sexta-feira, 9 de janeiro de 2015

HUMANITAS Nº 31 – JANEIRO/2015 – PÁGINA 3

REFÚGIO POÉTICO
TRIBUTO A ANÍBAL MACHADO

Aníbal Monteiro Machado nasceu em Sabará (MG) no dia 9 de dezembro de 1894 e faleceu no Rio de Janeiro (RJ) em 20 de janeiro de 1964.
Como crítico de artes plásticas no jornal Diário de Minas trabalhou com os poetas Carlos Drummond de Andrade e João Alphonsus de Guimaraens.
Começou na literatura ainda estudante e no Rio de Janeiro ligou-se aos Modernistas, colaborando na Revista de Antropofagia, Estética, Revista Acadêmica e Boletim de Ariel.
Publicou Vida Feliz, 1944; Histórias Reunidas, 1955; Cadernos de João, 1957; João Ternura, em 1965.
Marcou presença no panorama do conto brasileiro com Viagem aos Seios de Duília; Tati, a Garota; e A Morte da Porta-Estandarte.
Ainda foi jogador de futebol e participou do primeiro time do Clube Atlético Mineiro, em 1909, entrando no rol da fama por ter marcado o primeiro gol da história dessa agremiação. Tinha o apelido de Pingo.
Jogou por três anos, até se formar em Direito, participando depois da diretoria do clube.
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LACUNA
Antônio Carlos Gomes - Guarujá/SP

Quando o vigor da mocidade
Abandona a vida
Imediatamente
A lacuna é preenchida
Pela solidão

E ela conversa
É muito prosa
Traz recordações
Que desnudas de ilusões
Dão o saber

Triste saber
Fora de hora
Não conteve na juventude
O ímpeto que a arvora
E com ares de sapiência
Enfrenta a mudez da fala
Ante a surdez
Dos convivas ocupados
São jovens e estão agitados.
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A SOPA E AS NUVENS

Charles Baudelaire


Minha pequena louca bem-amada servia-me o jantar enquanto eu, pela janela aberta da sala, contemplava as arquiteturas moventes, (...) os vapores, as maravilhosas construções do impalpável. E eu me dizia através da contemplação:
“Essas fantasmagorias são quase tão belas quanto os olhos da minha bela bem-amada, a louquinha monstruosa de olhos verdes”. 
Subitamente senti um violento soco nas costas e ouvi uma voz rouca e charmosa, uma voz histérica, como que enrouquecida pela aguardente, a voz de minha bem-amada que dizia:
- Vamos logo, tome sua sopa, seu bobalhão, negociante de nuvens.
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HOLOGRAMA
Rafael Rocha – Recife/PE
Do livro: Poemas Escolhidos

Nossa cama abre o infinito
Aos nossos corpos restritos
Às estrelas lá do céu
A noite inteira o teu grito
Ecoa tal qual o gemido:
- Teu corpo ao meu pertenceu!

Tem sabor de graviola
O beijo dado na boca
Tua saliva melhor!
Teus olhos são saltimbancos
Do sexo dois pirilampos
Na vertigem do amor!

Mas hoje é apenas miragem
Um sonho nesta paisagem
A ferir meu coração
Que tenta fazer reciclagem
Do tempo velho e selvagem
Simples e mera ilusão!

Estou sozinho na cama
E meu sonho grita e chama
O eclodir de um amor
E a mais antiga dama
É apenas um holograma
De um corpo que já passou

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