Água: apenas fonte de vida?
Sérgio Alves é professor. Atua na cidade
do Recife/PE
O leitor deve imaginar o porquê da
interrogação ao final do título do artigo. Uma vez que nos foi ensinado desde
as séries iniciais da nossa vida escolar, que a água sempre foi e será a fonte
principal de nossas vidas. Aprendemos também que nosso corpo é composto por
aproximadamente 70% desse líquido precioso, inodoro, sem cor definida e muito
saboroso de degustar quando sentimos sua falta.
E ainda, caro leitor, basta olhar com mais
atenção ao redor de nossas vidas, o que temos feito com esse recurso natural,
até pouco tempo atrás, fonte “inesgotável”?.
A água é, sim, motivo de preocupação.
Não basta apenas olhar e nos indignarmos
com o que o outro tem feito com esse recurso natural tão precioso. A mudança de
hábitos danosos ao seu uso deve começar em nós.
E com urgência.
Diariamente são publicadas e veiculadas
notícias sobre o aumento assustador da falta de água limpa e potável para o
consumo humano ao redor do mundo inteiro. Não temos tempo a perder na busca de
soluções.
O governo norte-americano afirma que dos
seus 50 estados, 40 deles enfrentarão em breve um desequilíbrio entre a água
disponível em seus solos e o crescente consumo desse bem.
É provável que esse dado norte-americano
esteja sendo otimista, pois, acredita-se que 60% da superfície terrestre do
planeta estejam em situação similar ou pior.
O que esperamos e o que sofreremos quando
esse desequilíbrio for mais intenso e real?
Poderíamos elencar aqui uma infinidade de
eventos catastróficos, culminando com o mais devastador de todos: a extinção
de vidas. No entanto, deixemos de lado os EUA e vamos para a realidade
brasileira. País que possui os maiores reservatórios de água do planeta. País
que poderia ser referência nesse campo.
No livro, Faça-se a Água, de Seth M. Siegel, há uma frase de Shimon Tal,
ex-chefe da Comissão Israelense da Água, que nos chama atenção e enquadra o
Brasil nesse pensamento. Diz ele: “Você
fica sabendo muito sobre um país pelo jeito como este administra a água”.
Ficamos imaginando se esse senhor visitasse
nosso país. Com certeza ficaria horrorizado. Tem realidade mais dura que essa?
Que práticas os brasileiros têm usado para amenizar os danos às suas reservas
hídricas? Nenhuma. Pelo contrário, apenas desperdício.
Não citaremos aqui o poder público como o
único responsável. Seria fácil demais culpá-lo e, assim, nos isentar da
responsabilidade. Citaremos situações do dia-a-dia, em nossas residências.
Citaremos a parte que nos cabe como corresponsáveis para um problema que
precisamos enfrentar.
O leitor já parou para pensar que a água
que chega às nossas torneiras (quando chega...) sofreu todo um processo de
tratamento da companhia de saneamento?
Essa água servirá para vários fins: lavar
roupas – tomar banho – cozinhar - descarga no vaso sanitário e para beber
(embora a maioria de nós não a beba...). Ora, existem pessoas que teimam em
usá-la para outros fins.
Como não ficarmos indignados com aquele
vizinho que insiste em aposentar a vassoura, usando essa mesma água tratada
para lavar sua calçada, para lavar as paredes da casa?
Como não ficarmos indignados quando o
vizinho resolve lavar o carro e por horas a mangueira fica aberta, jorrando
muita água tratada? Como não ficarmos indignados quando o vizinho resolve “baixar o calor” aguando a rua em
frente de sua casa em quase todos os dias de verão?
Confessamos que alguns desses vícios
danosos foram habituais em nossas vidas, no entanto, após morarmos por dois
anos em Arcoverde, sentimos e aprendemos o valor da água ou a falta dela.
E o que dizer das pessoas que passam horas
tomando banho de chuveiro? E pior, quando estão passando no corpo sabonete ou
shampoo e não fecham a torneira?
Falando em lavagem de carro, é costume em
nosso país, nos dirigir ao serviço de lava a jato. Ficamos pensando: será que
esse serviço utiliza a mesma água tratada que chega às nossas torneiras? Se
afirmativo, quanto o dono desse comércio paga na fatura do mês?
Será vantajoso para ele?
Como em quase toda esquina ou quarteirão
existe um lava a jato, acreditamos que dê lucro. No entanto, apenas um palpite,
se há lucro para o dono – será que a captação dessa água é feita de forma
ordeira?
Será que a captação dessa água não é feita
através da perfuração de poços artesianos? Como permitir tamanho desperdício
com nosso lençol freático? Nesse sentido, o poder público deve atuar com o
pulso forte.
Sim,
caro leitor, podemos trabalhar no sentido de melhorar o uso e reuso da água que
nos chega, sob pena de num futuro bem próximo, a água seja disputa ou motivo de
guerra entre as nações.
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