MIGUEL ARRAES: O HUMANISTA DERRUBADO
PELO GOLPE CIVIL/MILITAR DE 1º DE ABRIL DE 1964
Rafael Rocha é jornalista e editor geral
deste HUMANITAS. Atua no Recife/PE
Neste
mês de agosto completam-se treze anos do falecimento (13 de agosto de 2005) de
um dos maiores líderes da esquerda brasileira.
Miguel
Arraes de Alencar foi o último representante da geração de políticos que marcou
fortemente a História do Brasil no século XX.
Nascido
no dia 15 de dezembro de 1916 no Araripe (CE), Arraes teve forte atuação na
política regional pernambucana.
Estudou
Direito, no Rio de Janeiro, em 1932, e iniciou sua vida pública em 1947, ao ser
indicado para a chefia da Secretaria da Fazenda, em Pernambuco.
Apesar
de ser cearense, Arraes construiu sua carreira política em Pernambuco, onde se
elegeu para cargos no Legislativo e Executivo.
Foi
amigo pessoal do presidente Luís Inácio Lula da Silva, a quem sempre apoiou
desde sua primeira campanha presidencial.
No dia
1º de abril de 1964, o cearense Arraes saiu do palácio do governo de Pernambuco
para entrar na história humanista.
Apeado
de seu primeiro mandato como governador pelo regime militar, ele adquiriu, aos
olhos de seu eleitorado, uma aura que perdurou pelas décadas seguintes.
Nesse
1º de abril, do lado de fora do Palácio do Campo das Princesas, no Recife,
militares fortemente armados não deixavam ninguém passar.
Com
canhões apontados para o Palácio do Campo das Princesas, exigiam que o
governador de Pernambuco renunciasse ao cargo e abandonasse o local.
Perto
dali, uma centena de estudantes preparava uma passeata de apoio ao governador.
Miguel Arraes de Alencar recusou-se a cumprir a ordem para não trair a vontade
dos que o elegeram e foi preso.
O dia
era 1º de abril de 1964, uma quarta-feira. No dia anterior, havia sido
deflagrado o golpe militar que derrubou o presidente João Goulart.
Pelos
21 anos seguintes o Brasil iria viver sob uma ditadura de milicos apoiada por
aquela parcela da sociedade civil que não se identificava com a voz do povo.
Aqui
estamos lembrando o nome desse homem, pois a história de líderes desse naipe
tem de ser levada ao conhecimento dos mais jovens de nossa terra. Deve ser
lembrada sempre.
Personalista,
populista e político por absoluta vocação, Arraes foi preso, exilou-se e voltou
ao Brasil sob os auspícios da Lei da Anistia, em 1979.
Elegeu-se
mais duas vezes governador de Pernambuco (em 1986 e 1994) e três vezes deputado
federal e presidiu o Partido Socialista Brasileiro. Tornou-se um mito no
universo político nacional.
Em seu livro, “Tempo de Arraes”, o escritor Antonio Callado salienta que "nos anos 60, Pernambuco era o maior
produtor de ideias do Brasil".
O Estado adquiriu essa condição "em decorrência de movimento de massa e
da eleição para o governo estadual de um homem ligado ao povo".
E Miguel Arraes foi o criador de um novo
horizonte histórico de sentido popular e nacionalista.
Conhecido como Arraia, entre os sertanejos, ele considerava-se um homem marcado,
tal como disse ao citar o trecho de um poema de Joaquim Cardozo no seu discurso
de posse do segundo mandato como governador de Pernambuco, em 15 de março de
1987:
"Sou
um homem marcado, mas esta marca temerária entre as cinzas das estrelas há de
um dia se apagar".
Difícil apagar isso.
O nome de Miguel Arraes de Alencar está
hoje inserido no panteão dos humanistas de Pernambuco, com ligação direta junto
ao povo da terra pernambucana e nordestina.
O presidente Lula divulgou a seguinte nota,
após a morte de Miguel Arraes e decretou três dias de luto:
"A morte do deputado federal e
ex-governador Miguel Arraes é uma enorme perda para o povo brasileiro. Arraes
foi, sem dúvida, uma das maiores lideranças das lutas populares que marcaram a
segunda metade do século 20 no Brasil.
Por isso, o presidente da República,
Luiz Inácio Lula da Silva, quer manifestar não só seu pesar pessoal pela perda
de um amigo, mas também grande tristeza pela ausência de um companheiro que com
sua experiência, sabedoria e capacidade de resistência fará muita falta no
trabalho em favor da justiça social em nosso país".
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