Desabafo de um ateu
Especial para o Humanitas
Juarez
Pedrossiano Goitá é escritor, poeta e
colaborador
deste Humanitas. Mora em Fortaleza/CE
Após viver de igreja em igreja, orando, fazendo
leituras bíblicas, comecei a sentir-me vazio, com dúvidas e fome de respostas e
conhecimento. Porém, o que eu encontrava em minhas leituras do dito livro
sagrado não respondia às dúvidas. Tudo porque uma frase martelava minha mente: "Fique quieto e calado, não procure
entender deus ou explicar deus, senão serás punido eternamente com o fogo do
inferno".
Fiquei chateado ao saber que deus iria me punir por
toda eternidade se eu procurasse respostas. E isso logo por um deus que se
intitula misericordioso e amoroso. Tudo porque eu desejava obter respostas
sobre a sua real existência.
Novamente continuei minhas leituras bíblicas, mas
nunca obtive resposta a mais simples que fosse para minhas dúvidas, apenas
intimidações desse suposto deus, a dizer o seguinte: "Não vou te dar prova real da minha existência. Tenha fé para
acreditar em mim, caso contrário serás punido severamente".
Essa "fé"
que era somente o medo de ser punido eternamente ficou a me consumir por
dentro durante anos, mas a dúvida continuou a existir dentro de mim. Então
fiquei em um combate interno racional muito parecido com o sentimento de que
algo estava errado, e muito errado.
Mas a curiosidade foi maior que tudo isso. Comecei a
ler e a pesquisar cada vez mais, e quanto mais eu estudava e pesquisava mais o
suposto deus e minha dúvida desapareciam.
Um dia, acabei refletindo melhor sobre esse deus
mimado, genocida, infanticida, autoritário, perseguidor, homofóbico, perverso,
escravista, machista e vingativo.
Comecei a pensar: como se pode adorar um ser que
pretende me prejudicar se eu não me ajoelhar perante ele? Como se pode adorar
um ser que por um plano divino deixa seus filhos sofrerem e morrerem? Como se
pode adorar um ser que criou intencionalmente um demônio para me punir e
amedrontar?
Novamente entrei em conflito de consciência e fui
pesquisar e ler mais ainda, quando repentinamente a ficha caiu. Será que toda
essa leitura bíblica não foi uma historinha inventada por homens que queriam
ter poder e controle sobre as pessoas?
Realmente, foi incrível observar tantas mortes,
arrecadação de verbas, vendas de indulgências, e pessoas que sequer podem
raspar as próprias pernas e axilas porque um ser que lhes deu a liberdade de
fazer o que quiser não gosta disso.
E tudo isso continua sendo imposto por igrejas,
templos, centros espíritas espalhados pelo mundo até os dias de hoje. Existe um
ditado que diz: "uma mentira dita
com convicção, muitas vezes e por muitas pessoas, termina tornando-se uma
verdade".
Então percebi que eu tinha virado um ateu.
Realmente, eu fiquei com medo de não ser aceito pela
sociedade, e assim continuava a me declarar religioso.
Mas, inspirado pelos movimentos sociais de que você
deve se assumir e se orgulhar do que você é, seja por cor, orientação sexual, e
crença ou a ausência dela, resolvi me assumir descrente.
Sofri preconceitos, sim.
Perdi algumas pessoas que se diziam amigas, mas
finalmente consegui a tão sonhada paz mental e felicidade plena.
Tenho hoje a consciência de que sou totalmente
responsável pelos meus atos e que a opinião alheia não passa de um inseto a
buscar picar meu corpo.
Ao tornar-me ateu conheci pessoas que gostam de mim
pelo que eu sou e penso, e não por ter um deus em comum com elas.
Gostam de mim, não porque vou à igreja aos domingos ou
porque ofereço dinheiro em dízimos.
Gostam de mim porque não acoberto o estupro de uma
criança cometido por um padre e/ou pastor, respeitados por serem representantes
desse deus.
Hoje, de cabeça erguida e pulmão cheio eu grito para
todos: "Sou ateu! Fodam-se todas as
divindades e quem é contra mim por isso...!"
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