REFÚGIO
POÉTICO
TRIBUTO A ANÍBAL MACHADO
Aníbal Monteiro Machado
nasceu em Sabará (MG) no dia 9 de
dezembro de 1894 e faleceu no Rio de Janeiro (RJ) em 20 de janeiro de 1964.
Como crítico de artes plásticas no jornal Diário de Minas
trabalhou com os poetas Carlos Drummond de Andrade e João Alphonsus de
Guimaraens.
Começou na literatura ainda
estudante e no Rio de Janeiro ligou-se aos Modernistas, colaborando na Revista de Antropofagia, Estética, Revista Acadêmica e Boletim
de Ariel.
Publicou Vida Feliz, 1944; Histórias
Reunidas, 1955; Cadernos de João,
1957; João Ternura, em 1965.
Marcou presença no panorama do
conto brasileiro com Viagem aos Seios de
Duília; Tati, a Garota; e A Morte da Porta-Estandarte.
Ainda foi jogador de futebol e
participou do primeiro time do Clube Atlético Mineiro, em 1909, entrando no rol
da fama por ter marcado o primeiro gol da história dessa agremiação. Tinha o
apelido de Pingo.
Jogou por três anos, até se
formar em Direito, participando depois da diretoria do clube.
*****
LACUNA
Antônio Carlos Gomes - Guarujá/SP
Quando o vigor da
mocidade
Abandona a vida
Imediatamente
A lacuna é preenchida
Pela solidão
E ela conversa
É muito prosa
Traz recordações
Que desnudas de
ilusões
Dão o saber
Triste saber
Fora de hora
Não conteve na
juventude
O ímpeto que a arvora
E com ares de
sapiência
Enfrenta a mudez da
fala
Ante a surdez
Dos convivas ocupados
São jovens e estão
agitados.
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A SOPA E AS NUVENS
Charles Baudelaire
Minha pequena louca bem-amada servia-me o jantar enquanto eu, pela janela aberta da sala, contemplava as arquiteturas moventes, (...) os vapores, as maravilhosas construções do impalpável. E eu me dizia através da contemplação:
“Essas fantasmagorias
são quase tão belas quanto os olhos da minha bela bem-amada, a louquinha
monstruosa de olhos verdes”.
Subitamente senti um violento soco nas costas e ouvi uma voz
rouca e charmosa, uma voz histérica, como que enrouquecida pela aguardente, a
voz de minha bem-amada que dizia:
- Vamos logo, tome sua sopa, seu bobalhão, negociante
de nuvens.
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HOLOGRAMA
Rafael Rocha – Recife/PE
Do
livro: Poemas Escolhidos
Nossa
cama abre o infinito
Aos
nossos corpos restritos
Às
estrelas lá do céu
A
noite inteira o teu grito
Ecoa
tal qual o gemido:
- Teu corpo ao meu pertenceu!
Tem
sabor de graviola
O
beijo dado na boca
Tua
saliva melhor!
Teus
olhos são saltimbancos
Do
sexo dois pirilampos
Na
vertigem do amor!
Mas
hoje é apenas miragem
Um
sonho nesta paisagem
A
ferir meu coração
Que
tenta fazer reciclagem
Do
tempo velho e selvagem
Simples
e mera ilusão!
Estou
sozinho na cama
E
meu sonho grita e chama
O
eclodir de um amor
E
a mais antiga dama
É
apenas um holograma
De um corpo que já passou
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