OS FILMES DE TERROR
ATRAVÉS DOS TEMPOS...
E O QUE ESTÁ POR TRÁS DELES
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Celso
Lungaretti é jornalista. Mora e atua em São Paulo/SP
O SANGUINOLENTO TERROR ZOOLÓGICO
Na década
seguinte, veio a voga do terror zoológico, desencadeada em 1975 por Tubarão,
de Steven Spielberg.
Dessa vez, o
homem se via confrontado por animais de dimensões comuns (cobras, abelhas,
aranhas, cães, polvos, baleias, piranhas), mas que, por conta dos desvarios
ecológicos ou de experiências científicas malogradas, voltavam-se contra ele.
São filmes em que
se percebe certo complexo de culpa pelos danos causados à natureza e às
espécies animais, mas, ao mesmo tempo, aprofunda-se o fosso entre o homem e a
vida selvagem.
Ou seja, parecem
reforçar o condicionamento dos urbanoides que subsistiam em oposição ao habitat
natural, reconfigurando-o ao invés de harmonizar-se com ele.
Além disso, a
crueza com que são mostrados os ataques de animais contra seres humanos
denuncia uma enorme carga de agressividade reprimida nas plateias, que vibravam
ao verem gente sendo estraçalhada.
A morbidez se
manteve nos anos 80, com dilacerações explícitas salpicando de sangue os
espectadores.
O psiquiatra
Thomas Radecki disse certa vez que existiam mais de mil estudos científicos e
reportagens sobre a violência desmedida nos filmes, sendo que 75% deles
concluíram que havia um sensível aumento de atitudes antissociais e violentas
depois de as pessoas assistirem a tais filmes.
A FÚRIA DAS CRIANÇAS MIMADAS
O público-alvo
desse terror de base sadomasoquista era o juvenil e adolescente.
Praticamente
desde o início da década de 1980, nas salas de exibição a predominância passou
a ser dos menores de 18 anos, daí a produção ter sido cada vez mais
direcionadas para estas faixas etárias. E, com a disseminação do VHS e do DVD,
o terror para jovens virou verdadeira mania.
Tratava-se de um
filão em que o sobrenatural tinha como adversários não mais os amadurecidos
mestres em ocultismo, mas sim garotos e rapazes; as carnificinas alternavam-se
com alívios cômicos; e a trilha sonora era de heavy metal.
A extrema
agressividade implícita nos jovens consumidores dessas fitas advinha do
narcisismo exacerbado que as crianças desenvolvem na sociedade de consumo.
Mimadas e
paparicadas à exaustão sentem como um crime de lesa-majestade os golpes que a
realidade vai desferindo contra suas ilusões de onipotência, daí a
agressividade que acumulam e para a qual esses filmes ofereciam projeção e
catarse.
Além disso, após
o período dourado da juventude vem o ingresso na sociedade extremamente
competitiva dos dias atuais, a começar pela guilhotina do vestibular.
Os filmes em que
jovens derrotam vampiros e monstros são simbolizações dos ritos de passagem,
servindo magicamente para revigorar a confiança dos adolescentes quanto a
enfrentar com êxito os desafios que marcarão sua transição para o mundo dos
adultos.
E a liberação
sexual que vinha num crescendo desde a os anos 60 não era isenta de castigos
(simbólicos). Grande parte desses filmes, e a série Sexta-feira 13 em
especial, insistia em mostrar, ad
nauseam, jovens namorados sendo trucidados por entes malignos logo
após terem mantido relações sexuais.
O outro
personagem emblemático do final do século XX foi Freddy Krueger, um fantasma que assombrava os sonhos da moçada da
rua em que ele havia sido linchado, podendo até causar a morte de quem não
acordasse depressa.
O ponto de
partida – um embaralhamento dos limites entre sonho e
realidade – foi ótimo, mas a série se estendeu até a saturação. Vale
pelos dois filmes que o criativo Wes Craven dirigiu: A hora do pesadelo (1984)
e O retorno de Freddy Krueger (1994), no qual a
entidade, consegue sair da dimensão onírica e interagir com realizadores e
atores (estes assumindo dois papéis, o de seus personagens e o deles próprios).
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