sexta-feira, 4 de março de 2016

HUMANITAS Nº 45 – MARÇO DE 2016 – PÁGINA 4

A Europa se afasta do cristianismo
Carmén Vásquez – Madrid/Espanha
Especial para o Humanitas

Originalmente elaborada pelo arquiteto Manuel Del Busto, em 1912, a Igreja de Santa Bárbara, em Llanera, Astúrias, ficou abandonada durante anos.
Um grupo de jovens descobriu o estabelecimento deserto e decidiu realizar intensa reforma, transformando-o em uma pista de skate pública, nomeada Kaos Temple.
Eles criaram através de um coletivo nomeado A Brigada da Igreja e buscaram ajuda on-line, via financiamento coletivo.
A adaptação para uma pista de skate foi rápida, mas ainda faltava um brilho para o local ficar perfeito.
O artista Okuda San Miguel foi comissionado para cobrir as paredes e os tetos com seu traço único, repleto de geometrias e cores.
Agora, o lugar inteiro está repleto de desenhos, grafites e pinturas surreais.
Praticamente todos os espaços estão cobertos de desenhos, que são iluminados por altas janelas, transformando-o em um incrível espaço para a prática esportiva.
Vemos assim que a Europa atual renunciou ao cristianismo oficial e ficou a favor de bases laicas sociais. Os templos e igrejas estão sendo transformados em centros comerciais e de diversões.
Enquanto isso, os imigrantes europeus, principalmente os de religião islâmica, constroem seus templos e casas de orações.
Tentando tornar-se exemplo de tolerância, a Europa renunciou a valores religiosos a favor de conceitos como tolerância total. Hoje é difícil chamar cristãos aos europeus.
Leonid Savin, redator-chefe da edição de informação e análise Geopolítica disse que a primeira etapa foram os resultados da Guerra dos Trinta Anos e a criação do mundo post-Westfall, quando foi decidido que os dirigentes dos Estados deviam realizar a política não se baseando em valores religiosos, mas laicos.
E a segunda etapa foi, claro, a organização do pós-guerra, quando deu-se início ao projeto da União Europeia. A identidade nacional começou a corroer-se e, para fazer uma espécie de cadinho dos povos europeus a França e a Alemanha cederam e, depois, os países restantes.
Além de na Europa ser cada vez menor a população dos crentes em geral, e cristãos em particular, os que ainda frequentam os templos e as igrejas passaram a olhar para a sua fé de forma mais simplista, assinala Alexei Iudin, especialista em ciências históricas:
A religião está saindo da Europa. O número de vocações para o sacerdócio baixou bruscamente, os seminários estão vazios, há poucas pessoas nos templos. A vida religiosa hoje é uma espécie de reunião social: vieram, encontraram-se, conversaram e dispersaram-se. Até nas igrejas eles não se comportam como pessoas religiosas. Por isso, surge, antes de tudo, a perda dos próprios valores. Ou seja, se você manifesta tolerância, você se baseia em certas convicções, mas, hoje, parece que essas convicções se tornam cada vez mais amorfas.
Por outro lado, torna-se cada vez mais evidente a influência de outras religiões na Europa. O lugar do cristianismo é ocupado pelo Islã. Diminui o número de templos cristãos e aumenta o de mesquitas. Aos países da UE chegam pessoas de todos os cantos da Terra, que trazem consigo seus conceitos de cultura e religião, assinala Leonid Savin:
Há dois tipos de imigrantes: os imigrantes, cuja segunda e terceira gerações vivem na Europa, que já se adaptaram. E a nova onda que traz os seus valores. E eles esbarram na forma de pensar dos europeus. Os governos não são capazes de elaborar uma política aceitável para regular as relações, o que provoca conflitos. Penso que aqui é preciso mais a experiência da Rússia e do Brasil, para ajudar a Europa a resolver esse problema.
Liberais em tudo, os europeus começam a tomar consciência de que a fé cristã enfraquecida cede suas posições ao Islã conservador. Os muçulmanos não estão prontos para renunciar às suas bases culturais e religiosas, ao contrário dos europeus. Semelhante desequilíbrio atiça conflitos no continente.
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Fonte:  Voz da Rússia 

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