sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

Refúgio poético



Poemas publicados no HUMANITAS nº 17 – Dezembro/2013
Poema venal
Karline Batista – Professora – Aracati/CE

A alma sente sede de coisas etéreas
Então não tornais a alimentá-la
Dessa matéria efêmera
Desse prazer adâmico
Desse beijo orgânico
Porque tua alma sabe das outras realidades
Enquanto tu finges meias verdades
No ledo frêmito de veias minguantes

Diga lá a tua miséria
Que tu não temes a morte
Não lutas contra a sorte
Posto que é vão ir contra o vau
Quando somos apenas gota
Líquida e errante
Do soberbo manancial.
.......................................
Meu modo de viver
Antônio Carlos Gomes – Médico – Guarujá/SP

Passo a vida sem me preocupar:
-Se ela quiser se importe comigo!
Com comida e casa pra morar
Vivo muito bem em meu abrigo.

O vento é igual da montanha ao mar
Se canta virtudes e castigos
Posso rir, de que adianta chorar,
Só necessito de um ombro amigo.

Se o tempo passa, irei passar,
Chegará a hora que serei antigo
Indiferente, sem nem chorar
Acomodar-me-ei no meu jazigo.

As vidas são lapsos de momentos,
Onde se trabalham sentimentos.
.......................................
Escravo
Rafael Rocha – Recife/PE

Dizem-me escravo de mim
Acorrentado
Em grilhões de palavras.

Dizem-me escravo de paixões
Momentos criados
Em outros cotidianos.

Não sou escravo de mim
Sou escravo da vida
Não quero ser livre.

Prefiro manter o sonho humano
Onde criei andanças
Ao cantar bêbado sob o luar
.......................................
Verão
Marisa Soveral – Porto/PT

Nesta noite cálida,
flutuei em jardins suspensos
estonteantes de essências…fugi de mim
mas sei que sou caravela
dobrando o Cabo das Tormentas,
para chegar até ti.

preciso de forças para resistir
à vaga imensa que me atemoriza
um sitio onde me sinta bem
uma conversa sedutora
água para a sede ardente
anestesia afectiva…

Saturada de delírio melancólico
atroz sentimento de culpa
insegurança
revolta contra mim
nas noites longas
com os olhos em brasa
brilhando no escuro
sem cais de abrigo.
.......................................
A vida em duas doses
Victor Hugo Medeiros de Vasconcelos Recife/PE

Garçom,chegue logo!
Deixe de lado a velha camaradagem ,
traga-me uma dose de cicuta,
não me importa que a vida torne-se curta,
ou que ainda há algo a trilhar
por sobre este chão.

Ir de encontro a realidade é o mesmo
que dar de cara com um muro

Veja bem, não tenho estado tão seguro
mas sei o que há muito me aguardava
atrás deste balcão

Depois, ainda sem cortesias,
traga-me uma dose de cachaça,
para que num gole só, ao fim de tudo,
eu venha apenas a esquecer,
admitir que nisso há de se achar graça
e com um sorriso zombeteiro no rosto
hei de morrer.

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