OS FILMES DE TERROR
ATRAVÉS DOS TEMPOS...
E O QUE ESTÁ POR TRÁS DELES
(4)
Celso
Lungaretti é jornalista. Mora e atua em São Paulo/SP
CANIBALISMO,
EPIDEMIAS E APOCALIPSE ZUMBI
Finalmente, no
Século XXI está havendo um verdadeiro boom de filmes de terror de baixo
orçamento, com pouco rock e pouco humor, tendo em seus elencos ilustres
desconhecidos em busca da fama, com argumentos sempre centrados em grupos de
adolescentes e seus hormônios, interesses e tecnologias (por mais indigesta que
seja a mistura da modernidade de celulares e internet com o primitivismo do
sobrenatural).
Podem ser, de
forma meio esquemática, divididos em quatro grupos.
Há os filhotes
de A bruxa de Blair (de
Daniel Myrick e Eduardo Sánchez, 1999), os falsos documentários, com suas
imagens tremidas que chegam a desaparecer por momentos, como se se tratasse de
algo verdadeiro filmado pelos envolvidos na ação com seus telefones celulares.
Os enredos costumam ser mais toscos ainda do que o visual.
Os filhotes de O
massacre da serra elétrica (Tobe Hopper, 1974), A
montanha dos canibais (Sergio Martino, 1978), Holocausto
canibal (Ruggero Deodato, 1980) e O silêncio dos inocentes (Jonathan
Demme, 1991), explorando de forma doentia a repulsa que a antropofagia desperta
nas pessoas comuns.
Os filhotes da
novela I'm the legend, do genial escritor de sci-fi Richard
Matheson, que deu origem aos filmes Mortos que matam (1964), A
última esperança da Terra (1971, disparado o melhor dos
três) e Eu sou a lenda (2007), além de todo o mundaréu de
títulos sobre epidemias que dizimam a espécie humana.
E os filhotes
de A noite dos mortos-vivos, com que George A. Romero
atualizou e revitalizou em 1968 o tema dos zumbis, já não mais mostrados como
vítimas individuais dos feiticeiros do vudu haitiano, mas sim como cadáveres
que algum tipo de contaminação no cemitério (química, radiativa etc) faz saírem
em massa das tumbas para trucidarem e/ou devorarem os vivos.
Os dois últimos
conjuntos, o do contágio e o do apocalipse zumbi, denotam um paradoxal medo da
morte por parte dos jovens, que não deveriam estar nem aí para isso. Por trás
de sua aparente insensibilidade, eles se mostram atraídos por produções que
giram em torno dos últimos dias
de (nossa) Pompeia.
É difícil
identificarmos o motivo inconsciente de tal fascínio, até porque nem sequer
catarse tais filmes fornecem: são distopias que acabam muito mal, com os raros
sobreviventes geralmente condenados ou sem grandes esperanças.
Será apenas
porque as fatalidades deixam de nos aterrorizar tanto quando nos acostumamos à
ideia?
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