sexta-feira, 25 de março de 2016

HUMANITAS Nº 46 – ABRIL DE 2016 – PÁGINA CINCO

O terrorismo cristão no mundo (Parte 2)
Especial para o Humanitas
 Pedro Rodrigues Arcanjo-  Olinda/PE

Semelhança com o atual fundamentalismo islâmico não
é mera coincidência
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No ano de 412, Cirilo sobrinho de Teófilo é nomeado bispo de Alexandria. Ele apoia os sentimentos antissemitas difundidos entre os cristãos da cidade e, à frente duma multidão de seguidores, incendeia as sinagogas e faz fugir os judeus. Logo a seguir, encoraja os cristãos a tomarem os bens dos fugitivos.
Hipátia, a última grande matemática da Escola de Alexandria, filha de Theon, é assassinada em 415 da era comum por uma multidão de monges cristãos, sob as ordens do bispo Cirilo. O motivo dessa ação: a brilhante professora de matemática ameaçava a difusão do cristianismo por defender a Ciência e o Neoplatonismo.
O fato de Hipátia ser uma mulher bela e carismática fazia a sua existência ainda mais intolerável aos olhos dos cristãos.
Sua morte marcou uma reviravolta: após seu assassinato, pesquisadores e filósofos trocaram Alexandria pela Índia e pela Pérsia, e Alexandria deixou de ser o grande centro de ensino das ciências do Mundo Antigo.
A Ciência retrocedeu no Ocidente e só voltou a atingir um nível comparável ao da Alexandria antiga no início da Revolução Industrial.
Os trabalhos da Escola de Alexandria sobre matemática, física e astronomia serão preservados, em parte, pelos árabes, persas, indianos e chineses.
O Ocidente, por outro lado, mergulha no obscurantismo, apenas começando a sair dele mais de um milênio depois. Em reconhecimento pelos seus méritos de perseguidor da comunidade científica e dos judeus de Alexandria, Cirilo foi canonizado e promovido a “Doutor da Igreja”, no ano de 1882.
A Idade Média cristã aconteceu entre os séculos V a XV. Com o desaparecimento das grandes bibliotecas a Igreja monopoliza a informação e a escrita. O povo é deixado propositadamente na ignorância, a leitura da Bíblia é desencorajada mesmo no caso de se ter acesso a um exemplar. Pouco a pouco, a Igreja impõe o seu domínio sobre a sociedade.
É nesse período que surgem a Inquisição e o celibato dos padres. O casamento tem de vir antes de quaisquer relações sexuais.
Também é nesse período que nasce uma das mais “grandiosas e famosas” tradições cristãs: “queimar pessoas vivas!” Aproximadamente um milhão de seres humanos se transforma em churrasco durante a Idade Média.
As cidades buscam bater recordes na quantidade de pessoas queimadas por ano. O recorde principal é da cidade de Bamberg, no estado da Baviera, na Alemanha, que conseguiu assar 600 seres humanos num só ano.
Até hoje, muitos integrantes da Igreja lamentam o fim desse período, quando o cristianismo dominava totalmente a vida social.
Relembram com saudade a “espiritualidade” da época, bem como a arte que deu grande ênfase à morte – “assunto apaixonante para os cristãos” - e a música envolvente das catedrais.
Nesse período caótico da história humana começou a ocorrer um crescimento populacional na Europa. A Igreja então propõe um método de controle bem natural, criando as Cruzadas, no ano de 1095.
Em 1099 Jerusalém é “libertada” e logo que os cruzados entram na cidade, o governador muçulmano rende-se, sob a promessa da população civil ser poupada.
Em parte, a promessa foi cumprida (só em 1%), pois a totalidade da população, essencialmente de judeus e muçulmanos, foi passada a fio de espada, não sem antes que os bons cristãos cruzados violentassem as mulheres e decapitassem as crianças. Mais de 70 mil civis foram assassinados.
A última fase do massacre ocorreu nas sinagogas e mesquitas da cidade, onde os habitantes aterrorizados se refugiaram. Eles pensavam que o caráter religioso dos locais pudesse inspirar os piedosos cruzados à mostrarem clemência.
Nada disso ocorre: os cruzados entram e transformam os locais de culto em um mar de sangue. O massacre de milhares de civis amontoados na grande mesquita da esplanada do templo dura várias horas.
Depois de cumprirem e seguirem a ideologia de sua piedosa e amorosa seita cristã os comandantes dos cruzados informam aos bispos e ao papa que “tudo o que respira” na cidade foi morto.

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