é a reputação que é deixada após a morte.
A única coisa que poderemos conseguir será uma exuberante paz de espírito, a qual nos dará coragem e tranquilidade para enfrentar a morte. Assim iremos para o túmulo (ou cremação) em paz com a consciência de dever cumprido.
Para muitos, a ques­tão filo­só­fica não é o “por ­quê vivo?” mas sim o “como vivo?” É na res­posta a essa ques­tão que se pode encon­trar o sen­tido de existência.
Lembre-se somente de uma coisa: “você é um ser mortal”.  Se você não está apegado a nada, a morte pode vir neste exato momento ou na próxima esquina e você estará em atitude de boas-vindas.
Livre-se do apego da morte e estará absolutamente pronto para ir.  O meu medo de morrer era não deixar a minha contribuição com a verdade (que não é absoluta) genuína e original da minha própria consciência.
Porque “quem morre sem dizer verdadeiramente, o que pensa, é o que morre de verdade”. Morrerá e levará consigo aquele seu pensamento que não fez publicar. A curiosidade intelectual existe em algumas pessoas e é provável que sirva para libertá-las de certas ilusões que persistem até hoje.
A verdade é para quem não tem medo de morrer. Os ateus, agnósticos, racionalistas, humanistas seculares, céticos que investigam, comparam, perguntam, questionam, duvidam, já o fizeram, e não desembarcaram nesse mundo a passeio.
Discordam do que pensam e propagam os doutrinadores, simplesmente porque não toleram mentiras. E são muitos os que escreveram um livro, por exemplo, que também é uma forma de perpetuar a memória. Tem a ver com a nossa vontade, que é antiga, de continuar vivendo.
Sêneca dizia que o homem vive preocupado em viver muito e não em viver bem, quando não depende dele viver muito, mas viver bem. “Só quem aceita a morte e está pronto para morrer pode sentir o verdadeiro sabor da vida”.
O filósofo Epicuro chamou de tolice e aflição temer a morte e a espera da morte, pois enquanto vivemos ela não existe, e quando ela chega, nós nos retiramos e não existiremos mais. Segundo ele, os maiores obstáculos para a felicidade humana são o temor da morte e o medo da ira divina”, mas eles podem ser eliminados graças ao conhecimento da natureza.
A ética de Epicuro assegura aos homens que a felicidade é facilmente alcançável, desde que algumas poucas necessidades naturais sejam satisfeitas, pois a felicidade não é outra coisa que a ausência de dor física e um estado de ânimo livre de qualquer perturbação ou paixão.
Assim, a felicidade, para Epicuro, se identifica com um prazer estável, que os gregos chamavam de “ataraxia”.


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