sábado, 26 de março de 2016

HUMANITAS Nº 46 – ABRIL DE 2016 – PÁGINA SETE

O homem como centro do pensamento filosófico
Especial para o Humanitas
Juarez Pedrossiano Goitá  é escritor, poeta e colaborador  deste  Humanitas. Mora em Fortaleza/CE

No Renascimento, a filosofia tomou outros rumos e o mais importante deles foi o Humanismo. Qual seu particular conceito?
O Humanismo foi um período que demarcou a produção literária iniciada no fim da Idade Média, entre o final do século XV e início do século XVI. Trata-se de um conjunto de ideias que valorizam as ações humanas e valores morais (justiça, respeito, honra, liberdade, solidariedade, amor etc). O humanismo renascentista propõe o antropocentrismo, ou seja, o homem como o centro do pensamento filosófico, indo de encontro aos pensamentos da Igreja que cultivava o teocentrismo (Deus no centro do pensamento filosófico).
No final do século XV, a Europa passava por grandes mudanças (expansão marítima, desenvolvimento do comércio, surgimento de pequenas indústrias, surgimento dos burgueses etc.) e todas essas transformações foram agilizadas pelos humanistas. Eles eram estudiosos da cultura clássica antiga, e foram peças importantes na divulgação de novas idéias, novos conceitos e valorização dos direitos dos cidadãos.
A filosofia desponta como uma atividade renovada, agora com interesse pelos autores da antiguidade clássica como Virgílio, Aristóteles, Cícero e Horácio.
Neste contexto em que surge o Humanismo, a visão antropocêntrica influencia em todos os campos: literatura, música, escultura e artes plásticas.
Na literatura, os autores que exerceram maior influência foram Dante Alighieri (Divina Comédia), Petrarca (Cancioneiro), Boccaccio (Decameron). Todos italianos.
A Renascença representou o renascimento do Humanismo da Antiguidade. Em busca de filosofias e moralidades alternativas às ideias cristãs, que tinham sido universais durante a Idade Média, os humanistas da Renascença estudaram as obras produzidas na Antiguidade Grega e Romana.
Tornou-se uma obsessão o regresso ao passado clássico, à sua arte e cultura, o que influenciou fortemente a educação. Este foi também o período em que a Europa iniciou a sua longa caminhada para a secularização, que conduziria ao afastamento da Igreja dos caminhos do poder. A burguesia e a nobreza, classes sociais que despontam no final da Idade Média, passaram a dividir o poderio com a Igreja.
O Renascimento ainda viu surgir o método empírico, usado até hoje e que foi fundamental para dar credibilidade à Ciência. Assim, através do Humanismo, o Renascimento contribuiu para a filosofia da época com uma nova atitude em relação à humanidade; uma grande vitalidade intelectual; nova visão do mundo natural; novo método científico que retirou da da religião o controle do conhecimento; e a importância de apreciar a vida ao máximo.
Uma nova etapa do Humanismo surgiu no século XVIII, com a chegada do Iluminismo, que teve as suas origens na Inglaterra, mas que conheceu o seu auge na França. As idéias da Renascença foram aprofundadas e outras mais surgiram como as de François Marie Arouet, mais conhecido como Voltaire. Este filósofo francês (1694/1778) foi o expoente maior do Humanismo Iluminista.
Tendo sido preso aos 23 anos devido aos seus versos satíricos sobre as autoridades, foi libertado com a condição de sair do país. Na Inglaterra, foi influenciado pela liberdade de expressão, tolerância religiosa e racionalidade. Fez da sua vida uma luta constante contra o fanatismo, a intolerância e o abuso de poder, atacando fortemente o poder eclesiástico.
Apesar de não ser ateu, lutou contra a opressão religiosa e a crença dogmática em Deus. Segundo ele, Deus apenas se podia manifestar através da natureza e das leis naturais. Afirmava também que a cegueira e a ignorância faziam com que os homens se perseguissem e se matassem uns aos outros, em nome da religião.
Os humanistas do Iluminismo insurgiram-se contra as velhas autoridades, como a da Igreja e a da aristocracia; defenderam o primado da razão; trabalharam pela educação das massas. Eles ainda acreditavam no progresso cultural e tecnológico; desejavam banir da religião o fanatismo e o dogma; e lutavam pela inviolabilidade dos indivíduos, pela liberdade de expressão, pela justiça, a filantropia e a tolerância.

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