sexta-feira, 1 de dezembro de 2017

HUMANITAS Nº 66 – DEZEMBRO DE 2017 – PÁGINA 5


OS FILMES DE TERROR ATRAVÉS DOS TEMPOS...
 E O QUE ESTÁ POR TRÁS DELES    
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Celso Lungaretti é jornalista. Mora e atua em São Paulo/SP

CANIBALISMO, EPIDEMIAS E APOCALIPSE ZUMBI
Finalmente, no Século XXI está havendo um verdadeiro boom de filmes de terror de baixo orçamento, com pouco rock e pouco humor, tendo em seus elencos ilustres desconhecidos em busca da fama, com argumentos sempre centrados em grupos de adolescentes e seus hormônios, interesses e tecnologias (por mais indigesta que seja a mistura da modernidade de celulares e internet com o primitivismo do sobrenatural).
Podem ser, de forma meio esquemática, divididos em quatro grupos.
Há os filhotes de A bruxa de Blair (de Daniel Myrick e Eduardo Sánchez, 1999), os falsos documentários, com suas imagens tremidas que chegam a desaparecer por momentos, como se se tratasse de algo verdadeiro filmado pelos envolvidos na ação com seus telefones celulares. Os enredos costumam ser mais toscos ainda do que o visual.
Os filhotes de O massacre da serra elétrica (Tobe Hopper, 1974), A montanha dos canibais (Sergio Martino, 1978), Holocausto canibal (Ruggero Deodato, 1980) e O silêncio dos inocentes (Jonathan Demme, 1991), explorando de forma doentia a repulsa que a antropofagia desperta nas pessoas comuns.
Os filhotes da novela I'm the legend, do genial escritor de sci-fi Richard Matheson, que deu origem aos filmes Mortos que matam (1964), A última esperança da Terra (1971, disparado o melhor dos três) e Eu sou a lenda (2007), além de todo o mundaréu de títulos sobre epidemias que dizimam a espécie humana.
E os filhotes de A noite dos mortos-vivos, com que George A. Romero atualizou e revitalizou em 1968 o tema dos zumbis, já não mais mostrados como vítimas individuais dos feiticeiros do vudu haitiano, mas sim como cadáveres que algum tipo de contaminação no cemitério (química, radiativa etc) faz saírem em massa das tumbas para trucidarem e/ou devorarem os vivos.
Os dois últimos conjuntos, o do contágio e o do apocalipse zumbi, denotam um paradoxal medo da morte por parte dos jovens, que não deveriam estar nem aí para isso. Por trás de sua aparente insensibilidade, eles se mostram atraídos por produções que giram em torno dos últimos dias de (nossa) Pompeia
É difícil identificarmos o motivo inconsciente de tal fascínio, até porque nem sequer catarse tais filmes fornecem: são distopias que acabam muito mal, com os raros sobreviventes geralmente condenados ou sem grandes esperanças. 
Será apenas porque as fatalidades deixam de nos aterrorizar tanto quando nos acostumamos à ideia?

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