sábado, 30 de dezembro de 2017

HUMANITAS Nº 67 – JANEIRO DE 2018 –PÁGINA 6

Manual de americanalhice, ou seja, para ser americano do Norte

Araken Vaz Galvão é escritor e membro da Academia de Artes do Recôncavo. Mora em Valença/BA

Primeira Lição - Para ser americano (dos Estados Unidos), o sujeito precisa – além de ter um bom plano, pois todo americano (dos Estados Unidos) sempre o tem – nascer nos Estados Unidos e, para tal, deve alertar os pais (e/ou a cegonha) – antecipadamente – para que tomem as providências cabíveis.
Não pode esquecer que nos Estados Unidos só se é americano da gema se for um WASP, isso significa que o melhor lugar para se nascer são os estados da Pensilvânia e de Massachussetts, as cidades de Filadélfia e Boston são consideradas o fino do fino. Não sendo possível, deve nascer em qualquer uma das antigas 13 colônias inglesas. Isso é importante.
O sul (profundo) não conta, há muito coloured”, e se você é brasileiro, com a possibilidade de seus ancestrais terem (sempre têm) um pé na senzala, é um perigo. O oeste, como você sabe é terra de cowboys” (que recentemente se descobriu que eram gays), ou seja, de gente rústica, o que sempre é um ponto a menos, ainda que seja melhor do que nada. A Califórnia, embora seja muito rica, caso você não tenha de berço o destino manifesto para surfista, hippie ou gay ou lésbica, é um perigo; possui muitos orientais e... hispânicos.
A única coisa que você não pode é ser confundido com um hispânico. Melhor ser confundido com um dog”.
Nem pensar em algum outro estado que tenha fronteira com o México, ali o perigo é maior e você poderá ser chamado de cucaracha”. Contudo, esses estados são importantes como trampolins, pois servem para se entrar clandestino, porém você não quer ser tal coisa, seu dream é ser gringo puro sangue, com pedigree e tudo.
Há uma coisa que você não pode esquecer, seja onde for o lugar onde você nascer (lá), é que você tem que ser durão e provar isso a toda hora.
Agora, o básico, o fundamental, o decisivo, o que jamais pode ser esquecido, é que os americanos (dos Estados Unidos), ou seja, os estadunidenses, dividem-se em três grandes grupos: os perdedores, 71%; os políticos, 5%; e os vencedores, 14% da população, mais ou menos.
Os vencedores são os Mellon, os Du Pont, os Ford, os Rockefeller, os Dillon, et caterva. Os que ficaram ricos construindo impérios no fundo do quintal ou na garagem, do tipo Bill Gates, são emergentes – igual que aqui – mas contam muito e muito mais. Os políticos, são aqueles que, servindo aos vencedores, estão – lá, como aqui – sempre por cima da carne seca.
Os perdedores, os 71% da população, são a fortíssima classe média que ganha o suficiente para pensar que é vencedora, e é justamente neste grupo social que você deve sonhar ingressar.
Ah! Você fez as contas e notou que a soma dá 90% da população e pergunta: “onde estão os 10% restantes?”
Estão na Máfia, ou melhor, nas máfias, a italiana, a mais forte e numerosa; a judia; a polonesa; a irlandesa; a negra; a russa, a mais nova, a alemã, e assim sucessivamente. O que sobrar desses 10%, se sobrar, está nas prisões.
Com um plano bem estruturado e tomadas essas elementares providências, você terá uma grande surprise”.
Para ser um autêntico WASP, o seu tetravô teria que ter ido para as colônias inglesas da América do Norte no Mayflower”, ou ali por volta de 1664, o mais tardar, um pouco antes de 1775, para ter tempo de participar do primeiro Independence Day”; mas se seu tetravô veio como degredado para south American, então a coisa se complica e você já começou no prejuízo (...), ainda que só um imbecil corra atrás de prejuízos... Porém se uma pessoa deseja ingressar no American way of life” só pode ser um.
Aguardem a segunda lição. Enquanto isso, desejo a todos um Feliz Ano Novo.

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