A Europa se afasta do cristianismo
Carmén Vásquez – Madrid/Espanha
Especial
para o Humanitas
Originalmente elaborada pelo arquiteto Manuel Del
Busto, em 1912, a
Igreja de Santa Bárbara, em Llanera, Astúrias, ficou abandonada durante anos.
Um grupo de jovens descobriu o estabelecimento deserto
e decidiu realizar intensa reforma, transformando-o em uma pista de skate
pública, nomeada Kaos Temple.
Eles criaram através de um coletivo nomeado A Brigada da Igreja e buscaram
ajuda on-line, via financiamento coletivo.
A adaptação para uma pista de skate foi rápida, mas
ainda faltava um brilho para o local ficar perfeito.
O artista Okuda San Miguel foi comissionado para
cobrir as paredes e os tetos com seu traço único, repleto de geometrias e
cores.
Agora, o lugar inteiro está repleto de desenhos,
grafites e pinturas surreais.
Praticamente todos os espaços estão cobertos de
desenhos, que são iluminados por altas janelas, transformando-o em um incrível
espaço para a prática esportiva.
Vemos assim que a Europa atual renunciou ao
cristianismo oficial e ficou a favor de bases laicas sociais. Os templos e
igrejas estão sendo transformados em centros comerciais e de diversões.
Enquanto isso, os imigrantes europeus, principalmente
os de religião islâmica, constroem seus templos e casas de orações.
Tentando tornar-se exemplo de tolerância, a Europa
renunciou a valores religiosos a favor de conceitos como tolerância total. Hoje é difícil chamar cristãos aos
europeus.
Leonid Savin, redator-chefe da edição de informação e
análise Geopolítica disse que a primeira etapa foram os resultados da
Guerra dos Trinta Anos e a criação do mundo post-Westfall, quando foi decidido
que os dirigentes dos Estados deviam realizar a política não se baseando em
valores religiosos, mas laicos.
E a segunda
etapa foi, claro, a organização do pós-guerra, quando deu-se início ao projeto
da União Europeia. A identidade nacional começou a corroer-se e, para fazer uma
espécie de cadinho dos povos europeus a França e a
Alemanha cederam e, depois, os países restantes.
Além de na Europa ser cada vez menor a população dos
crentes em geral, e cristãos em particular, os que ainda frequentam os templos
e as igrejas passaram a olhar para a sua fé de forma mais simplista, assinala
Alexei Iudin, especialista em ciências históricas:
A religião
está saindo da Europa. O número de vocações para o sacerdócio baixou
bruscamente, os seminários estão vazios, há poucas pessoas nos templos. A vida
religiosa hoje é uma espécie de reunião social: vieram, encontraram-se,
conversaram e dispersaram-se. Até nas igrejas eles não se comportam como
pessoas
religiosas. Por isso, surge, antes de tudo, a perda dos próprios valores. Ou
seja, se você manifesta tolerância, você se baseia em certas convicções, mas,
hoje, parece que essas convicções se tornam cada vez mais amorfas.
Por outro lado, torna-se cada vez mais evidente a
influência de outras religiões na Europa. O lugar do cristianismo é ocupado
pelo Islã. Diminui o número de templos cristãos e aumenta o de mesquitas. Aos
países da UE chegam pessoas de todos os cantos da Terra, que trazem consigo
seus conceitos de cultura e religião, assinala Leonid Savin:
Há dois tipos
de imigrantes: os imigrantes, cuja segunda e terceira gerações vivem na Europa,
que já se adaptaram. E a nova onda que traz os seus valores. E eles esbarram na
forma de pensar dos europeus. Os governos não são capazes de elaborar uma
política aceitável para regular as relações, o que provoca conflitos. Penso que
aqui é preciso mais a experiência da Rússia e do Brasil, para ajudar a Europa a
resolver esse problema.
Liberais em tudo, os europeus começam a tomar
consciência de que a fé cristã enfraquecida cede suas posições ao Islã
conservador. Os muçulmanos não estão prontos para renunciar às suas bases
culturais e religiosas, ao contrário dos europeus. Semelhante desequilíbrio
atiça conflitos no continente.
......................
Fonte:
Voz da Rússia
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