O homem como centro do pensamento
filosófico
Especial para o Humanitas
Juarez
Pedrossiano Goitá é escritor, poeta e
colaborador deste Humanitas. Mora em Fortaleza/CE
No Renascimento, a filosofia tomou outros rumos e o mais importante
deles foi o Humanismo. Qual seu particular conceito?
O Humanismo foi um período que
demarcou a produção literária iniciada no fim da Idade Média, entre o final do
século XV e início do século XVI. Trata-se de
um conjunto de ideias que valorizam as ações humanas e valores morais (justiça,
respeito, honra, liberdade, solidariedade, amor etc). O humanismo renascentista
propõe o antropocentrismo, ou seja, o homem como o centro do pensamento
filosófico, indo de encontro aos pensamentos da Igreja que cultivava o
teocentrismo (Deus no centro do pensamento filosófico).
No final do século XV, a Europa passava por grandes
mudanças (expansão marítima, desenvolvimento do comércio, surgimento de
pequenas indústrias, surgimento dos burgueses etc.) e todas essas
transformações foram agilizadas pelos humanistas. Eles eram estudiosos da
cultura clássica antiga, e foram peças importantes na divulgação de novas
idéias, novos conceitos e valorização dos direitos dos cidadãos.
A
filosofia desponta como uma atividade renovada, agora com interesse pelos
autores da antiguidade clássica como Virgílio, Aristóteles, Cícero e Horácio.
Neste
contexto em que surge o Humanismo, a visão antropocêntrica influencia em
todos os campos: literatura, música, escultura e artes plásticas.
Na literatura, os autores
que exerceram maior influência foram Dante Alighieri (Divina Comédia), Petrarca (Cancioneiro), Boccaccio (Decameron).
Todos italianos.
A Renascença representou o renascimento do Humanismo
da Antiguidade. Em busca de filosofias e moralidades alternativas às ideias
cristãs, que tinham sido universais durante a Idade Média, os humanistas da
Renascença estudaram as obras produzidas na Antiguidade Grega e Romana.
Tornou-se
uma obsessão o regresso ao passado clássico, à sua arte e cultura, o que
influenciou fortemente a educação. Este foi também o período em que a Europa
iniciou a sua longa caminhada para a secularização, que conduziria ao
afastamento da Igreja dos caminhos do poder. A burguesia e a nobreza, classes sociais que despontam no
final da Idade Média, passaram a dividir o poderio com a Igreja.
O Renascimento ainda
viu surgir o método empírico, usado até hoje e que foi fundamental para dar
credibilidade à Ciência. Assim, através do Humanismo, o Renascimento
contribuiu para a filosofia da época com uma nova atitude em relação à
humanidade; uma grande vitalidade intelectual; nova visão do mundo natural;
novo método científico que retirou da da religião o controle do conhecimento; e a
importância de apreciar a vida ao máximo.
Uma nova etapa do Humanismo surgiu no século
XVIII, com a chegada do Iluminismo, que teve as suas origens na Inglaterra, mas
que conheceu o seu auge na França. As idéias da Renascença foram aprofundadas e
outras mais surgiram como as de François Marie
Arouet, mais conhecido como Voltaire. Este filósofo francês (1694/1778) foi
o expoente maior do Humanismo Iluminista.
Tendo sido preso aos 23 anos devido aos seus versos
satíricos sobre as autoridades, foi libertado com a condição de sair do país.
Na Inglaterra, foi influenciado pela liberdade de expressão, tolerância
religiosa e racionalidade. Fez da sua vida uma luta constante contra o
fanatismo, a intolerância e o abuso de poder, atacando fortemente o poder
eclesiástico.
Apesar de não ser ateu, lutou contra a opressão
religiosa e a crença dogmática em Deus. Segundo ele, Deus apenas se podia
manifestar através da natureza e das leis naturais. Afirmava também que a
cegueira e a ignorância faziam com que os homens se perseguissem e se matassem
uns aos outros, em nome da religião.
Os humanistas do Iluminismo insurgiram-se contra as
velhas autoridades, como a da Igreja e a da aristocracia; defenderam o primado
da razão; trabalharam pela educação das massas. Eles ainda acreditavam no
progresso cultural e tecnológico; desejavam banir da religião o fanatismo e o
dogma; e lutavam pela inviolabilidade dos indivíduos, pela liberdade de expressão,
pela justiça, a filantropia e a tolerância.
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