segunda-feira, 30 de julho de 2018

HUMANITAS Nº 74 – AGOSTO DE 2018 – PÁGINA 5

A SUPERAÇÃO PELO CONHECIMENTO CIENTÍFICO
Especial do HUMANITAS

A ciência desafia, guia, conquista. A ciência liberta.
O conhecimento abre portas e ajuda a superar as situações mais difíceis.
O baiano Theodoro Sampaio talvez seja o maior exemplo de como a educação e a curiosidade promovem uma transformação positiva. Ele nasceu em uma senzala, em 7 de janeiro de 1855, filho de uma escrava, Domingas da Paixão do Carmo, no Engenho Canabrava, no município baiano de Santo Amaro da Purificação. Veio a se tornar um dos engenheiros mais importantes do Brasil de sua época.
Adotado por um padre, o jovem teve acesso a uma boa educação e, aos 16 anos, já dava aulas de matemática, geografia e latim. Anos mais tarde, tornou-se engenheiro e participou do mapeamento do rio São Francisco até sua foz. Por ser negro, entretanto, não recebeu os créditos pela empreitada.
Ele contribuiu de forma importante para o ciclo desenvolvimentista do Brasil da segunda metade do século XIX e início do século XX. Foi engenheiro civil, geólogo, geógrafo, historiador, político, cartógrafo e urbanista.
No Rio de Janeiro, estudou humanidades no Colégio São Salvador e diplomou-se em engenharia civil pela Escola Politécnica, em 1876.
Em 1879, fez parte da Comissão Hidráulica do Império. Projetou os melhoramentos do Porto de Santos, estudo publicado em um artigo na Revista de Engenharia, de 10 de agosto do mesmo ano.
Em 1883, foi nomeado primeiro engenheiro da Comissão de Melhoramentos do Rio São Francisco.
Em 1886, fez o levantamento para a carta geológica de São Paulo. Em 1898, foi nomeado diretor e engenheiro-chefe do Saneamento do Estado de São Paulo, onde permaneceu até 1903. Suas ideias sobre o desenvolvimento urbano das grandes cidades foram contribuições importantes para a época.
Retornou à Bahia, em 1904, onde desenvolveu e publicou vários estudos científicos. Escreveu os livros História da Fundação da Cidade da Bahia” e o Tupi na Geografia Nacional”, obras que, ainda hoje, são referências bibliográficas importantes em ciências humanas. Foi fundador e presidente do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia. Eleito deputado federal, em 1927.
Foi um dos integrantes da Comissão Hidráulica que, no final do século XIX, empreendeu uma viagem de 3 mil quilômetros pelo interior do Brasil. Boa parte da expedição aconteceu em navegações pelo rio São Francisco, desde sua foz, no oceano Atlântico, até a cidade de Pirapora (MG).
O retorno ocorreu por terra, pelas veredas da Chapada Diamantina.
Sampaio descreve as cidades e sua gente, as condições da viagem e os elementos naturais dos estados de Alagoas, Sergipe, Bahia, Pernambuco e Minas Gerais.
Seus apontamentos apareceram pela primeira vez em capítulos na revista mensal “Santa Cruz”, entre 1900 e 1903.
Também foi responsável pela exploração dos rios Itapetininga e Paranapanema, no estado de São Paulo.  
Teodoro possuía inúmeras inquietações intelectuais, que o levaram a realizar diversos estudos sobre os índios brasileiros e sua língua, posteriormente publicados como “O Tupi na Geografia Nacional” (1901).
Seus conhecimentos sobre História do Brasil renderam-lhe reconhecimentos por parte de estudiosos como Gilberto Freyre.
De acordo com ele, os escravos não eram tratados como seres humanos e lamentava o papel da igreja católica, que fechava os olhos à escravatura:
“A nossa religião é um sistema de superstições e de abusos antissociais; nosso clero, na maior parte ignorante e corrompido, é o primeiro que se serve dos escravos, e os acumula para enriquecer e para formar muitas vezes, com as desgraçadas escravas, um harém”.
Theodoro Sampaio morreu no dia 11 de outubro de 1937, aos 82 anos, no Rio de Janeiro. Sua vida e a sua obra certificam que o conhecimento científico faz o homem superar as adversidades.

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